Para surpresa de japoneses, Bolsonaro é recebido aos gritos no país (na FOLHA)

Publicado em 25/02/2018 11:20
Presença do deputado assustou moradores de Hamamatsu, cidade mais brasileira do Japão, POR Osny Arashiro (Folha de S. Paulo)

Em um frio de 5ºC, uma centena de brasileiros compareceu na manhã deste domingo (25) a estação de trem de  Hamamatsu (200 quilômetros ao sul de Tóquio), no Japão, para acompanhar o desembarque do deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ), que faz um tour pela Ásia.  

A cidade foi escolhida porque tem a maior concentração de brasileiros em terras japonesas —são 9.165 conterrâneos do pré-candidato à Presidência, segundo censo divulgado pelo Ministério da Justiça em 2016. 

Ao se aproximar das catracas da estação, a comitiva foi recebida aos gritos de "mito", para surpresa dos japoneses que estavam no local e que chegaram a perguntar quem era a celebridade que estava causando aquela movimentação. 

O pré-candidato viaja acompanhado de três de seus filhos e dos também deputados Onyx Lorenzoni (DEM-RS) e Luiz Nishimori (PR-PR).   

Após se encontrar com o cônsul brasileiro em Hamamatsu, Ernesto Otto Rubarth, e tirar foto com os fãs na plataforma da estação, Bolsonaro seguiu a pé por cerca de 300 metros até o restaurante Servitu, onde era esperado para dar uma palestra para 350 pessoas e para um almoço. No caminho, ganhou uma chapéu de bambu típico do Japão, que manteve na cabeça. 

Em frente ao restaurante, o designer Eduardo Henrique Kageyamadispôs sobre uma mesa 100 camisetas com a estampa do "Bolsomito, nosso futuro presidente que vai por ordem no país" e esperava vender todas por 2.500 ienes (R$ 75) cada uma.  

Bolsonaro iniciou seu discurso batendo continência para a bandeira japonesa e elogiando o país na comparação com o Brasil. "Quando olhamos para o nosso Brasil, vemos que temos tudo, riquezas minerais, biodiversidade, energia hidráulica, eólica, solar, costas maravilhosas, mas temos uma classe política lamentável", afirmou. 

Na sequência, sugeriu trabalhar em parceria com os japoneses para a exploração de nióbio no Brasil, uma de suas principais propostas. 

Com um discurso com foco na economia, o pré-candidato prometeu combater a corrupção e falou sobre as reformas tributária e trabalhista e criticou a presença chinesa no Brasil. "A China está comprando terras agricultáveis do Brasil e isso é preocupante porque a nossa segurança alimentar brevemente estará nas mãos dos estrangeiros. Não quero brigar com país nenhum nem impedir o comércio, mas não podemosvender o Brasil", disse ele ao público.   

Bolsonaro terminou seu discurso falando de segurança e defendeu armar as mulheres do país como forma de combater a violência doméstica. "A mulher vai querer aquela palhaçada da Lei do Feminicídio? Tem que ter uma pistola em casa. O vagabundo quando quer fazer uma maldade para uma mulher já sabe que ele está errado, mas se a mulher tiver uma arma em casa ele não vai fazer besteira".

Após a sua fala, os brasileiros que pagaram 5 mil ienes (R$151) pela entrada elogiaram o deputado. Fabio Moreno, que mora em Toyota (a cerca de 60 quilômetros de Hamamatsu), se disse indignado com a situação do país. "Se o eleitor não acordar, vai sucumbir e cair na mesmice". 

Já Akira Tanouye, morador de Hamamatsu, disse que costuma ver os vídeos de Bolsonaro na internet. "Ele  parecer ser uma pessoa verdadeira e quer consertar o Brasil, melhorar o setor da segurança, a proteção às mulheres e isso é importante". Com o título de eleitor em dia, ele declarou que vai votar no deputado.  

Ao fim do almoço, a comitiva fez o caminho de volta para a estação, onde pegou um trem com destino a cidade japonesa de Oizumi, próxima parada do deputado em seu tour pela Ásia, que começou na sexta (23) em Tóquio e que incluirá também passagens por Coreia do Sul e Taiwan.

'O governo é muito grande, bebe muito combustível', diz Paulo Guedes, economista de Bolsonaro

Ex-capitão do Exército com posições estatizantes, Jair Bolsonaro conferiu a um ultraliberal a tarefa de criar seu programa econômico.

Aos 68 anos, Paulo Guedes tem doutorado pela Universidade de Chicago, instituição que se tornou o símbolo do liberalismo, alma mater de 29 prêmios Nobel de Economia, entre eles Milton Friedman, ícone dessa escola de pensamento econômico.

Com uma próspera carreira na área bancária, ele encontrou no presidenciável um aliado improvável. Desde novembro, os dois têm tido conversas quinzenais de quatro a cinco horas sobre temas econômicos. Falam-se com frequência por WhatsApp.

O presidenciável, segundo Guedes, tem aceito sua receita de privatização radical, corte de impostos e independência do Banco Central.

Depois de décadas recusando convites para ingressar no setor público, Guedes, CEO do Bozano Investimentos, se diz pronto a trocar suas caminhadas diárias pelo calçadão do Leblon por "aquela confusão lá" (Brasília). Bolsonaro já avisou que, se eleito, ele será seu ministro da Fazenda.

 

Folha - Qual o eixo do programa econômico que o sr. está escrevendo para Bolsonaro?

Paulo Guedes - A Constituição de 88 previu a descentralização de recursos. Ela foi imperfeita, porque nós perdemos tempo no combate à inflação. A morte do Tancredo [Neves, em 1985] foi uma infelicidade. O Tancredo era um veterano de 1964, quando ele viu a democracia se perder pelo problema inflacionário. Quando ele vê a inflação subindo, entra dizendo: é proibido gastar, vou controlar os gastos públicos. Quando nós fomos para congelamento de preços, Cruzado, esse tipo de coisa, nós nos perdemos, nós fomos na direção da Venezuela, para a hiperinflação.

Como fazer na prática?

No programa do Afif [para presidente, que ele coordenou, em 1989], eu propunha privatizar tudo. Para zerar a dívida mobiliária, a dívida pública federal interna.

Vender patrimônio para pagar dívida é boa política?

É só fazer a conta: dois anos atrás foram R$ 500 bilhões e ano passado, R$ 380 bilhões de juro da dívida. Bota isso 25 anos. Dava para ter acabado com a miséria?

Mas privatizar tudo?

Privatizasse um pouco que fosse. Vá olhar hoje a despesa pública. Será que valia a pena? Ou pagar um superavit fiscalzinho, só para não deixar a dívida crescer muito? O país continua sendo um paraíso dos rentistas e inferno dos empreendedores. Os impostos subindo, os gastos públicos saindo de 18% do PIB quando os militares entraram para 45%, quando Lula e Dilma saíram, sendo 38% de impostos e 7% de deficit. É um governo totalmente disfuncional. O governo é muito grande, bebe muito combustível. Mas se você olhar para educação, saúde, ele é pequeno. Já que a democracia vai exigir a descentralização de recursos para Estados e municípios, o governo federal tem que economizar. Onde? Na dívida. Se privatizar tudo, você zera a dívida, tem muito recurso para saúde e educação. Ah, mas eu não quero privatizar tudo. Privatiza metade, então. Já baixa metade da dívida.

Tem clima para privatizar?

A pergunta é o contrário: tem clima para não privatizar? Onde começou o mensalão, Bradesco ou Correios? Onde se acusa o Eduardo Cunha? Caixa, loterias, fundos de pensão. Onde foi o petrolão? Petrobras. Você vê clima para continuar com as estatais?

Sempre há resistência.

Resistência de quem? O povo brasileiro é contra? Ou será que são vocês [imprensa]? Eu nunca escutei isso do povo. Eu escutei isso da Folha, de jornalistas tucanos, petistas...

As joias da coroa, Petrobras, Banco do Brasil, Caixa, tudo isso é privatizável?

Por que não pode vender o Correio? Por que não pode vender a Petrobras? E se o mundo for para um negócio de energia solar? E o shale gas [gás de xisto]? E se o petróleo, daqui a 30 anos, estiver valendo US$ 8 [o barril]? Você sentou em cima de um totem, ficou adorando o Deus do óleo. Por que uma empresa que assalta o povo brasileiro tem que continuar na mão do Estado?

O sr. fala de corrupção nas estatais, mas a Odebrecht, por exemplo, é privada.

Evidentemente, há piratas privados e criaturas do pântano político.

Então o sr. admite que corrupção não ocorre apenas no setor estatal?

Tira o oxigênio. Já viu alguém do Bradesco corromper alguém do Itaú? Alguém do "Jornal do Brasil" corromper alguém da Folha? O privado não corrompe o privado, quando corrompe é preso. Não digo privatizar a qualquer preço, estou falando de gestão de patrimônio público.

Bolsonaro tem histórico intervencionista, é ele o indicado para liderar essa agenda?

Tem algum problema a Dilma ter sido presidente porque foi guerrilheira? Teria algum problema um sujeito que foi capitão do Exército tentar ser presidente?

Ele se converteu ao liberalismo?

Tem que perguntar para ele. Ele me pediu um programa econômico. Esse grau de intervenção do Estado na economia dá um poder extraordinário. Por que as pessoas têm medo do Bolsonaro? Será que é porque a máquina de moer na mão dele deve doer?

O que é a máquina de moer?

O tamanho do Estado. O Leviatã.

Ele vai domar o Leviatã?

A pergunta é: vocês acham que está bom do jeito que está? Crescimento baixo, desemprego... Será que depois de 30 anos de social-democracia esse grau de intervenção do Estado na economia corrompeu, degenerou? Eu acho que sim. A Lava Jato é uma denúncia disso. É possível fazer uma aliança de centro-direita, onde em vez de aumentar imposto seja reduzido gasto público? Em vez de criar 150 estatais, como o PT, seja reduzir e privatizar de verdade? Em vez de combater a inflação só com juros na Lua, fazer a parte fiscal com juro baixo?

Previdência é a principal reforma hoje?

O governo fez o teto sem ter feito a casa. O teto cai. A reforma da Previdência é parte da reforma fiscal. A Previdência tem várias bombas. Uma é a demográfica, por isso tem que empurrar a idade para cima. Tem a da desigualdade, entre o sistema privado e o do funcionalismo. Tem uma terceira, que é a do financiamento. Você deixa 50 milhões sem carteira assinada para a outra metade poder ter emprego, porque cada emprego custa outro em encargos. O sistema liberal-democrata é o chileno. Não é repartição, é capitalização. Não é gestão pública, o governo garante o resultado, mas terceiriza a gestão, numa nova indústria. É capitalismo na veia. Em vez de o recurso ser dissipado, é acumulado.

Haveria uma transição?

Sim. Você tem que criar para a juventude, liberta pelo menos seu filho. O sujeito tem 18 anos, tem duas opções: carteirinha azul, com proteção da Justiça Trabalhista etc., entra na velha Previdência. Quer a porta da direita? Carteirinha verde-amarela. Não tem encargo trabalhista, zero. Se você quer a carteira verde-amarela, você aumenta a sua empregabilidade, porque você está recusando a Justiça Trabalhista. Tem outro problema, o sistema mistura assistência com Previdência. Às vezes o cara não contribuiu, precisa de uma renda mínima, não é Previdência.

Seria mantido o Bolsa Família?

Isso se chama voucher educação. Milton Friedman, 1960 em Chicago. E foi aplicado depois no Chile. O PT precisa pagar royalties.

O sr. ouviu críticas por sua aproximação com Bolsonaro?

É possível a ordem conversar com o progresso? O progresso não é Paulo Guedes, o progresso são as ideias liberais.

E a ordem é Bolsonaro?

A ordem é Bolsonaro. São os valores tradicionais e conservadores. Pode juntar trotskista com marxista, socialista, social-democrata e fazer governos de coalizão de esquerda? Pode. É possível uma aliança política entre o liberal econômico e conservador em costumes? É por aí que pode vir a governabilidade, uma aliança de centro-direita. É um novo eixo. É mais Brasil e menos Brasília. É não ter toma lá, dá cá, não ter 40 ministérios.

Dá para cair para quantos?

Eu sugeri 10. Bolsonaro gosta do número 15.

Como o sr. trataria a questão dos impostos?

Tem que simplificar e reduzir as alíquotas. Tem alíquota de 40%, mas o cara é isento. A de 37,5% e o isento. A Inconfidência Mineira ocorreu quando os impostos chegaram a 20%. Eu acho que nenhuma alíquota no Brasil podia ser mais de 20%. Em vez de ter o isento e o de 37%, vamos para o 20%? Paga todo mundo. Tem que reduzir drasticamente o número de impostos, são 54, quando você soma as contribuições. Tem que cair para 8, ou 10 no máximo. Agora, você não vai fazer isso num dia.

Quais?

Imposto de Renda, IVA, IPTU, poucas coisas. Mas temos que conversar ainda.

O estilo do Bolsonaro incomoda o sr.?

Ele tem os valores dele: Deus, pátria, família. "Ah, mas é a favor da tortura". Ele é realmente, torturou alguém?

Ele elogiou torturador [Brilhante Ustra].

O Ustra disse que não torturou ninguém. Quem está falando a verdade, quem não está? E um dos direitos do parlamentar é o de opinião.

Ele não se excede?

Todos nós, né? Você nunca se excedeu? O negócio de não merece ser estuprada [refere-se a frase dita contra a deputada Maria do Rosário] eu vi, a mulher estava defendendo um estuprador. E inverteu, de repente ele era o estuprador. Visivelmente foi um cara enfurecido, falando algo onde perdeu temporariamente a razão. Conheci muito políticos de maneiras civilizadas e crápulas de comportamento. E estou vendo uma pessoa que todos dizem que é bruta, mas que tem demonstrado muita retidão comigo.

 

RAIO-X

Idade

68 anos

Atuação

CEO da Bozano Investimentos

Formação

PhD em Economia pela Universidade de Chicago

Experiência

Fundador do Banco Pactual, do Ibmec e do Instituto Millenium; coordenou o programa de Afif Domingos em 1989.

A desconfiança social, por GUSTAVO FRANCO (no ESTADÃO)

No Brasil, as pessoas não confiam umas nas outras, e menos ainda nas instituições. A família e os amigos se salvam e olhe lá. No governo, então, nem se fala. Deve ser por isso que somos os líderes mundiais na produção de advogados. 

Em avaliações comparativas com outros países, nossos índices de “confiança social” (“capital cívico” ou, em inglês, “social trust”) são vergonhosamente baixos, e o surto recente de corrupção na política certamente piorou as coisas. 

É verdade que o Judiciário funcionou, ainda que não homogeneamente, e qualquer pequena sensação de impunidade funciona como a janela com vidros quebrados, um mau exemplo que convida à transgressão. 

 

Mas não se deve perder de vista que as raízes desse fenômeno de “desconfiança social” se estendem para bem longe no passado, alcançando a época da “nação mercantilista”, conforme a expressão de Jorge Caldeira.

A história parece demonstrar que o Estado coletor de impostos, o maior de todos os rentistas, surge antes mesmo da Nação e vai sofrendo metamorfoses que apenas vão reforçando o conceito de que o Estado é um fim em si mesmo, ou uma cabeça cada vez maior que o corpo, uma criatura permanentemente preocupada em encontrar novas formas de atuar e crescer, como um parasita buscando ser maior que seu hospedeiro.

A hipertrofia do Estado não distingue classes, pois trata de multiplicar atribuições decorrentes de desconfiança, quando não a hostilidade, relativamente ao capital e também quanto ao trabalho.

Com relação à empresa basta lembrar que somos o último colocado, em uma amostra de 190 países, quando se trata do tempo que uma empresa média gasta para cumprir suas obrigações tributárias, as principais e as acessórias.

É como se o Estado estivesse dedicado a punir os empreendedores, esses personagens que teimam em produzir riqueza, pois eles estariam permanentemente empenhados em ocultá-la do Fisco. O tratamento é duro. O cotidiano da pequena empresa diante da fiscalização predial, tributária, ambiental ou sanitária é o de quem não sabe se vai voltar para casa inteiro.

É como se o Estado estivesse ali, jamais para melhorar o ambiente de negócios e trabalhar pela comunidade, mas para oprimir empresas privadas que existem apenas para pagar impostos e obedecer.

Pelo lado do trabalho a desconfiança se manifesta em outro formato. Parte-se da idealização de uma sociedade dividida (patrão/empregado) e cria-se o conceito que a “parte menos favorecida” é incapaz de decidir sua própria vida e precisa ser tutelada.

Para garantir essas e outras milhares de regras, o Estado cria, então, estruturas gigantescas que tornam desnecessárias as combinações particulares, pois qualquer contrato de trabalho sempre poderá ser desfeito e refeito na Justiça do Trabalho. 

Para que serve o contrato e a confiança que as partes depositaram nesse instrumento? Não é claro que esse sistema fomenta a desconfiança e incentiva a litigância que, por sua vez, requer mais tribunais para resolver? Em vez disso, a regulação do trabalho não deveria promover o emprego e a produtividade qualquer que fosse o caminho escolhido pelas partes?

Esses tribunais custaram R$ 17 bilhões em 2016 (o equivalente a 0,27% do PIB). O valor é mais do que toda a Justiça do Reino Unido precisa para funcionar. E pior: o que está em jogo é bem menos do que custa o mecanismo.

No ano de 2008 tínhamos 16 milhões de ações na Justiça do Trabalho, cujo valor médio era de cerca de R$ 15 mil. O custo total da própria Justiça naquele ano foi de R$ 9,1 bilhões, ou seja, cerca de R$ 57 mil por processo.

As legislações tributária e trabalhista parecem guiadas por um contrato social equivocado, fundado na desconfiança mútua, e que leva a um equilíbrio ruim, pelo qual os incentivos estão errados (a desconfiança produz transgressão, ambas se reforçando) e a única lógica discernível é a que leva ao crescimento do número de funcionários públicos.

Está mais do que na hora de mudar o paradigma.

EX-PRESIDENTE DO BANCO CENTRAL E SÓCIO DA RIO BRAVO INVESTIMENTOS. ESCREVE NO ÚLTIMO DOMINGO DO MÊS.

PARA QUE SE RVEM OS MINISTÉRIOS, AFINAL? (Percival Puggina, na Gazeta do Povo)

Tenho certeza de que esta pergunta, feita em qualquer país com instituições estáveis e racionais, pareceria uma infantilidade. Formulada no Brasil, será percebida, de imediato, com um sentido dúbio que salta aos olhos. Afinal, para que servem os ministérios?

Você poderia pensar, por exemplo, que o Ministério do Trabalho e Emprego serve para organizar as ações e políticas do governo com vistas a ampliar o mercado de trabalho, formalizar e fiscalizar as relações trabalhistas e coisas assim. Poderia, mas não pensa. No fundo, você sabe que esse ministério pode servir, por exemplo, para que Roberto Jefferson, presidente do PTB, proporcione um mimo à própria filha, com direito a lágrimas de emoção e beijos de gratidão.

Não tapemos o sol das fotos com a peneira dos decretos de nomeação. Ademais, o PTB tem, no Congresso, uma bancada de 20 deputados federais e 2 senadores que fazem peso quando o placar de votação fica apertado. Revela-se, assim, outra finalidade dos ministérios: eles são intercambiáveis com votos das bancadas partidárias que se credenciam ao direito de designar seu titular. Enfim, poderíamos seguir alinhando outras utilidades e usos maliciosos dos gabinetes na Esplanada: nomear afilhados, fazer negócios, arrecadar contribuições e comissões, ajudar a mídia amiga, atender a companheirada, angariar prestígio, e por aí vai.

Nos regimes de gabinete, parlamentaristas ou semiparlamentaristas, é a maioria formada por afinidade das bancadas eleitas que escolhe o chefe do governo e governa junto com ele. Quando o governo perde a maioria, por abandono ou traição dentro da base, cai. Esse preceito, ao contrário do que parece, tem consequência muito benéfica na conduta dos parlamentos. No presidencialismo, é o governante eleito que, permanentemente, precisa estar no balcão comprando, voto a voto, uma base que o sustente e isso corrompe o governo e o Congresso.

Se você achava ruim a concessão de um ministério à filha do presidente do PTB com vistas aos votos partidários, imagine a criação de 15 ministérios novos com objetivos semelhantes! Em 2002, o governo federal tinha 24 ministérios. Catorze anos mais tarde, o governo Dilma chegou a seu melancólico fim com 39 cadeiras ao redor daquela mesma mesa. E a vida, como se sabe, só piorou. O governo Temer voltou aos 24 e, agora, está criando o 25º para a Segurança Pública.

Muito mais importante do que reprovar o tipo de negócio feito nos prédios da Esplanada dos Ministérios é compreender o quanto é perniciosa a regra desse jogo político que transforma o governo num loteamento e o voto parlamentar em mercadoria com cotação unitária flutuante na bolsa política. É hipocrisia reprovar o eleitor que vende seu voto quando os membros do parlamento, a toda hora, fazem o mesmo com seu “Sim” e seu “Não” no painel de votação.

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Fonte:
Folha de S. Paulo/Estadão/Gazeta

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1 comentário

  • Rodrigo Polo Pires Balneário Camboriú - SC

    Quero parabenizar a equipe do Noticias Agricolas pela publicação desses 4 artigos, neles há muito da realidade brasileira, Puggina acerta em cheio no diagnóstico, que a maioria parece rejeitar, pois desnuda a ação parlamentar de todos os politicos do Brasil. Gustavo Franco, acerta em cheio quando fala da "cultura" da desconfiança e da promiscuidade dos agentes públicos em um sistema perverso que prejudica enormemente os empreendedores. Paulo Guedes é irretocável nos argumentos, fazendo as perguntas certas que a esquerda não tem condição alguma de responder. A reportagem sobre Bolsonaro reforça o pré candidato como simbolo aglutinador de valores e anseios da maioria dos brasileiros. Liberdade e ordem, esses são os valores antagônicos às politicas de esquerda, liberais e conservadores unidos para derrotar o projeto bolivariano da esquerda que hoje nos governa. É preciso sim, é fundamental tirar do poder as pessoas que nos trouxeram até aqui, como também é necessário combater a esquerda no campo das idéias. Também é preciso dizer não aos projetos que beneficiam algumas castas aboletadas no governo, mentiras vestidas com as roupas da verdade. O produtor brasileiro, mais que qualquer outra classe é um fator decisivo de influência na hora dos votos dos brasileiros, segundo dados do IBGE somos 40% da força de trabalho do país, precisamos assumir o protagonismo no combate às ideologias destruidoras da riqueza da nação. E isso se faz também com estudo e apoio aos que comungam dos mesmos valores que nós temos. Só criticar o que dizem e fazem nossos adversários não vai resolver, é preciso defender nossas posições, nossos valores, e combater com força os inimigos da pátria.

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