BC reduz expectativa de crescimento do PIB do Brasil a 1,6% neste ano por greve e confiança menor

Publicado em 28/06/2018 12:46

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Por Patricia Duarte e Bruno Federowski

SÃO PAULO/BRASÍLIA, 28 Jun (Reuters) - O Banco Central reduziu com força sua projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil a 1,6 por cento neste ano, sobre 2,6 por cento antes, citando não apenas os efeitos da greve dos caminhoneiros mas também a queda da confiança de empresas e consumidores e a perda de fôlego da atividade vista desde o início do ano.

Além disso, o BC deixou claro que vê a inflação perdendo força após junho, mês que ainda sofrerá o impacto da alta dos preços ocasionada pela paralisação dos caminhoneiros em maio, que causou forte desabastecimento no país todo. Com isso, acabou reforçando visões de que não mexerá tão cedo na taxa básica de juros.

"A revisão (do PIB) está associada ao arrefecimento da atividade no início do ano, à acomodação dos indicadores de confiança de empresas e consumidores e à perspectiva de impactos diretos e indiretos da paralisação no setor de transporte de cargas ocorrida no final de maio", mostrou o Relatório Trimestral de Inflação (RTI) do BC publicado nesta quinta-feira.

Para o BC, o setor industrial será um dos que mais deve sofrer neste ano, com estimativa de expansão de 1,6 por cento agora, praticamente a metade do esperado antes (+3,1 por cento).

O consumo das famílias também crescerá menos --2,1 por cento, frente a 3 por cento-- "compatível com recuperação mais lenta da massa salarial, resultado da redução no ritmo de crescimento dos rendimentos e da população ocupada".

As projeções sobre o desempenho da economia têm se tornado cada vez mais pessimistas. Pesquisa Focus do BC, que ouve uma centena de economistas todas as semanas, mostra que a estimativa de expansão do PIB do país neste ano estava em 1,55 por cento, depois de ter chegado a 3 por cento alguns meses antes.

No RTI, o BC informou que ainda é difícil dimensionar "de forma precisa" o impacto da greve enquanto mais indicadores não forem divulgados, mas que dados já conhecidos "sinalizam influência expressiva da greve sobre a produção e o varejo".

O BC reconheceu que a inflação será mais alta no curtíssimo prazo por conta da bandeira tarifária de energia mais pesada e da greve dos caminhoneiros e seus impactos nos preços dos alimentos e combustíveis, mas ressaltou que ela deve perder força em seguida.

"Nos meses seguintes (a junho), a despeito dos efeitos defasados da depreciação cambial observada desde o final de abril e da alta projetada para passagens aéreas, em julho, espera-se que a reversão dos efeitos do desabastecimento, a sazonalidade favorável dos preços de alimentos e a elevada ociosidade dos fatores de produção favoreçam o arrefecimento das taxas mensais".

Na semana passada, o BC manteve a taxa básica de juros na mínima histórica de 6,50 por cento ao ano citando piora no mercado externo e, ao mesmo tempo, recuperação "mais gradual" da economia brasileira neste ano após a greve.

Para a inflação medida pelo IPCA, o BC manteve sua projeção em 4,2 por cento para 2018 e 3,7 por cento para 2019, conforme divulgado na decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) na semana passada. Já para 2020, a estimativa passou a cerca de 3,7 por cento, sobre 4 por cento.

"O Copom sempre teve que equilibrar o risco da inflação ficar abaixo da meta com o compromisso de manter a inflação baixa de forma perene. O risco da inflação ficar abaixo da meta diminuiu nesse balanço", afirmou a jornalistas o presidente do BC, Ilan Goldfajn.

O mercado, em geral, tem visto que a inflação provavelmente terminará o ano a 4 por cento, abaixo do centro da meta de 4,5 por cento pelo IPCA com margem de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo, acelerando então a 4,10 por cento em 2019. E também vê que a Selic não será alterada até o final deste ano. Para o fim de 2019, a expectativa é de que ela vá a 8 por cento.

O BC também projetou que, no cenário de mercado, os preços administrados deverão subir 7,2 por cento em 2018, 4,6 por cento em 2019 e 3,8 por cento em 2020.

"(O RTI) reforçou a sinalização de que o plano de voo atual do Banco Central é o de manutenção da taxa Selic em 6,50 por cento, a menos que a evolução do balanço de riscos e a disseminação do choque cambial seja maior para os preços", trouxe o banco Bradesco em nota.

No mercado de DIs, cresceram neste pregão as apostas de que a Selic não será alterada em agosto, próxima reunião do Copom.

O BC tem dito que o cenário externo está mais desafiador e apresenta volatilidade, com riscos associados à normalização das taxas de juros em algumas economias avançadas, o que acaba gerando menor apetite ao risco em relação às economias emergentes.

Desde fevereiro, o dólar vem ganhando terreno frente ao real e, de lá até o final de maio, o salto foi de 17,59 por cento. Em junho até a véspera, a alta acumulada estava em 3,72 por cento.

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Fonte:
Reuters

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