Frete tabelado atinge exportação agrícola do país e eleva custos; setor pede mudanças

Publicado em 06/06/2018 19:22
Setor do aço, da química, Fiesp e Anfavea estão contra medidas do governo para atender caminhoneiros

Por Roberto Samora e José Roberto Gomes

SÃO PAULO (Reuters) - A tabela de fretes instituída pelo governo como uma das medidas para acabar com os protestos de caminhoneiros está afetando os negócios e o escoamento de commodities, o que deve ter impacto negativo nas exportações agrícolas do Brasil em junho, disseram representantes do agronegócio, que já pedem mudanças nas regras.

Os embarques de grãos, por exemplo, têm sido afetados pela redução do escoamento até os portos, os quais já contam com estoques baixos após as manifestações, explicou Flávio Turra, gerente técnico e econômico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), que representa produtores no segundo maior Estado agrícola do Brasil.

"Vai ter impacto nos embarques de junho, os estoques estavam baixos nos portos."

A situação ocorre em um momento em que o país --maior exportador global de soja e o segundo de milho-- ainda tem grande parte de sua safra recorde da oleaginosa para escoar, sem falar da produção do cereal, cujas exportações tendem a ganhar ritmo no segundo semestre.

Questionado se os efeitos da tabela limitariam os embarques neste mês, o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), André Nassar, afirmou que as exportações de junho serão menores na comparação com igual mês do ano passado.

Essa queda esperada nos embarques deve-se não somente ao fato de o custo ser maior, com o tabelamento, mas também por uma imprecisão na MP que inviabiliza a contratação do frete, pelo tipo do caminhão definido para o transporte de grãos.

"Uma coisa importante: não estamos embarcando porque ninguém sabe o valor do frete por meio da tabela. Nem o 'caminhão tipo' que a gente usa está na tabela", afirmou Nassar, ressaltando que o quadro ainda precisa de ajustes.

Ele explicou que a tabela contempla caminhão de cinco eixos e 25 toneladas para granel, mas "ninguém usa esse tipo de caminhão". O setor utiliza o veículo com sete eixos (37 toneladas) ou nove eixos (50 toneladas), disse ele.

Nassar ainda ressaltou que o setor do agronegócio foi contra o tabelamento de fretes desde o início de discussões sobre o tema, por considerar tal medida inconstitucional, uma vez que vai contra a prática do livre mercado.

CARNES E CAFÉ

Produtores de aves e suínos, que figuram entre os mais afetados pelos protestos, com perdas de mais de 3 bilhões de reais, começam a arcar agora com custos cada vez maiores com fretes, pois precisam buscar rações para alimentar os animais que ficaram sem alimentos durante a greve.

"O setor não é contra, mas quer a suspensão da tabela até que sejam regularizados alguns equívocos", disse o vice-presidente e diretor de Mercados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, citando fretes menores para cargas perigosas, o que não deveria acontecer.

Conforme ele, na média o custo com o frete para o produtor já aumentou 25 por cento com a nova tabela, um cenário que tende a prejudicar os embarques neste mês --o Brasil é o maior exportador de carne de frango do mundo e um dos maiores de carne suína.

"Sim, com certeza vai ter decréscimo nas exportações."

Na área de café, os embarques já acertados tendem a ser honrados, mas representantes notam um aumento de até 100 por cento no custo com frete.

"Praticamente, é impossível fazer tabelamento de fretes em um país continental como o Brasil. Isso gera um efeito cascata para custos com frete, não condiz com a realidade... Todas as intervenções que ocorreram no passado geraram distorções e grandes prejuízos", afirmou o presidente do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), Nelson Carvalhaes.

A imposição de uma tabela de fretes ocorre em um momento delicado para o setor de café do Brasil, o maior produtor e exportador mundial, já que foi dada a largada à colheita de uma safra recorde, estimada em mais de 58 milhões de sacas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

À ESPERA DE MUDANÇA

Como a tabela de frete elevou fortemente os custos em algumas rotas, na comparação com os valores anteriores, aqueles produtores e empresas que não detêm transporte próprio estão enfrentando problemas para escoar os produtos aos portos de exportação, comentou Turra, da Ocepar.

"A tabela de fretes ficou muito alta em relação ao preço que vinha sendo praticado anteriormente para o transporte de grãos, e ficou inviabilizado o transporte, principalmente para os contratos anteriores, que têm que usar a nova tabela", disse ele.

O gerente da Ocepar explicou que, como a tabela prevê a remuneração do retorno do caminhão vazio, o que não era previsto anteriormente, isso quase dobra os custos. Segundo ele, a tabela eleva os custos entre 20 a 120 por cento, dependendo da rota, em relação ao preço praticado anteriormente --no Paraná, na média, o valor subiu 37 por cento.

"O que está acontecendo é que o pessoal está retendo as cargas, no caso de quem não tem caminhão próprio. As cooperativas, as grandes, a maioria tem um número pequeno para atender a demanda deles, esses estão transportando o que podem", disse

"Os demais (que não têm caminhão) estão aguardando a revisão da tabela da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres). Já teve reunião ontem (de ministros com o setor), e existe uma expectativa de que seja revista a tabela", acrescentou ele.

Nesta quarta-feira, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, afirmou que a ANTT ficou de "reavaliar" a questão dos fretes.

"A maneira como saiu (a tabela de fretes) acabou ficando em um preço máximo até fora dos padrões que a agricultura e outros setores podem pagar para transportar... São questões técnicas que, passada a fase política, vão ter de ser adequadas", comentou o ministro após cerimônia de lançamento do Plano Safra 2018/19.

Para Maggi, que se disse contrário a uma tabela de fretes desde "sempre", a situação já gera valores "duas, duas vezes e meia" mais altos que antes da greve.

"Um mesmo transporte que você gastava 5 mil reais para levar mercadoria do ponto A ao B, na nova tabela está custando 13 mil ou 14 mil reais", comentou.

Ele ressaltou, no entanto, que a ANTT ainda não tem um prazo para fazer uma avaliação a respeito e que o acordo com os caminhoneiros será mantido.

"Há um acordo com os caminhoneiros, ninguém quer romper. O que precisa fazer são as contas. O que é justo? Ninguém vai romper nada."

De acordo com relatório da consultoria T&F Agroeconômica, "quem tem soja no interior não está retirando, porque os fretes foram calculados com um valor e agora há que se pagar cerca de 28 por cento a mais".

O mercado de trigo também está sendo afetado. "No Parará o trigo está sem preço há dez dias, nem para o spot, nem para o futuro na maioria das praças, diante da incerteza sobre o frete", afirmou a T&F. "Os compradores também não estão retirando, porque precisam reavaliar o frete..."

Ritmo de crescimento do 1º tri possivelmente não se repetirá à frente, diz ministro do Planejamento

BRASÍLIA (Reuters) - A recuperação da economia brasileira vinha ocorrendo em escala crescente no primeiro trimestre, mas o ritmo perdeu força e não se repetirá nos próximos trimestres, disse nesta quarta-feira o ministro do Planejamento, Esteves Colnago.

A economia brasileira acelerou ligeiramente no primeiro trimestre deste ano e cresceu 0,4 por cento ante os três meses anteriores, informou o IBGE. Mas os 11 dias de paralisação de caminhoneiros, com desabastecimento e perdas econômicas, deve reduzir a marcha da economia, segundo economistas. 

Caso o ritmo do primeiro trimestre se repetisse, o Produto Interno Bruto (PIB) terminaria 2018 com expansão de 1,6 por cento, segundo cálculos da Reuters a partir dos números divulgados pelo IBGE. A previsão oficial do governo, no entanto, é de 2,5 por cento de expansão neste ano.

Segundo o ministro, o governo ainda trabalha com estimativas produzidas em março e incluídas na chamada grade de parâmetros orçamentários, um conjunto de estimativas de inflação, crescimento, juros, massa salarial, produção industrial, comércio exterior entre outros.

Porém, ressaltou Colnago, o governo pode revisar os dados ao longo do ano. De acordo com informações do Ministério da Fazenda, o objetivo da grade de parâmetros orçamentários é representar um cenário base que permite uma estimativa mais precisa de receitas e despesas do governo federal e maior previsibilidade sobre coleta de impostos.

Colnago disse ainda que o governo continuará gerando déficits primários até 2021, data em que a relação da dívida bruta com o PIB atingirá 81,1 por cento, durante apresentação na Comissão Mista de Orçamento do Congresso Nacional. Naquele ano, as despesas obrigatórias vão representar 98 por cento do Orçamento, acrescentou.

Segundo o ministro, a despesa primária tende a cair em relação ao PIB devido a imposições do chamado teto de gastos, que impede o governo de elevar os gastos públicos acima das despesas do ano anterior, atualizadas pela inflação. O teto permite a geração de superávits primários em seis ou sete anos, acrescentou o ministro.

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Fonte:
Reuters

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1 comentário

  • Angelo Miquelão Filho Apucarana - PR

    O tabelamento do frete é um tiro que sai pela culatra.

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    • EDMILSON JOSE ZABOTT PALOTINA - PR

      Nós, produtores, apoiamos as manifestações dos caminhoneiros. Só esquecemos de participar das decisões com os governantes... Agora vamos pagar a conta e ainda sofrer ameaças dos caminhoneiros... Os nossos produtos têm seus preços feitos pela lei da oferta e procura, ou seja o risco é todo nosso... Mais uma vez a longarina vai entrar...

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    • Luiz Alfredo Viganó Marmeleiro - PR

      Nem todos os produtores Edmilson! Eu e alguns poucos colegas fomos mais precavidos aqui no "Fala Produtor" e levamos laço no lombo.

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    • Tiago Gomes Goiânia - GO

      Muitos erros estratégicos nessa luta, o foco deveria ter sido diminuição dos impostos a níveis federais e estaduais. Teria sido aberto um debate mais sério para todos os brasileiros acerca do peso dos impostos. Setor produtivo tem de ser mais unido e ter uma pauta comum se não vai virar um canibalismo no setor. Mas sinceramente não dá para culpar caminhoneiros, afinal cadê o comandante desse país? Que governo trapalhão!

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    • carlo meloni sao paulo - SP

      Alem de trapalhao e' pe' frio com certeza, ,pois todo dia tem um problema na mesa.

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