Dólar fecha em alta com temores fiscais e políticos no Brasil

Publicado em 06/06/2018 17:10

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Por Claudia Violante

SÃO PAULO (Reuters) - A preocupação com a cena fiscal e política local continuou estressando os mercados nesta quarta-feira e o dólar fechou mais um pregão em alta, a caminho do patamar de 3,85 reais, mesmo com as atuações do Banco Central.

O dólar avançou 0,75 por cento, a 3,8384 reais na venda, renovando o maior nível desde 2 de março de 2016 (3,8877 reais). No mês, já acumula valorização de 2,72 por cento e de 15,81 por cento no ano.

Na máxima do dia, a moeda norte-americana foi a 3,8499 reais. O dólar futuro tinha alta de cerca de 1 por cento no final da tarde.

"O mercado está olhando muito para o (cenário) político e hoje é prova disso, com o exterior melhor e a gente aqui apanhando", afirmou o gerente da mesa de câmbio do banco Ourinvest, Bruno Foresti.

Pesquisas eleitorais têm mostrado dificuldade dos candidatos que o mercado considera como mais comprometidos com ajustes fiscais de ganhar tração. Na véspera, levantamento do DataPoder360 mostrou que o candidato à Presidência Ciro Gomes (PDT) estava na segunda posição, atrás de Jair Bolsonaro (PSL), com Geraldo Alckmin (PSDB), visto pelos investidores com perfil reformista, sem decolar.

"A política, e não mais a economia, agora representa o maior risco para o real", escreveu o economista-chefe da empresa de pesquisas macroeconômicas Capital Economics (CE), Neil Shearing, para quem a disputa eleitoral deste ano deve ficar entre a "direita populista" e a "esquerda populista".

Os investidores também estavam preocupados com o cenário fiscal, depois do impacto da redução do preço do diesel sobre as contas públicas.

Dessa forma, o BC tem atuado no mercado. Na véspera, fez intervenção adicional ao anunciar leilão de até 30 mil novos swaps cambiais tradicionais, equivalentes à venda futura de dólares.

Para esta sessão, voltou ao padrão recente e vendeu o lote integral de até 15 mil novos swaps, injetando 4,116 bilhões de dólares neste mês no mercado.

O BC também vendeu integralmente a oferta de até 8.800 swaps para rolagem, já somando 1,760 bilhão de dólares do total de 8,762 bilhões de dólares que vence em julho. Se mantiver esse volume até o final do mês, rolará integralmente o volume.

No exterior, o dólar caía ante a cesta de moedas e também ante as divisas de países emergentes, como os pesos chileno e mexicano.

A um mês das férias, dólar turismo chega a R$ 4,06 nas casas de câmbio

Nos cartões pré-pagos, valor da moeda americana chega a R$ 4,25 (NA FOLHA)

A menos de um mês para as férias escolares, o dólar turismo vendido nas casas de câmbio chega a R$ 4,06 para as compras em espécie e a R$ 4,25 nos cartões pré-pagos. 

Nesta terça-feira (6), o dólar comercial teve sua maior alta frente ao real em mais de dois anos e fechou a R$ 3,812. A moeda continuou subindo ao longo desta quarta (6) e chegou a R$ 3,84.

De acordo com analistas ouvidos pela Folha, o dólar comercial deve ultrapassar os R$ 4 até outubro. Consequentemente o valor deve subir ainda mais nas casas de câmbio, que cobram um percentual adicional sobre o valor para compensar custos e garantir sua receita.

Há pouco a fazer para salvar economia neste ano, apontam economistas

Há pouco a fazer para salvar a economia brasileira em 2018, e o futuro depende muito das eleições presidenciais deste ano, disseram em debate na noite dessa quarta (5) o economista e filósofo Eduardo Giannetti da Fonseca, a ex-diretora do BNDES Elena Landau, Mauro Benevides, um dos principais assessores do candidato a presidente Ciro Gomes, e Samuel Pessôa, doutor em economia e colunista da Folha.

Os quatro economistas, de tendência liberal, participaram de encontro promovido pela Folha com o mote “Mais um ano perdido?”, sob mediação do jornalista Vinicius Torres Freire, colunista do jornal.

Os participantes apontaram o desequilíbrio nas contas públicas como um dos principais problemas atuais, divergiram em parte nas soluções para o rombo ---que passam por elevar receitas e cortar custos--- e defenderam a urgência de uma reforma na Previdência.

Também manifestaram preocupação com a possibilidade de um candidato extremista vencer a eleição para presidente.

“A saída populista recorre à inflação para mascarar o conflito pelos recursos do Tesouro, que é normal na sociedade e precisa ser mediado de forma clara pelo Congresso. O populista prefere evitar esse conflito distributivo, e a inflação, uma vez que atinge determinado patamar, se descontrola. O custo para baixar fica muito alto”, afirmou Pessôa.

Jair Bolsonaro (PSL) foi citado como extremista de direita pelos economistas. 

“A perspectiva de a extrema-direita, de o Bolsonaro ganhar me tira o sono. Alguém que elogia um torturador, que diz que Fernando Henrique deveria ser fuzilado quando privatizou a Vale, está fora do campo democrático”, afirmou Giannetti.

À esquerda, Ciro Gomes (PDT) foi mencionado como extremista por Landau, avaliação não compartilhada pelos outros três participantes.

"Essa discussão sobre centro, esquerda, direita, coxinha ou mortadela não faz sentido. Tem que dizer e onde vai aumentar a despesa e onde vai cortar a despesa", disse Benevides,  que foi secretário de Finanças do Ceará por três gestões.

O clima de campanha eleitoral cresceu no debate principalmente pela participação de Benevides, responsável pelo plano econômico da candidatura de Ciro.

Em sua apresentação inicial, ele optou por detalhar medidas que o pedetista deve encampar para aumentar a arrecadação de impostos e cortar gastos ---com uma reforma da presidência cujas bases, segundo ele, serão anunciadas nas próximas semanas.

 Pessôa, que havia elogiado a atitude de Benevides de detalhar suas propostas (embora expresse dúvidas sobre elas), disse que uma das poucas chances de 2018 não ser um ano perdido é que as eleições permitam um debate de alto nível sobre as medidas necessárias para o país.

“Se os candidatos propuserem projetos factíveis, ainda que enfatizem mais o corte de gastos ou mais o aumento de receitas, e os discutirem com a sociedade, talvez se possa arrumar a casa.”

Já Landau se mostrou cética sobre essa possibilidade. “Estou extremamente pessimista. Os candidatos não têm coragem de enfrentar os graves problemas do país, e vai ser inevitável o estelionato eleitoral se não falarem de reforma da Previdência, privatização, abertura comercial.”

Pessôa, Landau e Giannetti questionaram Benevides sobre declarações recentes de Ciro Gomes em relação aos juros. 

 “Falar em teto para gasto com juros me deixa extremamente preocupado. Isso é calote. Se fizer isso, o governo não terá como se financiar. Vai aumentar os juros e virá um colapso nas contas públicas”, afirmou Giannetti. 

Benevides respondeu que não se cogita fixar um teto para os juros.

A abertura da economia seria, para Giannetti, uma das principais medidas para aumentar a produtividade do país, o que lhe permitiria escapar da “armadilha da renda média” e se desenvolver.

“Em 70 anos, só 12 países conseguiram ingressar no grupo dos desenvolvidos, e todos aumentaram sua participação no mercado internacional. O Brasil não vai escapar da armadilha se não aumentar sua exportabilidade, se não vender mais para o mundo e, em contrapartida, comprar do mundo aquilo de que precisamos.”

Segundo Landau, elevar a produtividade depende também de “refundar o Estado brasileiro”. “Não adianta só elevar receitas para fechar um buraco. Qual é o Estado que vamos oferecer? O Estado é ineficiente, não consegue competir de forma eficaz. É preciso menos Estado para elevar a produtividade.”

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Fonte:
Reuters/Folha

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