Moro determina prisão de Lula para cumprir pena no caso do triplex em Guarujá

Publicado em 05/04/2018 18:04

BRASÍLIA/SÃO PAULO (Reuters) - O juiz federal Sérgio Moro, responsável pela operação Lava Jato em primeira instância, determinou nesta quinta-feira a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, menos de 24 horas após o STF ter rejeitado o habeas corpus para o petista permanecer em liberdade até o fim de todos os recursos cabíveis no processo em que ele teve a condenação confirmada pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) no caso do tríplex do Guarujá.

O magistrado permitiu a Lula, "em atenção à dignidade do cargo que ocupou", a possibilidade de se apresentar voluntariamente à Polícia Federal em Curitiba até as 17h desta sexta-feira, a fim de começar a cumprir o mandado de prisão. Determinou ainda que a utilização de algemas está vedada em qualquer hipótese.

Moro também disse que foi previamente preparada uma sala reservada, no local, para que ele comece a cumprir pena separadamente dos demais presos "sem qualquer risco para a integridade moral ou física".

A decisão de Moro ocorre após o juiz ter sido comunicado pelo presidente da 8ª Turma do TRF-4, desembargador Leandro Paulsen, e o juiz federal Nivaldo Brunoni, que está substituindo o relator da ação do petista no TRF-4, que houve o "exaurimento" da possibilidade de novos recursos no tribunal.

O petista, que deixou a sede do Instituto Lula na capital paulista após ser anunciada a notícia da ordem de prisão, foi condenado em janeiro pelo tribunal a pena de 12 anos e 1 mês de prisão, em regime fechado, pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no processo do tríplex.

Pouco antes, um dos advogados de Lula, Cristiano Zanin, havia dito que "só uma arbitrariedade é que poderia gerar o cumprimento de uma restrição a direitos do ex-presidente Lula".

"O ex-presidente está tranquilo e nós expusemos aquilo que nos cabe expor", disse Zanin a jornalistas, antes da divulgação da ordem de Moro.

Procurando mostrar confiança, Zanin chegou a dizer que a defesa tinha "instrumentos para impugnar aquela decisão de Porto Alegre", referindo-se ao TRF.

Sem a presença de manifestantes, era possível ouvir gritos de "cadeia" vindos de carros que passavam pelo local, segundo testemunha Reuters.

Um homem, no entanto, que provocou pessoas que estavam na saída do instituto foi agredido por seguranças de petistas e ficou estirado ensanguentado no meio da rua. Jornalistas e pessoas que estavam no local levaram o homem a um hospital que fica na frente do instituto.

Para a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), a decisão representa uma "violência sem precedentes" na história democrática do país. "Um juiz armado de ódio e de rancor, sem provas e com um processo sem crime, expede mandado de prisão para Lula, antes de se esgotarem os prazos de recurso. Prisão política, que reedita os tempos da ditadura", afirmou.

"PATOLOGIA PROTELATÓRIA"

No despacho de três páginas, Moro destacou que não cabem mais "recursos com efeitos suspensivos" junto ao TRF-4. A defesa do petista cogitava apresentar até o dia 10 de abril novos embargos de declaração perante o tribunal que questionava pontos da condenação do petista. Mas Moro rejeitou esperar os novos embargos, assim como os magistrados do TRF-4.

"Hipotéticos embargos de declaração de embargos de declaração constituem apenas uma patologia protelatória e que deveria ser eliminada do mundo jurídico. De qualquer modo, embargos de declaração não alteram julgados, com o que as condenações não são passíveis de alteração na segunda instância."

Moro disse que os detalhes para a apresentação deverão ser combinados com os advogados de Lula diretamente com o superintendente da Polícia Federal no Paraná, delegado Maurício Valeixo.

Moro: Embargos dos embargos são “patologia protelatória

Na linha do que decidiu o TRF-4, Sérgio Moro ressaltou no despacho da prisão de Lula que os embargos dos embargos são uma “patologia protelatória que deveria ser eliminada do mundo jurídico”.

O juiz explicou ainda que tais recursos não tem efeito suspensivo e não alteram a sentença condenatória.

 

Lula preso cria mais barulho para eleição, diz Fitch

SÃO PAULO (Reuters) - A ordem de prisão contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai criar mais barulho para a corrida presidencial deste ano, disse nesta quinta-feira o diretor no Brasil da agência de classificação de risco Fitch, Rafael Guedes.

"Isso vai colocá-lo ainda mais em evidência", disse Guedes a jornalistas ao saber da ordem de prisão contra Lula expedida pelo juiz Sérgio Moro.

Confira reações à decretação da prisão de Lula


BRASÍLIA (Reuters) - O juiz federal Sérgio Moro determinou nesta quinta-feira a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no caso do tríplex no Guarujá, litoral de São Paulo.

O ex-presidente foi condenado a 12 anos e 1 mês de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Confira, a seguir, reações de parlamentares e políticos:

PAULO TEIXEIRA (PT-SP), VICE-LÍDER DA MINORIA NA CÂMARA DOS DEPUTADOS:

"O juiz parcial e arbitrário Sérgio Moro, símbolo maior do estado de exceção, acaba de decretar a prisão do ex-presidente Lula, antes da conclusão dos recursos no TRF-4. Resistiremos!"

RODRIGO GARCIA (SP), LÍDER DO DEM NA CÂMARA DOS DEPUTADOS:

"A decisão do juiz Sérgio Moro segue a lei. Nós estamos num Estado Democrático de Direito. O ex-presidente Lula teve direito à sua defesa, usou todos os recursos estabelecidos no Código Penal e foi condenado. Por isso espero que ele se apresente conforme a determinação do juiz Sérgio Moro."

HUMBERTO COSTA (PT-CE), LÍDER DA MINORIA NO SENADO:

"Esse mandado de prisão expedido de forma absolutamente açodada é mais um declarado abuso nessa caçada política implacável contra Lula. É um escândalo, que envergonha o Brasil."

ROBERTO JEFFERSON, PRESIDENTE NACIONAL DO PTB:

"Moro ainda foi bonzinho. Nem mandou algum japonês bater na porta de Lula às 6h da manhã."

RONALDO CAIADO (GO), LÍDER DO DEM NO SENADO:

"Tudo pronto para a prisão do condenado por corrupção. Moro dá a Lula a oportunidade de se apresentar voluntariamente até amanhã, 17h, na Polícia Federal de Curitiba. Moro determina prisão de Lula para cumprir pena no caso do tríplex em Guarujá."

Lula diz que prisão é "absurda" e "sonho de consumo" de Moro, diz jornalista

(Reuters) - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva classificou de absurda a decisão do juiz Sérgio Moro de determinar nesta quinta-feira sua prisão e afirmou que sua detenção é um "sonho de consumo" do magistrado, disse o jornalista Kennedy Alencar em sua conta no Twitter.

Kennedy disse na rede social que o petista disse a ele que seguirá as orientações de seus advogados, após Moro determinar que ele se entregue em Curitiba até as 17h de sexta-feira para começar a cumprir a pena de 12 anos e 1 mês de prisão no caso do tríplex no Guarujá.

"Lula disse que prisão era um 'absurdo' e um 'sonho de consumo' do juiz Moro e de pessoas que querem vê-lo passar 'um dia preso'", disse Kennedy no Twitter.

O jornalista disse ainda que Lula considera que a decisão de Moro ocorreu após pedido de liminar do Partido Ecológico Nacional (PEN) para que as penas começassem a ser cumpridas apenas após condenação no Superior Tribunal de Justiça, e não em segunda instância.

O petista lidera as pesquisas de intenção de voto para a Presidência da República na eleição de outubro, mas deve ficar impedido de concorrer por conta da Lei da Ficha Limpa, que torna inelegível condenados em órgãos colegiados do Judiciário, caso da 8ª Turma do TRF-4.

Os três desembargadores da 8ª Turma entenderam que ele recebeu o tríplex da empreiteira OAS como pagamento de propina em troca de contratos na Petrobras.

O petista nega ser dono do imóvel, assim como quaisquer irregularidades. Lula, que é réu em outros seis processos, afirma ser alvo de uma perseguição política promovida por setores do Ministério Público, do Judiciário e da Polícia Federal com o objetivo de impedi-lo de ser candidato.

Lula prepara seu ‘teatro da resistência’ (O Antagonista)

A repórter Catia Seabra, da Folha, diz que Lula deve passar a noite em vigília no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Os sindicalistas se mobilizam para que ele não se entregue.

A ideia é obter imagens da PF entrando no sindicato, “berço político” do condenado, para tirá-lo à força de lá.

O corrupto e lavador de dinheiro prefere armar um teatro a se portar com um mínimo de dignidade.

Manifestante anti-Lula é empurrado e atropelado em SP

Um manifestante que protestava contra Lula em frente ao Instituto Lula, em São Paulo, ficou ferido após ter sido empurrado e batido a cabeça num caminhão em movimento, informa a Veja.

Segundo a revista, o tumulto começou na saída de Lindbergh Farias, que foi hostilizado e começou a bater boca com o grupo de manifestantes.

Um tumulto envolvendo pró e contra Lula começou, e o militante antipetista foi empurrado em direção à rua. Com a cabeça sangrando, ficou estendido no chão por algum tempo antes de conseguir se levantar e ser levado para atendimento médico.

Sala VIP de Lula tem cama e banheiro

A sala na Superintendência da PF em Curitiba, onde Lula iniciará o cumprimento de sua pena, foi reformada recentemente e ganhou até um banheiro com ducha elétrica.

O ex-presidente terá duas horas de banho de sol e dia de visita diferenciado do resto da carceragem.

PT deve manter estratégia de candidatura de Lula para garantir transferência de capital político


Por Eduardo Simões

SÃO PAULO (Reuters) - O PT deverá, ao menos publicamente, insistir na candidatura à Presidência do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mesmo com ele preso e mesmo diante da possibilidade de inelegibilidade pela Lei da Ficha Limpa, pois esta é a estratégia que mais maximiza a transferência de votos de Lula para outro petista ou para um candidato aliado, avaliaram analistas ouvidos pela Reuters.

A decisão do juiz Sérgio Moro, que determinou nesta quinta-feira que Lula se entregue até a tarde de sexta para começar a cumprir a pena de 12 anos e 1 mês de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do tríplex do Guarujá, deve intensificar o duelo de narrativas envolvendo o petista.

De um lado, o PT venderá a ideia de que Lula é inocente e, se detido, um preso político. De outro, seus adversários afirmarão que ninguém está acima da lei e que Lula responde por seus crimes.

"No curto prazo, a gente não espera que o partido abandone a ideia de que o Lula é candidato. Até o próprio processo de prisão deve ser mobilizado do ponto de vista político. É bem possível que nos próximos meses a manutenção da candidatura do Lula seja o principal mote da comunicação do partido com o eleitor", disse à Reuters o analista político da Tendências Consultoria Rafael Cortez.

"O PT esperava fazer da prisão também um ato político de apoio ao ex-presidente. Com essa decisão inesperada (de Moro), haverá menos tempo para organizar isso", disse.

Lula, que lidera as pesquisas de intenção de voto, foi condenado por receber o tríplex como propina paga pela empreiteira OAS em troca de contratos na Petrobras.

O petista nega ser dono do imóvel, assim como quaisquer irregularidades. Ele afirma ser alvo de uma perseguição política promovida por setores da imprensa, do Judiciário, do Ministério Público e da Polícia Federal com o objetivo de impedi-lo de ser candidato.

É nessa narrativa que o PT deverá se agarrar ao insistir na candidatura de Lula, até para garantir a transferência do capital político do ex-presidente a um eventual Plano B, que deverá ser trabalhado em silêncio e paralelamente nos bastidores.

"Política é símbolo. É a foto. O Lula aparece como um Carlos Menem, como um Alberto Fujimori, ou ele aparece como um Mandela?", questionou Carlos Melo, cientista político do Insper, referindo-se a Menem, ex-presidente argentino, a Fujimori, ex-mandatário peruano --ambos envolvidos em episódios de corrupção-- e ao ex-presidente sul-africano e líder da luta anti-apartheid, Nelson Mandela.

"Acho que o partido vai tentar dramatizar a prisão, tentar ter uma foto boa da prisão, boa para o partido, do Lula mártir", acrescentou Melo.

Para o cientista político, o discurso petista de que insistirá na candidatura Lula "vai só até a página dois".

"Uma hora a realidade se impõe", avaliou ele, que apontou, no entanto, que o duelo de narrativas ditará o peso que Lula terá na campanha eleitoral, estando ou não encarcerado.

Para o diretor no Brasil da agência de classificação de risco Fitch, Rafael Guedes, Lula preso cria mais barulho para a eleição. "Isso vai colocá-lo ainda mais em evidência", disse Guedes a jornalistas durante evento em São Paulo.

PRESO EM CAMPANHA

Legalmente, e mesmo que em tese já enquadrado na Lei da Ficha Limpa, que torna inelegível condenados por órgãos colegiados da Justiça, a prisão não inviabiliza de imediato a candidatura de Lula a um terceiro período no Palácio do Planalto em outubro.

"O fato de ele estar preso não o impede de ser candidato, Mesmo ele estando preso, o PT deve registrá-lo candidato", avaliou o membro da Comissão de Direito Eleitoral da OAB-SP Cristiano Vilela.

"A prisão dele não suspende os direitos políticos, até porque não é uma decisão definitiva. Ele mantendo os direitos políticos dele, pode haver o registro normal da candidatura."

Vilela explica que, após o dia 15 de agosto, prazo final para o registro de candidaturas, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) publica um edital com os registrados e abre prazo para pedidos de impugnações por outros partidos e coligações ou pelo Ministério Público Eleitoral.

Feita esta contestação do registro, abririam-se prazos para manifestações da defesa, audiências e produção de provas. Baseado no histórico de tempo que a Justiça Eleitoral leva para julgar esses casos, Vilela estima que uma decisão final sobre a candidatura Lula sairia somente em meados de setembro, com a campanha eleitoral já nas ruas, nos rádios e na TV.

"Seria algo totalmente inédito em uma eleição grande", disse o advogado.

"Ele ficaria restrito para uma série de atos de campanha. Mas em tese a candidatura persiste. Eventualmente, o advogado (de Lula) faria um pedido para o juiz de execução penal para que saísse da prisão de tal hora até hora para participar de um debate, por exemplo. Aí teria que avaliar a posição do juízo nesse sentido. Vai abrindo a possibilidade de uma série de nuances."

Há o risco, segundo Vilela, de a candidatura de Lula ainda estar sub judice com o petista já em um eventual segundo turno ou até mesmo já eleito. Isso porque a defesa do petista poderia recorrer ao STF contra uma provável impugnação da candidatura pelo TSE.

"Existe um cenário de insegurança. Até porque, existem outras nuances que a gente tem que avaliar. Durante o período eleitoral, haverá mudança na presidência do TSE, no mês de agosto, e, em setembro, na presidência do STF."

Rosa Weber assumirá o comando do TSE e, portanto, do processo eleitoral, no lugar de Luiz Fux, ao passo que Dias Toffoli estará à frente do Supremo, em substituição a Cármen Lúcia.

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Fonte:
Reuters/O Antagonista

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