Na FOLHA: Dívida pública é bomba-relógio que cresce cerca de R$ 2 bilhões por dia

Publicado em 23/04/2016 17:47
FOLHA DE S. PAULO + VEJA

Enquanto o governo está paralisado pela crise política, a dívida pública cresce neste 2016 a uma velocidade média de R$ 2 bilhões ao dia.

A conta inclui sábados, domingos, feriados e, como o ano é bissexto, o dia 29 de fevereiro, quando o endividamento de União, Estados e municípios ultrapassou a casa dos R$ 4 trilhões.

Com a perspectiva de assumir o Planalto a partir de maio, o hoje vice-presidente Michel Temer terá pouco tempo para desarmar essa bomba-relógio em meio a um clima político tormentoso.

Com o desequilíbrio no Orçamento do governo e a recessão econômica, a dívida pública deverá saltar de 66,5% do PIB, em 2015, para 74,4% até dezembro próximo, conforme as previsões mais consensuais do mercado.

Trata-se, de longe, da maior proporção entre os principais países emergentes. Se não for detida, a escalada gerará temores crescentes entre empresários e investidores –que tenderão a cobrar juros mais altos para emprestar ao governo ou, no limite, a interromper o crédito.

Até 2013, o Tesouro Nacional conseguia poupar o suficiente para manter sob controle a proporção entre a dívida pública e o PIB. Hoje, entretanto, o governo precisa tomar dinheiro no mercado para seus gastos cotidianos.

As despesas programadas com pessoal, custeio administrativo, programas sociais e investimentos deverão somar, neste ano, R$ 1,2 trilhão, cerca de R$ 100 bilhões acima das receitas.

Espera-se que, com o afastamento da presidente Dilma Rousseff, Temer monte uma equipe econômica com credibilidade, capaz de restabelecer parte da confiança de empresas e consumidores.

O próprio mandato do peemedebista, no entanto, está ameaçado pelo avanço das investigações da Operação Lava Jato, da Polícia Federal. As incertezas tornam mais árdua a tarefa de atrair nomes de peso ao governo.

O reequilíbrio das contas do Tesouro depende de aumento de tributos ou reformas impopulares que reduzam direitos previdenciários e trabalhistas.

E essas reformas exigem mudanças na Constituição, para as quais é preciso ter votos de 60% do Congresso –particularmente difícil em ano de Olimpíada e eleições.

 

R$ 1 bilhão por dia (só de juros da dívida)

POR LAURO JARDIM

(em O GLOBO) 25/04/2016 13:25

De acordo com  dados da Secretaria do Tesouro Nacional e considerando a taxa Selic atual, de 14,25%, neste ano serão pagos R$ 392 bilhões de juros da dívida interna brasileira. Ou, R$ 1.075 bilhão por dia. Esta é a herança trágica que Michel Temer vai receber.

REUTERS: Dívida pública total do Brasil sobe 2,38% em março, aponta Tesouro

BRASÍLIA (Reuters) - O estoque total da dívida pública federal, incluindo as dívidas interna e externa, teve alta de 2,38 por cento em março sobre fevereiro, a 2,887 trilhões de reais, informou o Tesouro Nacional nesta segunda-feira.

Já a dívida pública mobiliária federal interna subiu 2,81 por cento na mesma base de comparação, somando 2,754 trilhões de reais.

Boletim Focus: Mercado já prevê que PIB terá 'tombo' maior do que no ano passado

O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro terá uma forte retração de 3,88% neste ano, segundo a previsão dos economistas do mercado financeiro.

A expectatifoi colhida na semana passada pelo Banco Central e divulgada nesta segunda-feira (25). Mais de 100 instituições financeiras forva am ouvidas.

Se a expectativa dos analista se confirmar, a situação da economia brasileira terá piora frente àretração registrada no ano passado, que foi de 3,8%, e o PIB terá o maior "tombo" desde 1990 - quando recuou 4,35% - ou seja, em 26 anos.

Com a previsão de um novo "encolhimento" do PIB neste ano, essa também será a primeira vez que o país registra dois anos seguidos de queda no nível de atividade da economia – a série histórica oficial, do IBGE, tem início em 1948.

Para o comportamento do Produto Interno Bruto em 2017, os economistas das instituições financeiras subiram a previsão de alta de 0,20% para 0,30%.

O PIB é a soma de todos os bens e serviços feitos em território brasileiro, independentemente da nacionalidade de quem os produz, e serve para medir o comportamento da economia brasileira.

Inflação

Para o comportamento da inflação, houve nova melhora na expectativa do mercado financeiro. Para este ano, a estimativa dos economistas para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) recuou de 7,08% para 6,98%. Foi a sétima queda seguida do indicador.

Apesar da queda, a previsão de inflação do mercado para este ano ainda permanece acima do teto de 6,5% do sistema de metas e bem distante do objetivo central de 4,5% fixado para este ano.

Leia a notícia na íntegra no site G1.

Otimismo com Temer?, por FERNANDO CANZIAN (na FOLHA.COM)

Michel Temer investiu no feriado e antes dele em conversas como possíveis nomes e conselheiros de sua equipe econômica. Os interlocutores (Delfim Netto, Armínio Fraga, Henrique Meirelles e José Serra) são figuras que inspiram confiança entre empresários e investidores. Há muita pressa diante da terrível situação atual.

O Brasil passa neste momento por uma nova onda de quebradeira entre empresas. Há um novo pico de pedidos de recuperações judiciais, onde companhias importantes formam assembleias de credores para evitar sua extinção. Elas passam de 1.230 casos nos últimos 12 meses.

Relatos de empresários dão conta de que os cortes agora atingem o "core business", o núcleo dos negócios. Com demissões indesejadas (e adiadas) de pessoal bem mais qualificado do que os que já foram dispensados nos primeiros meses da crise.

O setor industrial, onde há melhor qualificação e salários, é exemplo disso. No trimestre até fevereiro (ante o mesmo trimestre de 2015), demitiu 1,4 milhão, baixando o total para 12 milhões. Foi o que mais forçou a taxa de desemprego geral, que subiu a 10,2%. Em um ano, o total de desempregados saltou 40%, chegando a 10,4 milhões.

A queda nos negócios e no emprego têm levado à ruína na arrecadação de impostos, ampliando o temor de que o déficit do governo leve à insolvência do setor público e à explosão da já elevadíssima dívida pública. Sua trajetória indica que chegará a 75% como proporção do PIB neste ano (gráfico abaixo) e a quase 85% em 2018.

  Folhapress/Folhapress  

Vivemos um círculo vicioso. A depressão da atividade traz menos arrecadação, que leva a mais desconfiança entre empresários sobre a solvência pública, que os leva a se proteger mais cortando gastos. E assim sucessivamente.

Michel Temer pode assumir este cenário diante de uma grande notícia boa. A inflação está em queda, o que poderá abrir uma janela de oportunidade para atacar dois problemas fundamentais ao mesmo tempo: cortar a taxa básica de juros (a Selic), que faz a dívida pública crescer R$ 2 bilhões ao dia; e, com isso, liberar um pouco a atividade econômica, o crédito e os investimentos.

A recente desvalorização do dólar e a recessão diminuíram as estimativas do mercado para a inflação a 7% neste ano, bem abaixo dos 10,7% de 2015. A taxa de juros, usada para conter a inflação, está hoje em 14,25% ao ano e poderá ser cortada à medida em que os preços subirem menos.

Consultorias estimam que a cada corte de 0,5 ponto percentual na taxa de juros (Selic), o país deixa de gastar cerca de R$ 10 bilhões em juros. Grosso modo, se a Selic puder acompanhar a queda da inflação (e ela geralmente faz isso), os juros podem cair até 3,5 pontos mais à frente. O que poderia gerar uma economia em juros de cerca de R$ 70 bilhões ao ano.

É um cenário otimista, mas não implausível. Isso diminuiria a trajetória explosiva da dívida pública ao mesmo tempo em que estimularia um pouco mais a economia e a arrecadação de impostos, quebrando o círculo vicioso descrito acima.

Há outros pontos a favor de Temer. Só a expectativa de queda do governo Dilma Rousseff produziu alguma euforia entre investidores e esperança entre empresários. A Bovespa obteve boa valorização (o que significa investidores financiando empresas com a compra de suas ações) e o dólar caiu (diminuindo custos de quem importa ou está endividado em dólares e a inflação). (Gráfico abaixo)

  Editoria de Arte/Folhapress  

Mesmo se cair até 3,5 pontos acompanhando a inflação, a Selic no Brasil continuará sendo uma das maiores taxas do mundo, pagando quase 4% de juros reais, além da inflação prevista. Na Europa e nos EUA hoje, o mercado aceita receber juros negativos ou muito próximos de zero para manter seu dinheiro em um lugar seguro.

Não é impossível, portanto, que ao conter a trajetória explosiva da dívida pública (e a insolvência do setor público), o Brasil volte a atrair investidores externos, o que ajudaria a financiar seu déficit e abrir, no futuro, ainda mais espaço para novos cortes de juros, criando um círculo minimamente virtuoso.

Dois últimos pontos positivos: o setor bancário no Brasil está sólido, o que não compromete uma retomada econômica, e não há crise externa. Desta vez, o Brasil não quebrou nas suas contas com o resto do mundo, ao contrário das duas crises mais recentes, em 1999 (FHC) e 2002/2003 (FHC e Lula).

Para a transição de governo, Temer promete um reajuste real no Bolsa Família, programa que atinge um quarto dos brasileiros (50 milhões). Com o valor mínimo congelado em R$ 77 desde maio de 2014, um reajuste acima da inflação custaria pouco (comparado ao gigantesco rombo nas contas públicas) e diminuiria a pressão social sobre seu novo governo.

Já para a classe média um pouco mais favorecida, além da cabeça de Dilma na bandeja do impeachment, o governo Temer pode trazer alguma esperança de recuperação a médio e longo prazos. Mas isso vai durar muito pouco. É aí que começam os grandes problemas do novo "vir a ser" presidente.

Dificilmente Temer conseguirá estabilizar rapidamente o descalabro nas contas públicas sem aumentar impostos. A conversa sobre corte de ministérios e funcionários sequer arranha o problema dos gastos.

Hoje, cerca de 75% das despesas não financeiras da União estão engessadas em gastos sociais como pagamento a pensionistas e a aposentados e nas áreas de educação e saúde. Mais de dois terços desses gastos (como Previdência) crescem juntos com o salário mínimo, que é reajustado pela inflação. Ou seja, impossíveis de cortar hoje sem mudanças constitucionais.

Não há hipótese de o Brasil continuar sustentável no longo prazo sem que se mexa nisso, e as reformas constitucionais demandam um mínimo de três quintos dos votos parlamentares (308). Na votação do impeachment na Câmara, 367 deputados votaram a favor de Temer, e seu eventual governo projeta ter a menor oposição desde 1992 (90 parlamentares, no PT, PCdoB, PSOL e parte do PDT).

Nada garante que essa grande maioria que votou pro impeachment vote a favor das propostas de Temer, que ainda são muito desconhecidas e que devem mexer com a vida de milhões de eleitores nas bases dos deputados.

Por fim, há a Lava Jato e a corrupção endêmica entre centenas de parlamentares desta nova "base" presidencial, que poderá chantagear o novo governo além dos limites para salvar a pele. Citado algumas vezes na operação e ainda dependente de seu correligionário Eduardo Cunha na Câmara, o próprio Temer e seus planos podem ser abatidos em pleno voo ou mesmo antes de fazer decolar seus planos de ajuste. 

 

Brasil fecha 1,8 milhão de empregos formais em 12 meses

Desde o início da série histórica, em 1992, nunca foi registrado em um mês de março o fechamento de tantas vagas de trabalho. No terceiro mês deste ano, o saldo líquido entre a abertura e o fechamento de vagas de trabalho formais ficou negativo em 118.776, segundo relatório divulgado nesta sexta-feira (22) pelo MTPS (Ministério do Trabalho e Previdência Social).

Nos últimos 12 meses, já somam 1,8 milhão de vagas fechadas no país.

A queda é resultado do declínio do emprego em praticamente todas os setores da economia. A exceção é a administração pública, o único setor que apresenta uma criação de vagas, com um saldo positivo de 4.335 postos de trabalho.

Em março de 2015, o saldo entre a abertura de novos postos e o fechamento indicou uma criação líquida de 19.282 de vagas formais.

Nos dois meses anteriores também foram registradas fechamento líquido de vagas. Dessa forma, no trimestre, foram fechados 319.150 postos de trabalho.

O setor mais afetado no terceiro mês do ano foi o comércio, com o fechamento líquido de 41.978 postos. Seguem a indústria de transformação, com 24.856 vagas fechadas, a construção civil, com 24.184 vagas, e serviços, com 18.654 vagas.

De acordo com Márcio Borges, diretor do Departamento de Emprego e Salário do Ministério, afirma que a construção civil é o segmento mais preocupante.

"Vem acentuando o saldo de fechamento de vagas. Em janeiro, foram 2.000 vagas, em fevereiro, mais 17.000. É o que mais nos preocupa", diz.

Por outro lado, Borges afirma que, embora o valor de queda do emprego no comércio seja o maior, há uma desaceleração desse saldo negativo.

"Apesar de ser a maior queda, em janeiro foram 69.000 vagas fechadas e em fevereiro 55.000. Mesmo que exista uma sazonalidade em função das festas de fim de ano, que acentuam o fechamento de vagas nos primeiros meses do ano, há uma tendência clara de redução", diz Borges.

A agricultura e a indústria extrativa mineral também apresentaram saldo negativo, de 12.131 e 964 postos de trabalho, respectivamente.

Por região, o Sudeste é o que apresentou o meio número de vagas fechadas, 58.004, seguido pelo Nordeste, 46.269. Nenhuma região do país apresentou aumento no número de postos de trabalho. O Centro-oeste foi o menos afetado, com encerramento de 942 vagas. 

 

Ministro do STF, Teori Zavascki, manda investigar superplanilha da Odebrecht

O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Teori Zavascki determinou a abertura de um procedimento para que a Procuradoria-Geral da República apure a superplanilha da Odebrecht com supostos pagamentos a pelo menos 316 políticos de 24 partidos, que foi encontrada pela Lava Jato.

Relator do esquema de corrupção da Petrobras no Supremo, Teori também decidiu devolver para o juiz Sergio Moro o comando das fases Acarajé, que teve como alvo principal o casal de marqueteiros João Santana e Mônica Moura, e Xepa, que apura suspeitas de propina e lavagem de dinheiro envolvendo a Odebrecht.

superplanilha foi apreendida na casa do executivo Benedicto Barbosa da Silva Junior, alvo da operação Acarajé, em fevereiro.

O documento detalha o suposto repasse da Odebrecht a ministros, prefeitos, governadores, deputados e senadores para campanhas municipais de 2012 e na eleição de 2014.

Veja planilha

Como o documento envolvia autoridades com foro privilegiado, Moro encaminhou os dados ao STF. Agora, Teori abriu um procedimento e vai enviar o documento para que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, faça uma análise.

O Ministério Público vai opinar se há ou não indícios que justifiquem o pedido de abertura de inquérito ao STF contra os políticos citados.

Para Teori, não ficou caracterizado que Moro usurpou competência do Supremo ao desencadear essas duas etapas da Lava Jato, já que elas não alcançaram pessoas com foro privilegiado. O ministro também decidiu que cabe ao juiz do Paraná avaliar os pedidos de revogação de prisão dessas fases.

As investigações da Acarajé tiveram início com a apreensão de documentos que indicam supostos pagamentos de propina com dinheiro desviado da Petrobras para o marqueteiro João Santana e a mulher, Mônica Moura, responsáveis pelas três últimas campanhas presidenciais do PT.

O Ministério Público Federal chegou a oferecer denúncia contra o casal, mas os processos foram encaminhados ao STF. Se a Justiça aceitar, eles se tornam réus. O casal está preso desde fevereiro, e Mônica negocia delação.

 

Na VEJA: Teori manda investigar planilhas da Odebrecht

O ministro do STF também decidiu devolver ao juiz Sergio Moro o comando das operações que investigam os marqueteiros João Santana e Mônica Moura e o pagamento de propinas pela empreiteira

O ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a abertura de procedimento para uma apuração da "superplanilha" com a indicação de pagamentos feitos pela empreiteira Odebrecht a centenas de políticos, encontrada no mês passado pela força-tarefa da Operação Lava Jato na casa do ex-presidente de Infraestrutura da empreiteira Benedicto Barbosa Silva Junior, no Rio de Janeiro. A partir de agora, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, decidirá se pede ou não a abertura de inquéritos sobre políticos relacionados na planilha.

A planilha, que contém cerca de 300 nomes ligados a 24 partidos políticos, é a maior relação de políticos e partidos associada a pagamentos de uma empreiteira capturada pela Lava Jato desde o início da operação, há dois anos.

Zavaski também devolveu ao juiz federal Sérgio Moro, que coordena os processos da Lava Jato na primeira instância em Curitiba, as investigações da Operação Acarajé, que mirou os marqueteiros João Santana e Mônica Moura, e da 26ª fase, chamada de Xepa, que investiga a existência de um departamento para o pagamento de propinas na empreiteira Odebrecht.

O ministro entendeu que autoridades com foro privilegiado não foram investigados nessas duas fases da operação e que Moro não violou a competência do STF durante as investigações.

Codinomes - As planilhas com doeações da Odebrecht foram encontradas nas buscas da 23ª fase, a Acarajé, que teve como alvo principal o casal de marqueteiros João Santana e Mônica Moura. Entre muitos nomes, são citados nas planilhas: o ex-governador do Rio de Janeiro, Sergio Cabral (PMDB), os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL), José Serra (PSDB-SP), Lindbergh Farias (PT-RJ), Aécio Neves (PSDB-MG) e Humberto Costa (PT-PE), o presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB-RJ), o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB), o deputado Paulinho da Força (SD-SP) e a prefeita de Campos e ex-governadora do Rio, Rosinha Garotinho (PR).

 

Parasitas da agonia, por VINICIUS MOTA

DA FOLHA DE SÃO PAULO - 

O longo intervalo entre a votação do impeachment na Câmara e o juízo para instalá-lo, no Senado, expõe Dilma Rousseff a um triste espetáculo. O "reality show" exibe a derrocada física e psicológica da figura que ocupa, sem exercer, o principal cargo da República.

A cada fala em que deslegitima a arquitetura constitucional, a mesma responsável por sua ascensão, Dilma se distancia mais da respeitabilidade. O pior castigo para um mandatário compelido a discursar todo dia é não ser levado a sério.

Quem seria capaz de manter o equilíbrio, a coerência e o sentido de sua missão institucional numa situação como essa? Quanta crueldade é obrigar um presidente de fato deposto –não há volta para quem reuniu contra si mais de 70% dos deputados– a definhar em praça pública!

O erro menor coube ao Supremo, que complicou a leitura deste trecho da Carta: "Admitida a acusação contra o Presidente, por dois terços da Câmara, será ele submetido a julgamento perante o Senado nos crimes de responsabilidade".

O voto derrotado do ministro Edson Fachin, que reconhecia ser da Câmara o papel crucial, ajustava-se melhor à natureza sobretudo política do impeachment. Fachin deveria ser imitado na autocontenção que demonstra em face do Legislativo.

A culpa principal, contudo, é das lideranças que parasitam a lenta agonia de Dilma. Lula e o PT querem uma mártir para evitar o cisma que ameaça retirar da sigla a supremacia na esquerda. Renan Calheiros, Aécio Neves e outros figurões da centro-direita aproveitam o interregno para negociar a adesão ao novo governo.

Nenhum dos dois lados dá a mínima para salvaguardar seja a dignidade de Dilma Rousseff, seja a grandeza da Presidência da República. Se recobrasse o discernimento, Dilma encontraria na renúncia a chave para explodir o conluio que promove esse impiedoso ritual de sacrifício.

"Longo inverno", EDITORIAL (edição desta segunda-feira)

Os últimos dados de emprego, renda e vendas no varejo indicam que a recessão ainda será longa. As evidências são de aceleração na perda de postos de trabalho e retração nas intenções de consumo, fatores que dificultam a chance de retomada econômica.

Após resistir à desaceleração do crescimento que já ocorria desde 2012, o mercado de trabalho sucumbiu no ano passado. A taxa de desemprego medida pela Pnad contínua do IBGEatingiu 10,2% no trimestre encerrado em fevereiro, 2,8 pontos percentuais acima do mesmo período de 2015.

Trata-se de um aumento de 40% no número de pessoas desocupadas, que já chega a 10,4 milhões. Não por acaso caem a renda e as intenções de consumo. A Pnad aponta retração de 4,9% na massa salarial nesse período.

A Confederação Nacional do Comercio, por sua vez, indica em sua última pesquisa a menor intenção de consumo da série. O segmento de bens duráveis (como carros, geladeiras e TVs) é o mais atingido, com queda de 43,6% em relação a abril de 2015, mas o quadro recessivo espraia-se por todos os setores.

A combinação de fatores sugere que as vagas hoje cortadas no mercado de trabalho dificilmente serão recriadas com rapidez. As empresas passam por um período de forte ajuste de custos e de processos produtivos, numa adaptação não só à conjuntura mas também a mudanças de fundo na economia.

No período 2004-2012, o crescimento ancorou-se principalmente em segmentos de matérias-primas e, depois, no varejo, reforçado por programas de transferência de renda. A indústria sofreu, sobretudo a partir de 2010, com os altos custos internos e a sobrevalorização da moeda brasileira.

Agora há nova perspectiva. Não se antecipa outro ciclo altista nos preços de matérias-primas nem a incorporação acelerada de novos contingentes de consumidores. O reajuste do câmbio e dos custos internos indica que o crescimento, ao voltar, se apoiará em outros vetores, nem tanto no consumo.

A indústria, por exemplo, terá um período promissor à frente, com melhores condições de custo e maior viabilidade exportadora. Não se descarta, porém, uma expansão com padrão similar ao dos anos 1990, quando as empresas reforçavam a produtividade e criavam menos postos de trabalho.

Caso essa hipótese de fato se confirme, as consequências para o país serão preocupantes. A baixa criação de novas vagas formais resultará, entre outras coisas, em insuficiente crescimento das receitas da Previdência, um bônus da década passada que parece encerrado.

É preciso compreender tais mudanças e preparar o país para lidar com elas a médio e longo prazo. Enquanto isso, infelizmente, as indicações são de um inquietante período de escassez de empregos.

Força externa, por HENRIQUE MEIRELLES (na FOLHA deste domingo)

Investidores, empresários e analistas internacionais com quem encontrei em viagem ao exterior na semana passada mostraram enorme interesse pelo que está acontecendo no Brasil e, principalmente, pelo que está por vir.

Parte da queda significativa do investimento que ocorre desde 2014 está associada às decisões desses agentes, em função da sua preocupação com os rumos de nossa economia nos últimos anos.

O mercado internacional cumprirá papel fundamental na retomada da economia brasileira, seja via investimento direto das empresas internacionais, seja via aquisição no mercado doméstico de ações e títulos de empresas brasileiras, seja reabrindo as praças financeiras internacionais às empresas locais.

A conclusão da viagem é que o interesse no futuro do Brasil é enorme e a volta dos investimentos é possível e provável, desde que as condições voltem a ser adequadas.

O melhor propulsor dessa retomada será a reversão do enorme ceticismo, com uma sinalização clara e factível de que o país equacionará de forma decisiva o seu desequilíbrio fiscal e voltará a ter regras estáveis e previsíveis aos investimentos, melhorando o ambiente de negócios.

Quando se toma uma decisão de investimento de longo prazo em qualquer setor, é imprescindível ter confiança na estabilidade macroeconômica e na manutenção de regras claras e racionais. Todo gestor de investimentos tem que levar em conta o retorno previsto numa determinada operação e a probabilidade de que essa previsão se concretize efetivamente. Instabilidade macroeconômica e mudanças constantes e arbitrárias no arcabouço regulatório elevam a incerteza e inibem as decisões dos gestores, que devem prestar contas aos investidores que lhes confiaram a gestão dos seus recursos.

O fluxo de recursos ao Brasil pode ser retomado com um modelo econômico sustentável e um conjunto de reformas pró-crescimento já discutidas aqui. Os recursos chegarão não só pelo aumento no investimento estrangeiro direto nas operações brasileiras das empresas globais, mas também por meio da Bolsa e do mercado de capitais doméstico e internacional. Essas fontes de recursos são indispensáveis para as empresas voltarem a contratar, recompor estoques, construir fábricas e, chave para a competitividade do país, investir em produtividade.

O cenário mundial ainda é de alta liquidez de recursos, e só compete a nós colocarmos a casa em ordem para podermos voltar a usufruir dessa abundância, que não durará muito tempo. O Banco Central dos EUA já sinaliza que deve retomar, de forma gradual, o processo de enxugamento da liquidez excessiva. A janela de oportunidade que temos se fechará progressivamente. Não podemos continuar a desperdiçá-la. 

 

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Fonte:
Folha de S. Paulo/VEJA

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1 comentário

  • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

    Alguém se lembra dessa frase: "Os três porquinhos foram muito bem-sucedidos na coordenação da minha campanha. Eu encontrei neles companheiros de todas as horas". "Sem abrir mão de outras lideranças, eu quero dirigir a eles agradecimento especial".

    Essa fala foi da recém-eleita Dilma em 2010, no seu discurso, com agradecimento especial e carinhoso aos "três porquinhos". São eles: Antonio Palocci, José Eduardo Dutra e José Eduardo Cardozo.

    Na delação da empresária Monica Moura ao MPF, mulher de João Santana, ela afirma que o ex-ministro Palocci articulou pagamentos por meio de caixa dois em campanhas eleitorais do PT. Não podemos esquecer que João Santana "trabalhou" nas campanhas presidenciais de 2006, 2010 e 2014 para o PT.

    José Eduardo Dutra foi presidente da Petrobrás entre 2003/2005. Em 2008 retornou à empresa para presidir a Petrobrás Distribuidora e, em Agosto de 2009 se afastou para concorrer à presidência do PT. Veja que os miasmas da Petrobrás o atraiam.

    Agora fica uma pergunta no ar:

    QUAL "SURPRESA" O ÚLTIMO PORQUINHO NOS RESERVA ??

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