"MPF não pode cair na vala comum’, diz procurador da Lava Jato sobre a JBS

Publicado em 07/09/2017 19:29
por JOSIAS DE SOUZA, do UOL

O procurador Regional da República Carlos Fernando dos Santos Lima, membro da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, defendeu uma investigação “rápida e profunda” sobre as dúvidas que rondam a colaboração judicial da JBS. Em entrevista ao blog, ele declarou: “O Ministério Público Federal ainda é uma instituição respeitada pela população. Não pode cair na vala comum. Não podemos deixar que joguem o Ministério Público na vala comum.”

Carlos Fernando comentou a situação do seu ex-colega Marcelo Miller. O áudio que  ameaça a colaboração judicial da empresa de Joesley Batista aponta indícios de que Miller pode ter assessorado os delatores da JBS quando ainda trabalhava como procurador do núcleo da Lava Jato em Brasília. “Ele tem que ser rigorosamente investigado”, disse. “Nós temos que cortar na própria carne. Sem nenhum tipo de corporativismo.”

Os procuradores da Lava Jato estão preocupados também com a preservação do instituto da colaboração premiada. “Temos o receio de que alguns intérpretes espertos, sempre muito rápidos no gatilho, usem esse tipo de situação para tentar acabar com os acordos de colaboração'', declarou Carlos Fernando. Vai abaixo a entrevista:

— Receia que uma reviravolta na delação da JBS prejudique o instituto da colaboração premiada? Temos o receio de que alguns intérpretes espertos, sempre muito rápidos no gatilho, usem esse tipo de situação para tentar acabar com os acordos de colaboração. O Gilmar Mendes [ministro do Supremo Tribunal Federal] já fala nisso abertamente.

— Como isso ocorreria? Podem tentar fazer algum tipo de restrição. Os criminalistas do garantismo penal já falam nisso há algum tempo. Agora, é uma oportunidade que eles têm para fazer uma confusão e tentar emplacar versões prejudiciais ao instituto da colaboração. Isso nos preocupa muito. Esse caso da JBS não é Lava Jato. É outra operação. Não envolve acordos feitos por nós, em Curitiba.

— Não acha que a superpremiação da imunidade penal é um problema que vem desde a origem neste acordo com a JBS? O problema de premiar com a imunidade é que não é fácil fazer com que a população compreenda. Nos nossos acordos, temos um princípio: não concedemos imunidade. É uma regra de ouro nossa. Mas a lei permite. Tecnicamente, é possível. Tanto que o Supremo reconheceu isso, homologando o acordo. Isso ficou, então, a critério da conveniência e da oportunidade do procurador-geral da República.

— Em Curitiba, os senhores não concedem imunidade penal em nenhuma hipótese? Não. Nós entendemos que é muito difícil explicar a imunidade à população. As pessoas não entendem esse tipo de benefício. Nós preferimos negociar redução de pena. E estamos tendendo a negociar penas privativas de liberdade cada vez maiores.

— A dificuldade de aceitação foi acentuada pela comparação que se fez entre o tratamento dado aos delatores da Odebrecht e os da JBS, não acha? Marcelo Odebrecht padece mais do que Joesley Batista, não? É difícil fazer esse tipo de comparação. A Odebrecht resistiu bastante antes de colaborar. Marcelo Odebrecht já estava preso, a companhia passava por dificuldades, as acusações se avolumavam. O Joesley, espertamente, veio antes que a situação deles se deteriorasse completamente. De certa forma, isso deu a ele outra condição para negociar. Mas nós sempre dissemos, aqui em Curitiba, que imunidade não daríamos a ninguém. Podemos conversar sobre quase tudo, menos imunidade.

— A força tarefa de Curitiba cogita alterar o modo como utiliza o instituto da colaboração judicial? Nós entendemos que o instituto é uma ferramenta de sucesso para quebrar organizações criminosas. Isso não ocorre apenas na Lava Jato do Paraná. Temos operação Ararath [que apura desvios no governo do Mato Grosso], com a filmagem da entrega de dinheiro. Temos o caso de Pernambuco e Rio Grande do Norte, envolvendo um desembargador. Temos a Lava Jato no Rio de Janeiro. Temos vários casos de sucesso no uso da colaboração. Não podemos admitir que exista uma contaminação por conta da malandragem de um colaborador específico.

— Como procurador, causou-lhe incomômodo o fato de seu ex-colega Marcelo Miller ter mudado de lado no curso da investigação? É evidente que a situação foi muito estranha para todos nós. Ele era um procurador atuante. Nós realmente achamos muito estranha a situação. Eticamente era questionável. Juridicamente, ele parecia estar amparado. Poderia ter feito o que fez: sair para advogar. O problema foi ter aparecido em seguida num caso como esses. Isso causou, sim, incômodo.

— A nova gravação traz indícios de que Marcelo Miller pode ter orientado os delatores da JBS ainda como procurador. Acha que as providências adotadas são suficientes para lidar o problema? Isso tem que gerar consequências. Não podemos admitir nenhuma dúvida sobre o comportamento de qualquer membro do Ministério Público. Ele tem que ser investigado. Nós temos que cortar na própria carne. Sem nenhum tipo de corporativismo. Membros do Ministério Público têm um dever de lealdade com a instituição e com a própria sociedade. Portanto, é preciso investigar com muita profundidade. A investigação precisa ser rápida e profunda.

— Acha que a eventual rescisão do acordo de colaboração pode resultar na prisão dos delatores da JBS? Temos duas hipóteses: o acordo pode ser rescindido pelo juiz que homologou, a pedido do Ministério Público. Ou a Procuradoria pode renegociar as penas e os benefícios. Tudo vai depender dos fatos. Conheço o caso apenas pelo que foi divulgado na entrevista coletiva do procurador-geral. Não há envolvimento nosso neste caso. Creio que será necessário sopesar todos os fatores. E o procurador-geral terá de se dirigir ao ministro Edson Fachin, relator do caso no Supremo.

— O caso JBS é o primeiro a apresentar um problema de descumprimento de acordo. Não acha que a preservação da ferramenta depende de uma correção de rumos exemplar por parte do Ministério Público? Do ponto de vista funcional, a situação não está vinculada a nós. Difícil, portanto, emitir juízos definitivos. O que desejamos é que todos os fatos sejam revelados e esclarecidos. Inclusive em relação à participação do ex-procurador. Não podemos admitir nenhuma dúvida sobre o comportamento de procuradores da República. O Ministério Público Federal ainda é uma instituição respeitada pela população. Não pode cair na vala comum. Não podemos deixar que joguem o Ministério Público na vala comum.

— O que achou da atuação do procurador-geral Rodrigo Janot neste episódio? Em relação ao doutor Rodrigo Janot, nós vimos que ele convocou uma entrevista coletiva e revelou os fatos. Fez bem. Não poderíamos deixar fatos ocultos de maneira nenhuma. Mas não conheço a extensão do problema. Não posso dizer se um inquérito policial vai bastar, não sei se o acordo terá de ser rescindido ou apenas renegociado.

— Em 18 de setembro, Raquel Dodge assumirá a Procuradoria-Geral da República. A força-tarefa de Curitiba já teve contato com ela? Acha que mudará algo? Ela fez uma visita à força-tarefa ainda na época em que era candidata, na nossa eleição interna. Manifestou-se sempre a favor da continuidade. Fizemos uma exposição sobre o funcionamento da força-tarefa. Depois de mais de três anos, não há uma rusga. Ela reagiu sempre positivamente. Ela tem um grupo de trabalho. Esse grupo vai assessorá-la no caso da Lava Jato, em Brasília. Reconhecemos que o grupo escolhido por ela é da mais alta qualidade. São pessoas que têm um histórico irrepreensível na instituição.

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– Charge do Duke, via O Tempo.

Do matrimônio PT-PMDB resta muito patrimônio

Quando o brasileiro acha que já viu tudo, a Polícia Federal apreende R$ 51 milhões entesourados num apartamento, convertido em caverna de Ali-Babá, em Salvador. Normalmente, a diferença entre o dinheiro miúdo e o dinheiro graúdo é que o segundo fala mais alto. Mas a fortuna atribuída a Geddel Vieira Lima permanece, por enquanto, muda. Ninguém se animou a reivindicar a propriedade da dinheirama.

Michel Temer é um azarado. Num instante em que o presidente aproveita a erosão da delação da JBS para fazer pose de limpinho, seu ex-ministro, correligionário de três décadas, é acusado pela força-tarefa da Lava Jato de plantar bananeira dentro do cofre da Caixa Econômica Federal.

É natural essa timidez em assumir o butim, o maior já apreendido no Brasil. Trata-se de uma conquista coletiva. Suspeita-se que o grosso tenha sido amelhado em trambiques na Caixa. Geddel foi vice presidente da instituição no governo de Dilma. Indicou-o o então vice-presidente Temer.

PT e PMDB tocam o Brasil há 14 anos. O matrimônio acabou. Mas ficou o patrimônio. Se há dúvidas quanto à quantidade e à identidade dos assaltantes, há uma sólida certeza sobre o assaltado. Nesse roubo, você, caro contribuinte, entrou novamente com o bolso.

Dez mandamentos de Dilma começam com não

A honestidade de Dilma Rousseff tornou-se uma virtude negativa, meio fugitiva. À medida que a Lava Jato avança, a presidente deposta vai enumerando os dez mandamentos de sua honra. Todos começam com não.

“Não roubei, não deixei roubar, não fui complacente com o malfeito, não há dinheiro ilegal nas minhas campanhas, não autorizei João Santana a receber pagamentos no exterior, não troquei mensagens com Mônica Moura numa conta de e-mail clandestina, não avalizei o caixa dois, não deleguei a Guido Mantega a tarefa de coletor de verbas eleitorais, não conversei sobre transações escusas com Marcelo Odebrecht, não beneficiei a construtora em licitação de aeroporto…”

As confissões de João Santana e Monica Moura, o casal do marketing petista, já haviam injetado na ficção de Dilma alguns fatos desconcertantes. A deduragem de Antonio Palocci, rebatida por Dilma,  mergulha a criatura de Lula em sua realidade 100% escorada no vocábulo de negação.

O problema de Dilma não é a incapacidade do brasileiro de reconhecer a honestidade de sua ex-governante, mas a incapacidade de madame de demonstrá-la. De resto, como já foi mencionado aqui certa vez, Dilma faz lembrar um personagem secundário do enredo de Júlio César, obra de Shakespeare.

Na peça, atiçados por Marco Antonio, os plebeus saem à caça dos assassinos do imperador. Encontram Cinna. “Matem-no, é um dos conspiradores!”, alguém grita. “Não, é apenas Cinna, o poeta”, retruca uma voz ao fundo. “Então, matem-no pelos maus versos.”

As perversões confessadas por Palocci já seriam suficientes para arrancar Dilma de sua ficção. No momento, porém nada conspira tanto contra fábula de madame quanto os R$ 51 milhões apreendidos no apartamento de Ali-Babá que Geddel Vieira Lima mantinha em Salvador.

Palocci foi ministro de Dilma. Geddel ocupou a vice-presidência de Pessoas Jurídicas da Caixa Econômica Federal no governo da doutora. Alguém pode perguntar: ''De que serve a honestidade presumida de Dilma?'' E uma voz vinda do Além sentenciará: “Que seja condenada pelos maus versos.”

 

Países devem receber para preservar suas florestas, diz diretor da ONU (GAZETA DO POVO)

     

O químico e diretor do Fórum de Florestas da ONU Manoel Sobral Filho

O químico e diretor do Fórum de Florestas da ONU Manoel Sobral Filho

Diretor do Fórum de Florestas da ONU, o brasileiro Manoel Sobral Filho defendeu, em entrevista à Folha, que a comunidade internacional pague pela preservação das florestas brasileiras, em vez de oferecer recursos pontuais para o seu desenvolvimento.

"Nós não precisamos de esmola; precisamos de pagamento pelo serviço que essas áreas fazem ao planeta", disse. Para ele, o Brasil "vive na berlinda" por causa do desmatamento na Amazônia, mas é preciso ter em mente que houve um desmatamento histórico das florestas mundiais.

Ele criticou a postura "prematura" do governo da Noruega, que retirou verbas do Fundo Amazônia por causa do aumento da derrubada da floresta no Brasil, em junho. Para ele, é preciso melhorar o sistema de financiamento, e fazer o dinheiro chegar às comunidades que estão na floresta.

Sobral Filho, que trabalha há 40 anos com florestas e ambiente, esteve no Brasil para o Fórum Sustentabilidade e Governança, em Curitiba.

Folha - Dá para ganhar dinheiro com madeira legal no Brasil?

Manoel Sobral Filho - Produzir madeira em plantações é um negócio altamente rentável. Agora, ganhar dinheiro produzindo madeira com florestas tropicais nativas é mais difícil. Nas plantações, o rendimento chega a 60 m³ de madeira por hectare. A média brasileira está em torno de 35 m³. Na Amazônia, com manejo sustentável, o aceitável é 1 m³ por hectare. A monocultura produz muito mais madeira.
Aí o pessoal fala: "Mas na floresta amazônica a madeira é de melhor qualidade". Mesmo assim não compensa. Soja dá mais dinheiro; gado, também.
Do ponto de vista de produtos florestais, ela não é competitiva. Temos que arranjar mecanismos para remunerar o que a floresta tropical faz bem, que é conservar a biodiversidade e carbono.

O que ainda falta para isso acontecer?

Algo que, em inglês, chamamos de "willingness to pay". Vontade de pagar. Ninguém tem vontade de pagar pelo bem público. Paga-se pela prestação da casa própria, mas não por um parque. É difícil conservar porque não há mecanismos de remuneração para as áreas florestais.

Falta de 'vontade de pagar' é uma questão cultural ou um gargalo do mercado brasileiro?*

Eu diria que não é só o Brasil. É a população em geral; é do ser humano. Ninguém quer gastar mais.

Mas quem poderia pagar por esses serviços ambientais?

Quem está mais preocupado com carbono e biodiversidade? Mais ainda do que nós? A comunidade internacional. Então, eles é que deveriam pagar.

Aponta-se sempre o dedo para os países tropicais. É verdade, há desmatamento. Mas não vamos esquecer do desmatamento histórico dos outros países. O nosso desmatamento só chegou mais atrasado.

A comunidade internacional está disposta a pagar?

Acho que precisamos aumentar mais uns 2°C na temperatura mundial. [risos] Mas está melhorando.

Recentemente, nós revitalizamos o Fórum de Florestas das Nações Unidas. Nos últimos dois anos, nós formulamos e aprovamos o plano estratégico para florestas.

Nesse plano, pela primeira vez, nós temos uma meta positiva. Não estamos falando só de reduzir o desmatamento. Conseguimos aprovar uma meta de 3% a mais de florestas em 2030. São 120 milhões de hectares.

É uma meta factível?

É audacioso, mas precisamos disso. Se falarmos em expandir a área florestal, vamos também olhar os países que quase não têm área florestal.

Quatro países concentram 50% das florestas do mundo: Brasil, Canadá, Rússia e Estados Unidos. E mesmo assim nós estamos na berlinda o tempo todo.

Um país riquíssimo da Europa disse: é impossível, nós não temos área. Mas a meta é global. E cada país dirá como contribuir. E eu respondi: vocês têm recursos financeiros que podem bancar aumento de florestas em outras áreas.

E é para colocar dinheiro de verdade, não é essa porcariazinha de ajuda para desenvolvimento que se dá hoje. Tem que ser pagamento pelo serviço. Não é esmola. É pagamento por algo que é importante para toda a humanidade.

Como o sr. avalia a decisão da Noruega em retirar apoio financeiro do Fundo Amazônia?

É uma quantia relativamente pequena. Foram R$ 2,77 bilhões ao longo de quanto tempo? Dez anos? Esse dinheiro ficou parado no BNDES e só chegou a algumas algumas ONGs. Passou alguma coisa para os indígenas? Se passou, foi migalha. Por isso que o desmatamento aumenta.

Eu achei prematuro retirarem essa verba [do Brasil].

Nós temos uma legislação que nenhum outro país do mundo tem, que estabelece 80% de reserva legal na Amazônia. Isso tem um custo, e é um custo muito grande. Deixa de gerar renda, desenvolvimento. Fica protegido para beneficiar o mundo com carbono e biodiversidade.

E quem paga? Altruísmo, todo mundo quer.

O que poderia ser feito para estimular o pagamento desses serviços?

Você tem que promover. Na década de 1960, o Brasil criou o famoso Fiset [Fundo de Investimento Setorial]. Milhões de hectares de plantações de floresta no Brasil foram formados com esse fundo, que era um fundo de renúncia fiscal.

Grandes bancos, montadoras, em vez de pagar imposto, recolhiam para o Fiset. Foi assim que o Brasil fez suas plantações.

Por que não criaram um fundo semelhante para o manejo florestal sustentável? Tem que ter um incentivo do Estado aí. Só intervenções policiais não resolvem.

Sem isso, a própria comunidade se organiza para atacar gente do Ibama. Você já viu isso. A comunidade se identifica mais com quem tem atividade ilegal do que com o Estado. Porque não há incentivo.

 

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Fonte:
Blog Josias de Souza (UOL)/VEJA

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