Salva-se a lavoura. Sem o campo, estaríamos pior... (EDITORIAL DA FOLHA)

Publicado em 22/02/2017 02:36

Com a colheita de grãos em andamento, aguarda-se um recorde no setor agrícola. Para a debilitada economia nacional, trata-se de alento considerável.

Segundo a estimativa oficial mais recente, a safra pode aproximar-se dos 220 milhões de toneladas, superando em 17% a cifra do ano passado. Os ganhos não se limitam à renda no campo: a ampla disponibilidade de alimentos favorece a queda da inflação e o corte dos juros pelo Banco Central.

Comparada aos demais setores produtivos, a agropecuária vive de fato momento invejável, ajudada pelo clima e pela melhora de preços. Calcula-se que a venda de produtos —incluídos na conta carne, leite, frutas e outros— atinja montante superior aos R$ 500 bilhões.

As projeções para a expansão do PIB do setor neste 2017 rondam os 4%. Para a economia como um todo, a aposta mais consensual não passa de um magro 0,5%.

É verdade que a produção rural primária representa uma parcela modesta do PIB total do país, na casa dos 5%. Entretanto, a proporção chega aos 20% quando se considera toda a cadeia do agronegócio, que abrange maquinário, pesquisa, serviços associados, transportes e logística.

Há, portanto, um impulso em potencial que pode se multiplicar pelo restante das atividades. A resposta é rápida quando existe conexão direta: em um exemplo, a venda de máquinas agrícolas subiu impressionantes 75% em janeiro, ante o mesmo mês de 2016.

O reforço à mesa das famílias tampouco deve ser subestimado. Os alimentos estiveram entre os grandes vilões da inflação no ano passado, com alta acumulada acima dos 9% (a taxa beirou os 17% no período de 12 meses encerrado em agosto de 2016). Agora, espera-se um índice confortavelmente abaixo dos 5%.

Apesar de transitória, a contribuição da safra para a estabilidade dos preços torna mais provável que o IPCA, adotado como referência para a política do Banco Central, feche o ano abaixo da meta de 4,5%. Vislumbra-se, assim, uma trajetória de queda consistente das taxas de juros.

Por fim, a alta da produção agrícola e os preços mais altos em dólar —cerca de 10% acima dos patamares de 2016— resultarão em maior receita de exportações. As expectativas de analistas compiladas pelo Banco Central apontam para um saldo comercial próximo de US$ 50 bilhões.

Salva-se primeiro a lavoura no ano em que, tudo indica, a recessão ficará para trás. A indústria combalida deve apresentar ligeira melhora; o setor de serviços tende a permanecer estagnado. Sem o campo, estaríamos pior.

Problema do BC hoje é crescimento, e não inflação, dizem economistas (na FOLHA)

Se, até poucos meses atrás, a principal preocupação da diretoria do Banco Central era a aceleração da inflação, hoje, o maior risco à frente é o baixo crescimento econômico.

Nesse contexto, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC deverá anunciar novo corte da taxa básica de juros, hoje em 13% ao ano.

A preocupação sobre o crescimento volta à mesa dos diretores do BC após longo período de embate contra a inflação, repetidamente acima da meta do governo (4,5% ao ano). Em 2015, ela ficou acima de 10%.

"O balanço de riscos se inverteu dramaticamente. O risco principal do BC hoje é atividade, e não inflação", disse Carlos Kawall, economista-chefe do Banco Safra, ex-secretário do Tesouro.

Em debate nesta terça-feira (21), promovido pela Anbima (associação que reúne as instituições do mercado financeiro) e transmitido na internet pela "TV Folha", Kawall e outros três experientes economistas demonstraram preocupação com o crescimento.

"O risco hoje é chegarmos ao fim do ano com crescimento de 0,5%, 0,3%, com uma inflação muito baixa", disse Kawall.

A inflação está cadente e, segundo projeções, caminha rapidamente para a meta. A previsão tanto do governo quanto de economistas é que os números negativos da atividade econômica cessem neste primeiro trimestre.

Mas o resultado final esperado para 2017 ainda é baixo, de 0,5% segundo o Comitê de Acompanhamento Macroeconômico da Anbima.

Além de Kawall, participaram do debate, mediado pela colunista da Folha Maria Cristina Frias, o economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato Barbosa, o ex-diretor do BC e sócio da gestora Mauá Sekular Luiz Fernando Figueiredo e o chefe de economia e estratégia do Bank of America Merrill Lynch no Brasil, David Beker.

Nesta quarta-feira (22), eles preveem que BC vá cortar os juros em 0,75 ponto percentual, levando a taxa para 12,25% ao ano. Mas na próxima reunião do Copom, em abril, Figueiredo vê pelo menos 50% de chances de o ritmo aumentar para um ponto percentual.

Barbosa indicou concordar. "Com a inflação baixa, dependerá da retomada [da atividade]. Se ela estiver mais firme, não há urgência. Se não, por que não cortar mais em abril se a inflação permitir?"

Os quatro economistas acreditam que, se aprovada a reforma da Previdência, o Brasil caminhará para um cenário inédito de inflação e juros permanentemente baixos, começando já em 2018. Boa parte dos economistas do mercado está otimista.

As previsões positivas encorajaram o BC a estudar a redução da meta de inflação para 2019. A decisão será anunciada em junho.

Para Figueiredo, a sinalização de menor inflação no futuro é positiva e poderia ser feita gradualmente, reduzindo a meta inicialmente para 4,25%. Desde que não afete o o corte de juros, o que poderia prejudicar a atividade.

"Hoje, da maneira correta e saudável, precisamos atacar a falta de crescimento, e não a inflação, que parece estar no chão", disse.

David Beker, do BofA Merrill Lynch, ressaltou que as previsões de inflação nos anos seguintes serão determinantes para a decisão de reduzir a meta. Mas, segundo ele, em 2018, ano de eleição, o país estará em situação econômica mais favorável.

"A economia [em 2018] estará em crescimento, com inflação baixa e juros baixos em termos históricos. É uma situação bem diferente do último ciclo eleitoral."

Brasil voltará a crescer já neste semestre; recuperação do grau de investimento será rápida, diz Mansueto (no ESTADÃO)

O secretário de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda, Mansueto Almeida, afirmou nesta terça-feira, 21, que o Brasil está no caminho certo para recuperar o grau de investimento das agências de classificação de risco e que isso deve acontecer antes do tempo médio dos países que já perderam e recuperaram a nota, de 7 anos, segundo cálculo do Itaú Unibanco. Para o secretário, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deve voltar a crescer já no primeiro semestre deste ano.

"As agências olham a trajetória da dívida pública e o governo tem tomado as medidas corretas nessa direção, como, por exemplo, a aprovação da PEC do teto e o encaminhamento da reforma da Previdência", afirmou o secretário ao Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, antes de participar de evento em São Paulo. "Simultaneamente, a inflação converge para a meta de 4,5%, o que ajuda nas previsões de juros para baixo", acrescentou.

O secretário ressaltou também que a proporção da dívida pública em relação ao PIB terminou o ano passado abaixo de 70%, a 69,5%, e que a trajetória dela se encontra em situação melhor do que há seis meses. "Se agências perceberem que o nível da dívida deve cair nos próximos anos em vez de subir, é provável que o Brasil recupere o grau de investimento antes da média dos países", disse. 

Crescimento. Quanto à retomada da atividade econômica este ano, Mansueto reforçou a projeção do governo, de crescimento de 1%, mas ressaltou que, diante das divergências que existem no mercado, a equipe econômica revisará a estimativa "no momento adequado".

O secretário disse que, mesmo com o consumo em baixa e a ociosidade da indústria, a retomada será puxada tanto pelo aumento da demanda doméstica quanto pelos investimentos. "Mas será gradual", reforçou, lembrando que, diferentemente de crises anteriores, como em 2009, dessa vez há um excesso de endividamento, que torna a retomada mais lenta. "Embora a retomada seja gradual, ela ocorrerá em bases sustentáveis, em razão das reformas estruturais do governo", acrescentou.

Mansueto disse ainda que espera um "amplo ciclo" de investimentos em infraestrutura, em referência ao programa de concessões que o governo prepara. "Isso não aconteceu antes porque o governo anterior queria controlar a taxa de retorno, por exemplo, ou porque o projeto de concessão só era viável se grande parte do financiamento fosse público, o que era inviável. Agora não", explicou.

O secretário lembrou que o BNDES limitou em 50% a participação do financiamento público nos projetos e afirmou que as taxas de juros oferecem condições perfeitas para a retomada do investimento.

 

Acordo 'anti-Trump' entra em vigor na OMC nesta 4ª e pode injetar US$ 1 tri no comércio mundial (no ESTADÃO)

GENEBRA - No momento em que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sinaliza para a aprovação de barreiras às importações e medidas protecionistas, a Organização Mundial do Comércio (OMC) anunciará nesta quarta-feira seu maior acordo de exportação em 20 anos, facilitando o comércio internacional. No Brasil, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) estima que o tratado é o que terá o maior impacto no comércio internacional do País desde a criação do Mercosul, nos anos 1990. 

O acordo, assinado ainda em 2013, prevê dezenas de medidas de desburocratização de exportações e importações, permitindo um fluxo de bens pelo mundo e reduzindo custos para a indústria. Para que ele entrasse em vigor, dois terços dos membros da OMC precisavam ratificar o tratado, o que deve ocorrer nesta quarta-feira. 

Ainda que os valores não sejam alvo de um consenso, a OMC estima que, no médio prazo, os ganhos associados ao tratado seriam de US$ 1 trilhão para a economia mundial. 

Mas é também seu peso político que promete chamar a atenção. Ele está entrando em vigor justamente num momento de tensão no comércio internacional e com cenários apontando para a eclosão de disputas de grande porte entre os EUA e seus principais parceiros comerciais. Trump quer adotar sobretaxas a empresas que não produzem nos EUA, quer rever acordos que liberalizaram o comércio e ainda estabelecer novas barreiras. Se isso tudo for adotado, a promessa de diplomatas de diversos países é de que entrarão com queixas formais nos tribunais da OMC.

Para muitos negociadores em Genebra, portanto, um acordo de liberalização neste momento é um "recado forte" ao governo americano de que as demais economias esperam que ele cumpra seus compromissos internacionais. 

Se por vários anos os acordos de facilitação de comércio eram vistos como sendo de interesse principalmente, a indústria brasileira assumiu o tratado como uma de suas prioridades, justamente para forçar uma redução da burocracia no País e mecanismos mais transparentes para poder exportar e importar. 

Estado apurou que foi depois de uma pressão do setor privado nacional que, a partir de 2013, o governo brasileiro mudou de posição e aceitou fechar o acordo. Para a gerente de Política Comercial da CNI, Constanza Negri, o acordo é o mais importante para a indústria nacional desde a criação do Mercosul. "Esse é um acordo muito importante para nós", disse. 

Ela, porém, alerta que o Brasil ainda não implementou todos os pontos do tratado. O tratado, segundo a CNI, será usado para continuar a pressionar o governo por reformas no âmbito comercial, de tributação e no que se refere ao peso do estado. Uma recente pesquisa indicou que, para mais de 800 empresas no País, as questões de facilitação de comércio são consideradas como o segundo maior gargalo para as exportações nacionais. O primeiro problema, segundo a pesquisa, seria a logística de transporte.

Um mapeamento realizado pela CNI ainda indicou que um dos pontos ainda não cumpridos pelo Brasil no acordo é o fato de que cobrança e coleta das taxas não são padronizadas. "Há casos em que essas taxas tem função arrecadatória", disse a gerente, alertando que o Código Tributário Brasileiro impede tais comportamentos. 

"Faltaria ainda uma lei geral no Brasil que torne obrigatória a realização de consultas públicas antes da publicação de normas que tenham impactos no comércio exterior", afirma a representante da CNI. "A CNI avalia que os órgãos públicos devem abrir espaço para que o setor privado possa debater novas regulamentações, assim como a apresentar estudos de cenários e de impactos das medidas", aponta.

Outro ponto que a indústria alerta se refere à inexistência de procedimentos que permitam o processamento pré-embarque para todos os meios de transporte. "O país não possui um sistema adequado para receber documentos antecipados para acelerar o trânsito das mercadorias", diz a CNI. "Assim, é impossível apresentar e processar antecipadamente a documentação dos bens em trânsito antes da chegada do produto", completa.

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Fonte:
Folha de S. Paulo + Estadão

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