Dólar cai mais de 1% e vai abaixo de R$ 3,45, com Ilan e cenário externo
Por Bruno Federowski
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar caiu mais de 1 por cento e fechou abaixo de 3,45 reais nesta terça-feira após o indicado à presidência do Banco Central, Ilan Goldfajn, defender o regime de câmbio flutuante, levando operadores a entender que teria sinalizado ser favorável a menos intervenções no mercado e confortável com a moeda abaixo de 3,50 reais.
Também contribuiu para o alívio o cenário externo favorável, com preços maiores do petróleo e menores expectativas de altas de juros nos Estados Unidos.
O dólar recuou 1,20 por cento, a 3,4486 reais na venda, no menor patamar de fechamento desde 11 de maio (3,4456 reais). Na máxima da sessão, o dólar subiu a 3,5142 reais e, na mínima, caiu a 3,4461 reais. No mês, a moeda norte-americana acumula queda de 4,53 por cento.
O dólar futuro recuava cerca de 1,25 por cento no final da tarde.
"A leitura do mercado é que haverá pouca interferência no mercado de câmbio quando o Ilan estiver no comando do BC", resumiu o operador da corretora Spinelli José Carlos Amado.
Durante sabatina na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), Ilan afirmou que "respeito ao regime de câmbio flutuante" caso assuma o BC. A CAE aprovou sua indicação nesta tarde e estava prevista a votação no plenário do Senado nesta sessão.
Muitos operadores acreditavam que o BC voltaria a intervir no mercado se o dólar se mantivesse abaixo dos 3,50 reais, como vinha fazendo nos últimos meses. Para eles, a autoridade monetária estaria protegendo as exportações brasileiras.
O dólar havia fechado abaixo de 3,50 reais na sessão passada e no menor patamar em mais de três semanas, mas o BC não anunciou qualquer intervenção para este pregão, mantendo-se ausente pela quinta sessão consecutiva.
Na véspera, a chair do Federal Reserve, Janet Yellen, evitou precisar quando o banco central norte-americano pretende elevar os juros, levando investidores a apostar que isso deve acontecer apenas em setembro ou até mais tarde no ano.
A perspectiva de que juros baixos nos EUA mantenham a atratividade de outros mercados continuou beneficiando ativos emergentes nesta sessão e ajudou a limitar a força do dólar no mercado brasileiro. O avanço dos preços do petróleo também sustentou a demanda por risco.
"Continua uma trajetória global de desvalorização do dólar desde os dados do mercado de trabalho (dos Estados Unidos) de sexta-feira e aqui, o mercado está, de certa forma, reagindo com sangue frio diante do cenário político", disse o economista da Tendências Consultoria, Silvio Campos Neto.
O mercado brasileiro havia se descolado dos mercados externos no início do pregão, com operadores preocupados com a possibilidade de a instabilidade política dificultar a aprovação de medidas de austeridade fiscal no Congresso Nacional e prejudicar a credibilidade do país.
Segundo o jornal O Globo e a TV Globo, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu a prisão do presidente suspenso da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), do ex-presidente da República José Sarney (PMDB-AP) e do senador Romero Jucá (PMDB-RR).
"Com certeza, a sensação de risco no Brasil cresceu bastante. E quando o quadro político aperta, o investidor procura o dólar como forma de proteção", resumiu mais cedo o operador da corretora Correparti Jefferson Luiz Rugik.
O pedido de prisão de Sarney, Jucá e Renan baseia-se na acusação de que tentaram obstruir as investigações de corrupção da operação Lava Jato. Dois ministros do governo presidente interino Michel Temer, incluindo Jucá, tiveram de deixar seus cargos por denúncias semelhantes.
(Reportagem adicional de Flavia Bohone)
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