Somos todos caminhoneiros, porém... (por PEDRO DE CAMARGO NETO)

Publicado em 02/06/2018 01:40
Pedro de Camargo Neto é ex-presidente da Sociedade Rural Brasileira

O grito, apesar de forte, ficou perdido por ausência de lideranças da sociedade.

A mobilização dos caminhoneiros Brasil afora, e o amplo apoio que obteve de inúmeros setores da sociedade, espelha a insatisfação da sociedade com a nossa realidade. A combustão espontânea dos caminhoneiros é resultado da frustração de todos os dias arcarmos com preços que reduzem nossa qualidade de vida, quando não inviabilizam a atividade produtiva.

Os combustíveis e a composição de seus preços facilitam a compreensão do Brasil que criamos. O petróleo retirado das profundezas e refinado por uma empresa estatal, que antes de tudo dizem ser nossa, e foi alvo recente de escândalo, com os custos de distribuição pelo País afora, acrescido de tributos que somam mais de 50 por cento entre federais e estaduais inviabiliza muitas atividades.

É a realidade do Brasil. Sempre que necessário foram se criando ou ampliando alíquotas e impostos. Ajusta-se o orçamento transferindo recursos do setor privado para o público. A mobilização dos caminhoneiros claramente explicita que chegamos ao limite.

O governo deixou a mobilização crescer a ponto de criar um início de pânico. Foram capazes de já com a mobilização no País inteiro produzirem um acordo que foi ridicularizado no exato momento que foi anunciado. Três dias depois produziram outro acordo que atendeu teoricamente à reivindicação inicial dos caminhoneiros.

E a mobilização continuou. E os prejuízos também. O descontrole permitido pelo governo foi crescendo. Ao acompanhar as reações dos caminhoneiros, e seus apoiadores que também cresceram, vimos aparecer o discurso de pedido de intervenção militar. Apresentada como solução para todos os males, não ficava claro como seria realizada a tal inaceitável intervenção.

O desejo expresso pelo movimento que parou o Brasil, além do preço do diesel, esteve sempre atrelado à redução do gigantismo do Estado, sua ineficiência, seus privilégios, além da corrupção. Intervenção militar foi o que, na ausência de lideranças de uma sociedade infelizmente ainda muito desorganizada, usaram para expressar uma enorme insatisfação existente em toda a população do País.

O governo apresentou sua proposta de reduzir a carga de impostos no diesel. Isto é, reduzir a transferência de recursos do setor privado para o público. O que não apresentou foi como reduzir o tamanho do setor público, etapa essencial ou estaremos nos enganando mais uma vez.

Esse essencial debate sobre o tamanho do setor público não entrou na agenda. Não se trata somente da eficiência maior ou menor das empresas estatais. Será preciso enfrentar os valores que representam manter inúmeras corporações de funcionários públicos nas três esferas. Salários exorbitantes quando comparados com o setor privado, privilégios que ampliam os benefícios com nenhuma transparência, inclusive os previdenciários, além de uma questionável eficiência.

Certamente como proposta para equacionar a redução de impostos do diesel apresentarão o aumento de outros impostos. Foram incapazes de ouvir o grito que parou o Brasil. Não apresentarão nenhuma iniciativa para enfrentar o desperdício de recursos públicos. Continuarão ignorando os salários públicos muito superiores aos privados, mais do que isso, superiores ao que a legislação determina: que o maior salário seja o do presidente da República. Continuarão a aceitar que o escrito na lei seja sempre burlado por interpretações criativas que o Judiciário homologa, até porque também participa ativamente desses privilégios. Continuarão sem enfrentar a questão dos auxílios-moradia, das pensões à filha que não se casam oficialmente para receberem aposentadorias milionárias.

Infelizmente, o grito, apesar de forte, expressado com clareza por mais do que somente os caminhoneiros, por menos corrupção e privilégios, ficou perdido por ausência de lideranças da sociedade. O fato é que o setor público não cabe mais dentro do setor privado.

Pedro de Camargo Neto é ex-presidente da Sociedade Rural Brasileira - O Estado de S.Paulo - 31/5/18.

Governo Temer derrete ainda mais com a queda de Parente (por LEANDRO COLON, na FOLHA)

Fraco, o Planalto viveu um dilema até hoje: enfrentar as críticas e sustentar o gestor ou capitular e ceder

A saída de Pedro Parente atingiu de forma negativa as ações da Petrobras, mas a principal consequência de sua queda é óbvia: o enfraquecimento político ainda maior de um governo em processo de derretimento público.

Pressionado por grevistas nas estradas e aliados e adversários políticos no Congresso, Temer não bancou com firmeza a política de preços implementada por Parente e que levou a reajustes sucessivos dos combustíveis.

Temer e seus ministros foram ambíguos na defesa de quem foi escolhido há dois anos para resgatar a empresa do buraco em que se enfiou com os escândalos da Lava Jato.

 

Parente sentiu que fora abandonado por Brasília e jogou a bomba no colo do governo. Politicamente, o estrago está feito, por mais que o presidente busque um sucessor capaz de estancar a sangria (prática tão recorrente neste governo) na estatal.

Os efeitos da queda de Parente, por exemplo, serão sentidos no Congresso pelas próximas semanas. 

Os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), trabalharam contra o governo nos bastidores e publicamente.

Perceberam a incapacidade de reação do Planalto e a dependência explícita do parlamento para segurar as pontas diante de uma crise aguda.

Ao mesmo tempo, ministros de Temer, ao invés de colocar água da fervura, fritavam Parente em praça pública. O ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) foi o primeiro ao avisar que o seu cargo era de confiança do presidente. 

Em entrevista à Folha, Moreira Franco (Minas e Energia) também não aliviou. Ele defendeu uma política permanente a todos os combustíveis (não só para o diesel) para evitar aumentos diários nas bombas.

Soma-se a isso uma série de trapalhadas e informações desencontradas divulgadas pelo governo durante essas duas semanas de protestos pelas rodovias.

Fraco, o Planalto viveu um dilema até hoje: enfrentar as críticas e sustentar a gestão de Parente ou capitular e ceder. Não fez nem uma coisa nem outra direito.

E demorou a reagir. Quando o fez, celebrou um acordo capenga e sem resultado imediato com um grupo de grevistas. Apostou na população como aliada contra os caminhoneiros. Não deu certo. Como mostrou pesquisa do Datafolha, 87% dos brasileiros apoiavam a paralisação.

Desnorteado, o governo entregou o que podia e não podia mais na noite de domingo (27). A conta caiu no colo do contribuinte.

A queda de Parente só encerra o capítulo de uma novela sobre um governo que já terminou há muito tempo e está à espera de poucos meses que tem pela frente. Meses que serão turbulentos e imprevisíveis.

UM ALERTA FEITO EM MARÇO DE 2017, por JOSÉ BALDASSARI, de FRANCA

  1. Sei que repetir o exposto abaixo é malhar ferro frio pois os senhores tem pleno conhecimento desta situação mas não é conveniente para o universo político articular as necessárias mudanças.

O BRASIL TEM JEITO? O jeito, talvez o único, seja quebrar a hegemonia das “grandes” minorias compostas pelos três poderes que se auto protegem, salvo raras exceções, e a décadas se apossaram do Estado brasileiro em seu próprio benefício versus as “pequenas” maiorias que compõem o restante da população que os sustentam (creio que agora chegaram ao limite) . Este é o pai de todos os problemas nacionais . Noto que em todos os setores da administração pública isto tem funcionado desta forma e assim se servem do laxismo da maioria para se imporem e continuarem a desfrutar das benesses do Estado em detrimento de uma maioria desarticulada, sem voz e justamente a mais necessitada parcela da sociedade .E os que as exploram de maneira enganosa se auto intitulam “defensores dos mais pobres” quando estão apenas os usando para defenderem suas sinecuras. Enfim, é necessário reestatizar o Estado e devolve-lo à sociedade tirando-o das mão dos acima citados. JAB – Março de 2017.

Lições da greve, um vazio de Poder (por ARNALDO JARDIM) 

Há hoje uma insatisfação generalizada na sociedade. As pessoas não aguentam mais, desconfiam de tudo e de todos. Demandam justas e necessárias medidas mas, muitas vezes, ignorando o seu custo e o prazo necessário para sua implantação. Eu não perfilarei ao lado de demagogos que a tudo “apoiam”. Por respeito a mim mesmo e a todos, seguirei sempre alertando para os cuidados necessários, alias a única postura que, efetivamente, é realizadora. 
 

A insatisfação pode ser uma alavanca para mudanças. Mas será perigosa se enveredar por descaminhos, por atalhos que a nada conduzem.
 

O que é um descaminho? É, por exemplo, diante de uma necessidade, propor diminuir tributos ignorando que, ao cortar impostos, diminuímos os recursos orçamentários e deveremos fazer cortes no setor público. Cortar gastos, óbvio e necessário, mas também cortar investimentos e aí teremos que optar aonde e o que cortar, uma decisão de todos!
 

Outra questão evidente é que não se pode tratar cada setor isoladamente. A insatisfação surge contundente, concentra atenção e ignora o todo. Ter a consciência de que qualquer medida tem impacto para os outros segmentos e um custo que a todos atingirá.
 

Precisamos, com responsabilidade, identificar alternativas viáveis, os recursos necessários e, principalmente, que programas estruturantes devem ser adotados para soluções definitivas.
 

Muitos fazem coro àquilo às reivindicações, eu prefiro adotar o caminho da sensatez, apresentar alternativas concretas.
 

Os interesses corporativos têm muitos padrinhos e mobilizações, mas o interesse público não tem quem o apadrinhe e poucos por ele se mobilizam. Debruçarmos também sobre as despesas é caminho fundamental. O momento é grave, impõe soluções estratégicas.  
 

Sobre o preço da política de combustíveis, particularmente a praticada pela Petrobras o meu posicionamento é claro: nenhum saudosismo, nenhuma volta ao passado, nenhum tipo de tabelamento ou artificialismo. Temos que enfrentar este problema, reconhecendo que o preço é muito alto, estabelecer que a flutuação dos preços dos combustíveis, deve respeitar uma banda de valor ou de tempo para que aí a mudança possa ocorrer. Recuperar o sentido compensatório que tinha CIDE – Combustíveis ao ser criada. Na Câmara dos Deputados – retiramos o Pis/Cofins e oneramos outros setores. Tivemos consciência de que era necessário equilibrar. “Não há nada grátis”. É importante que isso fique claro. 
 

Dentro desta coerência, manifestei já a minha preocupação com relação à proposta de tabelamento de frete que, alem de ineficaz, é desorganizadora da economia.
 

Previsibilidade é uma palavra fundamental para poder organizar a vida das famílias, e também planejar a vida de cada um dos segmentos da sociedade, dos diversos setores econômicos.
 

Destaco neste episódio, a atuação objetiva e firme do governador de São Paulo, Márcio França. Preocupado com o vácuo de respostas dos governantes, tomou a frente buscando soluções que normalizassem a vida da população paulista.
 

As lições são muitas. A mais grave delas é que temos um vazio de poder enorme no Brasil. A presidência da República demonstrou não ter conhecimento da situação, não ter discernimento suficiente para identificar a profundidade do problema que se iniciava, e demorou a tomar iniciativas. 
 

Quando o fez, foi no afogadilho de atender pontualmente reivindicações ou buscando aplacar um problema político. Um vazio imenso de poder, um risco de que crises institucionais possam acontecer. 
 

Setores da população clamaram por uma intervenção militar e isto não pode ser ignorado. Corresponde a uma vontade de mudar, a uma falta de referências. Impõe-se que, de uma forma consistente, comecemos a construir alternativas que tenham consistência e credibilidade. Fortalecer o debate de qualidade para as próximas eleições, viabilizar candidaturas que preencham esse espaço ou esse vazio de poder será comprometedor das instituições e da própria democracia brasileira. 

 

 

 

 

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Fonte:
ESTADÃO/FOLHA

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1 comentário

  • Carlos Massayuki Sekine Ubiratã - PR

    Tributação de 35% do PIB + déficit nominal de 8% do PIB. Esse é o tamanho dos gastos do governo: 43% do PIB, ou seja, algo em torno de 2,7 trilhões de reais. Corrijam-me os amigos do NA se os números estiverem errados, mas acredito que é mais ou menos isso. De qualquer forma, é um valor até difícil de imaginar de tão grande... e que se torna mais absurdo ainda face à péssima qualidade dos serviços e da administração pública. Não há atividade produtiva que suporte tamanho peso... O tamanho do Estado não está inviabilizando apenas os transportes, mas toda a atividade econômica... Não há futuro para a nossa economia se tudo continuar como está... Sabemos que nada de significativo vai ser feito no pouco tempo que resta a esse governo, mas o pior é que sabemos que também não vai ser feito pelo próximo, independente da orientação ideológica de quem assumir. Só para estancar o crescimento da dívida pública teríamos que cortar meio trilhão de reais por ano dos gastos públicos. Para reduzir a tributação até algo suportável para uma economia em desenvolvimento seria necessário mais meio trilhão de reais em cortes. É esperar demais que o Estado obeso corte a própria carne, ou melhor, a própria gordura com tal profundidade... Não sou favorável à intervenção militar, mas entendo aqueles que acreditam que só uma ruptura profunda poderia quebrar os vícios, privilégios e esquemas criminosos existentes dentro da estrutura do poder e da máquina pública e que tanto consomem os recursos do contribuinte... Ainda quero acreditar que vamos sair deste atoleiro pelas vias democráticas, mesmo que leve décadas..., mas está cada vez mais difícil manter o otimismo.

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    • carlo meloni sao paulo - SP

      As despesas de pedagio deveriam ser consideradas como imposto adicional porque antigamente nao se pagava pedagio e as despesas das rodovias eram dos respectivos governos estaduais e federal... Acho que foi uma medida disfarçada para jogar mais peso nas costas da populaçao.

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