China coloca a soja na guerra comercial, mas pode dar tiro no próprio pé

Publicado em 04/04/2018 11:41
Por Josephine Mason e Hallie Gu, direto de Pequim

PEQUIM (Reuters) - A China terá dificuldades para substituir a oferta de soja dos Estados Unidos depois de implementar uma tarifa adicional de 25 por cento sobre os embarques norte-americanos, provavelmente causando graves problemas financeiros às empresas domésticas, disseram analistas e executivos da indústria de ração animal.

O maior importador mundial de oleaginosas vai impor as tarifas sobre a soja e outros 105 produtos norte-americanos, afirmou a emissora estatal CCTV nesta quarta-feira, em uma esperada retaliação após as ações comerciais agressivas de Washington.

A soja é considerada uma das armas mais poderosas no arsenal comercial de Pequim, porque uma queda nas exportações para a China prejudicaria Iowa e outros Estados agrícolas que apoiaram o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A soja foi o maior item de exportação agrícola dos EUA para a China no ano passado, no valor de 12 bilhões de dólares.

A China compra cerca de 60 por cento da soja comercializada globalmente para alimentar a maior indústria pecuária do mundo. Fábricas esmagam a oleaginosa para fazer farelo --um ingrediente essencial para a alimentação animal.

"Simplesmente não há soja suficiente no mundo fora dos EUA para atender às necessidades da China", disse Mark Williams, economista-chefe para Ásia na Capital Economics.

"Quanto à redução da dependência de importações, existem alguns opções, mas nenhuma tem a mágica de prejudicar os agricultores dos EUA sem gerar custos internamente."

O Brasil forneceu metade das importações de soja da China no ano passado, enquanto os Estados Unidos enviaram cerca de 33 milhões de toneladas, cerca de um terço do total. Substituir essas toneladas dos EUA não será tarefa fácil.

As colheitas na Argentina, terceiro maior produtor mundial, foram atingidas por uma seca, reduzindo as exportações argentinas para menos de 7 milhões de toneladas na temporada 2017/18, a menor em uma década, de acordo com o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA).

Fora do Brasil, dos Estados Unidos e da Argentina, cerca de 17 milhões de toneladas de soja vêm de um punhado de países.

A China cultiva apenas cerca de 14 milhões de toneladas de soja, principalmente para produzir alimentos para consumo humano.

Goldman Sachs diz que tarifas da China criam risco de baixa para exportação de soja dos EUA

SÃO PAULO (Reuters) - O Goldman Sachs afirmou nesta quarta-feira que a introdução de tarifas pela China cria um risco de baixa para as exportações de soja dos Estados Unidos neste ano, seja via consumo de estoques chineses ou parcial substituição de origem.

Conforme a instituição, "embora a China ainda necessite importar soja dos EUA e de outros países, tais tarifas devem favorecer produtores da América Latina em detrimento de norte-americanos".

Além disso, a introdução dessas tarifas pelo gigante asiático, uma retaliação às medidas do presidente norte-americano, Donald Trump, deve eventualmente sustentar os preços da soja.

Após anúncio da taxação da China sobre os EUA, USDA anuncia duas novas vendas de soja nesta 4ª feira

No dia em que o mercado da soja na Bolsa de Chicago reage à medida imposta pela China de taxar a soja importada dos Estados Unidos com baixas intensas que já chegaram a bater em mais de 50 pontos, o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) anunciou duas novas vendas da oleaginosa, sendo uma para a nação asiática e a outra para destinos não revelados. 

Foram 129 mil toneladas de soja da safra 2018/19 para a China, e mais 325 mil toneladas para os chamados "destinos desconhecidos". Desse segundo volume, 130 mil foram da temporada 2017/18 e mais 195 mil da 2018/19. 

As vendas feitas no mesmo dia, para o mesmo destino e com volume igual ou maior do que 100 mil toneladas devem sempre ser informadas ao departamento. 

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Saiba mais: China retalia e anuncia tarifas sobre soja e aviões dos EUA

Por Michael Martina e David Lawder

PEQUIM/WASHINGTON (Reuters) - A China respondeu rapidamente nesta quarta-feira aos planos da administração Trump de adotar tarifas sobre 50 bilhões de dólares em bens chineses, retaliando com uma lista de taxas similares sobre importações dos Estados Unidos como soja, aviões, carros, carne e produtos químicos.

A velocidade com que a disputa comercial entre Washington e Pequim está ganhando força --o governo chinês levou menos de 11 horas para responder com suas próprias medidas-- levou a uma forte liquidação nos mercados acionários e de commodities. [MKTS/GLOB]

O presidente dos EUA, Donald Trump, negou que as medidas correspondam a uma guerra comercial entre as duas maiores potências econômicas do mundo..

"Não estamos em uma guerra comercial com a China, essa guerra foi perdida há muitos anos pelas pessoas tolas, ou incompetentes, que representavam os EUA", escreveu Trump no Twitter.

Mas os investidores se questionam até onde uma das piores disputas comerciais em muitos anos pode ir.

"O pressuposto era de que a China não responderia agressivamente demais e evitaria aumentar as tensões. A resposta da China é uma surpresa para algumas pessoas", disse Julian Evans-Pritchard, economista sênior da Capital Economics, lembrando que nenhum dos dois lados falou ainda em aplicação das tarifas.

Os bens fabricados nos EUA que aparentemente enfrentam sobretaxas na China, com base em uma análise da lista de Pequim, incluem carros elétricos da Tesla, automóveis Lincoln da Ford, jatos Gulfstream fabricados pela General Dynamics e o uísque Jack Daniel's da Brown-Forman Corp

Diferentemente da lista de Washington, que foi preenchida com muitos itens industriais obscuros, a lista da China afeta produtos importantes de exportação dos EUA, como soja, carne congelada, algodão e outras commodities agrícolas importantes produzidas em Estados do Iowa ao Texas, que votaram em Donald Trump na eleição presidencial de 2016.

A lista de Pequim de tarifas adicionais de 25 por cento sobre bens dos EUA cobre 106 itens com um valor comercial que corresponde aos 50 bilhões de dólares visados na lista de Washington, disseram os ministérios do Comércio e de Finanças da China. A data efetiva depende de quando a ação dos EUA entrar em vigor.

A lista chinesa cobre ainda aeronaves que provavelmente incluiriam modelos mais velhos da Boeing como o jato 737, mas não afeta modelos mais novos como o 737 MAX ou seus aviões maiores. Um porta-voz da Boeing em Pequim recusou-se a comentar.

RESPOSTA RÁPIDA

Horas antes, o governo dos EUA revelou uma análise detalhada de cerca de 1.300 produtos industriais, de transporte e médicos chineses que poderiam estar sujeitos a tarifas de 25 por cento, desde diodos emissores de luz até peças de máquinas.

A medida norte-americana, sinalizada no mês passado, visa forçar Pequim a lidar com o que Washington diz ser roubo de propriedade intelectual e transferência força de tecnologia de empresas dos EUA para concorrentes chineses. Autoridades da China negam as acusações.

A lista de tarifas do escritório do Representante de Comércio dos EUA, Robert Lighthizer, seguiu a imposição de tarifas da China sobre 3 bilhões de dólares em frutas, nozes, carne suína e vinho dos EUA para protestar contra as novas tarifas de aço e alumínio impostas no mês passado por Donald Trump.

A publicação da lista de Washington inicia um período de consulta pública que deve durar cerca de dois meses.

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Fonte:
Reuters

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