Retrocesso econômico provocado por políticas de Dilma Rousseff é um crime (CLÓVIS ROSSI)

Publicado em 09/03/2017 05:15
NA EDIÇÃO DA FOLHA DE S. PAULO DESTA QUINTA-FEIRA

Vamos tirar as luvas que encobrem as palavras duras e dizer, com toda a clareza, que o retrocesso econômico-social provocado pelas políticas de Dilma Rousseff é o equivalente a um crime. Um crime de lesa pátria.

Não há outra palavra adequada para qualificar a redução de quase 10% na renda de cada brasileiro.

Dilma Rousseff foi punida pelo crime. Que ninguém se iluda: ela não foi afastada pelas pedaladas fiscais. Foi vítima de um teorema clássico na política: um governo fracassa, o público se irrita, os políticos oportunistas abandonam o governante e se cria um pretexto para o impeachment, afinal consumado.

O problema é que, punida Dilma, ficou de pé todo o "sistema" que a sustentava, para chamá-lo de alguma maneira.

Cito meu guru na análise econômica, Vinicius Torres Freire, na coluna desta quarta-feira (8) :

O que trouxe o país a "esse abismo sórdido" foi "a 'pax luliana', o acordão entre petismo e agregados esquerdistas com os donos da grande empresa e do dinheiro grosso em geral".

O que se tem agora é a "pax temeriana". Saem o PT e os agregados esquerdistas, mas fica o PMDB, partido corresponsável de resto pelo crime de lesa pátria que é essa brutal recessão.

No lugar do PT, entra o PSDB, partidos que a Lava Jato tornou mais indistinguíveis do que já eram antes dela. Basta lembrar um detalhe: Henrique de Campos de Meirelles foi eleito, em 2002, pelo PSDB, mas se tornou, em 2003, o ministro da Fazenda de fato do governo petista, na condição de presidente do Banco Central. Volta, no novo acordão, como ministro "de jure" e de fato do governo Temer.

Claro que continuam no novo "sistema" os donos da grande empresa e do dinheiro grosso. Estão sempre com o governo, seja qual for o governo, e representam o que os argentinos gostam de chamar de "poderes fácticos".

Os que na verdade mandam.

É possível que o novo acordão ressuscite um país que respira por aparelhos? Que retire o país da UTI é perfeitamente possível e até esperável. De um lado porque nenhuma das invenções modernas ou antigas foi capaz de pôr um fim aos ciclos econômicos.

Do outro porque os novos gestores parecem determinados a não cometer mais os desatinos que arruinaram o país.

Mas, entre sair da UTI e se tornar hígido, há um espaço fundamental, que por enquanto não está nem remotamente no horizonte.

A crise não fez o país perder apenas renda, o que já é uma enormidade. Perdeu ambição. Como aponta essa excelente repórter que é Érica Fraga, "as estimativas do chamado PIB potencial brasileiro —capacidade de crescer sem gerar pressões inflacionárias— variam, atualmente, de 1,5% a 3,5%".

É muito pouco por si só, mas se torna um crescimento anêmico quando se pensa que, não faz tanto tempo assim, havia estimativas de que o país precisaria crescer 7% ao ano (na média, claro) para se tornar de fato desenvolvido.

Com essas perspectivas, calcula a Folhaapenas em 2023 o país retornará ao mesmo nível de renda média de 2013, "numa década inteira de estagnação".

É ou não um crime?

Anos 2010 são uma viagem ao fundo do abismo sórdido (por VINICIUS TORRES FREIRE)

Antes de ser uma década perdida para a economia, os anos 2010 terão sido um ano de assombrações, de coisas terríveis e, se não inexplicáveis, ainda muito mal explicadas.

Por que a grande revolta política "das ruas" começou quando consumo e renda flutuavam no nível mais alto da história, 2013? Por que a recessão não provoca conturbação social maior, embora produza projetos de monstros, líderes políticos das trevas?

Em 2015 e 2016, jamais a renda média dos brasileiros rolou tão rápido a ribanceira desde que se tem notícia dessas coisas, desde o começo do século passado.

No entanto, mesmo depois de tamanha desgraça, a renda média, na verdade o PIB per capita, ainda equivale à de meados do ano da felicidade consumista de 2010, da canonização política de Lula e da eleição do poste que ele indicou por um "dedazo" de caudilho, Dilma Rousseff.

Sim, há o desemprego terrível, que duplicou em dois anos, para níveis altos mesmo no Brasil, de tumultos e exageros ciclotímicos. Por falar nisso, talvez o desemprego fulminante seja devido justamente ao fato da proteção dos rendimentos, do trabalho ou outros, como acreditam economistas ditos ortodoxos. Sem ajuste maior pela renda, talham-se empregos.

Mas, por horrível que seja dizê-lo, mesmo a massa imensa de desempregados é minoritária.

Mesmo após o desastre, ainda está quase no maior nível da história o número de pessoas com salários protegidos por lei, com empregos formais, com renda mínima garantida por algum programa social. Ao menos na história até 2014 ou 2015, o que, em termos históricos, desculpem o pleonasmo, foi anteontem.

A renda média aumentaria ainda até o pico de 2013, um dos anos de assombros e assombrações. Ano daquele Junho que foi o começo da campanha contra Dilma Rousseff. Ano do colapso súbito da confiança política e econômica, dos primeiros sinais de recessão, na indústria, no investimento, evidentes no segundo semestre.

No entanto, a revolta da massa era de um modo ou outra política. A recessão estava longe das ruas. Mesmo o movimento de deposição de Dilma antecedeu a crise econômica dura. Foi deflagrado pelo udenismo de Aécio Neves em fins de 2014; teve repercussão social maior antes da crise braba, ainda no primeiro trimestre, uma reação ao estelionato eleitoral chocante.

A revolta da elite empresarial era quase inaudível em 2012; era sussurrada com ira pouco antes do Junho de 2013. Mas, até pouco antes disso, aceitavam-se quase de bom grado as primeiras loucuras de Lula e os primeiros terremotos ruinosos de Dilma. Era um conluio. Ignorava-se a demência da política econômica porque havia rapina direta, roubança, e subsídios, empréstimos empresariais e consumismo insustentável financiado com dívida pública.

É fácil compreender o oportunismo vulgar da elite quase toda. É menos simples entender como um país inteiro foi incapaz de resistir a esse pacto de ruína. Um país que pareceu imunodeficiente de instituições, forças políticas e debate público que abalassem a versão final e mais degradada da "Pax Luliana", o acordão entre petismo e agregados esquerdistas com os donos da grande empresa e do dinheiro grosso em geral.

Isso que nos trouxe a este abismo sórdido.

As piores notícias da recessão (EDITORIAL DO ESTADÃO)

A atual recessão, talvez a maior da história republicana, está confirmada oficialmente. Depois de encolher 3,8% em 2015, o Produto Interno Bruto (PIB) diminuiu mais 3,6% no ano passado. Mas o novo balanço da economia brasileira contém pelo menos duas notícias piores que essa. A contração do bolo já resultaria na redução das fatias ideais, se a população ficasse constante. Mas o número de brasileiros continuou crescendo 0,9% ao ano, de acordo com estimativa do governo. Como consequência, o produto por habitante minguou 9,1% desde 2014, quando a expansão econômica já foi menor que o aumento demográfico. Cada brasileiro ficou estatisticamente mais pobre, embora nem todos, na realidade, tenham sido afetados igualmente. De fato, os mais pobres foram atingidos ainda mais duramente, porque foram os mais afetados pelo desemprego e pela perda de renda real. A segunda notícia especialmente ruim pode parecer menos dramática, mas confirma um fato desastroso: em 2016 o País continuou perdendo potencial de recuperação e de crescimento. A crise contaminou o futuro.

O principal motor do crescimento econômico é o investimento. A curto prazo um aumento do consumo pode fortalecer os negócios e movimentar a produção, mas só há expansão duradoura quando se investe no aumento e na modernização da capacidade produtiva. No ano passado, o investimento em máquinas, equipamentos e construções – a Formação Bruta de Capital Fixo – ficou em 16,4% do PIB. Em 2013 a relação chegou a 20,9%. Depois a queda foi contínua. Pior: nos últimos dois anos o valor investido representou parcelas decrescentes de um PIB também declinante.

Pelas estimativas mais comuns, o potencial de crescimento econômico do Brasil deve estar próximo de 1% ao ano. O avanço pode até ser maior, num arranque inicial, mas só com maior capacidade produtiva será possível manter um ritmo igual ou superior a 2% por vários anos. Se houver avanço na agenda de reformas e de modernização, o potencial poderá chegar a uns 3,5%, segundo o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Emergentes com melhor desempenho que o do Brasil têm mantido, mesmo na América do Sul, taxas de investimento iguais ou superiores a 25% do PIB. Nas economias mais dinâmicas da Ásia a proporção é maior.

Mas é preciso acrescentar um ponto especialmente importante e com frequência esquecido, quando se fala de potencial de crescimento. Quando se mencionam taxas de investimento como porcentagens do PIB, a referência é normalmente restrita à Formação Bruta de Capital Fixo – itens como infraestrutura, instalações industriais e sistemas de informática, por exemplo. Mas a capacidade de expansão depende também de investimentos em educação e pesquisa, tópicos tratados com pouquíssima seriedade na formulação e condução de políticas no Brasil.

Enquanto o público examinava os números divulgados na terça-feira de manhã pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o presidente Michel Temer e ministros conversavam com empresários no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. Sem fugir do assunto e sem ficar lamentando a crise, o presidente e o ministro da Fazenda falaram sobre pontos fracos da economia e sobre o caminho para uma expansão duradoura.

A agenda governamental, em boa parte antecipada no Estado de terça-feira, inclui ações de efeito rápido, como a retomada, com mudanças, do programa de concessões de infraestrutura. Mas o presidente e o ministro insistiram de modo especial em ações para facilitar o funcionamento da economia, como a simplificação de procedimentos burocráticos, a reconstrução das contas públicas e, naturalmente, reformas como as da Previdência e das normas trabalhistas. Já há sinais de reativação em alguns setores. São importantes a curto prazo, mas produzirão efeitos limitados, se nada for feito para racionalizar o governo, reduzir custos, simplificar e facilitar os negócios e tornar o País mais dinâmico. Para isso será preciso vencer o populismo e a velha e dominante política da mediocridade.

 

 

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Fonte:
Folha de S. Paulo + Estadão

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