Dólar amplia levemente queda e vai a R$3,50 após Yellen; política local gera cautela
Por Bruno Federowski
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar ampliou levemente a queda e bateu em 3,50 reais nesta segunda-feira, após a chair do Federal Reserve, Janet Yellen, manter o tom majoritariamente otimista sobre as perspectivas econômicas para os Estados Unidos, mas ressaltar os dados fracos recentes sobre o mercado de trabalho.
A moeda norte-americana vinha recuando desde o início da sessão, em meio à alta nos preços de commodities, incluindo o petróleo. O cenário político brasileiro ainda alimentava cautela entre os investidores, com mais notícias sobre denúncias envolvendo figuras do governo e da oposição.
Às 14:03, o dólar recuava 0,67 por cento, a 3,5014 reais na venda, após chegar a 3,5005 reais na mínima da sessão.
O dólar futuro caía cerca de 0,7 por cento.
"Ela está dizendo aos mercados: tome seus calmantes, não exagere", disse o economista da 4Cast Pedro Tuesta.
Yellen disse nesta segunda-feira que aumentos dos juros provavelmente estão a caminho, embora o relatório de emprego fraco do mês passado mereça atenção.
Operadores aumentaram as apostas de que Fed espere até setembro para elevar os juros, com os contratos de juros futuros dos EUA mostrando chance de mais de 50 por cento de que isso aconteça. Essa seria a única elevação neste ano. [Ln1N18Y0UD]
Yellen havia sinalizado previamente a possibilidade de elevar os juros já neste mês.
A manutenção de juros baixos nos EUA tende a ajudar moedas como o real, que se beneficiam de taxas mais altas em seus países de origem.
O dólar já havia recuado 1,74 por cento frente ao real na sexta-feira, maior queda diária desde 19 de abril, após os dados fracos sobre o mercado de trabalho enfraquecerem as expectativas de aumento de juros no curto prazo na maior economia do mundo.
A baixa da moeda norte-americana também contribuía para sustentar os preços do petróleo ao incentivar a demanda pela commodity, impulsionada por ataques à infraestrutura na Nigéria.
"O panorama global continua mais positivo hoje e isso favorece o real", resumiu mias cedo o operador da corretora Intercam Glauber Romano.
No cenário local, o foco central continuava sendo o político após notícias encaradas como mistas pelo mercado. Segundo a revista IstoÉ, o ex-presidente da Odebrecht Marcelo Odebrecht teria afirmado, em acordo de delação premiada no âmbito da operação Lava Jato, que a presidente afastada Dilma Rousseff cobrou pessoalmente doação de campanha não informada à Justiça.
De maneira geral, operadores veem notícias que reduzam as chances de Dilma voltar ao poder ou piorem as perspectivas para seu partido, o PT, nas eleições seguintes como algo positivo. Muitos criticam as políticas adotadas durante seu primeiro mandato como importante fator na origem da crise econômica atual.
Já notícia do jornal Folha de S.Paulo de que o ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves, teria agido para obter recursos desviados da Petrobras em troca de favores para a empreiteira OAS provocava reações negativas junto ao mercado financeiro.
Dois ministros do governo do presidente interino Michel Temer já deixaram os cargos em meio a escândalos e investidores temem que a instabilidade política dificulte a aprovação de medidas de austeridade fiscal no Congresso.
"O mercado está operando na base do cada dia é um dia, porque todo dia você pode abrir o jornal e ver algo que muda todo o jogo", disse o operador da corretora B&T Marcos Trabbold.
O Banco Central não anunciou qualquer intervenção cambial para esta sessão, mantendo-se ausente do mercado pelo quarto pregão seguido.
Mas o nível do dólar a 3,50 reais chama atenção dos investidores porque o BC diversas vezes atuou no mercado de forma a elevar o dólar quando recuou abaixo desse patamar. Alguns operadores acreditam que a autoridade monetária quer proteger as exportações da depreciação cambial, apesar dos impactos inflacionários da alta do dólar.
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