Governo é tão "carinhoso" que chama você de "tesouro" (Rodrigo Constantino)

Publicado em 02/06/2018 16:02

Esse lamentável episódio da greve dos caminhoneiros serviu ao menos para uma coisa: expor de vez as entranhas da gastança pública, mostrando para os leigos como o cobertor é curto e que, portanto, para dar uma vantagem qualquer a José, é preciso retira-la de Maria. Infelizmente, e por mais paradoxal que isso seja, muitos ainda acreditam que os recursos públicos vêm ao além, caem do céu ou brotam do solo.

Ficou mais fácil entender que o estado nunca pode dar algo sem antes tirar, a alternativa sendo produzir inflação, o que é tirar de todos de forma mascarada. Não existe combustível grátis. Se vai haver subsídio no diesel para caminhoneiros, que souberam se organizar e parar o país, mantido como refém, então vai ter que cortar em algum lugar.

Como dizia Thatcher, aquela conservadora que enfrentou grevistas terroristas com coragem, não existe essa coisa de “recurso público”, apenas dinheiro dos pagadores de impostos. Se o governo for paternalista demais, dirigista demais, tiver estatais demais, então todos vão perceber que só mama quem chora (ou quebra, grita e ameaça). Grupos organizados vão lutar por privilégios, como consequência disso.

Já os liberais entendem que é preciso cortar o mal pela raiz, ou seja, reduzir o escopo do estado, privatizar as estatais, acabar com o paternalismo, substituindo-o, se for o caso, por uma rede básica de proteção descentralizada. Pedir redução de preços na marra ou a simples queda dos impostos, sem atacar o ponto central que é o excesso de gastos públicos e privilégios, é agir de forma irresponsável. Ou seja, quem pediu redução do combustível mas não defende a reforma previdenciária é parte do problema, não da solução.

Uma rápida olhada nessa notícia sobre onde o governo pode cortar dá uma ideia do tamanho do problema: é programa “social” até não acabar mais! Nosso governo é uma vaca leiteira que distribui vantagens a quem consegue se organizar e pressionar, enquanto a conta recai sobre cada um de nós, trabalhadores independentes, sem lobby, o elo fraco da cadeia. Eis uma pequena amostra:

O governo federal informou nesta quinta-feira (31) que decidiu acabar com benefícios para a indústria química, quase eliminar incentivos para exportadores e cancelar parte de gastos de uma série de programas públicos.

O objetivo das medidas, que constam de edição extraordinária do “Diário Oficial da União”, é viabilizar o desconto de R$ 0,46 por litro do diesel. O abatimento no preço do diesel é parte do acordo firmado pelo governo com caminhoneiros para colocar fim à greve que provocou bloqueios em estradas e desabastecimento em todo o país.

subsídio para o preço do diesel, que custará R$ 9,58 bilhões, tem por objetivo manter, por 60 dias, o desconto de 10% no diesel, anunciado na semana passada pela Petrobras, e que equivale a uma redução de R$ 0,30 no preço do litro do combustível. Depois disso, o preço oscilará mensalmente, segundo acordo fechado com os caminhoneiros.

Para viabilizar esses subsídios, o governo está cancelando gastos públicos.

O cobertor é curto, e como ninguém ataca o cerne da questão, fica só uma disputa de quem consegue puxa-lo com mais força para o seu lado. Por perceber isso que vários liberais pularam fora da ideia de apoiar os grevistas desde o começo. Por isso e por saberem que não é esse o caminho das mudanças sustentáveis, não é apelando para os métodos do MST que vamos avançar.

A pauta é outra: reformas estruturais, corte de privilégios, mudança de escopo do governo, revendo suas funções e focando no básico, como segurança, Justiça e saúde e educação, por meio de vales para os mais pobres. Passou da hora de os brasileiros entenderem que canetadas estatais para garantir benefícios é somente transferir de Pedro para João, cobrando uma taxa de “corretagem” e incentivando um mecanismo de lobby perverso.

A vida dos caminhoneiros está difícil, quase impossível? Não está fácil para ninguém. E por isso mesmo a solução deve ser racional, ampla, estrutural: a diminuição do governo por meio de reformas. E para tanto, a pressão externa, desde que civilizada e dentro das leis, é fundamental, assim como eleger políticos melhores, alinhados com essa agenda reformista. Esse é o único caminho aceitável, ao menos para um liberal ou um conservador.

PS: O título saiu de uma mensagem que viralizou nesses dias, pois foi dito que a conta seria paga “pelo Tesouro”. As pessoas estão finalmente entendendo que o Tesouro somos nós, eu e você, os que trabalham e pagam impostos. “Carinhoso” mesmo esse governo, que chama de Tesouro aquele que é por ele explorado. É como fazer carinho no “ente querido” com um porco-espinho…

Rodrigo Constantino

Essas últimas semanas foram terríveis para o Brasil, e deram munição para a esquerda, por RODRIGO CONSTANTINO

"SUNAB INFORMA: CONGELAMENTO DE PREÇOS E FISCAIS DO SARNEY ESTÃO DE VOLTA..."

A revolta dos caminhoneiros foi compreensível. Cansei de falar que entendia a angústia deles. A situação não está fácil para ninguém, por conta da herança maldita deixada pelo PT. Como o elo final na cadeia, esses motoristas estavam espremidos, situação que ficou ainda pior com a disparada do dólar e do combustível, commodity com preço definido pelo mercado internacional. O desespero foi o resultado.

Mas tomar decisões com base nos sentimentos pode ser algo muito perigoso. A parte do corpo que pensa é o cérebro, não o estômago. Foi a reação dos caminhoneiros que muitos liberais e conservadores prudentes condenaram. E foi a animação infantil de ala da direita jacobina, que viu nesses caminhoneiros libertadores revolucionários, que passou a ser tão criticada. O tempo logo mostrou quem tinha razão.

Agora, como efeito dessa bagunça toda, da adoção de métodos esquerdistas por parte da direita, lembrando que o presidente do PSL, braço direito de Bolsonaro, foi aos grevistas tirar casquinha eleitoral da coisa, temos um retrocesso de décadas no país. Não só houve a evidente tormenta imposta à população, que viveu dias de Venezuela, além de ao menos um morto por marginais grevistas, que intimidavam quem queria trabalhar, como vimos o resgate do congelamento de preços e dos “fiscais do Sarney”, agora sob o comando de Michel Temer:

A obrigação imposta pelo governo de que todos os 40 mil postos do país reduzam o preço do litro do diesel em R$ 0,46, vai ser impossível de se fiscalizar, dizem especialistas. Os analistas veem na exigência um mecanismo parecido com o tabelamento dos preços, usado no Brasil no auge da hiperinflação como uma tentativa de segurar os reajustes. Sócio da GO Associados e ex-conselheiro do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), Gesner de Oliveira diz que tabelamento é algo que ele nunca viu dar certo, nem na experiência mundial nem mesmo no Brasil nos últimos 30 anos:

O tabelamento, como solução de curtíssimo prazo para atravessar a crise até o fim do ano, pode ser implementado, já que foi acordado. Mas não é uma política consistente. É impossível fiscalizar 40 mil postos.

Os postos terão de expor o preço que praticavam em 21 de maio, dia do início da greve, e depois aplicar a redução de R$ 0,46. Se não repassar o corte, poderá ser multado em até R$ 9,4 milhões ou ter a licença cassada.

###

Depois de lançar o programa “S.O.S Caminhoneiro”, um canal de WhatsApp para denúncias de casos de violência contra caminhoneiros, o governo lançou, nesta sexta-feira, novo número de WhatsApp para que o consumidor denuncie caso veja algum posto de gasolina vendendo diesel sem o desconto de R$ 0,46. Essa é uma das tentativas do governo para garantir que esse desconto seja repassado ao consumidor, especialmente o caminhoneiro.

“Viu posto vendendo diesel sem o desconto de R$ 0,46, mande WhatsApp”, diz a campanha divulgada pela comunicação do Palácio do Planalto. O caminhoneiro que vir algum posto de combustível descumprindo determinação do governo, poderá mandar mensagem para o seguinte número: (61) 99149-6368.

A culpa disso tudo, em essência, é do próprio governo, claro. Mas como não responsabilizar também os grevistas, que no fundo queriam apenas uma “solução qualquer” para seu problema imediato, ainda que à base de canetada estatal e mais intervenção do governo? Eles que colocaram um governo fraco contra a parede, inclusive com muitos falando em “intervenção militar”, “tirar o presidente” ou “derrubar o sistema”. E teve bobinho que acreditou que sua pauta era liberal…

E como não responsabilizar, também, essa ala oportunista e revolucionária da direita, os tais jacobinos que querem ver o circo pegar fogo, que adotam métodos cada vez mais parecidos com aqueles dos seus “inimigos”, os comunistas? Vimos tanto Boulos do PSOL como vários reacionários vibrando com a saída de Pedro Parente da Petrobras, o que significou a perda de bilhões para seus acionistas, justamente porque era um gestor mais sério tentando sanear a estatal, falida pelo PT.

Esses que insuflaram as massas, que bancaram os agitadores e viram nos caminhoneiros “revolucionários libertadores”, como se fossem um Washington ou um Jefferson, deveriam aproveitar esse resultado nefasto da paralisação para refletir mais, com humildade, e perceber que seus métodos estalinistas não combinam com o conservadorismo que dizem defender. Acusam os prudentes à direita de “conservadores doutrinários” e adotam a dialética marxista para sempre se escusar das trapalhadas que fazem, e isso tudo em nome da direita, o que nos enche de vergonha.

É chegada a hora de traçar uma linha divisória, de separar o joio do trigo, sob o risco de a grande maioria dos liberais e conservadores ser infestada e ter sua reputação manchada por essa minoria barulhenta, sectária, radical e revolucionária. Entender a angústia do povo brasileiro hoje, repito, entendemos. Mas daí a usar isso como combustível para bandeiras irresponsáveis vai uma longa distância, aquela que separa a turma decente e séria dos aventureiros e oportunistas. Carlos Andreazza chamou a atenção para esse risco:

Renan Santos, uma das lideranças do MBL, concordou: “Parabéns aos envolvidos! A grande revolução popular dos caminhoneiros terminou nisso aí: mais impostos e demissão de gente séria. Que tal um lockout pela volta da Graça Foster?”

São vários nomes entre os formadores de opinião à direita, liberais e conservadores, percebendo que é fundamental traçar essa linha divisória o quanto antes, para não matar em seu nascedouro essa “onda conservadora” que tem crescido nos últimos anos. Não podemos ser confundidos com inconsequentes que ajudaram a ferrar com o país, de olho em seus interesses próprios e partidários, ou para alimentar um ego inflado de quem quer ser o Rasputin de um futuro presidente.

Nosso compromisso é com o Brasil, e nosso projeto é de longo prazo. Houve várias conquistas no caminho, inclusive o impeachment de Dilma, que nos afastou um bocado do risco de virarmos uma Venezuela. Estávamos, com inteligência e prudência, defendendo reformas necessárias para reduzir o rombo das contas públicas e privatizar as estatais.

Política é a arte do possível, e é preciso saber engolir sapos, ter paciência. Sabemos que a crise tem retirado a paciência de muita gente, mas a melhor resposta não é atiçar os ânimos exaltados e pregar uma revolução. Esse tiro vai sair pela culatra. Já saiu. Regredimos décadas para que um governo enfraquecido pudesse atender exigências de um grupo organizado que fez o Brasil de refém nos últimos dias. E isso com os aplausos de quem se diz liberal ou conservador!

Se a direita não se afastar desses jacobinos logo, toda ela poderá sucumbir pela burrice ou vigarice de uns poucos. São nos momentos de crise que é mais importante se destacar pela estabilidade, coragem e inteligência, sem se deixar levar pelas emoções ou pela pressão de uma seita fanática. Vamos avançar, impedir o socialismo, construindo instituições sólidas, plantando sementes férteis e, acima de tudo, preservando nossos princípios. Não podemos virar aquilo que condenamos. Os meios importam. Isso não é ser “limpinho” ou “purista”, e sim prudente e honesto.

Conclamo todos a refletir melhor sobre esses últimos acontecimentos, pois eles são uma aula, um doutorado em política, algo que os imberbes seguidores de gurus ignoram. E não se deixem intimidar pela pressão (insuportável às vezes) dessa turba, que vem como um enxame de abelhas zunir em nossos ouvidos, pois não toleram o contraditório e são os detentores da “Verdade”. Lembrem-se do que disse Edmund Burke, liberal que virou o “pai do conservadorismo” ao ver justamente o perigo jacobino batendo à porta:

Porque meia-dúzia de gafanhotos sob uma samambaia faz o campo tinir com seu inoportuno zumbido, ao passo que milhares de cabeças de gado repousando à sombra do carvalho inglês ruminam em silêncio, por favor, não vá imaginar que aqueles que fazem barulho são os únicos habitantes do campo; ou que logicamente são maiores em número; ou, ainda, que signifiquem mais do que um pequeno grupo de insetos efêmeros, secos, magros, saltitantes, espalhafatosos e inoportunos.

Por fim, lembrem-se também de que valorizamos indivíduos que pensam por conta própria, não membros de seitas coletivistas, que delegam o “pensamento” ao seu líder e todos os demais repetem “amém” cegamente. Esse aqui é nosso herói:

Manter a cabeça no lugar quando todos à sua volta parecem estar perdidos: eis o desafio agora. Essas últimas semanas foram terríveis para o Brasil, e deram munição para a esquerda. Derrotar a esquerda nessas eleições ainda é a meta mais importante de curto prazo, claro, mas é preciso pensar como fazer isso, e da forma correta. Não é agindo como a própria esquerda que vamos conseguir. Ao contrário: jogando lenha na fogueira das revoltas vamos apenas afastar pessoas moderadas que poderiam vir para o lado de cá. Prudência, meus caros! E princípios…

Rodrigo Constantino

Já segue nosso Canal oficial no WhatsApp? Clique Aqui para receber em primeira mão as principais notícias do agronegócio
Fonte:
Gazeta do Povo

RECEBA NOSSAS NOTÍCIAS DE DESTAQUE NO SEU E-MAIL CADASTRE-SE NA NOSSA NEWSLETTER

Ao continuar com o cadastro, você concorda com nosso Termo de Privacidade e Consentimento e a Política de Privacidade.

2 comentários

  • Jefferson Francisco Gibellato Londrina - PR

    O mercado financeiro não tem comprometimento com o Brasil, somente com seu lucro, só explora quem produz, quem trabalha!! Apelar para a irresponsável ex-primeira ministra inglesa é algo natural para quem não acredita no Brasil, muito menos nos brasileiros!

    3
  • Jefferson Francisco Gibellato Londrina - PR

    Derrotar a direita é a meta! Pelo bem do Brasil produtivo, façamos a nossa parte, enfrentar os financistas internacionais e nacionais e os entreguistas de plantão! Pelo bem do Brasil, que os salários voltem a subir!

    31
    • Elton Szweryda Santos Paulinia - SP

      Os bancos nunca lucraram tanto quanto nos desgovernos do PT!!!

      1
    • carlo meloni sao paulo - SP

      Poxa !!!! eu sinto desconforto do setor produtivo estar na mesma cesta dos parasitas financeiros... Sera' que pode??

      0