"Otimismo demais atrapalha; Na Copa, nossa maior chance é de 23%; a possibilidade maior ainda é a de perder"

Publicado em 18/06/2018 05:50
Superconfiança no caminho do Brasil, alerta o ECONOMISTA SAMY DAMA, em O GLOBO. "É bom começar a Copa como favorito, mas confiança em excesso reduz a atenção com os detalhes e pode ser fatal".
Não há dúvida de que o Brasil mereceu chegar à Copa do Mundo apontado como o maior candidato ao título. Esse favoritismo está nas apostas, como mostrei na última coluna, mas também nas estatísticas. Na semana passada, os bancos Itaú e Goldman Sachs divulgaram estudos apontando que o Brasil tem mais chances de ser campeão. O mesmo fez um estudo da Escola de Matemática Aplicada da FGV. Eu mesmo fiz um modelo econométrico, que também aponta o Brasil como vencedor.
Mas os números são uma coisa, e o jogo, outra. E, se o favoritismo vira confiança em excesso, pode prejudicar. É o que aponta uma série de artigos de psicólogos e economistas nos últimos 50 anos. Em economia, como no futebol, estar muito confiante às vezes leva você a cometer erros.

Quando aprendemos algo, prestamos atenção. Mas, conforme ganhamos habilidade, passamos a usar alguns atalhos mentais, realizando as tarefas de modo quase automático. É claro que há exceções, mas o normal é essa espécie de “cegueira” deixar todo mundo mais desatento. É por isso que algumas equipes, como se diz no futebol, acabam entrando de salto alto.

Sabe aquele time que era o favorito, mas cometeu um vacilo e perdeu? A história das Copas tem casos famosos, como a Dinamarca que chegou para o Mundial de 86 como uma das favoritas e caiu diante da mediana Espanha por 5 a 1. Ou o Brasil na Copa de 82, eliminado pela seleção italiana que podia até ser boa, mas só havia vencido uma partida até nos enfrentar.

A diferença entre expectativa e realidade
Nos três primeiros experimentos, estimulados a pensar que podiam se tornar mais inteligentes, os participantes de um grupo foram muito mais otimistas sobre o número de acertos do que os do outro grupo, ensinando que a inteligência não melhora.
 

Esse “efeito superconfiante” ocorre o tempo todo, seja nas previsões para o PIB, nas cotações da Bolsa, nas decisões dos gestores e, claro, no futebol.

Mas também há um lado dramático, como o fato de que a maioria das pessoas, quando poupa, poupa muito menos do que precisa para uma emergência e para a aposentadoria. Todo mundo superestima como vai ser o futuro.

Um dos problemas é que passamos a nos considerar melhores que os outros. Com isso, surge a tendência a menosprezar tanto adversários quanto colegas de equipe. Um estudo publicado por Caroline Preston e Stanley Harris em 1965 apontou que até motoristas culpados por acidentes graves, se experientes, continuam achando que dirigem melhor do que quem nunca se envolveu numa colisão.

Para entender melhor o fenômeno, três psicólogos, Joyce Ehrlinger, Ainsley L. Mitchum e Carol S. Dweck, montaram uma série de três estudos, publicados em 2016 no “Journal of Experimental Social Psychology”.

O primeiro envolveu 53 universitários. Todos tinham de dizer o quanto concordavam com frases que os estimulavam a acreditar que podiam ficar mais inteligentes e depois responder a um questionário. Os que mais concordavam com as frases apostaram que acertariam 77% das questões. Já aqueles que concordavam menos foram mais modestos, com 55%. Mas ambos acertaram 50%. Com o excesso de confiança, dizem os pesquisadores, nosso otimismo pode ir muito além da realidade.

O segundo teste reuniu 94 estudantes, divididos em dois grupos. O primeiro leu uma notícia sobre como podiam ficar mais inteligentes, e o outro, que sua inteligência não podia ser melhorada. Depois, resolveram 15 questões no computador.

Este registrava o tempo que cada um levava para responder. O grupo dos “menos inteligentes” gastou cerca de oito vezes mais tempo que os “inteligentes”. Na autoavaliação, os “inteligentes” apostaram em 69% de acertos, mas só acertaram 60%. Já os “menos inteligentes”, que preveram acertar 58%, marcaram 65%.

A confiança excessiva, apontou o experimento, às vezes também nos torna negligentes. Mas há antídoto? Foi a ideia do terceiro experimento, com 104 voluntários. Eles primeiro foram estimulados ou não sobre a própria inteligência e depois responderam a 20 perguntas, dez fáceis e dez difíceis. O grupo dos “inteligentes” teve ainda de revisar as questões mais difíceis. O outro grupo, as mais fáceis. No final, todos também opinaram sobre seu desempenho.

Os dois grupos acertaram, na média, 60% das questões. Mas, ao revisar as perguntas difíceis, o dos “inteligentes” ficou menos confiante e apostou em 59% de acertos. Já o grupo dos “menos inteligentes”, relendo só as fáceis, foi mais otimista: apostou que acertaria 62%. A tarefa extra fez os mais otimistas ficarem mais atentos aos detalhes e às próprias chances.

Otimismo demais atrapalha. É importante lembrar: se o Brasil é favorito na maior parte das previsões, em todas a maior chance é de 23%. Ou seja, mesmo para um candidato forte ao título, a possibilidade maior ainda é a de perder.

Venezuela: abandonada e saqueada, estatal de petróleo PDVSA é retrato da crise

No país com as maiores reservas do mundo, funcionários deixam a PDVSA sem aviso (porWilliam Neuman e Clifford Krauss, do ‘New York Times’)

EL TIGRE, Venezuela - Milhares de funcionários estão fugindo da companhia petrolífera estatal da Venezuela, a PDVSA, abandonando empregos antes cobiçados que hoje valem quase nada com a pior inflação do mundo. A sangria ameaça as chances do país de superar o longo colapso econômico, segundo líderes sindicais, executivos de petróleo e operários. Além disso, trabalhadores desesperados e criminosos estão pilhando a companhia, roubando equipamentos vitais, veículos, bombas e fiação de cobre — tudo o que podem para ganhar dinheiro.

Mesmo que o presidente Nicolás Maduro tenha firme controle do país, a Venezuela está de joelhos economicamente, limitada pela hiperinflação e por um histórico de má administração. A fome, os conflitos políticos, a escassez devastadora e um êxodo de mais de um milhão de pessoas nos últimos anos transformaram o país — que já causou inveja econômica em muitos de seus vizinhos — numa crise que está transbordando as fronteiras. Se Maduro encontrar uma saída, a chave será o petróleo: praticamente a única fonte de divisas para uma nação com as maiores reservas do mundo. Mas a cada mês se produz menos.

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Um emprego na Petróleos de Venezuela (PDVSA) costumava ser o ingresso para o “sonho venezuelano”. Hoje, os problemas atuais somam-se aos anteriores, que já eram graves graças a corrupção, falta de manutenção, dívidas, perda de profissionais e até falta de peças de reposição.

A produção está no seu nível mais baixo em 30 anos e não há sinal de que a queda acentuada seja revertida. A empresa e o governo estão inadimplentes com mais de US$ 50 bilhões em títulos, por não terem feito pagamentos de juros desde o final do ano passado. A China se recusou a continuar emprestando dinheiro ao país em troca de pagamentos futuros em petróleo.

Em casa, a Venezuela teve tantos problemas com refinarias e outras instalações que precisou importar gasolina para o mercado doméstico, gastando em dólares que dificilmente pode pagar. 

A resposta de Maduro é uma “operação anticorrupção”, ordenando a prisão de dezenas de gerentes da companhia estatal, incluindo um ex-presidente da empresa. O esforço, no entanto, tem as características de uma batalha pelo controle da receita do petróleo. Em novembro, o presidente pôs no comando um general da Guarda Nacional Bolivariana, Manuel Quevedo, sem experiência na área.

Em discurso mês passado, após a reeleição, Maduro disse que a produção anual deve aumentar em um milhão de barris/dia, tarefa aparentemente impossível, sugerindo que poderia buscar mais investimentos de países como Rússia e China.

Na região próxima a El Tigre, muitas das operações são administradas pela petrolífera estatal em joint-ventures com entidades estrangeiras, incluindo empresas como Chevron e Repsol, ou estatais de China e Rússia. Mas os executivos reclamam da dificuldade de se trabalhar no país à medida que as condições sociais deterioram.

— As pessoas estão morrendo de fome — disse Eldar Saetre, executivo-chefe da Equinor, a gigante norueguesa que trabalha com a PDVSA.

Com raiva, dezenas de atuais e ex-trabalhadores do setor, que pediram para não serem identificados, afirmam que, embora a empresa estivesse decaindo há anos, a deterioração se acelerou.

— Isso já foi uma mina de ouro. Não prata... ouro. Agora é um copo de plástico — afirmou um deles. 

Segundo eles, o seguro de vida já não vale, porque a estatal petrolífera parou de pagar. Almoços às vezes não chegam a tempo porque a PDVSA não tem como contratar um fornecedor. As instalações estão abandonadas, com derramamento de óleo causado por tanques, válvulas ou canos danificados. Funcionários também dizem não saber quem está por trás dos roubos. Enquanto alguns culpam gangues criminosas, outros reconhecem que o desmantelamento dos sistemas elétricos exige um conhecimento técnico que apenas trabalhadores ou ex-trabalhadores têm.

Muitos vão embora sem avisar para EUA, Argentina, Peru, Equador, Brasil, Colômbia e Espanha. E nem sempre são substituídos. Junior Martínez, engenheiro químico de 28 anos, está indo para o Brasil, onde sua mulher e filha estão há três meses.

— Eu recebo 1.400.000 bolívares por semana e não é suficiente para comprar uma caixa de ovos ou um tubo de pasta de dente.

Outra funcionária, com mais de 30 anos de experiência, disse que quando começou, recebia o equivalente a cerca de US$ 1.750 por mês. A empresa até pagou para que ela fizesse pós-graduação no exterior. Quando se aposentou, seu salário mensal não podia comprar duas caixas de ovos.

— Era uma bomba-relógio. Eu sentava nas reuniões e pensava comigo: tique-taque, tique-taque...

 

por William Neuman e Clifford Krauss, do ‘New York Times’

 


Leia mais: https://oglobo.globo.com/mundo/venezuela-abandonada-saqueada-estatal-de-petroleo-retrato-da-crise-22786663#ixzz5IlY1GOIr 
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Fonte:
O GLOBO

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