Interrogatório de Lula tem tudo para ser espetáculo e ele arma o cenário (ELIO GASPARI)

Publicado em 12/04/2017 06:34
Decrépito, Boca Mole, Passivo... Doria vai reinar no deserto expandido pela Lava Jato (por AUGUSTO NUNES, em VEJA)

Na sexta-feira, 3 de maio, Lula e o juiz Sergio Moro terão seu primeiro encontro. "Nosso Guia" (título que lhe foi conferido pelo então chanceler Celso Amorim) será interrogado na condição de réu, acusado de ter recebido dois mimos da empreiteira OAS. Um foi a "entrega" de um apartamento reformado em Guarujá. Outro, o custeio do armazenamento de bens de sua propriedade. Tudo somado, o Ministério Público acusa Lula de ter sido beneficiado com cerca de R$ 3,7 milhões (nada a ver com o "Amigo" do caderninho da Odebrecht).

Ele nega ter recebido esses favores e diz que está "ansioso" por esse depoimento, "porque é a primeira oportunidade que eu vou ter de poder saber qual é a prova que eles têm contra mim."

Há um mês, Lula depôs espetacularmente na 10ª Vara Federal de Brasília, no processo que investiga a tentativa de compra do silêncio de um ex-diretor da Petrobras. Transformou a audiência de 50 minutos num comício. O juiz ajudou-o com perguntas genéricas e ele passou nove minutos falando bem de si e de seu governo. Intitulou-se "o mais importante presidente da história deste país", fundador do "partido que fez a maior política de combate à corrupção da história deste país". Quando foi convidado a falar "um pouquinho" do Instituto Lula, fechou o depoimento com uma catilinária de 12 minutos, durante os quais contou uma piada velha (a do sujeito que discursa quando a luz da geladeira se acende) e deu pelo menos 15 tapas e socos na mesa.

Disse duas vezes que não nomeou diretores para a Petrobras, pois essa é uma tarefa do conselho de administração da empresa. Fica combinado assim.

O PT está convocando suas bases para uma manifestação em Curitiba na hora do depoimento de Lula. Numa trapaça do tempo, no dia 3 de maio completam-se 50 anos da apresentação do filme "Terra em Transe," de Glauber Rocha no festival de Cannes. (A obra do cineasta baiano só fora liberada porque seria apresentada na mostra.) Milhares de pessoas na rua, Lula num palanque como réu e o juiz Moro com sua camisa preta seriam cenas à espera de um Glauber.

Lula já maltratou Moro, mas ultimamente vem alisando seu pelo. A boa etiqueta judicial determina que todas as perguntas e respostas de um interrogatório tenham relação com o processo, mas um réu como Lula pode argumentar que sua fala faz parte da estratégia da defesa.

Daí a contar que passou quatro dias na fazenda de seu amigo José Carlos Bumlai sem conseguir pescar um só peixe vai distância enorme. Moro e os advogados de defesa de Lula já tiveram grandes bate-bocas, sempre com um lado querendo calar o outro.

O juiz tem autoridade para cortar a palavra ou corrigir a conduta do depoente. Num episódio inesquecível ocorrido no século passado, o magistrado José Frederico Marques cortou o cigarro do governador Adhemar de Barros: "Réu não fuma". E Adhemar não fumou.

Moro poderá embargar a divulgação do vídeo por algumas horas. Terá mais trabalho se quiser impedir a gravação de um áudio clandestino. Nesse caso, não poderá reclamar caso ele vá ao ar, pois foi um mestre na divulgação imprópria de um telefonema de Dilma Rousseff a Lula.

O suspense do espetáculo de Curitiba dependerá do equilíbrio entre a vontade de Lula de falar e a de Moro de ouvir.

Pela primeira vez desde o início da Lava Jato, Lula poderá sequestrar o espetáculo.

A alma pura de Lula foi demitida por 13 milhões de pixulecos (por AUGUSTO NUNES, em VEJA)

O velho farsante está proibido de reprisar o repulsivo espetáculo do cinismo

Edson Arantes do Nascimento usa a terceira pessoa para referir-se a si próprio não por soberba, mas por humildade: ele sabe que merece ser tratada com reverência a incomparável entidade que habita seu corpo há mais de 60 anos. “O Pelé fez isso, o Pelé faria aquilo”, conjuga a terceira pessoa do singular esse mineiro de Três Corações escalado pelos deuses dos estádios para transformar-se no abrigo humano do maior gênio da bola de todos os tempos. Como todos os que viram o Atleta do Século jogar, Edson tem consciência de que Pelé não é coisa deste mundo. Tanto assim que, longe dos gramados desde 1977, continua instalado no trono do Rei do Futebol ─ e nele permanecerá por toda a eternidade.

Faz muito tempo que Luiz Inácio da Silva botou na cabeça que o maior dos governantes desde Tomé de Souza incorporou uma entidade do tamanho de Pelé. Não pode, portanto, caber num mofino “eu”. Depois da entrevista em que o marqueteiro João Santana anunciou que o PT tinha “um Pelé no banco”, pronto para entrar em campo tão logo terminasse o segundo mandato de Dilma Rousseff, o ex-presidente decidiu que Lula está para Luiz Inácio da Silva como Pelé para Edson Arantes do Nascimento. É uma singularíssima sumidade que, disfarçada de pernambucano de Garanhuns, foi enviada pela Divina Providência para que o país do Rei do Futebol fosse também o berço do Monarca da Política.

Neste domingo, o velho farsante reprisou o repulsivo espetáculo do cinismo: “Nunca antes neste país alguém foi tão perseguido quanto o Lula. Mas o Lula está acostumado com isso. Podem fazer de tudo que o Lula resiste. Estão investigando todo santo dia e não apareceu nenhuma prova contra o Lula”. Deu azar. Nesta terça-feira, num depoimento em Curitiba, Marcelo Odebrecht depositou no colo do Amigo 13 milhões de provas ─ em dinheiro vivo. É só o começo da tempestade de pixulecos que vai desabar sobre a cabeça baldia do delinquente que ousa comparar-se a Pelé.

Não há semelhanças entre o eterno Rei do Futebol e o reizinho corrupto destronado por excesso de safadeza, cupidez e cafajestagem. Fora o resto.

Fachin manda a Moro investigações que envolvem Lula e parentes

O ministro Edson Fachin, do STF (Supremo Tribunal Federal), enviou para o juiz Sergio Moro, do Paraná, as citações feitas por delatores da Odebrecht em relação ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu filho, Luís Cláudio, e a ex-presidente Dilma Rousseff.

Emílio Odebrecht, presidente do conselho de administração da empreiteira, e Alexandrino Alencar, ex-diretor de relações institucionais, disseram à PGR (Procuradoria-Geral da República) que Lula "teria se comprometido a melhorar a relação entre o Grupo Odebrecht e a então Presidente" Dilma.

Como contrapartida, a empreiteira apoiaria a Touchdown, empresa de Luís Cláudio.

"Há menção, nesse contexto, de reunião entre Luís Cláudio Lula da Silva e representantes da empresa, ocasião em que foi apresentado ao grupo [Odebrecht] o projeto 'Touchdown', associado à criação de liga de futebol americano no Brasil", escreveu o ministro.

O despacho informa ainda que, segundo o Ministério Público Federal, já há uma investigação no Paraná, "cenário a recomendar análise conjunta".

Não há autoridade detentora de foro no Supremo nesta investigação iniciada pela PGR.

Outro pedido de investigação feito pela PGR envolvendo familiares do ex-presidente também foi remetido ao Paraná.

Alexandrino e outro delator, Hilberto Mascarenhas, ex-diretor do setor de operações estruturadas – apontado como "departamento da propina" pelos investigadores – disseram que a Odebrecht pagou uma espécie de "mesada" em favor de Frei Chico, irmão de Lula.

"Narram os executivos que tais pagamentos eram efetuados em dinheiro e contavam com a ciência do ex-presidente", informa a decisão de Fachin.

Segundo os procuradores, esses pagamentos se dariam "na mesma relação espúria de troca de favores que se estabeleceu entre agentes públicos e empresários".

No pedido para enviar as informações ao Paraná, a PGR afirma que já corre no Estado a Lava Jato investigação sobre pagamento da Odebrecht em favor do PT e de Lula.

O STF tornou públicos os documentos relativos à delação da Odebrecht na noite desta terça (11).

LULA E WAGNER

Edson Fachin também enviou para o juiz Sergio Moro citação feita por delatores da Odebrecht em relação ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-ministro Jaques Wagner.

Cláudio Melo Filho, ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht, e Emílio Odebrecht, presidente do conselho de administração da empreiteira, afirmaram que Lula e Wagner participaram de tratativas para "edição de legislação que possibilitasse acordo de leniência" entre empresas e o Executivo sem a "interferência do Ministério Público". As negociações teriam resultado na medida provisória 703/2015.

O despacho de Fachin determina que, já que não há políticos com prerrogativa de foro, a investigação seja remetida à primeira instância.

Ele também pede a anexação do depoimento dos delatores ao inquérito que corre no Supremo para apurar suposto crime de organização criminosa por parte de membros do PT.

OUTRAS INVESTIGAÇÕES

O ex-presidente Lula ainda é citado em outros dois documentos do STF (Supremo Tribunal Federal) que foram remetidos para outras instâncias.

Em um deles, oito ex-executivos da Odebrecht relatam casos em que a empreiteira teria custeado despesas do petista.

"Narra-se, nesse contexto, a ocorrência de reformas em um sítio em Atibaia (SP), aquisição de móveis para uso pessoal, instalação do Instituto Lula e pagamentos de palestras, condutas que poderiam funcionar como retribuição a favorecimento da companhia", diz trecho da petição que está no Supremo.

Folha revelou em janeiro do ano passado que a Odebrecht foi responsável pela maior parte das obras de reforma do sítio.

Os trabalhos tiveram início em outubro de 2010, quando Lula estava no fim de seu segundo mandato como presidente.

Segundo um laudo da Polícia Federal, a reforma no local aconteceu até outubro de 2014 e custou ao todo R$ 1,2 milhão.

Na nova leva de pedidos, a PGR afirma que ao menos cinco delatores revelaram solicitações de Marcelo Odebrecht ao ex-presidente para que usasse sua influência para favorecer a empresa em temas de interesse na Angola.

Os dois temas foram enviados para a Justiça Federal do Paraná, sob a justificativa de que lá tramitam processos que podem ter a ver com essas novas acusações.

PALOCCI

Delatores da Odebrecht também disseram à Justiça que o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci recebeu "repasses financeiros" da empreiteira em pagamento pela edição da medida provisória 252 de 2005, que criou um regime especial de tributação para exportadoras.

"Os colaboradores narram a ocorrência de ajuste entre o Grupo Odebrecht e Antônio Palocci objetivando a concessão de benefícios fiscais relativos a crédito presumido de PIS/COFINS para Braskem", escreveu o ministro do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin em decisão que veio à público nesta terça-feira (11).

As declarações foram dadas pelos ex-executivos da Odebrecht Alexandrino de Salles Ramos Alencar e Pedro Augusto Ribeiro Novis.

Fachin determinou que os autos dessa investigação sejam encaminhadas à Justiça Federal do Paraná, onde Palocci está preso desde setembro de 2016, mas que cópias das declarações sejam anexadas a outra apuração em curso no STF.

(por LETÍCIA CASADOBELA MEGALECAMILA MATTOSOREYNALDO TUROLLO JR.RANIER BRAGON E ANGELA BOLDRINI).

Fachin remete a instâncias inferiores petições contra Lula, Dilma e FHC

O ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, encaminhou a instâncias judiciais inferiores petições envolvendo três ex-presidentes do Brasil, Fernando Henrique Cardoso (PSDB), Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Dilma Rousseff (PT).

No total, Fachin remeteu 201 petições a foros e tribunais inferiores pela ausência de foro privilegiado dos envolvidos, 25 delas mantidas em sigilo. Nove governadores tiveram seus casos enviados ao Superior Tribunal de Justiça. Outros três tiveram inquéritos abertos no próprio STF.

O ministro é relator da Operação Lava Jato no STF e recebeu há algumas semanas uma lista com procedimentos pedidos pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, baseado em investigações e delações como as dos 77 executivos da Odebrecht.

Na lista de Fachin, há políticos de diversos partidos, que atuam ou atuaram nas esferas municipal, estadual e federal.

Estão lá, entre outros, o ex-governador do Rio Sérgio Cabral (PMDB) e o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB), hoje presos.

Também aparecem os ex-prefeitos Eduardo Paes (PMDB), do Rio, e Fernando Haddad (PT), de São Paulo.

O ex-ministro Aloizio Mercadante (PT) e o prefeito de Araraquara (SP), Edinho Silva (PT), também tiveram petições remetidas.

EX-PRESIDENTES

A única petição contra Fernando Henrique Cardoso foi enviada à Justiça Federal de São Paulo. Ele foi delatado por Emílio Odebrecht, presidente do conselho do grupo.

"Ele relata o pagamento de vantagens indevidas, não contabilizadas, no âmbito da campanha eleitoral de FHC à Presidência da República, nos anos de 1993 e 1997", descreve Fachin no despacho.

Dilma aparece em duas petições, uma ao lado de Edinho Silva, que foi tesoureiro da campanha da ex-presidente à reeleição, em 2014. Na outra, estão Lula e os ex-ministros da Fazenda Antonio Palocci e Guido Mantega.

Em uma das citações de Dilma na Lava Jato, Marcelo Odebrecht, ex-presidente do grupo, disse que a empreiteira destinou R$ 50 milhões a campanha da petista por intermédio de Mantega.

Marcelo afirmou também que Lula recebeu R$ 13 milhões em espécie.

Lula é objeto no total de seis petições. Em uma delas está acompanhado de Jacques Wagner (PT-BA), ex-governador da Bahia. Em outra petição, remetida ao juiz Sergio Moro, Lula é alvo ao lado de Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula.

Outras duas envolvem seus familiares: o irmão José Ferreira da Silva e o filho Luis Cláudio Lula da Silva.

O irmão de Lula, conhecido como Frei Chico, teria recebido mesada de R$ 5.000 da Odebrecht por mais de dez anos, segundo a revista "Veja".

No caso do filho de Lula, a Odebrecht teria pago um orientador de carreira para que ele viabilizasse uma empresa de eventos esportivos.

A informação consta da delação de Alexandrino Alencar e foi revelada pela Folha.

Todo Feio fica de fora da lista que inclui Decrépito, Boca Mole, Passivo...

"Quem não apareceu está sendo considerado desprestigiado", disse o Forte sobre a lista da qual não ficou de fora. Nem ele nem o Decrépito, o Boca Mole, o Duro e o Passivo. Já o Todo Feio não está lá.

Forte é o apelido atribuído ao deputado Paulo Pereira da Silva (SD-SP), o Paulinho da Força, em planilhas de pagamentos da Odebrecht a cerca de 200 políticos. Divulgada em 2016 pela Polícia Federal,a lista de codinomes se justapõe agora à dos cem investigados em inquéritos abertos por determinação de Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal.

Atendem por Decrépito, Boca Mole e Passivo (também chamado de Comuna), respectivamente, os deputados Paes Landim (PTB-PI), Heráclito Fortes (PSB-PI) e Daniel Almeida (PCdoB-BA). O senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES) é o dono da alcunha Duro.

Em dezembro, o ex-deputado paraibano Inaldo Leitão chegou a protestar contra seu apelido, em post no Facebook intitulado "Todo Feio, Eu?".

Foi um dos poucos batizados ausentes da lista de Fachin –mas só porque seu caso deixou de ter foro privilegiado e foi enviado para um tribunal de instância inferior.

Não poderiam dizer o mesmo vários frequentadores da alta cúpula de Brasília, como os ministros Romero Jucá (Caju), Eliseu Padilha (Primo) e Moreira Franco (Angorá), todos do PMDB. Os presidentes da Câmara e do Senado, Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Eunício Oliveira (PMDB-CE), o Botafogo e o Índio, também são alvos de inquéritos.

Entre os governadores na mira: Santo (Geraldo Alckmin, PSDB-SP), Menino da Floresta (Tião Viana, PT-AC) e Renan Filho (PMDB-AL), filho de outro investigado, o Justiça (senador Renan Calheiros ).

Três políticos com apelidos no diminutivo, o ex-prefeito do Rio Eduardo "Nervosinho" Paes (PMDB) e os senadores Fernando "Roxinho" Collor (PTC-AL) e Aécio "Mineirinho" Neves (PSDB), teriam recebido milhões superlativos da Odebrecht, segundo delatores.

A Odebrecht também tinha um codinome para o que a Procuradoria-Geral da República chama de "departamento de propina": Setor de Operações Estruturadas".

Haja Misericórdia –vulgo Antonio Brito (PSD-BA), deputado também lembrado pelo STF.

Uma profusão de 'Genis' na 'lista de Fachin' (por ELIANE CANTANHEDE, no ESTADÃO)

Com tantas e tão variadas “Genis” na “lista de Fachin”, é impossível o PSDB atirar pedras no PT, o PT atirar pedras no PSDB ou qualquer partido atirar qualquer coisa contra os outros. A lista atinge todo o mundo político, até mesmo o PMDB do presidente Michel Temer e o coração do seu governo.

Entre mortos e feridos, por enquanto, não se salva ninguém. Se os ex-presidentes do PT José Dirceu e José Genoino foram pegos desde o mensalão, agora os dois campeões, com cinco inquéritos cada um, são os presidentes do PSDB, Aécio Neves, e do PMDB, Romero Jucá.

Sem nomes inesperados, a surpresa é a proporção de senadores: 24, quase 30% do total de 81, contra 39 deputados, menos de 10% dos 513. Somados, esses alvos são mais do que suficientes para paralisar o Congresso, inclusive a votação da reforma da Previdência. Nem os presidentes do Senado, Eunício Oliveira, e da Câmara, Rodrigo Maia, escaparam.

Assim, Michel Temer (que não pode ser citado por fatos anteriores ao mandato) é atingido triplamente: além do impacto sobre as reformas, ele vê o seu partido duramente envolvido e o núcleo duro do Planalto balançando.

Depois de Geddel Vieira Lima, o risco é perder Eliseu Padilha, da Casa Civil, e Moreira Franco, da Secretaria-Geral da Presidência. Esse foi o tripé que sustentou a chegada de Temer à Presidência e, como ele anunciou publicamente, ministros que forem denunciados serão afastados temporariamente e os que virarem réus, definitivamente. Ainda não foi o caso, mas pode vir a ser.

Os ex-presidentes Lula e Dilma deveriam estar entre aliviados e exultantes, mas a situação deles não é nem um pouco melhor, tanto que o PT e a própria Dilma já afunilam o discurso de que, se Lula for preso, isso será um “golpe” para tirá-lo de 2018 na marra. É um “hedge”.

Depois que o repórter Breno Pires publicou a “lista de Fachin” no Estado, com exclusividade, quem puder que atire a primeira pedra! Só a sociedade pode. Não contra um, mas contra todos. Uma política de Genis.

Doria vai reinar no deserto expandido pela Lava Jato (por AUGUSTO NUNES, em VEJA)

Na terça-feira em que virtualmente todas as estrelas da política começaram a perder a luminosidade, apagaram-se de vez ou se tornaram cadentes, a única a seguir brilhando com especial intensidade foi a caçula da constelação. A bordo do avião que o levava para a Coreia do Sul, o prefeito João Doria Jr. não tinha motivos para perder o sono com o avanço da Lava Jato ou com a delação da Odebrecht, nem com as explosões decorrentes da lista do ministro Edson Fachin, muito menos com os estragos causados pela epidemia do caixa 2. Doria só não dormiu direito caso tenha cedido à excitação provocada pela suspeita de que o caminho que leva ao coração do poder ficou bem mais curto.

A delação do fim do mundo efetivamente condenou à morte uma era da história política destes trêfegos trópicos, sobretudo por ter interditado as estradas, sinuosas e repletas de desvios, percorridas nas últimas décadas por figurões de todos os partidos. O Brasil redesenhado pela Lava Jato vai-se mostrando incapaz de engolir o que antes descia sem engasgos pela garganta complacente. Os que agora estão marcados pelo estigma da corrupção deveriam desde já procurar outro ofício. Alguns talvez até consigam continuar pendurados no Congresso. Mas nenhum dos alcançados pelo anátema chegará à Presidência da República. Lula, Aécio Neves, Geraldo Alckmin, José Serra ─ todos acabarão tragados pelo tsunami que apenas começou.

Quem sobrará na vastidão despovoada de gente confiável, de cidadãos honrados, de políticos minimamente interessados nos milhões de brasileiros fartos de cinismo e exaustos do exercício da esperança como profissão? A contemplação da terra devastada informa que pouquíssimos morubixabas escaparão de perdas e danos de bom tamanho. Um deles é certamente o prefeito de São Paulo, e ninguém parece em situação tão confortável. Ele acabou de chegar ao mundo em decomposição. Não tem culpas a expiar, pecados a purgar, explicações a oferecer. Doria conhecerá uma esplêndida solidão no deserto de homens e ideias.

Neste outono de 2017, o destino ofereceu a João Doria o melhor dos mundos: para tornar-se candidato a qualquer coisa, nem precisa declarar-se candidato. Basta seguir administrando São Paulo com a competência demonstrada nos 100 primeiros dias de mandato – recompensada com o recorde de aprovação que tão cedo não será batido. Doria está liminarmente dispensado de enfrentar eleições prévias, contornar antagonismos partidários, sujeitar-se a ciumeiras internas; nada disso. Com o sumiço dos concorrentes, é o protagonista que restou. Pode escolher o papel que lhe conviver. Tem tudo para fazer bonito no papel de mocinho.

 

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Fonte:
Folha de S. Paulo/Estadão/VEJA

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