Brasil e Argentina defendem novos acordos comerciais contra protecionismo da era Trump
Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - Brasil, Argentina e os demais países do Mercosul devem aproveitar o momento atual para investir em novos acordos comerciais, especialmente com a União Europeia e o México, afirmaram nesta terça-feira os presidentes Michel Temer e Maurício Macri, durante visita do chefe de Estado Argentino a Brasília.
"A União Europeia mostra maior interesse em um acordo agora e temos de estar prontos para essa negociação e para todas que se apresentarem, como com a Aliança do Pacífico e com o México. O México está olhando para o sul agora com maior atenção", disse Macri na Declaração à Imprensa, no Palácio do Planalto, depois da reunião com Temer.
"Levantamos o tema de uma integração cada vez maior da América Latina, no particular, América do Sul, México inclusive, para fazermos uma relação mais próxima do Mercosul e Aliança do Pacífico", disse Temer.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não foi citado diretamente em nenhuma das declarações dos presidentes sul-americanos, mas ficou clara a análise de que o Mercosul deve aproveitar o momento de aumento do protecionismo e a virada da política comercial norte-americana.
Desde que assumiu o governo, há três semanas, Trump tirou os Estados Unidos das negociações da Parceria Transpacífico, com 12 países asiáticos, quer rever o Nafta, acordo comercial com Canadá e México, e ameaça taxar produtos mexicanos em 20 por cento para financiar um muro entre as fronteiras dos dois países.
O cenário, disse à Reuters uma fonte diplomática, colabora para que o Mercosul ocupe um espaço maior, se for capaz de acelerar a solução de seus problemas internos. O próprio acordo com a União Europeia, praticamente parado nos últimos três anos, pode se movimentar este ano.
O bloco também busca um acordo de reduções tarifárias com o México, único grande país da América Latina com quem as relações comerciais ainda não avançaram. Além disso, abriu consultas para possíveis acordos com Japão e Coreia do Sul.
A melhoria nas relações com a Aliança do Pacífico também está na mira do Mercosul.
O acordo assinado entre México, Colômbia, Peru e Chile sempre foi usado como um contraponto ao Mercosul, apesar dos países terem conseguido negociar um avanço das degravações tarifárias que reduz praticamente a zero as tarifas de importação entre eles até 2019 --com exceção do México, em que a tarifas foram abolidas em apenas 7 por cento dos produtos brasileiros.
"Com o México é diferente, não chegamos lá ainda. Mas vamos negociar diretamente. Por ora eles estão dando um interesse maior", disse a fonte.
Com a Aliança do Pacífico como um todo, analisa a fonte, a questão é mais política do que comercial. "Quando a Aliança foi criada havia um contraste de políticas com o Mercosul. Hoje não existe mais esse contraste de pensamento tão acentuado, hoje a mensagem é de proximidade", afirmou.
Os dois blocos negociam uma reunião de chanceleres para o próximo mês de abril para tratar de entraves burocráticos ao comércio e outros temas de integração.
ENTRAVES NO MERCOSUL
A visita de Macri, no entanto, não avançou em dois temas caros ao governo brasileiro: a entrada do açúcar no mercado argentino e as travas para as autopeças brasileiras impostas pela Argentina.
Os argentinos mostraram disposição de negociar na questão do açúcar, mas não há solução à vista ainda para a crise das autopeças. Criado no ano passado, o novo regime argentino para o setor dá créditos tributários às montadoras pela aquisição de componentes de fabricação local, o que é considerado guerra fiscal pelo governo brasileiro.
"É um assunto relevante. Foi tratado, não há assunto tabu na relação com a Argentina, mas foi apenas uma referência. As negociações estão caminhando, mas não há uma solução à vista", disse a fonte.
Em abril deste ano haverá uma reunião em Buenos Aires, em nível ministerial, para tentar resolver o problema. O governo brasileiro pediu o adiamento da implementação das regras, no ano passado, e foi atendido. Mas agora o governo argentino deve começar a pô-las em prática, enquanto os negociadores brasileiros avaliam como uma violação das regras da Organização Mundial do Comércio, e uma possível reclamação ao órgão.
BARREIRAS
Um dos resultados mais concretos de uma visita basicamente política foi a decisão de investir em um programa de convergência de normas técnicas, sanitárias e fitossanitárias para facilitar o comércio entre Brasil, Argentina e, posteriormente, os demais países do bloco.
Os dois presidentes assinaram uma carta endereça ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) pedindo ajuda para fazer a normatização, com a intenção depois de criar uma agência binacional.
"Para tornar mais fluídos os fluxos de comércio e de investimentos, temos que reduzir e é o que foi debatido, temos que reduzir ao mínimo as barreiras técnicas, sanitárias e fitossanitárias", afirmou Temer.
"Essa nova agência que estamos propondo acredito que será outro salto adiante para facilitar a livre circulação e fortalecer a integração produtiva", defendeu Macri.
0 comentário
Ibovespa cai pressionado por Vale enquanto mercado aguarda pacote fiscal
Agricultores bloqueiam acesso ao porto de Bordeaux para elevar pressão sobre governo francês
Dólar tem leve alta na abertura em meio à escalada de tensões entre Ucrânia e Rússia
China anuncia medidas para impulsionar comércio em meio a preocupações com tarifas de Trump
Expectativa é de que redação do pacote fiscal seja finalizada nesta semana, diz Rui Costa
Presidente do Fed de Richmond diz que EUA estão mais vulneráveis a choques de inflação, informa FT