Por Claudia Violante
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar terminou a segunda-feira em alta ante o real, em meio a temores de guerra comercial entre Estados Unidos e China e de olho no quadro político doméstico, a poucos meses da eleição presidencial bastante indefinida.
O dólar avançou 0,27 por cento, a 3,7400 reais na venda, depois de despencar 2,15 por cento na última sessão. Na máxima, a moeda foi a 3,7662 reais. O dólar futuro tinha alta de cerca de 0,2 por cento.
"Essa nova elevação na tensão nas relações comerciais entre Estados Unidos e China aumenta a aversão ao risco nos mercados e pressiona o preço do petróleo no mercado internacional", comentou a corretora Coinvalores, em relatório, ao citar as tarifas impostas pelos Estados Unidos à China e a retaliação de Pequim ao anúncio.
Na sexta-feira, o presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou tarifas de 25 por cento sobre 50 bilhões de dólares de importações chinesas, e prometeu mais se a China revidasse, o que aconteceu. Pequim anunciou tarifa adicional de 25 por cento sobre 659 produtos dos Estados Unidos avaliados em 50 bilhões de dólares.
No exterior, o dólar rondava a estabilidade ante uma cesta de moedas, e operava misto ante divisas de países emergentes, em alta ante o peso chileno e queda ante o peso mexicano.
A alta da moeda norte-americana também foi influenciada pela cena política local, após a notícia de que o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, pediu ao presidente da 2ª Turma do STF, Ricardo Lewandowski, que coloque em pauta no dia 26 de junho novo pedido de liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso há mais de dois meses por crime de corrupção.
"De tarde o mercado começou a reavaliar isso. O STF já se decidiu pela prisão de Lula antes", lembrou um gestor de derivativos de uma corretora nacional. "Mas estamos no Brasil, tudo tem exceção", acrescentou.
A cena política tem deixado os mercados financeiros no Brasil bastante agitados. Com os pré-candidatos que os investidores consideram alinhados com reformas sem decolar nas pesquisas de intenção de voto, o mercado acredita que a eventual presença de Lula na disputa reduziria mais as chances de alguém com esse perfil.
"Mesmo que sua chance de disputa for negada, sua liberdade (de Lula) pode tumultuar ainda mais o cenário político do país", destacou a Advanced Corretora em relatório.
Lula, que lidera as pesquisas de intenção de voto nos cenários em que aparece como candidato, alega ser inocente e alvo de perseguição política. O ex-presidente quer disputar mais um mandato para o Palácio do Planalto, mas a Lei da Ficha Limpa deverá impedi-lo de concorrer.
A continuidade da atuação do Banco Central no mercado de câmbio nesta semana deve conter movimentos mais intensos de alta no dólar. O BC prometeu ofertar 10 bilhões de dólares em swap cambial tradicional, equivalente à venda futura de dólares, nesta semana.
Nesta sessão, vendeu oferta de até 20 mil novos contratos de swap cambial tradicional, injetando 1 bilhão de dólares dessa nova oferta de cerca de 10 bilhões de dólares.
Na semana passada, o BC colocou 24,5 bilhões de dólares em swaps para dar liquidez ao mercado e tentar conter o nervosismo dos agentes.
A autoridade também vendeu integralmente a oferta de até 8.800 swaps cambiais tradicionais para rolagem do vencimento de julho. Já rolou 5,28 bilhões de dólares do total de 8,762 bilhões de dólares que vence no mês que vem. Se mantiver e vender esse volume até o final do mês, fará rolagem integral.
Cena eleitoral afeta atividade econômica, diz Guardia
SÃO PAULO (Reuters) - O ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, afirmou nesta segunda-feira que os cenários político e eleitoral têm afetado a atividade econômica do Brasil, bem como a greve dos caminhoneiros e o setor externo, além do processo de normalização da política monetária nos Estados Unidos e disputas comerciais entre norte-americanos e chineses.
"A questão da transição política também impacta a economia nacional", afirmou ele durante evento com empresários em São Paulo.
O ministro disse ainda que, mesmo antes da greve dos caminhoneiros que durou 11 dias em maio e afetou o abastecimento em todo o país, já estavam sendo observadas reduções nas expectativas de crescimento da economia.
O mercado doméstico piorou nas últimas semanas após a greve elevar as preocupações com a deterioração do quadro fiscal do Brasil, com a redução do preço do diesel gerando impacto bilionário sobre as contas do governo.
Além disso, pesquisas eleitorais vêm mostrando dificuldade dos candidatos que o mercado considera como mais comprometidos com ajustes fiscais de ganhar tração na corrida presidencial.
"(Além da cena externa e da greve de caminhoneiros) nós também sofremos nesse período recente com maior aversão ao risco, maior preocupação dos agentes econômicos. E, eu acho que isso também é inegável, com o debate político para a continuidade ou não dessa agenda de reformas que o governo brasileiro vem implementando ao longo dos últimos dois anos", acrescentou.
O dólar disparou e chegou a ir ao patamar de 3,90 reais, bem como as taxas dos juros futuros no país, obrigando o Banco Central e o Tesouro a atuarem juntos e de maneira intensa para tentar trazer equilíbrio aos mercados.
"BC e Tesouro têm os instrumentos para atuar no mercado de câmbio e juros", reafirmou o ministro, acrescentando ainda que o setor privado já estava com "hedge", ou seja, com proteção nos mercados financeiros.
Guardia disse ainda que esses efeitos são transitórios e não prejudicam de maneira permanente o potencial de crescimento do país. Ele citou ainda a normalização da política monetária dos EUA e a disputa comercial da China com os norte-americanos como fatores que também afetam a economia.