Temer tem poucas armas e apenas 2017 para colocar economia nos eixos
Por Luiz Guilherme Gerbelli
SÃO PAULO (Reuters) - A dois anos de encerrar o seu mandato, o presidente Michel Temer terá, na prática, apenas 2017 para colocar a cambaleante economia brasileira nos eixos e, para isso, poderá contar basicamente com alívio na política monetária, ao mesmo tempo em que precisará ter capacidade de articulação para garantir votações de importantes medidas no Congresso Nacional.
O fundamental, segundo especialistas consultados pela Reuters, é que o governo aja com rapidez e decisão para recuperar a confiança abalada recentemente pela falta de reação da atividade e pela intensa crise política.
"As crises econômica e política se retroalimentam. O governo não está conseguindo romper esse ciclo com medidas que favoreçam o crescimento", afirma o cientista político e professor do Insper, Carlos Melo.
O prazo, no entanto, é curto, uma vez que a eleição presidencial de 2018 deve começar a pautar as discussões e articulações políticas a partir do segundo semestre do ano que vem, além de impor travas legais sobretudo com investimentos públicos em 2018.
"Haverá um calendário político complicado pela frente e pouco amigável para seguir com reformas. E, ao fim do primeiro semestre de 2017, já entramos na lógica eleitoral de 2018", diz Melo.
Sem espaço para aumentar gastos, a equipe econômica deve se apoiar na redução da taxa básica de juros para aliviar a situação da economia, ao tentar baratear o crédito e abastecer o consumo. O BC já reduziu a Selic em duas ocasiões, em 0,25 ponto percentual cada, para 13,75 por cento ao ano. E sinalizou que vai acelerar o passo daqui para frente.
"A queda da inflação abre um bom espaço para o recuo dos juros, mas esse efeito só vai chegar na economia se os spreads pararem de subir", afirma a economista e sócia da consultoria Tendências, Alessandra Ribeiro, acrescentando que o ambiente de risco tem impedido a redução dos spreads bancários, diferença entre o custo de captação do banco e a taxa efetivamente cobrada ao consumidor final.
Nas contas dela, cada corte de 0,25 ponto na Selic costuma gerar crescimento de 0,1 ponto percentual no Produto Interno Bruto (PIB) ao final de 4 trimestres mas, acrescentou a economista, diante dos cenários econômico e político turvos, essa transferência pode ter perdido potência.
O cenário de recessão no Brasil desde 2015 é uma das principais variáveis que pavimentaram, agora, o caminho para quedas nos juros básicos. Mas, talvez ciente do peso do papel do BC neste momento, o presidente da autoridade monetária, Ilan Goldfajn, já afirmou que qualquer impulso para atividade econômica gerado exclusivamente pela política monetária seria temporário.
Economistas consultados semanalmente pelo BC, por meio da pesquisa Focus, veem que a Selic fechará 2017 a 10,50 por cento, com o PIB crescendo apenas 0,58 por cento, depois de encolher 3,48 por cento em 2016. Mas já não é difícil encontrar especialistas que acreditam que a economia vai estagnar em 2017, ampliando os riscos de recessão pelo terceiro ano seguido.
O pessimismo econômico para 2017 cresceu conforme os dados da economia real não corresponderam ao avanço inicial dos índices de confiança de empresários e consumidores com a troca de comando na Presidência de Dilma Rousseff para Temer.
Quando ele assumiu o cargo, em maio passado, analistas chegaram a projetar que o PIB poderia crescer 2 por cento no ano que vem com a aposta de que um governo mais pró-mercado seria suficiente para resgatar o crescimento econômico.
"O período de lua-de-mel do governo com os mercados e analistas está praticamente acabando", diz a pesquisadora do Instituto Peterson de Economia Internacional, Monica de Bolle. "O governo não deve conseguir recuperar a confiança da qual ele já gozou, o que deve fazer de 2017 um ano complicado e é difícil imaginar que a economia saia do lugar."
Na avaliação da economista, o BC perdeu o timing e já deveria ter promovido corte mais agressivo na taxa de juros para aliviar o quadro econômico. "A situação do Brasil é tal que os balanços dos setores público e privado, dos Estados e das famílias estão arrebentados", disse.
Para tentar acalmar os agentes econômicos e dar impulso à economia, também em meio ao cenário político conturbado, o governo anunciou algumas medidas, como um programa de regularização tributária e medidas para fomentar a redução do custo do crédito.
TESTE DE HABILIDADE
A capacidade política da gestão Temer será fortemente testada diante da necessidade de aprovar no Congresso em 2017 reformas consideradas importantes, como a da Previdência, ao mesmo tempo em que os principais nomes do governo e do próprio presidente estão envolvidos em denúncias de corrupção.
"Para 2017, o quadro continua com dificuldade econômica e política. Não há sinais claros de melhora. A operação Lava Jato deve continuar se desdobrando e provocando impacto na classe política", afirmou o diretor para América Latina da consultoria Eurasia, João Augusto de Castro Neves.
Nas projeções da consultoria, a probabilidade de Temer não concluir o mandato aumentou de 10 para 20 por cento.
Apesar da incerteza política, o governo tem conseguido mostrar alguma força nessa área. A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que limitou o crescimento do gasto público por 20 anos já foi promulgada, e a reforma da Previdência recebeu admissibilidade da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) para seguir adiante.
"Os políticos não veem outra alternativa, não têm outro barco, por isso Temer deve continuar com capital político em 2017", disse Castro Neves.
Mas o cenário não é totalmente azul. Para aprovar as mudanças na Previdência, o governo vai precisar de muita habilidade com lideranças políticas, centrais sindicais e trabalhadores. Alterações no sistema de aposentadoria têm sido sempre alvo de resistência e críticas, e o governo propôs mudanças bastante rígidas, como a que obriga o trabalhador a contribuir por 49 anos para receber o teto quando se aposentar.
"Se, além da PEC dos gastos, Temer conseguir entregar a reforma da Previdência e promover algum encaminhamento para os desequilíbrios estaduais, terá deixado um bom legado", afirma o pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) Samuel Pessôa.
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