BC mantém juro básico em 14,25% e reforça que não há espaço para cortes

Publicado em 20/07/2016 20:54
Por Marcela Ayres, da Reuters

BRASÍLIA (Reuters) - O Banco Central manteve nesta quarta-feira a taxa básica de juros em 14,25 por cento ao ano em decisão unânime e em linha com expectativa dominante de especialistas, repetindo não haver espaço para corte nos juros tão cedo, na primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) sob o comando de Ilan Goldfajn.

"Tomados em conjunto, o cenário básico e o atual balanço de riscos indicam não haver espaço para flexibilização da política monetária", informou o BC em comunicado com novo formato, mais extenso e pelo qual apontou riscos para o cenário de inflação, entre os quais a permanência de "incertezas quanto à aprovação e implementação dos ajustes necessários na economia".

Pesquisa Reuters mostrou que 42 de 43 economistas consultados previram que a Selic não seria mexida agora. Até o comunicado, a aposta majoritária era de um corte nos juros apenas em outubro.

Com a decisão desta quarta, a Selic segue no mesmo patamar desde julho de 2015, o mais alto em quase uma década e no período mais longo de estabilidade desde que o regime de metas foi implantado em 1999.

No texto da decisão, o BC também apontou ligeira melhora na sua projeção para inflação no ano que vem. A mudança fez alguns economistas enxergarem a possibilidade de uma redução da Selic em agosto ganhar força, enquanto outros seguiram vendo queda somente em outubro.

O Copom informou que projeções sobre a inflação permaneceram "relativamente estáveis nos horizontes relevantes para a condução da política monetária desde sua última reunião", mas caíram sobre os números divulgados no último Relatório de Inflação. No cenário de referência, completou o BC, a projeção para a inflação de 2017 encontra-se em torno da meta de 4,5 por cento.

Na reunião do Copom realizada no início de junho, a projeção para o IPCA de 2017 estava exatamente em 4,5 por cento, centro da meta perseguida pelo governo. Mas no Relatório Trimestral de inflação, divulgado no fim do mesmo mês, essa conta havia sido piorada a 4,7 por cento.

Para a economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, a projeção mais baixa representou a principal mensagem do comunicado. "Esse é um reconhecimento de uma melhora do ambiente", afirmou ela.

"É a primeira vez de um comunicado nesse formato e não temos referência para comparar, mas eu arriscaria dizer que não é totalmente porta fechada não (para redução dos juros em agosto)", completou.

Já o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, avaliou que apesar da completa mudança no texto, a mensagem principal continua de pé -- de que não há como reduzir a Selic no curtíssimo prazo.

"A discussão de corte de juros nem foi posta ainda, é o que indica o comunicado. Portanto não dá pra esperar que as condições para isso estejam postas em agosto porque elas não vão acontecer da noite para o dia", afirmou.

 

RISCOS

No texto do comunicado, o BC também salientou que a inflação acima do esperado no curto prazo, em boa medida decorrente de preços de alimentos, pode se mostrar persistente, e que um período prolongado com inflação alta e com expectativas acima da meta pode reforçar mecanismos inerciais e retardar o processo de desinflação.

Por outro lado, chamou atenção para fatores que, se concretizados, podem ajudá-lo na tarefa de combater a alta de preços na economia.

"Os ajustes na economia podem ser implementados de forma mais célere, permitindo ganhos de confiança e reduzindo as expectativas de inflação; e o nível de ociosidade na economia pode produzir desinflação mais rápida do que a refletida nas projeções do Copom", trouxe o comunicado.

O economista-chefe do banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, avaliou que os riscos apontados indicam um cenário mais favorável do que negativo para os próximos meses, diante de melhora das expectativas quanto ao fiscal e já que a o IPCA de julho deve mostrar menor pressão sobre alimentos.

"Nitidamente, como expectativas, parece que a coisa vai pra melhor não para pior. Tem chance importante de a Selic ser derrubada em agosto e esse comunicado não me faz mudar de ideia", disse.

Enquanto isso, o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, disse enxergar o contrário ao fazer a leitura dos mesmos riscos destacados pela autoridade monetária.

"Os juros não caem em agosto e isso fica muito evidente principalmente no item que o BC cita que a inércia pode adiar o processo de desinflação", afirmou ele que, após o comunicado, mudou sua expectativa de redução na Selic para outubro, ante agosto.

Ilan já vinha reforçando que o objetivo do BC é fazer com que a inflação encerre este ano dentro da meta --de 4,5 por cento pelo IPCA, com margem de dois pontos percentuais-- e que caia para o centro do objetivo em 2017, quando a banda de oscilação foi estabelecida em 1,5 ponto.

Economistas, por sua vez, estimam que esse avanço do IPCA será de 5,3 por cento em 2017, conforme pesquisa Focus mais recente.

Em 12 meses até junho, o IPCA acumulava alta de 8,84 por cento.

 

Temer sanciona sem vetos reajuste para servidores do Judiciário


BRASÍLIA (Reuters) - O presidente interino Michel Temer sancionou nesta quarta-feira, sem vetos, o reajuste salarial para os servidores do Judiciário, incluindo os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

No final de junho, o Senado aprovou um reajuste de 41,47 por cento para os servidores do Judiciário, que custará aos cofres públicos este ano 1,7 bilhão de reais.

 

ANÁLISE DA FOLHA DE S. PAULO (por RENATO ANDRADE, SECRETÁRIO DE REDAÇÃO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA)

 

Queda dos juros depende da mão do Palácio do Planalto

A diretoria do Banco Central verbalizou nesta quarta-feira (20) o que muitos economistas e empresários têm dito nos últimos dias nos bastidores. Caso Michel Temer seja confirmado no comando do país, com o afastamento definitivo de Dilma Rousseff, ele terá pouquíssimo tempo para implementar medidas efetivas para recuperar a economia e reduzir as expectativas em relação ao comportamento da inflação brasileira.

Ao contrário dos tradicionais comunicados telegráficos, o Copom (Comitê de Política Monetária) divulgou nesta quarta uma versão mais ampla para justificar a decisão tomada na reunião de julho, quando, por unanimidade, os diretores do BC resolveram manter a taxa básica de juros em 14,25% ao ano.

Ilan Goldfajn e seus colegas de diretoria foram claros. Se nada for feito nos próximos meses, não há espaço para o Banco Central reduzir os juros. A abertura dessa janela depende de uma ação efetiva do Palácio do Planalto.

Pelas contas do governo, a inflação deve ficar em torno de 4,5% no próximo ano. Mas fazendo a mesma conta usando os parâmetros dos agentes do mercado financeiro, os índices de preços vão ficar, mais uma vez, acima da meta definida pelo governo.

O BC reconhece que a inflação anda fora de linha porque a alta do preço dos alimentos, nos últimos meses, é persistente, há muita incerteza sobre a vontade e capacidade do governo em adotar medidas para ajustar os rumos da economia e existe ainda o perverso efeito de uma inflação alta por muito tempo: pouca gente acredita que ela vai voltar para patamares mais civilizados, o que força expectativas sempre elevadas para o comportamento dos preços nos próximos meses.

Para resolver esse problema - e abrir espaço para os juros serem reduzidos -, a solução, basicamente, está nas mãos de Temer e sua equipe econômica.

Se Temer promover ajustes na economia de forma "mais célere", a confiança na recuperação da economia será retomada e as expectativas de inflação podem recuar.

Em suma, Ilan e colegas foram claros: a bola está com inquilino - interino - do Palácio do Planalto. 

 
 

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Fonte:
Reuters

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