Macron é o novo presidente da França com 65% dos votos (VEJA.COM)

Publicado em 07/05/2017 18:08
Abstenção de 26% fez desta a maior queda na presença de eleitores entre os dois turnos desde 1969 (por Gabriel Brust, de Paris, repórter de veja.com))

O candidato independente  Emmanuel Macron  por eleito por 65,9% dos votos. Marine Le Pen recebeu 34,1% de apoio no segundo turno das eleições na França, neste domingo.

Quase 12% dos votos no segundo turno das eleições  foram nulos e brancos, segundo as primeiras projeções dos institutos de pesquisas publicadas após o fechamento das urnas, o que representa um recorde nos pleitos do país durante a V República. De acordo com o Instituto Ipsos, os votos brancos e nulos – que são contabilizados na participação, mas não no resultado – totalizaram 4,2 milhões de pessoas.

Os quase 12% registrados hoje ficam muito acima dos 5,82% do segundo turno das eleições presidenciais de 2012, quando o socialista François Hollande venceu o conservador Nicolas Sarkozy.

Um dos elementos por trás do resultado histórico de brancos e nulos está a posição do candidato da esquerda radical, Jean-Luc Mélechon, que, após ser derrotado no primeiro turno, se negou a apoiar os outros dois candidatos. Além disso, ele pediu que seus seguidores não votassem nem em Macron, nem em sua adversária, a líder da extrema direita Marine Le Pen.

Os analistas políticos também tinham indicado que a atitude de Mélechon provocaria um maior índice de abstenção no pleito. O voto não é obrigatório na França.

Segundo as projeções dos institutos de pesquisa, o nível de participação no segundo turno hoje foi o menor desde as eleições presidenciais de 1969, ficando entre 74% e 75%.

(Com EFE)

Política externa de Macron deve facilitar relações com o Brasil (VEJA)

O resultado das eleições na França deve favorecer as negociações entre Mercosul e União Europeia (POR
Gabriel Brust, de Paris)

A projeto de política externa do recém-eleito presidente francês Emmanuel Macron promete se seguir a linha chamada na França de “gaullo-mitterrandiste”, que favorece o multilateralismo e que está em sintonia com a tradição da diplomacia do Brasil. O perfil liberal do novo líder em tese abre maior espaço para a conclusão do acordo entre o Mercosul e a União Europeia, mas nada deve andar antes de 2018.

A vitória de Macron representa uma boa notícia para o Brasil em duas frentes, na avaliação de Gaspard Estrada, diretor do Observatório Político da América Latina, sediado em Paris. A primeira, mais evidente, é a da garantia da permanência da França na União Europeia, que é hoje, tomada em sua totalidade, um dos principais parceiros comerciais do Brasil.

Não se deve esperar, no entanto, nenhum movimento mais forte para selar o acordo de livre-comércio entre Mercoul e União Europeia antes de 2018. Menos pela pré-disposição francesa, mais pelo calendário eleitoral do Mercoul. “Maurício Macri tem eleições legislativas difíceis em outubro e o Brasil tem presidencial no ano seguinte. Há uma janela de oportunidade muito pequena logo no início do governo Macron”, afirma Estrada.

Em um segundo aspecto, ter Macron no Palácio do Eliseu pelos próximos cinco anos é sinal de mares calmos na diplomacia. “O princípio da política externa gaullo-mitterrandiste que Macron pretende seguir é importante em um contexto internacional que mudou, com Donald Trump querendo enfraquecer a ONU”, afirma Estrada.

A tradição citada por ele tem bases nos governos de François Mitterrand (1981 – 1995) e foi em parte substituída na França pelo chamado ocidentalismo a partir do governo de Jacques Chirac (1995 – 2007), ganhando força com Nicolas Sarkozy (2007 – 2015). Esta visão, mais alinhada com a direita francesa, prefere ver a França com parte do Ocidente, mais do que uma força autônoma com relações multilaterais por exemplo, com país do hemisfério sul.

A política externa de François Hollande, como grande parte de seu governo, foi de equilíbrio e pouco clara por uma linha ou outra. “Macron é claro em seu discurso de retomar essa tradição. Será uma política externa de continuidade a Hollande, mas com nuances. Por exemplo, a França deve se tornar menos intervencionista do que tem sido na África”, afirma o cientista político.

Guiana

Ao contrário da Frente Nacional, que há algum tempo cita a divisa entre a Guiana e o Brasil como um exemplo de fronteira descontrolada e porosa a imigrantes ilegais, Macron parece ter pouco interesse na questão. Um episódio durante a campanha se tornou até mesmo caricato disso. Ao ser questionado sobre a crise econômica vivida por este território francês na América Latina, Macron acabou chamando a Guiana de “ilha”. Foi criticado por não saber nem mesmo onde fica o território e teve que se explicar.

É pouco provável portanto que Macron tome qualquer medida para endurecer a fronteira Brasil-Guiana, cuja ponte de ligação construída na época de azeitada parceria entre Lula e Sarkozy, aguarda apenas que o Brasil instale a estrutura de aduana para poder operar normalmente.

Quem é o banqueiro socialista Emmanuel Macron? (na VEJA)

O novo presidente da França é de centro e defende a globalização (porGabriel Brust, de Paris, de veja.com) 

Uma declaração provocativa apenas três horas depois de anunciado o resultado do primeiro turno da eleição francesa deu sinais do excêntrico comportamento do enfant terrible que habitará o Palácio do Eliseu a partir do próximo mês. “Eu não tenho lição nenhuma a receber desse mundinho parisiense”, disparou Emmanuel Macron, 39 anos, aos repórteres que o aguardavam na saída do restaurante La Rotonde, onde ele reuniu sua equipe de campanha e artistas para comemorar.

A lição a que os repórteres se referiam era a da famosa noitada de 6 de maio de 2007, quando Nicolas Sarkozy, então eleito presidente, reuniu amigos e celebridades do primeiro escalão para festejar a vitória no luxuoso restaurante Fouquet. O episódio foi deplorado pela imprensa e até mesmo por eleitores de Sarkozy como símbolo de um governo que se anunciava extremamente elitista, ou bling-bling, na expressão francesa.

O local escolhido por Macron no bairro Montparnasse não se compara em nada ao de Sarkozy – conta de 45 euros por pessoa no Rotonde contra 100 euros no Fouquet. Mas a clara irritação do jovem candidato com o paralelo estabelecido pelos repórteres dá uma pista de sua personalidade. A crítica ao “mundinho parisiense”, ao qual diz não pertencer, remete a cidade de Amiens, onde nasceu, e a praia de Touquet, onde tem residência – ambas no extremo norte da França.Sete principais divergências políticas entre Macron e Le Pen

Filho de dois médicos, Macron passou a conviver com a capital ainda muito cedo, quando se mudou para cursar o fim do Ensino Médio e fazer alguns anos de escola preparatória. Em seguida mudou-se a Estrasburgo, onde frequentou uma das típicas instituições formadora da elite francesa, a Escola Nacional de Administração (ENA). Começou a carreira profissional como inspetor de finanças na burocracia estatal, mas logo saltou para uma carreira bem-sucedida como banqueiro no Rothschild & Cie, onde acumulou pouco mais de três milhões de euros em quatro anos.

A trajetória, se contada apenas por seu lado oficial, é a típica de um filho da classe média alta francesa, loira e de olhos azuis. Mas não faltam detalhes que dão ares de excentricidade à vida de Emmanuel Macron. Tanto na sua formação quanto em sua vida pessoal. Antes e durante os estudos para se tornar administrador, também mergulhou na literatura e na filosofia. Sua verdadeira paixão na adolescência era a poesia e o teatro.

Foi enquanto ensaiava e encenava a peça “Jacques et Son Maitre”, de Milan Kundera, no palco da escola Providence, em Amiens, que conheceu a atual esposa, Brigitte, então professora de francês no mesmo estabelecimento. O romance com a professora sonhado por tantos adolescentes no mundo todo se tornou real para Emmanuel Macron, então com 16 anos, 20 a menos que Brigitte. Encantada pelos poemas escritos e interpretados pelo jovem aluno, ela larga marido e três filhos, poucos anos depois, para viver a relação. O namoro se torna oficial quando ele completa 18 anos. Emmanuel e Brigitte se casam em 2007. Ele hoje tem 39, ela 64.

A trajetória política de Macron também tem seus toques poucos convencionais: foi um militante ativo do Partido Socialista apenas na juventude, entre 2006 e 2009. Depois disso, se tornou muito mais próximo de algumas cabeças principais do partido do que um ativista, nunca tendo concorrido a qualquer cargo. Integrou principalmente os círculos que formulavam o pensamento econômico da nova esquerda francesa. Seu grupo ficou conhecido como Grupo do Rotonde – não por acaso o restaurante escolhido por Macron para celebrar a vitória na noite de domingo. Entre os economistas que fazem parte da irmandade e que frequentam o local estão Philippe Aghion, Gilbert Cette e Elie Cohen, que defendem um choque de competitividade na economia francesa aliado a um forte sistema de seguridade social.

Parecido com Lula?

Há apenas três anos, quando o então desconhecido jovem burocrata assumiu o Ministério da Economia por ter chamado a atenção de François Hollande, o resultado verificado na eleição do dia 23 de abril não era cogitado nem pelo mais ousado dos analistas. A trajetória meteórica se explica muito mais por uma mudança no eleitorado, ou no air du temps, como dizem os franceses, do que pela lógica política. Macron soube ler o momento e, em vez de de disputar a vaga de candidato do Partido Socialista, lançou o próprio partido – o que parecia loucura em uma república cujo sistema político não se move há décadas.

Olivier Duhamel, presidente da Fundação Nacional de Ciências Políticas da França, arrisca uma explicação, quando perguntado por VEJA como descreveria Macron para os brasileiros: “Macron é completamente o contrário de Lula quando ele se elegeu. Não falo de Lula de hoje, mas de quando foi eleito: quando ele chegou lá, foi a primeira vez que um operário chegava ao poder”, ressalva Duhamel, antes de partir para uma interpretação mais psicológica do eleitor: “Há uma coisa em comum entre Macron e o ‘primeiro Lula’: eles reverteram o sistema. Eles mudam as coisas, fazem as coisas se mexerem. Na França, as pessoas se sentiam sufocadas, e agora parece que respiram”.

Plano de governo

Ao se definir como “nem de esquerda nem de direita”, Emmanuel Macron promete radicalizar as políticas que tentou implementar enquanto ministro, sempre enfrentando forte resistência do próprio Partido Socialista. Em economia, seu perfil é muito mais liberal e próximo da direita conservadora do que da esquerda: Macron quer corte de impostos, quer demissão de funcionários públicos, quer endurecer a fiscalização do generoso seguro-desemprego francês. Por outro lado, aproxima-se do discurso politicamente correto em quase todas as causas sensíveis ao eleitor de esquerda: quer um Estado eficiente para arrecadar mais e continuar a distribuir renda, como gostam os franceses.

O perfil de seu eleitorado, extremamente jovem e pouco identificado com a clivagem esquerda/direita, pode explicar sua ascensão. Um comício de Macron se parece mais com uma reunião de start-ups de tecnologia. Da roupa moderna dos militantes aos cartazes coloridos, tudo lembra uma campanha eleitoral americana. Os voluntários, em grande parte adolescentes, são chamados de “helpers”, ou ajudantes, o que faria o francês mais tradicional tremer de indignação diante do ataque à língua pátria. Macron propõe justamente “desbloquear” o mercado de trabalho para formatos de emprego adaptados ao mundo das start-ups, com os trabalhadores independentes.

Aos eleitores mais tradicionais de esquerda, o apelo de Macron é a renovação com moderação. Jean-Claude Bonnet, engenheiro parisiense de 51 anos, sempre votou no Partido Socialista. “Agora vou de Macron, porque os outros candidatos estão aí há três ou quatro eleições e não trazem nada de novo”, contou ele a VEJA no último comício do movimento En Marche! “Macron junta as boas ideias de esquerda e da direita e também quer integrar a sociedade civil ao governo. Ele propõe um compromisso entre um certo realismo econômico e o lado social”, explica Bonnet.

Com a autoridade de ser um dos mais experientes analistas políticos da França, Olivier Duhamel crava sem receio: “Macron será eleito. Não há nenhuma dúvida sobre isso. A grande questão não é esta. A pergunta é: será que ele e os que forem ao seu lado vão fazer realmente alguma coisa para mudar o modo de governar este país? Isso ninguém sabe.”

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Fonte:
veja.com

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