Sem Lula não sai -- Petistas também se debruçaram sobre o depoimento de Antonio Palocci. Acham que ele deixou claro que pode levar a Lava Jato a outro patamar, mas têm esperanças de que o ex-ministro esteja tentando negociar delação que não implique ainda mais a cúpula do partido.
Vai sem eles -- Líderes de movimentos sociais de esquerda andam irritados com o PT. O partido marcou o debate sobre sua disputa interna para o mesmo horário no qual serão discutidos detalhes finais dos atos marcados para o dia 28, quando há previsão de greve geral.
Voando baixo -- Na direção do PSDB o ambiente também é de incerteza. Aliados de Geraldo Alckmin já verbalizam que o teor de sua citação na delação da Odebrecht diminuiu a possibilidade de ele ser visto pela totalidade da sigla como um presidenciável com chances de êxito.
Holofote -- Pupilo do governador, João Doria (PSDB-SP) faz grande sombra a Alckmin. No evento deste sábado (21) promovido pelo Lide, grupo empresarial criado pelo prefeito, políticos ficaram abismados com o volume de pedidos para selfies que Doria recebeu.
Advogado Batochio deve deixar defesas de Palocci, Lula e Mantega
O advogado José Roberto Batochio |
O advogado José Roberto Batochio deve deixar a defesa do ex-presidente Lula. E também a do ex-ministro Antonio Palocci. Ele advoga para os dois petistas na Operação Lava Jato.
ÉTICA
De acordo com pessoas do círculo íntimo de Batochio, ele enfrenta um dilema ético diante da conduta adotada em décadas de advocacia: por um lado, sempre disse execrar o instituto da delação premiada. Como Palocci já negocia a colaboração com o Ministério Público Federal, ele não teria como permanecer no caso.
MEMÓRIA
Permanecer na defesa de Lula traria um outro problema. Como é provável que Palocci, para efetivar a delação, mire seu canhão no peito do ex-presidente, Batochio seria obrigado a confrontá-lo, classificando todas as eventuais declarações do ex-ministro como mentirosas. O problema é que ele advogou para Palocci por dez anos, absolvendo-o em uma dezena de processos. E não teria como, agora, voltar-se contra ele nos tribunais.
PRECEDENTE
Se Batochio deixar mesmo a defesa de Lula, será a segunda baixa na equipe de advogados do ex-presidente. Em março, o criminalista Juarez Cirino dos Santos deixou o caso.
DATA VENIA
Batochio também advoga para Guido Mantega. Na Lava Jato, no entanto, o ex-ministro da Fazenda passará a ser representado por outro criminalista.
CADA UM NA SUA
No atual estágio das investigações, portanto, cada petista seguirá caminhos diferentes e possivelmente divergentes de defesa.
'Tuitaços' e jovens evangelizadores impulsionam Bolsonaro nas redes (na FOLHA deste sábado)
Ricardo Borges/Folhapress | ||
Retrato do deputado Jair Bolsonaro em clube de subtenentes e sargentos do exército, no Rio |
"Digamos que as eleições fossem hoje. A gente sabe que Bolsonaro não teria espaço", prevê o universitário Raul Holderf, de 19 anos. "Não é de partido grande, não tem coligação, não tem tempo de rádio e TV. Nosso prazer é inverter isso, saber que o que acreditamos está ganhando voz."
A um ano do calendário eleitoral, apoiadores de Jair Bolsonaro (PSC-RJ) já estão enfileirados para a disputa nas redes sociais. Com organização militar e vocação evangelizadora, organizam "tuitaços" (postagens em massa no Twitter) para promover o deputado federal –sobretudo quando o clima não o favorece.
Em 7 de março, o Supremo Tribunal Federal manteve a ação contra o parlamentar por incitação ao estupro ao ofender a deputada Maria do Rosário. A tag #BolsonaroReidoMundo circulou por três dias —ficou 16 horas no topo no dia 8.
De acordo com a ferramenta Trendinalia, Bolsonaro esteve 23 vezes nos trending topics do Brasil desde 1º de fevereiro. Nenhum dos cotados à Presidência chega a esse patamar, sobretudo com uma base organizada.
Segundo Fabio Malini, coordenador do laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), as redes no Brasil, sobretudo o Twitter, se dividem em três grandes grupos.
Bolsonaro é protagonista da extrema direita. Há o "grupo do Ministério Público", diz Malini, que defende as "Dez Medidas contra a Corrupção" e a Lava Jato, "com participação forte de procuradores como o [Deltan] Dallagnol". E a esquerda, em torno de Lula.
Bolsonaro chegou a 9% das intenções de voto na última pesquisa Datafolha, em dezembro.
SEGURANÇA
Raul Holderf comanda um dos principais grupos pró-Bolsonaro na rede, o @conexaopoIitica, com "viés cristão, conservador, de direita".
O jovem é o criador do perfil, que administra com amigos de quatro Estados e tem 3.500 seguidores. Em cinco dias, publicaram 314 tuítes, retuitados 2.900 vezes e "curtidos" por 5.900 usuários.
Malini, da Ufes, monitora Bolsonaro e outros políticos nas redes desde 2013. Coletou esses dados durante uma semana de fevereiro, a pedido da Folha: total de 54 mil tuítes.
O quarteto do Conexão Política está na casa dos 20 anos. Por WhatsApp, planejam os tuitaços com uma semana de antecedência. Na véspera, publicam o horário e a "hashtag".
Estudante de letras, Holderf mora em Abreu e Lima (PE) e conheceu Bolsonaro quando precisou fazer um trabalho de escola, em 2011, sobre políticos do Sudeste.
O jovem é evangélico. Se identifica com as ideias sobre a segurança, como a defesa de que brasileiros possam andar armados, uma bandeira do ex-militar. "A casa onde eu moro foi assaltada cinco vezes no último ano", diz.
São razões parecidas com a de seu colega Henrique Speck, 20, de Marechal Rondon (PR): "Vi uma declaração dele na TV, achei legal e fui buscar mais. Era sobre penas mais pesadas para bandidos. Hoje, os cidadãos de bem são reféns."
Um dos usuários pró-Bolsonaro mais ativos atende por @SorataStandz. Misturando #SomosTodosBolsonaro com imagens de desenhos japoneses pornô, consegue fazer seis postagens em um só minuto.
O ritmo sugere que o perfil seja um robô –como a maioria da rede em torno do deputado, estimam especialistas em marketing político digital.
Indícios: o usuário é monotemático e publica em padrões sobreumanos. Segundo o Twitter, também "um grande número de respostas ou menções duplicadas" e "várias atualizações não relacionadas" a um tema.
"Robôs criam a sensação de que todo mundo está falando uma coisa. É o que os políticos estão buscando", diz Fabrício Benvenuto, professor do curso de Ciências da Computação da UFMG.
É impossível saber quem controla os autômatos. Podem ser "indivíduos, organizações e mesmo governos", diz Emilio Ferrara, pesquisador da Universidade da Califórnia –ele constatou que 1 em 5 postagens política nas eleições americanas vinha de robôs.
Bolsonaro diz não ter relação com os tuitaços, mas os aprova. "A leitura que faço é a satisfação do dever cumprido", diz. Seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSC-SP) cuida do Twitter –ele mesmo só trabalha "com o Facebook, apenas".
Só o batismo das urnas propiciará solução pacífica e civilizatória (por RONALDO CAIADO)
Alan Marques - 31.ago.16/Folhapress | ||
Michel Temer faz juramento e toma posse definitivamente na Presidência em cerimônia do Congresso |
O Reino Unido acaba de dar exemplo de como (e por que) funcionam as verdadeiras democracias. Diante de um quadro de impasse político, decorrente da saída da UE —o "brexit—, seu Parlamento, por iniciativa da premiê Theresa May, antecipou as eleições para 8 de junho.
Foi uma decisão esmagadora: 522 a 13. Parlamento e primeira-ministra teriam mandato até 2020, mas entenderam que, com o "brexit", estabeleceu-se uma ruptura da agenda política sob a qual se elegeram. Nessas circunstâncias, não há soluções de gabinete. Só o povo tem os meios de zerar o jogo e reiniciá-lo.
O Parlamento poderia ter feito vista grossa, em defesa de interesses pessoais e partidários, conservando os mandatos por mais três anos. Mas, em nome de algo bem maior —a governabilidade e o interesse público—, abriu mão de privilégios.
Cabe aí uma analogia com o quadro brasileiro, bem mais grave, dadas as suas circunstâncias econômicas, morais e sociais.
O impeachment da presidente Dilma Rousseff estabeleceu também uma ruptura com a agenda político-econômica sob a qual havia sido eleita —ela e sua base política, da qual faziam parte o seu vice, Michel Temer, o PT, o PMDB e outros partidos.
Essa agenda, como se sabe, foi rejeitada nas ruas, em megamanifestações, por uma conjunção de fatores: rombo orçamentário de R$ 200 bilhões e 14 milhões de desempregados, além do strip-tease moral exposto pela Lava Jato.
O Congresso, pressionado pela indignação popular, entendeu que bastava afastar a presidente, adaptar-se ao novo governo e estabelecer um realinhamento partidário. Solução artificial, de gabinete, que a sociedade rejeita. O novo governo não é novo; é subproduto do que foi derrubado nas ruas.
A sequência das investigações da Lava Jato mostra também o comprometimento de parcela expressiva dos partidos que estão no governo e que estiveram alinhados com o PT, que comandou o maior saque aos cofres públicos de que se tem notícia.
A crise brasileira, nesses termos, mostrou-se, mais que econômica, mais que política, institucional. Os três Poderes padecem de profunda falta de credibilidade para solucionar a crise; a sociedade não se sente representada por eles -e não confia nem chancela as propostas que lá tramitam, em busca de soluções.
A saída —e venho sustentando isso desde os tempos em que ainda se discutia o impeachment— é zerar o jogo, com novas eleições gerais, que restabeleçam a sintonia entre o povo e as instituições.
O exemplo britânico aí está. É preciso grandeza cívica para abdicar do conforto de mandatos e posições de influência. Disponho-me pessoalmente a fazê-lo, mesmo tendo sido eleito para um mandato de senador, de oito anos, que nem sequer chegou à sua metade.
O desconforto maior, no entanto, é integrar uma instituição cujo descrédito cresce a cada dia e já não tem meios de cumprir suas mais elementares tarefas.
Este Congresso ou não terá meios de fazê-las ou, se as fizer, as verá rejeitadas pela sociedade, aprofundando a crise. Só o batismo purificador das urnas —aqui como no Reino Unido ou em qualquer democracia— propiciará solução pacífica e civilizatória.
Os que se apegam a formalismos alegam que a periodicidade das eleições é intocável.
Ora, intocável é o interesse público, afrontado por uma conjuntura em que as instituições já não o representam. Se todo o poder deve emanar do povo (parágrafo único, do artigo 1º da Constituição) e não está emanando, então é o próprio país oficial que incorre em inconstitucionalidade. Às urnas!