Na FOLHA: Pragmatismo supera ideologia na trajetória de nova premiê britânica

Publicado em 11/07/2016 17:29
GEORGE PARKER ()DO FINANCIAL TIMES

Um dos colegas de gabinete de Theresa May afirmou uma vez, sobre a ministra do Interior: "Eu a admiro, mas um dia ela vai ter de nos mostrar quem é".Às portas do número 10 da rua Downing, residência e escritório oficial do primeiro-ministro britânico, o país ainda está esperando por sua grande "revelação".

Pode ser que isso nunca ocorra. Seus amigos dizem que, com a enigmática May, tudo o que você precisa saber está à vista: uma ministra que trabalha muito, com uma estrutura de aço e um conjunto de pontos de vista políticos que confundem as fronteiras tradicionais.

"Eu só continuo a fazer o trabalho que tenho à minha frente", ela disse no lançamento da sua campanha.

Quando ela chegou ao coquetel de verão da revista "The Spectator" nesta semana, os jornalistas a rodearam na vã esperança de que alguma pequena indiscrição ou fofoca pudesse passar pelos seus lábios. Mas é mais provável que o melhor guia para a personalidade de May seja encontrado ao observar suas ações, não suas palavras.

"Você pode me julgar pela minha trajetória", declarou May na semana passada. E, em muitos aspectos, sua trajetória como ministra do Interior é impressionante, nada menos que pelo fato de que conseguiu se manter em um dos trabalhos mais difíceis de Whitehall, o centro administrativo de Londres, por mais de seis anos.

O prisma mais comum para ver May é sua abordagem da imigração, na qual ela se aproxima do estereótipo de um ministro de Interior conservador tradicional, especialmente alguém que vem do centro da classe média conservadora inglesa.

"Sou filha de um vigário local e neta de um sargento-mor de regimento", disse ela. "O serviço público é parte do que sou desde que me entendo por gente."

May não inventou a política conservadora de redução da imigração líquida para "dezenas de milhares" –concebida enquanto o partido estava na oposição–, mas tentou cumpri-la com tenacidade, devido às críticas persistente dos ministros de gabinete economicamente liberais, tais como o chanceler George Osborne.

Sua tentativa de cumprir a meta, despropositada –ela não tinha controle sobre os fluxos de imigração provenientes da UE–, enfureceu líderes empresariais e colegas ministros, que argumentavam que a burocracia em relação aos vistos estava cortando um fluxo vital de talento e turistas para o Reino Unido.

Sua postura sobre a imigração é um apelo para a direita conservadora e é em parte motivada –de acordo com aliados– por sua crença de que a imigração descontrolada alimentou a ascensão de partidos de direita populistas. "Ela é bem dura sobre isso, basicamente", disse Damian Green, ex-ministro do Interior.

O fracasso do governo em alcançar seu próprio objetivo –a imigração líquida situou-se em 330.000 pessoas, segundo cifras mais recentes– mostrou-se catastrófico no recente referendo da União Europeia, como May havia previsto.

"Às vezes, acho que só Theresa e eu realmente acreditamos na nossa política de imigração", queixou-se Cameron uma vez no gabinete. Os ministros de gabinete liberais democratas que se confrontaram com ela sobre a imigração na coalizão dizem que ela é "realmente e ridiculamente" dura sobre a questão.

Mas, em outras áreas, May foge bastante do estereótipo. Na verdade, seu alerta aos ativistas conservadores, em 2002, de que algumas pessoas chamavam os conservadores de "o partido desagradável", deu uma dica sobre seu lado reformador liberal.

Ela descartou os planos do Partido Trabalhista de cartões de identificação e reformou os controles policiais e os poderes de busca. Fez campanha em prol de mais mulheres no Parlamento e se recusou a extraditar o hacker Gary McKinnon, "gravemente doente", aos EUA.

Enquanto ministros do Interior conservadores normalmente são condescendentes com a polícia, May lançou um ataque frontal ao serviço, ao condenar a corrupção endêmica, a incompetência e os acobertamentos que descobriu com regularidade.

Sua posição sobre a Europa está em conformidade com a ideia de uma ministra do Interior mais preocupada com resultados práticos do que com cruzadas ideológicas. Ela enfureceu conservadores eurocéticos ao insistir que o Reino Unido permanecesse dentro da maioria das estruturas da União Europeia em relação a Justiça e policiamento, incluindo o mandado de prisão europeu.

Ela defendeu a ideia de que o Reino Unido se retirasse da Convenção Europeia sobre Direitos Humanos –uma estrutura que frustrou sua tentativa de deportar extremistas–, mas depois abandonou a ideia quando tentou atrair conservadores liberais, como David Davis, para sua campanha como líder.

May apoiou a permanência no referendo da EU, mas com pouco entusiasmo explícito, uma postura que depois a ajudou a atrair um número de eurocéticos que apoiassem sua candidatura a ocupar o número 10.

Mas sua complexa reputação de modernizadora liberal, linha-dura em imigração e moderada europeia não é parte essencial da sua personalidade política. Como Angela Merkel, chanceler alemã, ideologia não é o negócio de May.

"Ela é uma pessoa que realmente acredita que sua função na vida é fazer com que as coisas sejam melhores, mais puras, mais organizadas e apenas um pouco mais eficazes do que eram antes", disse um ex-colega.

Colaborou ELEANOR PARKER 

Cameron confirma May como nova premiê e deve deixar cargo na quarta

O premiê britânico, David Cameron, anunciou nesta segunda-feira (11) que vai deixar o cargo na próxima quarta (13).

A decisão abre oficialmente o processo de sucessão no governo do Reino Unido, que deve ser assumido pela atual secretária do Interior, Theresa May.

  Andrew Yates/Reuters  
A secretária de Interior do Reino Unido, Theresa May, que deve se tornar nova premiê britânica
A secretária de Interior do Reino Unido, Theresa May, que deve se tornar nova premiê britânica

Favorita para ser a nova premiê desde que Cameron anunciou que deixaria o governo, após o plebiscito que decidiu pela saída britânica da União Europeia, em junho, May se consolidou como única candidata a premiê depois que sua concorrente, Andrea Leadsom, desistiu da disputa, também nesta segunda (11).

Sua confirmação fará o Reino Unido voltar a ter uma mulher como governante quase 26 anos após Margaret Thatcher deixar o poder.

Após receber a confirmação oficial de que venceu a disputa pela liderança do Partido Conservador após a saída da única outra candidata, May afirmou a repórteres: "A saída britânica da UE significa saída britânica e vamos fazer isso com sucesso ...precisamos unir nosso país".

Segundo Cameron, ela tem amplo apoio dos parlamentares conservadores, o que a consolida como escolha para liderar o governo.

"Teremos uma nova primeira-ministra neste prédio atrás de mim na noite de quarta-feira", disse Cameron aos jornalistas posicionados diante de sua residência em Downing Street.

O premiê informou ainda que vai participar de uma sessão final no Parlamento britânico na quarta (13) antes de visitar a rainha Elizabeth 2ª para entregar sua renúncia.

A rainha tem a função de indicar oficialmente o novo governante.

FIM DA DISPUTA

Leadsom, política favorável ao Brexit, jogou a toalha durante um breve discurso à imprensa em Londres, apenas quatro dias depois de ter sido selecionada pelos deputados para competir como futura líder do partido conservador e pelo cargo de primeira-ministra britânica.

Reconhecendo que May conta com maior apoio por parte dos parlamentares "tories", Leadsom se alinhou a ela. "Encontra-se idealmente posicionada para colocar em andamento o Brexit da melhor maneira possível para os britânicos, e prometeu que o fará", declarou a secretária de Estado.

As duas mulheres disputariam a liderança do partido nos próximos meses, em uma votação na qual estavam convocados os 150 mil militantes partido conservador.

"BREXIT É BREXIT"

May, uma eurocética que passou para o campo dos partidários por se manter na UE durante a campanha para o referendo, indicou mais cedo nesta segunda-feira que respeitará a vitória dos pró-Brexit, deixando poucas esperanças para aqueles que pedem uma segunda consulta sobre a UE.

"Não poderia ser mais clara: não haverá uma tentativa para permanecer na UE", declarou nesta segunda-feira pela manhã em uma declaração realizada em Birmingham (centro da Inglaterra).

"Brexit significa Brexit" e "nós faremos isso com êxito", insistiu ela, que se converterá na segunda mulher a assumir o cargo de primeiro-ministro do país.

No domingo, a chanceler alemã Angela Merkel disse estar convencida de que o Reino Unido ativará o artigo 50 do Tratado de Lisboa para oficializar sua decisão de sair da UE.

A decisão foi tomada quando os britânicos resolveram por maioria que desejavam sair da UE, disse.

CRISE TRABALHISTA

Enquanto isso, a disputa prosseguia no seio da oposição trabalhista, depois que a deputada Angela Eagle anunciou sua candidatura para retirar Jeremy Corbyn da liderança da formação.

Esta candidatura abre caminho para novas eleições para designar o chefe do partido, no qual as divisões foram exacerbadas após a vitória do Brexit.

Eleito triunfalmente em setembro passado à frente do 'Labour' graças aos votos dos militantes, Corbyn não conseguiu se impor entre vários dirigentes do partido, que o consideram muito à esquerda e incapaz de vencer as eleições legislativas.

As críticas foram redobradas nas últimas semanas, com o voto de uma moção de confiança dos deputados trabalhistas e a renúncia dos dois terços de seu gabinete fantasma.

Ressaltando que o país atravessa um "período perigoso", Eagle considerou nesta segunda-feira ao lançar sua campanha que Corbyn "não é capaz de assegurar a liderança" necessário.

Enquanto os revoltosos fazem seus peões avançarem no tabuleiro, Corbyn indicou que está disposto a lutar para conservar seu posto, e o comitê executivo do partido deve se reunir para decidir se precisa contar com o apoio de 50 deputados para poder competir ou se é automaticamente candidato a sua própria sucessão.

"Seria contra a justiça e a igualdade se o líder atual não figurasse na votação", estimou Diane Abbott, próxima a Corbyn, na manhã desta segunda-feira em declarações à BBC, nas quais classificou Eagle como candidata do passado.

No âmbito econômico, o ministro das Finanças, George Osborne, viajava nesta segunda-feira a Nova York para convencer seus interlocutores sobre a vontade de seu país de manter um clima favorável aos negócios apesar do Brexit, o que depois reiterará na China e em Cingapura.

Ferrovia Bioceânica, para ligar o Brasil ao Pacífico, é viável, indica estudo

Empresário José Joaquím Torrico, 'pai da Bioceânica', mostra mapa do projeto
Empresário José Joaquím Torrico, 'pai da Bioceânica', mostra mapa do projeto

DIMMI AMORA
DE BRASÍLIA

A ferrovia Bioceânica planejada para ligar o Brasil ao oceano Pacífico pode ser construída em nove anos, ter quase 5.000 quilômetros de extensão, e começando em Goiás, cruzará a Cordilheira dos Andes a 2.050 metros de altitude, terminando em Bayovar, norte do Peru.

Também conhecido como ferrovia Transoceânica, o projeto começaria transportando 23 milhões de toneladas de carga, podendo chegar aos 53 milhões de toneladas 25 anos depois. Isso equivale a levar 37% da carga da região do Mato Grosso ao país vizinho.

Esses são os principais dados apresentados pela empresa chinesa CREEC, que foi contratada pelo governo do país asiático para desenvolver os estudos de viabilidade relativos a esse projeto. O trabalho atesta que a ferrovia seria economicamente viável.

INFRAESTRUTURA
Plano de investimento interrompe marasmo

Biocêanica foi anunciada num acordo entre os governos dos brasileiro, chinês e peruano ano passado. Os estudos vão ser aprofundados e ainda devem durar ao menos um ano.

Os chineses já gastaram R$ 200 milhões nos levantamentos, mas informaram que precisam estudar ainda mais o projeto para estimar os custos da construção, principalmente na Cordilheira dos Andes.

A principal conclusão do estudo, por enquanto, é sobre o melhor caminho da ferrovia no Peru. Havia três opções: Norte, Centro ou Sul.

A do Norte se mostrou mais viável, mesmo sendo 600 quilômetros mais distante, pela menor altitude. Nas outras, a ferrovia teria que subir 4.000 quilômetros, o que encareceria o preço do transporte.

Por enquanto, não haverá estudos para levar a ferrovia do Peru até o Rio de Janeiro. O trajeto estimado no Brasil repete caminho já estudado, cortando Campinorte (GO) e Lucas do Rio Verde (MT).

Depois, seriam feitos outros trechos até Porto Velho (RO) e, no fim, a ferrovia entraria pelo Acre para chegar ao Peru. No Acre, os estudos buscaram alternativas de caminhos que não passem em áreas indígenas e de floresta.

Os chineses também trabalham em estruturas de pilares de alta elevação, usando tecnologia de construção comum na China, para minimizar o desmatamento.

LICITAÇÃO

O Brasil trata o trecho entre Goiás e Rondônia praticamente como uma ferrovia independente. Isso porque ela ligaria áreas de alta produção agrícola com três pontos de escoamento já existentes: o Rio Madeira, a BR-163 e a Ferrovia Norte-Sul.

Por isso, o governo vai esperar a definição dos chineses para decidir a forma como fazer a licitação desses trechos. Dino Fernandes, secretário de fomento do Ministério dos Transportes, disse que após o complemento dos estudos, o governo vai se debruçar sobre a forma de licitar a ferrovia.

Pelos estudos, a ferrovia poderia transportar em 2025 cerca de 15 milhões de toneladas na direção do Pacífico e outros 8 milhões no sentido oposto. Para 2050, as projeções sobem para 33 milhões e 19 milhões, respectivamente. São números arrojados.

A principal carga seria de grãos da região do Mato Grosso. A projeção é que 37% da carga dessa região siga pela ferrovia até o Pacífico, 51% vá para os portos do litoral sul brasileiro e só 12% suba para portos no Norte.

Mas os governos Federal e do Estado do Pará trabalham para licitar a concessões de duas ferrovias e uma rodovia que seguem do Mato Grosso para o norte do país, além dos caminhos já existentes pelo Rio Madeira e a Ferrovia Norte-Sul. Se concretizado, os 12% de carga previstas pelos chineses do Mato Grosso para essa área praticamente inviabiliza todos esses projetos.

 

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Fonte:
Folha de S. Paulo

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1 comentário

  • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

    Muitos que leem essas linhas já trafegaram pela Rodovia SP-280. Muito bem, para aqueles que responderam afirmativamente, faço-lhes outra pergunta: Você sabe qual é o projeto original dessa rodovia? O projeto original é a ligação da cidade de São Paulo com a cidade de Lima, no Peru. Acho que ela seria uma rodovia "quase" transoceânica, falta-lhe descer o planalto com destino a Santos e, pronto, aí está o Oceano Atlântico! Do outro lado ela está o Oceano Pacífico, pois a cidade de Lima é banhada por aquelas águas.

    Ah! A SP-280, é mais conhecida como Rodovia Castelo Branco e, hoje conta com 315 Km de extensão.

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    • carlo meloni sao paulo - SP

      Sr Paulo--Quem trafega pela SP- 280 quando chega no KM 20 pega o rodoanel

      que contorna Sao Paulo, com 4 pistas, chega na Imigrantes com 4 pistas, e dai a pouco chega em Santos---UMA MOLEZA----A SP-280 foi concebida e inaugurada pelo governador R. de Abreu Sodre'----Sua esposa da familia Mellao, grandes proprietarios de terras em AVARE'----So' chegava la' pela Raposo Tavares gastando 8 horas de viagem---Lembro que no discurso dele alegou ser a Raposo Tavares uma rodovia muito perigosa----Disse que queria chegar a Lima

      porem o objetivo fundamental era AVARE' onde parou-----Lembro que nos tres primeiros anos de uso nao havia quase ninguem , uma rodovia jogada as moscas---Lembro que falei para minha mulher :: como seria bom que todos os brasileiros tivessem carro---Nos dias de hoje ja' fiquei num engarrafamento de 70 kilometros com as quatro pistas cheias.

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    • carlo meloni sao paulo - SP

      SETENTA KILOMETROS

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    • carlo meloni sao paulo - SP

      Melhorando a redaçao----a SP 280 tem duas pistas cada qual com quatro faixas de Sao Paulo ate' Sorocaba. Mesma coisa para o rodoanel e a Imigrantes ate'

      Santos.

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