A incoerência de esperar que o governo decrete o livre mercado, no Mises Brasil

Publicado em 22/02/2017 03:05
por Mariana Diniz Lion

Vocês se lembram de quando a Uber chegou ao Brasil?

Nos primeiros meses, os grandes tubarões dos outros meios de transporte pressionaram os governos por uma efetiva proibição.

Ou, ao menos, pela regulamentação do setor.

Muitas pessoas, inclusive liberais, fizeram coro a esta exigência regulatória, acreditando que uma eventual regulamentação do aplicativo seria encarada como uma autorização para sua existência e operação — e que, portanto, seria positiva.

O resultado foi que, em muitas cidades, o aplicativo é tão regulado que possui taxas, impostos e encargos excepcionais que encarecem o serviço e prejudicam o consumidor a ponto de tornar sua prestação desvantajosa.

Libertários sabem que o ideal seria que não houvesse nenhuma regulamentação, e que a empresa pudesse ter a liberdade de decidir com seus parceiros e consumidores os melhores métodos e tarifas, sempre correndo o risco de perder seus clientes para uma boa concorrência.

Mas há alguns libertários, no entanto, que acreditam que esse mesmo raciocínio não se aplica a um ambiente global.

A recente polêmica do TPP (Trans-Pacific Partnership) é um bom exemplo.

Para vários libertários, dentre os quais eu me incluo, o TPP é o oposto de livre comércio. Trata-se de um calhamaço de mais de mil páginas que especificam inúmeras regulamentações para os participantes. Há capítulos específicos para nada menos que 22 assuntos, dentre eles leis ambientais, patentes, compras governamentais, novas regulamentações para o e-commerce, políticas específicas para o setor de têxteis, políticas específicas para o setor de remédios, regras sobre a origem de produtos, exigências de verificação e a imposição de leis trabalhistas (o Vietnã seria obrigado a criar sindicatos).

Acordos de "livre comércio" como a TPP nada mais são do que acordos que implantam um comércio regulado e dirigido pelos governos em prol de grupos de interesse poderosos (grandes empresários ligados ao governo e grandes sindicatos). Acordos comerciais apenas ampliam o poder regulatório dos governos e sua capacidade de conceder mais privilégios.

Um genuíno acordo de livre comércio, caso dependesse de aprovação do governo, precisaria apenas de uma ínfima legislação, declarando que:

Por meio desta, o governo [insira o nome do gentílico] elimina todas as vigentes barreiras, restrições e proibições à livre e irrestrita exportação e importação, compra e venda, de todos os bens e serviços entre [nome do país] e toda e qualquer nação do mundo.  O governo [insira o nome do gentílico] declara que todas as formas pacíficas e não-fraudulentas de comércio e troca são questões exclusivas do foro privado de cada indivíduo, e dizem respeito apenas aos cidadãos do [insira o nome do país] e do resto do mundo envolvidos na transação.  Esta lei entra em vigor imediatamente.

Pois bem.

O governo Trump rejeitou o TPP, ainda que por outros motivos. Muitos liberais e libertários estão defendendo que o acordo, por ser um "acordo comercial", teria ao menos um ponto positivo, sendo na verdade um impulso na direção do livre mercado.

Tal raciocínio se assemelha àquele que defende a regulação do Uber e de outros aplicativos de transporte individual privado como símbolo de aceitação governamental e do mercado.

A globalização é a personificação do livre comércio, o qual todos consideramos essencial para o mercado verdadeiramente capitalista. O grande problema é que governos, empresários corporativistas e políticos enxergaram na globalização e nas inovações de mercado a oportunidade perfeita para beneficiarem suas próprias "panelinhas".

O mercado aberto cria riqueza, aproxima pessoas e culturas distantes, incentivando um mundo mais próspero e seguro. O argumento anarcocapitalista de que as guerras seriam reduzidas ao mínimo na ausência de governos reside justamente na certeza de que o comércio e a movimentação de riquezas livremente acordados podem ser mais vantajosos para diferentes pessoas do que o conflito da guerra em si. Sabendo disso, nada mais desejável a governos e burocratas que, de um lado, sejam providenciadas regulações específicas que aparentemente resguardem a boa operacionalização desta liberdade de mercado, e, de outro, que essencialmente visem a manipular diversos aspectos das negociações para favorecer seus políticos, empresários amigos e esquemas de recompensa.

Ao fim e ao cabo, são inseridas tantas regras, taxas, condições e arbitrariedades, que se evidencia não haver qualquer preocupação com a preservação real da liberdade de quem mais importa — o indivíduo, o consumidor final nesta cadeia econômica.

Se a regulamentação de um governo é capaz de engessar uma economia, imagine a combinação da regulamentação de diversos governos ao mesmo tempo? Isso não é liberalização, é centralização de poder.

Temos como exemplo o NAFTA — North American Free Trade Agreement.

Sobre ele, Rothbard escreveu:

O NAFTA é mais do que um acordo comercial dirigido pelas grandes corporações. Ele é parte de uma longa campanha para integrar e cartelizar os governos com o intuito de fomentar uma economia intervencionista. [...] As negociações do NAFTA têm inovado ao centralizar o poder governamental para todo o continente, diminuindo ainda mais a capacidade dos pagadores de impostos de oporem alguma resistência às ações dos seus governantes.

Assim, o canto da sereia que os defensores do NAFTA utilizam é a mesma melodia sedutora que os eurocratas socialistas usaram para tentar fazer os europeus se renderem ao estatismo gigantesco da Comunidade Européia: não seria maravilhoso fazer com que a América do Norte fosse uma vasta e poderosa "unidade de livre comércio" como a Europa?

A realidade é bem diferente: intervenção socialista e planejamentos feitos por uma Comissão supra-nacional do NAFTA ou por burocratas de Bruxelas que não precisam prestar contas a ninguém.

O verdadeiro livre comércio é espontâneo; é feito entre indivíduos de comum acordo, ainda que estes estejam em diferentes nações.

A partir do momento em que apoiamos que governos endossem, por meio de sua coerção, a suposta existência de um livre comércio, estamos nos rendendo à lógica estatista.

Embora a conclusão (livre mercado) seja um objetivo claramente libertário, o raciocínio que busca legitimá-lo por meio de canetadas do governo é intervencionista e, portanto, capaz de distorcer a economia e comprometer o verdadeiro capitalismo.

Empreendedorismo: nem espiritual, nem carnal, por HELIO BELTRÃO

Gosto de muito do que o Leandro Karnal fala, mas nesta ácida crítica ao empreendedorismo ele errou feio.

Ele critica o empreendedorismo por ser uma 'religião'; diz que a busca pelo êxito junto ao mercado (isto é, o êxito em bem servir, atender e saciar as necessidades e desejos de terceiros, de modo a assim também alcançarmos nossos objetivos pessoais) é uma frustrante busca de felicidade.

Karnal critica metas, critica a livre associação de pessoas em torno de um objetivo comum, e critica a busca por resultados.

 

 

Voltando um pouco aos fundamentos: empresa e empreender vêm do latim impresa e imprendere, que significam 'ver', 'perceber', 'descobrir'. O empreendedor empreende para alcançar objetivos. Na vida, temos de agregar valor a outras pessoas de tal forma que consigamos, por meio de trocas voluntárias com essas pessoas, obter bens essenciais para nossa sobrevivência e prosperidade.

Um empreendedor percebe algo e utiliza seus talentos, trabalho e recursos — em condições de risco e incerteza — para oferecer um bem ou serviço e, em contrapartida, obter dinheiro. Esse dinheiro será então convertido nos bens importantes que deseja obter para si.

Sem empreendedor não há economia de mercado, não há empresas, não há empregos, não há renda; o empreendedor é a força vital do mercado.

Cada troca efetuada entre o empreendedor e seu cliente melhora a situação de ambos. Ambos estarão em melhor situação após a troca — caso contrário, não a fariam. Quanto mais trocas, quanto mais empreendedorismo, maior a felicidade. Ao contrário do que Karnal defende.

Não resta dúvida que nem todos têm vocação e propensão a serem bons empreendedores. Para tal, é preciso uma certa personalidade; é preciso vigilância e estado de alerta ao que se passa ao redor, aos desejos dos demais. Adicionalmente, é preciso ter propensão ao risco, e também haver nutrido, provavelmente desde a infância, hábitos que auxiliem a tornar-se um empreendedor.

O curioso é que Karnal contradiz em seus atos aquilo que ele próprio defende. Em sua carreira, e notadamente neste vídeo, Karnal é um empreendedor, ainda que de uma pessoa só. Por definição, ao se preparar, Karnal observou o prazo final (data) para a palestra (uma meta), e se preparou para falar por determinado tempo a pedido dos seus clientes (outra meta); adicionalmente, ganhou bastante dinheiro ao oferecer ao público presente algo que eles gostariam de ouvir, ou seja, sua palestra (o serviço prestado).

Karnal é um exímio empreendedor. Rivaliza no competitivo mercado de palestras com vários outros palestrantes, e tem êxito em seu empreendimento, exatamente o que ele critica.

Será que Karnal não está feliz em realizar seu potencial ao empreender e obter dinheiro? Será que ele não se regozija ao perceber oportunidades, e entregar de forma exemplar resultados que a maioria dos demais não consegue? Duvido.

O fato é que aparentemente Karnal não percebeu que ele próprio é um grande empreendedor (seu sucesso confirma isso). Talvez ele prefira se considerar apenas um "intelectual iluminado".

O livre comércio não destrói empregos; quem destrói empregos são os consumidores (por Donald Boudreaux)

Ao mudarem suas preferências, consumidores determinam quem se mantém no mercado e quem tem de sair
"Se abrirmos o país para o comércio exterior, nossas indústrias irão sumir!", grita o protecionista inveterado.
O mesmo protecionista, ao ver que determinadas indústrias estão demitindo, grita: "Os chineses são os culpados!"

O que é realmente interessante é que nenhum protecionista tem a coragem de falar as coisas como elas realmente são: quem determina que uma indústria específica se tornou obsoleta não são os estrangeiros; são os consumidores.

São os consumidores que, ao mudarem suas preferências de consumo e suas exigências de qualidade, determinaram que aquela indústria que não mais os satisfaz tem de ser ou fechada ou inteiramente remodelada e reestruturada.

Quando empresários reclamam da concorrência dos produtos estrangeiros, eles na verdade estão reclamando de um fenômeno bastante específico: a mudança nas preferências dos consumidores. Os consumidores não mais estão comprando seus produtos, e isso os incomoda.

Mas como eles não podem dizer isso abertamente — eles sabem que seria um tanto ridículo virem a público reclamar que os consumidores voluntariamente pararam de comprar seus produtos —, eles simplesmente recorrem a um bode expiatório de fácil apelo: os estrangeiros.

A guerra contra o livre comércio é, na realidade, apenas uma distração para ocultar a verdadeira guerra: a guerra contra a soberania do consumidor.

O livre comércio e "os estrangeiros" são apenas um bode expiatório escolhido para que os verdadeiros "culpados" — os consumidores — não tenham de ser apontados. Isso não seria politicamente aceitável.

Quando você visita uma determinada região da sua cidade que outrora era repleta de indústrias e que hoje está deserta, você tem de entender o que realmente aconteceu: os consumidores alteraram suas preferências, de modo que eles simplesmente deixaram de querer consumir os produtos fabricados por aquelas indústrias.

Sim, é verdade que, em vários casos, as indústrias foram sufocadas por regulações governamentais, por sindicatos poderosos e por uma alta carga tributária, o que tornou suas operações extremamente caras, ineficientes e incapazes de concorrer com os produtos estrangeiros. Mas, ainda assim, a realidade não se altera: ao se tornarem ineficientes — ainda que por fatores exógenos e fora de seu controle —, essas indústrias perderam seu apelo perante os consumidores, os quais prontamente alteraram suas preferências e passaram a consumir de outras indústrias (estrangeiras ou não).

Em última "instância", os culpados por toda e qualquer dificuldade vivenciada por um setor industrial ou por qualquer área da economia sempre são os mesmos: os consumidores e suas preferências.

Por isso, quando economistas ou empresários defendem tarifas de importação ou qualquer tipo de restrição às importações, eles não estão protegendo as indústrias nacionais contra a "invasão" dos produtos estrangeiros. Eles estão protegendo as indústrias nacionais contra as preferências dos consumidores.

Produtos estrangeiros não "invadem" um país do nada e ficam ali à espera de serem consumidos; produtos estrangeiros chegam a um país porque foram voluntariamente adquiridos por consumidores nacionais, que voluntariamente demonstraram sua preferência por esses produtos.

O protecionismo, quando despido de todas as suas justificativas teóricas, é apenas isso: uma guerra violenta contra as preferências dos consumidores, e uma tentativa de suprimir essa preferência voluntariamente demonstrada.

Difícil haver totalitarismo maior do que esse. E é por isso que o protecionismo — ou seja, o governo regular e restringir as preferências dos consumidores — nada mais é do que uma forma de planejamento central. 

Levando a lógica ao extremo

Não aceitar o definhamento de determinadas indústrias ou determinados setores da economia é não aceitar que as pessoas mudam suas preferências de consumo.

Não aceitar essa realidade econômica é querer que alterações nas preferências dos consumidores sejam violentamente reprimidas pelo governo, o qual deve então obrigar as pessoas a, contra a sua vontade, manter suas preferências de consumo eternamente inalteradas apenas para garantir a rentabilidade de determinados setores já obsoletos da economia.

Com efeito, quais seriam as consequências dessa mentalidade? Dado que as preferências dos consumidores devem ser mantidas inalteradas para que determinadas indústrias e setores da economia durem para sempre, como estaria o mundo hoje caso tal ideia fosse realmente levada a sério?

Dado que os protecionistas consideram "injusto" os consumidores alterarem suas preferências de consumo, eis algumas perguntas a serem respondidas por eles, começando pela mais básica:

1) Você quer que o governo gerencie cada alteração na maneira como os consumidores gastam seu dinheiro, ou você acredita que os consumidores devem ser livres para gastar seu dinheiro de qualquer maneira pacífica que eles venham a escolher, sem ter de solicitar a aprovação do governo ou pagar uma penalidade caso gastem seu dinheiro de uma maneira que desagrade aos burocratas e a determinados setores da economia?

Agora, passemos às mais específicas:

2) Caso um empreendedor desenvolva um motor mais eficiente e que consome menos combustível, poderia ele livremente colocar este motor à venda no mercado? Poderiam as pessoas livremente adquiri-lo? Isso irá causar desemprego em vários outros setores da indústria automotiva, principalmente naqueles ligados à fabricação de motores tradicionais.

3) Deveria ser permitido que um novo restaurante fosse aberto na esquina da sua rua? Esse novo restaurante certamente vai afetar as receitas dos restaurantes já estabelecidos, podendo até mesmo gerar desemprego.

4) Deveriam as pessoas ser livres para escolher suas próprias profissões? Caso o façam, pode haver uma enxurrada de novos entrantes em determinadas profissões, como engenharia mecânica ou enfermagem. E essa maior oferta de mão-de-obra derrubaria os salários dessas profissões.

5) Deveriam os consumidores ser livres para mudar sua dieta? Tal mudança irá gerar queda de receitas em várias empresas tradicionais do setor alimentício, podendo gerar demissões.

6) Deveriam os consumidores de um estado ser livres para comprar produtos fabricados em outro estado? Tamanha liberdade poderá gerar desemprego no primeiro estado.

7) Você é a favor de as mulheres terem liberdade para trabalhar? Isso não apenas eliminou alguns empregos para homens e adolescentes, como também pressionou os salários para baixo em decorrência da maior oferta de mão-de-obra.

8) O livre trânsito de pessoas dentro das fronteiras de um país deve ser permitido? Quando pessoas migram em massa de uma região para outra, ou mesmo do campo para a cidade, isso gera grandes distorções econômicas em ambas as regiões.

9) Deveriam os consumidores ser livres para comprar carros usados? Deveriam eles ser livres para permanecer com um mesmo carro pelo tempo que quiserem? Ao fazerem isso, eles estão reduzindo a demanda por carros novos domesticamente produzidos. Isso pode gerar queda nas receitas e desemprego na indústria automotiva.

10) Deveriam os consumidores ser livres para comprar roupas de varejistas especializados em vender vestuário de segunda mão? Tamanha liberdade significará menor demanda tanto para a indústria de vestuários novos quanto para todo o setor varejista que vende apenas roupas novas.

11) Deveriam as pessoas ser livres para comprar máquinas de lavar roupa, ferros elétricos, aspiradores de pó e lava-louças? Esses produtos acabaram com os empregos de várias empregadas domésticas.

12) Deveriam as pessoas ser livres para comprar e-books? Isso afeta o mercado de impressoras e de editoras, além de reduzir o número de balconistas de livrarias.

13) Deveriam as pessoas ser livres para consultar aplicativos (gratuitos!) de meteorologia em seus smartphones? Esses aplicativos estão reduzindo enormemente a demanda por meteorologistas humanos no rádio e na televisão.

Por fim, por que deveríamos permitir qualquer uma dessas liberdades de consumo e tolerar tamanha concorrência econômica sem antes mensurar empiricamente os ganhos e perdas gerados por essa liberdade e por essa concorrência?

Deveríamos permitir tamanha liberdade e concorrência apenas caso seja comprovado empiricamente que seus efeitos "distributivos" serão do nosso agrado?

Conclusão

Pense em qualquer mudança ocorrida em qualquer atividade econômica e eu lhe apontarei várias pessoas que ficaram desempregadas em decorrência dessa mudança.

Mas quem, em última instância, fez essas mudanças? Os consumidores e suas preferências.

A pergunta então é: o fato de que mudanças nas preferências dos consumidores geram desemprego seria um argumento contra a soberania do consumidor e a livre concorrência?

Se você acredita que sim, então a única solução seria é colocar o governo para, antecipadamente, aprovar ou proibir toda e qualquer alteração na maneira como os consumidores gastam o seu dinheiro.

O que nos leva a outra pergunta: você honestamente acredita que tal política irá — ou mesmo poderá — gerar um maior padrão de vida para a população?

A defesa do livre comércio é simplesmente uma parte de um argumento maior: a defesa da soberania do consumidor e da livre concorrência. Alterações nos padrões do comércio internacional não possuem nada, absolutamente nada, de diferente ou de especial em relação a quaisquer outras alterações nos padrões de qualquer outra atividade econômica.

Portanto, se você realmente defende o protecionismo e a restrição do livre comércio, você tem de fazer uma dessas duas coisas:

(a) identificar corretamente alguma diferença essencial e economicamente relevante que mostre que o desejo dos consumidores de comprar bens e serviços vendidos por pessoas que estão em outra jurisdição representa uma categoria a parte, algo completamente diferente de qualquer outra das várias maneiras como esses mesmos consumidores alteram suas preferências e padrões de consumo; ou

(b) admitir que você não possui nenhum argumento econômico contra a soberania do consumidor e a livre concorrência, querendo apenas preservar um mercado artificial que seja do seu gosto pessoal (seja porque você está empregado nele, seja porque você é um empresário que aufere seus rendimentos nele).

Quem determina todo o arranjo de uma economia são as preferências dos consumidores. Você pode autoritariamente tentar impedir que haja mudanças nessas preferências, mas não conseguirá fazer isso para sempre. Impedir à força mudanças nas preferências dos consumidores é algo que não apenas trará desarranjos e ineficiências econômicas, como também servirá apenas para manter artificialmente os ganhos de alguns setores da economia à custa de todo o resto.

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PSICANALISTA CONSULTORA DE “AMOR E SEXO” ATACA IDEIA DE AMOR ROMÂNTICO, FIDELIDADE E FAMÍLIA (por Rodrigo Constantino)

O programa “Amor e Sexo”, com Fernanda Lima, já foi alvo de minhas críticas, por se mostrar pura baixaria, vulgaridade, com uma mensagem claramente subversiva que pretende vender o “vale tudo” como a coisa mais normal do mundo. Quando vemos a entrevista com essa psicanalista que é consultora do programa, tudo fica mais claro. É a mentalidade “progressista” por trás da coisa, o eterno ataque infantil da esquerda aos valores tradicionais, aos “tabus”, a tudo aquilo que representa a decência.

O primeiro sinal de maturidade é o reconhecimento do limite. Quando somos crianças, acreditamos que nossos desejos são leis divinas, que o mundo existe para satisfazê-los, para nos atender em cada anseio. Dar vazão a todos os nossos instintos primitivos, “deixar a vida nos levar”, não aceitar contemporização de tipo algum ou restrição a nossos atos impulsivos, eis o que define uma típica criança mimada.

E é exatamente assim que a esquerda “progressista” (leia-se socialista) tem se comportado. Logo no começo podemos perceber essa característica: Segundo a psicanalista e escritora Regina Navarro Lins, acreditar que é possível controlar o desejo de alguém é apenas uma das mentiras do amor romântico. Ou seja: por que controlar desejo, nosso ou do parceiro? Vamos criar o “império dos desejos” e fazer tudo aquilo que nos dá na telha, ou melhor, nas vísceras! Sejamos tão avançados quanto… cães!

Regina, que é consultora do programa “Amor & Sexo”, apresentado por Fernanda Lima na Rede Globo, acredita que, na segunda metade deste século, muita coisa ainda vai mudar: “Ter vários parceiros será visto como natural. Penso que não haverá modelos para as pessoas se enquadrarem”, diz ela. Por que ter modelos? Por que sequer usar o termo normal, já que tudo pode ser considerado normal, não é mesmo? Se tudo é normal, nada o é, ou melhor: o bizarro não mais existe. Que legal… para os bizarros! Diz ela:

Os modelos tradicionais de amor e sexo não estão dando mais respostas satisfatórias e isso abre um espaço para cada um escolher sua forma de viver. Quem quiser ficar 40 anos com uma única pessoa, fazendo sexo só com ela, tudo bem. Mas ter vários parceiros também será visto como natural. Penso que não haverá modelos para as pessoas se enquadrarem. Na segunda metade do século 21, provavelmente, as pessoas viverão o amor e o sexo bem melhor do que vivem hoje.

Vão viver melhor? Há controvérsias. Não era essa a promessa da geração hippie dos anos 60? E o que toda aquela “libertação sexual” produziu, além de recordes no consumo de medicamentos antidepressivos e muita vulgaridade e permissividade, para não falar de doenças venéreas? As mulheres estão mesmo mais felizes com toda essa “libertação”, ou isso não passa de um mito? E por acaso as mulheres que escolhem ser mães, donas de casa, recatadas e do lar são bem aceitas pelas feministas, ou sofrem preconceito?

A palavra idiota vem de idios, que quer dizer “pessoal”, “privado”, ou seja, aquele que olha basicamente para si e ignora o mundo em volta. Para nossa surpresa, é esse tipo de individualismo exacerbado que a esquerda coletivista prega, em visível contradição (mas há método na loucura e já chego lá). Vejam esse trecho:

A busca da individualidade caracteriza a época em que vivemos; nunca homens e mulheres se aventuraram com tanta coragem em busca de novas descobertas, só que, desta vez, para dentro de si mesmos. Cada um quer saber quais são suas possibilidades, desenvolver seu potencial.

Cada um buscar a própria felicidade é algo louvável, uma mensagem definitivamente liberal. Mas confundir individualidade com “sociopatia”, com só olhar para si mesmo e enxergar as próprias “possibilidades” de desejo, isso já é o sinal de uma sociedade doente, mimada, autocentrada em demasia, voltada para o próprio umbigo, idiota.

Vamos atacar a família, o casamento, a ideia de amor a dois, os esforços que isso demanda e os benefícios que isso produz, como a própria família tradicional, e vamos incentivar a busca desenfreada por desejos pessoais, como se todos devessem simplesmente experimentar de tudo, sem compromissos, sem “attachment”, sem ceder em nada, pois isso é algo ultrapassado, careta, pesado. Esse modelo novo é leve, tão leve quanto viajar sem malas. É coisa da geração “desapegada”.

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E, como consequência dessa linha de raciocínio, viva o “poliamor”, eufemismo para o velho bacanal ou a antiga orgia! Viva o troca-troca, o swing, o “cada um é de todos e ninguém é de ninguém”. Diz a psi “prafrentex”:

É provável que o modelo de casamento que conhecemos seja radicalmente modificado. A cobrança de exclusividade sexual deve deixar de existir. Acredito que, daqui a algumas décadas, menos pessoas estarão dispostas a se fechar numa relação a dois e se tornará comum ter relações estáveis com várias pessoas ao mesmo tempo, escolhendo-as pelas afinidades. A ideia de que um parceiro único deva satisfazer todos os aspectos da vida pode vir a se tornar coisa do passado. […] As pessoas podem ter relações extraconjugais e, mesmo assim, ter um casamento satisfatório do ponto de vista afetivo e sexual.

Por que freios? Por que restrições? Por que exclusividade? Nelson Rodrigues estaria vomitando com essa noção de “amor”. Quando colocamos uma aliança no dedo, isso significa – ou costumava significar – um contrato de exclusividade, ou seja, de união “para sempre”, não uma coisa sem importância alguma ou símbolo de “opressão”. O casamento é uma escolha, e o que muitos hoje parecem justamente querer evitar é isso: a necessidade de se fazer escolhas. Querem ter e comer o bolo ao mesmo tempo. Querem tudo!

A vida, para os mais maduros, implica em um constante trade-off. Abrimos mão de uma coisa para ter outra. Escolhemos uma carreira e deixamos alguma outra vocação ou habilidade para trás. Casamos e deixamos a vida de solteiro no passado, até porque é meio constrangedor um coroa na gandaia, achando-se o garotão “pegador”, ou a moça rodada, normalmente desesperada em busca de sexo. No “Sex and the city” é legalzinho até; na vida real, não muito.

Claro que cada um é livre para optar como quer viver. Mas só mesmo libertários bobinhos confundem libertinagem com liberdade, ou críticas a certas tendências hedonistas com conservadorismo reacionário. Não! Os que pensam assim podem não saber, mas são inocentes úteis da esquerda que tem como principal alvo todos os valores que fizeram do Ocidente o que ele é: a civilização mais avançada. Duvida? Pergunte às mulheres muçulmanas como anda esse papo de “empoderamento” feminino nesses países dominados pelo Islã.

A esquerda não suporta esses valores, e precisa subvertê-los. Descobriu que a forma mais fácil é por meio da “revolução cultural”, não daquela armada e liderada por barbudos em trajes militares. Em vez de Big Brother orwelliano, ofereça um mundo de prazeres fortuitos regado ao soma, como no Admirável Mundo Novo de Huxley. E detone a família, a maternidade, o casamento, o amor a dois, e exclusivo. Vamos cair na gandaia, vamos transar como quem vai ao cinema, e vamos trocar de parceiros como quem troca de camisa. E ninguém tem nada com isso, claro:

Acredito que para uma relação a dois valer a pena, alguns fatores são primordiais: total respeito ao outro e ao seu jeito de ser, suas ideias e suas escolhas; nenhuma possessividade ou manifestação de ciúme que possa limitar a vida do parceiro; poder ter amigos e programas em separado; nenhum controle da vida sexual do parceiro, mesmo porque é um assunto que só diz respeito à própria pessoa.

Desconfio de quem não sente ciúmes pelo parceiro. Desconfio muito! Isso sim, não é da natureza humana. Um marido que não se importasse com “outros parceiros sexuais” da própria mulher seria um panaca, o típico “corno manso”, e estou seguro de que a imensa maioria das mulheres detestaria um sujeito desses. Ao menos as mulheres que prestam!

Esse discurso libertino, hedonista e libertário não se sustenta até a página dois no mundo real. Mas como a ideologia é uma máquina de destruir cérebros, milhões estão aderindo a essas baboseiras como panaceia para suas angústias, já que é preciso maturidade para conviver com as angústias. Guess what? Essa gente tem ficado apenas mais angustiada, “apesar” de todo o hedonismo, desse “descolamento” total. Por que será?

“Para viver bem é preciso ter coragem”, conclui a psi. Mas coragem é exatamente o que falta a essa turma! Ela não tem coragem de aceitar a vida como ela é, de mergulhar em relacionamentos imperfeitos, porém construtivos, de amar de verdade, com tudo o que isso acarreta, de fazer escolhas. A libertinagem é justamente a ausência de coragem, a covardia dos mimados, música para o ouvido dos mais jovens, por motivos óbvios. Lamentável é quando adultos tentam dar um verniz teórico para o simples e surrado desejo de “putaria”. Isso é uma tremenda sacanagem!

Rodrigo Constantino

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Fonte:
Mises Brasil

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