"Brasil em desmanche", alerta general ex-comandante do Estado-Maior do Exército

Publicado em 01/03/2017 20:52
O poder da esquerda e da liderança política fisiológica é fator de atraso e falência moral... Artigo de Luiz Eduardo Rocha Paiva -- General da reserva, ex-comandante e professor emérito da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, no Estadão.

Uma causa longínqua, mas decisiva, do desmanche do Brasil é o seu sistema de ensino deficiente na transmissão de conhecimentos, no desenvolvimento da cultura, na formação cívica do cidadão, na valorização da História e das tradições, o que enfraquece o patriotismo, e na conscientização de princípios morais e éticos, fatores de fortalecimento da sociedade. Essas deficiências facilitaram a implantação e expansão no País da crise de valores, nos anos 1960-1970, que contaminou a instituição da família globalmente e abalou sociedades imaturas como a brasileira.

Tal cenário foi explorado pela esquerda socialista, a partir dos anos 1960, permitindo-lhe o progressivo domínio do sistema de ensino brasileiro. Os partidos e movimentos dessa ideologia acabaram por dominar, também, o meio artístico e parte da mídia. Com os formadores de opinião nas mãos, promoveram a satanização da maioria conservadora, falsamente acusada de radical, regressista e avessa a anseios da população carente. Na verdade, “o conservadorismo não é contrário às mudanças, como se costuma supor, mas entende o progresso útil como proveniente do saber anterior e acumulado e, portanto, plantado nas virtudes e nos valores do passado” (Rohmann, Chris, O Livro das Ideias, Rio de Janeiro, Editora Campus, 2000, pág. 79).

A democracia não se sustenta em nações sem consciência cívica, Justiça legítima e eficaz, onde o Estado não provê as necessidades básicas à população e é gerido por lideranças desacreditadas. A esquerda socialista estava no poder desde 1994, primeiro a fabianista e depois a marxista, em parceria com lideranças patrimonialistas. Ambas são responsáveis por desacreditar a nascente democracia brasileira e afundar o País no mar de lama que sufoca a Nação. Com sua ultrapassada visão de Estado, governo e sociedade, os socialistas ditaram rumos desastrosos na busca do Estado de bem-estar social, num país que não alcançou o nível de riqueza capaz de sustentá-lo e mantê-lo em desenvolvimento. Imagine se tomassem o poder nos anos 1960.

A crise brasileira está no limite do suportável. A continuar o ritmo de deterioração política, econômica, moral e social, a tendência será o advento de rebeliões generalizadas, comprometendo a unidade política do País. Esse contexto é o resultado de mais de uma década de danosas políticas populistas eleitoreiras, de gestão econômica irresponsável e insustentável e da estratégia de corrupção para perpetuar o PT no poder.

O presidente da República e o PMDB foram parceiros da liderança petista e por isso também são responsabilizados pela crise nacional. Assim, embora o impeachment de Dilma Rousseff fosse o melhor para o País, e o processo tenha sido legal, era possível antever as dificuldades para o sucessor superar os óbices e recolocar o Brasil nos eixos.

Hoje, o Estado não cumpre o papel que lhe delega a Nação de garantir sua segurança, desenvolvimento e bem-estar. Na segurança pública a situação é de pré-anomia, pois o Estado não demonstra autoridade nem capacidade de controlar todo o território nacional, tampouco de exercer o comando e a disciplina sobre órgãos de segurança da população. A demora em controlar as revoltas em presídios das Regiões Norte e Nordeste e o motim da PM do Espírito Santo revelam leniência, indecisão e falta de vontade ou autoridade dos governos federal e estaduais. A mistura dessas fraquezas com o não atendimento das necessidades básicas da população é um estopim para a disseminação de revoltas capazes de provocar o caos político-social e comprometer a segurança nacional.

A efetiva reabilitação do Brasil, em todos os setores afetados, demandará mais de uma década, mas o ponto de partida e os alicerces da recuperação estão na economia. Será fundamental haver evidências seguras de reabilitação, nos próximos meses, para as tensões se amenizarem. Com isso o governo terá fôlego para encaminhar as soluções para os problemas dos setores político e social.

É justo reconhecer que o governo busca implementar medidas necessárias à recuperação econômica, mas precisa convencer a sociedade a aceitar sacrifícios. Ela concordaria em arcar com um pesado ônus para ajudar o Brasil a sair do abismo desde que o andar de cima apertasse, e muito, o próprio cinto. Porém a liderança nacional, nos três Poderes da União, não entende que o exemplo vem de cima e é a base moral da autoridade. Nos altos escalões do serviço público, da União e dos Estados, existem megassalários turbinados por benesses complementares, cuja legalidade sem legitimidade afronta a justiça. A socialização equilibrada desse custo é a única forma de legitimar sacrifícios impostos a uma sociedade sem reservas para cortar.

A deterioração da economia nos próximos meses geraria cenários de conflitos, pois as tensões sociais se agravariam, escalando para revoltas em diversas regiões e ameaçando os Poderes constitucionais e a unidade nacional. O Executivo sem a confiança da Nação, leniente, tímido e sem força política, ao lado de um Legislativo desacreditado e descomprometido e de um Judiciário dividido, terá sérias dificuldades para pacificar o País com base no arcabouço legal vigente. Para aquilatar o nível de violência desses conflitos basta lembrar que a unidade nacional é cláusula pétrea para as Forças Armadas.

A Nação precisa entender que o poder da esquerda socialista, ideologia liberticida e fracassada, e da nossa liderança política fisiológica é fator de atraso e falência moral. Elas afundaram o Brasil, promoveram a quebra de valores morais e do princípio da autoridade, bases da paz social, incentivaram a indisciplina no serviço público e fraturaram a coesão nacional. Como deter o desmanche do País, dentro das normas legais, com a Nação sujeita à forte influência socialista e sob o poder de lideranças fisiológicas tão difíceis de expelir?

Por que somos assim?, por ZANDER NAVARRO (no ESTADÃO)

Vamo-nos fixar no Brasil, ignorando por ora a insanidade coletiva que caracteriza o estado do mundo. Afinal, seria demasiado desafiador entender por que o Parlamento russo sancionou a violência doméstica ou os deputados da Romênia tentaram liberar a corrupção até certo nível monetário. Por que será que países com História ilustre, como a Turquia, a Hungria ou a renascida Polônia e sua vibrante economia optaram por regimes autoritários tão primitivos? E os ingleses, sempre acesos, como se deixaram levar pela emoção e aprovaram o mergulho na escuridão fora da União Europeia? Sobre todos esses fatos, e muitos outros, surge um espertíssimo empresário, mas ignorante do mundo da política e, inacreditavelmente, os eleitores do país mais poderoso do mundo o elegem para a Presidência. São tempos sombrios e ameaçadores.

Sujeitos às nossas particularidades, não escapamos dessa marcha delirante. Basta abrir os olhos e ver à nossa volta, das episódicas evidências do cotidiano aos fatos mais impactantes. Somos um país que delicia os antropólogos, os especialistas dedicados às “coisas da cultura” que tentam explicar por que sempre escolhemos o irracional, o inconsequente e o mágico. Mas sua civilidade os impede de usar os termos corretos para designar as oceânicas patetices que conduzem a Nação. Mesmo a cordialidade permanente que nos caracterizaria (assim dizem) não camufla a gigantesca sensação de derrota e fracasso que está hoje fincada no fundo de nossos corações – a generalizada impressão sobre um país que, de fato, não tem futuro.

Como recordar é viver, diariamente observamos exemplos espantosos. Do presidente da República, que seria um especialista em Direito Constitucional, mas não se envergonha de exercer a censura em razão de uma infantilidade que teria incomodado sua esposa. E o outro que era então presidente do Supremo, mas nem ficou corado em “fatiar” a Constituição para proteger a ex-presidente, rasgando ao vivo e em cores a nossa Lei Maior? E esta recente carnificina num presídio de Natal, quando atemorizados soldadinhos da Força Nacional entraram com contêineres para separar as facções em luta? Assustados, ficamos pensando: não conseguem sequer interromper a selvageria e dar fim à rebelião? São eventos nada educativos, sugerindo que o Estado brasileiro é ficcional e se vão esfumaçando os fundamentos da vida em sociedade. Pior ainda: qualquer fato ou ação proposta sempre se defronta com duas expressões imobilizadoras tornadas obrigatórias no jargão da política. A primeira exige que “seja ouvida a sociedade”, vaga demanda que sugere democracia, como se esta fosse real no Brasil. E se for iniciativa com alguma implicação social, diversas vozes logo ecoarão: “Chamem os movimentos sociais!”. É outra ficção, mas, na dúvida, opta-se por nada fazer. E seguimos entre a inércia e a boçalidade que talvez seja, esta sim, a nossa marca cultural mais distintiva.

Por que somos assim? Por que aceitamos tanta falsidade, tanto cinismo e manipulação com tal serenidade? Por que situações que são acintosamente ilógicas são passivamente recebidas pela população? Por que nos deixamos dominar tão rapidamente pelo autoengano, pelo fingimento e pelo pensamento mágico? Somos, de fato, estruturalmente incapazes de alguma reflexão crítica e, entre nós, a frase de Montaigne sobre o “maravilhoso trabalho da consciência: ela nos faz trair, acusar e combater a nós mesmos (...) nos denuncia contra nós mesmos”, não se aplicaria?

Por que somos assim? Ativado um debate nacional para obter respostas, listaríamos os fatores que são os mais conhecidos. Da baixa escolaridade às recentes raízes agrárias, pois a intensificação da urbanização se desenrolou no último meio século. Da modernidade industrial à extensão dos direitos e ao adensamento democrático, mudanças igualmente recentes. Outros enfatizarão o peso do catolicismo vigente, que exalta a pobreza e a vida comunitária, o que desenvolveria posturas que, na prática, acabam sendo anticapitalistas e inibem o empreendedorismo. Ou, então, heranças patrimonialistas de nossa História e até mesmo o legado de estruturas cartoriais que nos formaram ao longo dos séculos.

Todos esses determinantes, sem dúvida, têm algum peso que precisaríamos avaliar. Mas discutimos escassamente dois outros aspectos que parecem ser igualmente cruciais para explicar esse estado de prostração que atualmente é típico em nossa sociedade. Primeiramente, e ao contrário do que tem sido afirmado, nossas instituições (as formais e as informais) funcionam muito mal, são diáfanas de tão fracas, sem nenhuma robustez e eficácia, existem mais no papel e na retórica, com rala efetividade prática no cotidiano dos cidadãos. Não imagino que seja necessário ilustrar, todos conhecemos sobremaneira a inoperância de nossas instituições. Como adensá-las?

Por fim, o outro grande tema que está exigindo urgente discussão diz respeito à inacreditável indigência que caracteriza as nossas elites, seja no tocante ao seu minúsculo estofo cultural ou, então, em relação à sua incapacidade decisória. Todas elas, da política à empresarial, da educacional à estatal, da Justiça à científica. Não há grupo algum a quem possamos entregar o bastão e pedir que nos conduza para um futuro mais radiante. Sobre esse tema novamente Montaigne nos inspira: “Para quem não tem na cabeça uma forma do todo, é impossível arrumar os elementos (...) nossos projetos descaminham-se porque não têm direção nem objetivo. Nenhum vento serve para quem não tem porto de chegada”.

Todas as grandes sociedades se consolidaram em função de projetos societários impulsionados sob o comando de elites que conseguiram desenvolver “uma forma do todo”. Ainda veremos essa estratégia transformadora concretizar-se no Brasil algum dia?

*Sociólogo e pesquisador em ciências sociais e-mail: [email protected]

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Fonte:
O Estado de S. Paulo

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1 comentário

  • Joel Cariell Ponta Grossa - PR

    O Brasil vem sendo governado de fora para "dentro" há muitas décadas. Para entender melhor o movimento das esquerdas sugiro verem o vídeo do Cel. Ênio Fontenelle ( Ex-SNI) e vão entender que este movimento fabianista (Nova Ordem Mundial - NOM) é mundial, por isso o comportamento dos esquerdistas sulamericanos é semelhante aos esquerdistas norte americanos e europeus. A organização de G. Soros + Clinon + magnatas da Non estão perdendo terreno para a "Nova Nova ordem Mundial" de Trump + Putin + ONU + magnatas descendentes da antiga Nom formando uma nova "direita conservadora" que varrerá o mundo, mas não sem luta !! Putin se uniu a Trump contra Soros e contra a antiga Nom. Atualmente a maior parte da mídia pertence a Soros, por isso batem em Trump e nos conservadores. Veja o vídeo e entendam como a coisa funciona !! Vmos estudar um pouquinho para não perdermos o bonde da história ! (https://www.youtube.com/watch?v=DkpcAKyO7lY).

    (ERRATA: A ONU não faz parte da "NOVA NOVA", a ONU ainda está nas mãos da antiga NOM, desculpem meu erro ! )

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    • victor angelo p ferreira victorvapf nepomuceno - MG

      A nova arma de destruição em massa é o dinheiro...As ONGs são os soldados do Governo de Fora e agora vão entrar com um processo contra a Petrobras por poluição na Refinaria de Passadena...esta Nova Ordem Mundial esta ganhando esta 'guerra' as custas de um adversário fraco como o Brasil...

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