Dólar despenca e vai abaixo R$ 3,40 pela 1ª vez em quase um ano, com Ilan e exterior
Por Bruno Federowski
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar desabou mais de mais de 2 por cento e fechou abaixo de 3,40 reais pela primeira vez em quase um ano nesta quarta-feira, com operadores apostando que o Banco Central deve ser menos propenso a intervir no câmbio sob Ilan Goldfajn e acompanhando o ambiente externo favorável.
O dólar recuou 2,29 por cento, a 3,3697 reais na venda, menor nível de fechamento desde 29 de julho de 2015 (3,3293 reais) e acumulando queda de 6,72 por cento no mês. No ano, a moeda norte-americana já perdeu 14,65 por cento.
O dólar futuro cedia cerca de 2,15 por cento no fim da tarde.
"Muita gente no mercado via um piso nos 3,50 reais e as declarações do Ilan contrariaram essa tese", disse o operador da corretora Ativa Arlindo Sá. "Aí o real veio com tudo, embalado também pelo cenário externo positivo".
Ilan defendeu na véspera o "respeito ao regime de câmbio flutuante" em audiência no Senado e a declaração serviu de gatilho para o ajuste no mercado de câmbio. Sua indicação à presidência do BC foi aprovada na terça-feira pelo Senado e vai assumir a presidência do BC nos próximos dias.
Sá disse que há espaço para o dólar recuar ainda mais, mas preferiu não precisar patamares. Esse movimento depende, porém, de trégua no cenário político, em meio a escândalos que vêm alimentando preocupações com a capacidade do governo interino de Michel Temer de bancar medidas de austeridade no Congresso Nacional.
"Tem muita água para rolar ainda. O jogo só acaba quando termina", afirmou.
Mesmo com o recuo recente da moeda dos EUA, o BC não voltou a atuar no mercado. Esta foi a sexta sessão consecutiva em que a autoridade monetária não intervém, sendo que não realiza leilão de swap reverso --equivalente a compra futura de dólares-- desde 18 de maio.
Quando o dólar ia abaixo de 3,50 reais, o BC costumava entrar no mercado e, assim, reduzir o estoque de swaps cambiais tradicionais, equivalentes a venda futura de dólares. Muitos interpretavam o movimento como uma tentativa de não prejudicar as exportações.
O BC reduziu seu estoque de swaps tradicionais, que permaneceu acima de 100 bilhões de dólares por quase todo o ano passado, para o equivalente a pouco mais de 60 bilhões de dólares.
"Foi uma redução muito substancial. Talvez o BC decida parar por aí, não acelerar os vencimentos com os reversos e deixar o estoque diminuir mais lentamente", disse o operador de um banco internacional, sob condição da anonimato.
O recuo da moeda norte-americana nesta sessão também foi motivado por operações automáticas de venda de dólares para limitar perdas ("stop-loss"), montadas por investidores que não acreditavam que o BC permitiria baixas tão fortes.
O cenário externo favorável também vem contribuindo para a queda do dólar. Neste pregão, dados fortes sobre as importações da China favoreciam o desempenho de ativos ligados a commodities, como moedas emergentes, somando-se ao avanço dos preços do petróleo.
"O fluxo para emergentes continua assegurado", escreveu a equipe da corretora Lerosa Investimentos em relatório.
Além disso, vêm enfraquecendo as apostas na alta de juros nos Estados Unidos no curto prazo, após dados fracos sobre o mercado de trabalho norte-americano e declarações da chair do banco central norte-americano, Janet Yellen. Juros mais baixos nos EUA tendem a favorecer ativos emergentes, que oferecem retornos elevados.
O mercado brasileiro também reagiu a expectativas de ingresso de capitais ligados à emissão de 1,25 bilhão de dólares em bônus da Vale, na noite passada. A emissão, que marca o retorno da mineradora ao mercado de dívida internacional após mais de três anos, foi feita por meio da subsidiária integral Vale Overseas.
(Edição de Patrícia Duarte)
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