Na Folha: Deputado Mendonça Filho (ex-líder do DEM) é hostilizado por petistas no aeroporto de Recife

Publicado em 19/04/2016 07:22
Folha de S.Paulo

O ex-líder do DEM na Câmara dos Deputados Mendonça Filho foi hostilizado na tarde desta terça-feira (19) no Aeroporto de Recife, quando retornava de Brasília para a sua base eleitoral.

No saguão do aeroporto, o parlamentar que participou de um comitê de oposição pró-impeachment na Câmara foi recebido por um grupo de manifestantes com gritos de "golpista" e "oportunista".

Em vídeo, que foi gravado pelos próprios participantes, o parlamentar se aproxima dos manifestantes, que entoam palavras de ordem e apontam o dedo em direção ao seu rosto.Assessores do deputado federal tentam retirá-lo do local, mas ele insiste em permanecer. Como reação, mandou beijos aos manifestantes.

"Soltei uns beijinhos e disse que eles estavam nervosos porque iam perder as boquinhas", disse Mendonça à Folha.

Ele afirmou ainda que chegou a ser ameaçado e que pediu para a Infraero imagens do circuito interno do aeroporto para identificar os manifestantes que fizeram a intimidação.

"Sou treinado e petralha não me tira do sério", disse. "Eu respeito quem pensa diferente e minha convivência com o PT na Câmara dos Deputados é sempre civilizada, mas não podemos viver em um mundo de intolerância e agressão", acrescentou.

No fim do vídeo, o vice-líder do governo Silvio Costa (PT do B-PE), que também retornava para a sua base eleitoral em Recife, é recebido pelos mesmos manifestantes com abraços e gritos de "a luta continua".

Em nota, Mendonça disse que a hostilidade é "choro de derrotado de um projeto de poder corrupto". "Fizeram ameaças, como se eu fosse me intimidar. Isso é choro de derrotado, que vai perder os milhares cargos e benesses, com a derrocada de um projeto de poder autoritário, corrupto e que quebrou o país.

 

Dinheiro para silêncio de Cerveró foi entregue em caixas de vinho e sapato

Ex-chefe de gabinete do senador Delcídio do Amaral (ex-PT-MS), Diogo Ferreira afirmou aos investigadores da Lava Jato que pagamentos para a tentativa de comprar a delação premiada do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró foram feitos em caixas de vinho, sapato e envelope branco.

Os repasses foram combinados entre o senador e Maurício Bumlai, filho do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Diogo contou que fez três viagens a São Paulo para pegar os recursos, entre junho e agosto de 2015, quando o dinheiro foi repassado para o advogado Edson Ribeiro, que atuava na defesa do ex-diretor da Petrobras. Em uma das três ocasiões, o dinheiro foi entregue pelo próprio Maurício, em um envelope branco.

Um dos encontros ocorreu no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo. Quando entrou no automóvel, o motorista, que seria de Maurício Bumlai, informou que "no banco do carona, e no soalho havia uma sacola com uma caixa de um vinho".

Em outra oportunidade, ele disse se recordar que recebeu uma sacola de uma loja de departamento, "com uma caixa de sapatos fechada com fita adesiva, que havia um buraco na caixa de sapatos, permitindo ao depoente ver, como efetivamente viu, que havia dinheiro em espécie em seu interior".

A delação de Diogo reforça a acusação de Delcídio de que Lula atuou para tentar impedir a colaboração de Cerveró. Ele contou que o senador relatou encontro com Lula, em um hotel em Brasília, na qual o ex-presidente relatou preocupação com a fala de Cerveró e os desdobramentos das investigações do esquema de corrupção da Petrobras.

"Em mais de uma ocasião o senador Delcidio do Amaral comentou com o depoente que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestava preocupação com a Operação Lava Jato, especificamente com sua incisividade", diz a delação.

"Que em determinada ocasião, ao que se recorda o depoente entre abril e maio de 2015, o senador Delcidio do Amaral comentou com o depoente que participou de uma reunião com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, [...] no hotel onde este estava hospedado, e que, na ocasião, o ex-presidente manifestou preocupação com a hipótese de Nestor Cerveró vir a fazer acorda de colaboração premiada", completou.

Diogo contou que Delcídio "mantinha relação de amizade próxima com Cerveró".

Segundo ele, Delcídio justificava que os recursos eram destinado "a prover ajuda financeira a família de Nestor Cerveró, a qual estaria passando necessidades em razão de estar com seus bens bloqueados e de Nestor não estar recebendo salário", disse.

Diogo Ferreira afirmou também em sua delação que a presidente Dilma Rousseff pediu ajuda para obter na Justiça a soltura do empreiteiro Marcelo Odebrecht, preso na Lava Jato sob acusação de corrupção.

  Pedro Ladeira - 25.nov.2015/Folhapress  
O ex-chefe de gabinete do senador Delcídio do Amaral (sem partido-MS), Diogo Ferreira
O ex-chefe de gabinete do senador Delcídio do Amaral (sem partido-MS), Diogo Ferreira

PLANO B

O ex-chefe de gabinete de Delcídio afirmou que chegou a receber uma mensagem de Bernardo Cerveró, filho do ex-diretor da Petrobras, por aplicativo de celular, informando que não precisaria mais de ajuda financeira porque "pois seu pai se resolverá pela colaboração".

Em outubro, no entanto, o advogado de Cerveró pede que o auxílio financeiro seja retomado e que respondeu, por orientação de Delcídio, que estavam, dispostos a ajudar.

Diogo afirmou ainda que Delcídio comentou com o advogado de Cerveró que o banqueiro André Esteves seria o "plano B" para efetuar o pagamento de honorários de Edson Ribeiro "caso a seguradora da [Petrobras] não o fizesse".

 

 

Vice não poderá adotar um plano de austeridade sem fazer reformas

Por Benjamin Steinbruch, colunista da Folha de S.Paulo

Infelizmente, o Brasil vive um momento de enorme tumulto. Ninguém dá ouvidos a nada, a não ser à discussão do impeachment presidencial e à eventual mudança de governo.

Apesar da decisão de domingo (17), favorável ao andamento do processo de afastamento da presidente, pairam enormes dúvidas sobre o que deve acontecer no curto prazo. Qualquer que seja o caminho a ser definido pelo Senado, com Dilma ou sem Dilma, o país vai precisar de tolerância entre as partes envolvidas nessa batalha política.

Não haverá ganhadores se a disputa descambar para a radicalização e a violência. Seremos todos vítimas. Esse é um lado da questão. Mas também seremos todos perdedores se, após a definição do Senado, o governo sucumbir à ideia de que a correção de rumos da economia pode se dar apenas com a adoção de um plano de austeridade.

Ressalve­-se, desde logo, que o controle de gastos e o equilíbrio das contas públicas é absolutamente essencial. Sem controle gastos, não é possível baixar a carga tributária e pensar em prosperidade.

Será, porém, um grave erro se no "day after" da crise o governo resultante ignorar medidas há décadas reivindicadas pela sociedade brasileira. A necessidade de reformas é uma unanimidade no país. Nem é necessário detalhá-­las mais, porque o leitor já as conhece de cor: tributária, trabalhista, previdenciária e política.

Talvez esse governo pós-­crise, entretanto, não seja capaz de fazê-­las no curtíssimo prazo. Será compreensível se isso ocorrer, dada a enorme dificuldade de acordo político para aprová-­las no Congresso. 

Leia a notícia na íntegra no site Folha de S.Paulo.

 

O fim do governo Dilma é só o começo, POR KIM KATAGUIRI

A democracia impôs uma dura derrota ao golpismo. Ainda que o governo estivesse subtraindo e loteando a República em "tenebrosas transações", o maior medo de Dilma Rousseff se concretizou: a Câmara dos Deputados autorizou o Senado a abrir o processo de impeachment. É o fim da crise? Não, mas é uma vitória importante e histórica que sinaliza um novo começo.

Com a autorização dada pela Câmara, as atenções voltam-se para o Senado. Renan Calheiros será pressionado para que o julgamento da denúncia corra o mais rápido possível e, da mesma maneira que os deputados foram cobrados nas redes sociais e em suas bases eleitorais para votar "sim", os senadores também o serão.

Ao que tudo indica, o processo terminará por cassar o mandato de Dilma sem maiores problemas. Fora, é claro, alguma firula protelatória no STF ou a clássica baderna dos movimentos representantes da rebeldia a favor e do fascismo vermelho.

É importante ressaltar que o impeachment não é a solução para todos os problemas do país. No dia seguinte à queda de Dilma Rousseff, os serviços públicos continuarão péssimos, o desemprego e a inflação continuarão altos, a desigualdade social ainda será gritante, e a corrupção continuará existindo. Reconstruir o país será mais difícil do que tirá-lo das mãos daqueles que o destruíram.

Os diversos setores da sociedade civil que estão unidos para derrubar o governo mais corrupto da história do país devem continuar trabalhando em conjunto no pós-Dilma. Todo o esforço de conscientização política e amadurecimento da democracia que vem sendo feito deve continuar.

Devemos fiscalizar rigorosamente o próximo governo para que cumpra a Constituição. Também precisamos exigir que a sociedade seja ouvida para a proposição de uma agenda política, econômica e social condizente com as necessidades do país. Cometer o mesmo erro de Dilma Rousseff, impondo pautas políticas de cima para baixo, seria um erro fatal.

Além disso, todas as experiências vividas por aqueles que lutaram contra o governo petista, como os gigantescos protestos combatidos com discursos fantasiosos e mobilizações de milicianos e militantes pagos; o trabalho de pressão sem precedentes que foi feito para garantir os votos necessários para o impeachment; as investigações e revelações que desconstruíram uma ditadura baseada na propina; a defesa e o fortalecimento de instituições democráticas, que foram violadas durante mais de uma década, devem servir de base para o novo período que nossa democracia vivenciará.

A luta contra a sombria ditadura militar é a narrativa fundadora do PT e de seus aliados, que a utilizaram para executar o projeto de poder que destruiu o país. A tortura, a perseguição e a censura que puniram aqueles que se opuseram àquele regime autoritário marcaram uma geração de políticos que pautou a política pós-redemocratização e transformou uma resistência virtuosa em justificativa para o crime.

A queda de Dilma Rousseff significa a derrocada da mística petista, o fim de um ciclo. E todo o esforço que vem sendo empenhado na luta contra o autoritarismo e a delinquência do atual governo será contado como a fundação de uma geração que não aceita ataques à República, o início de um novo tempo para a democracia. O impeachment é só o começo da mudança. 

Ação imediata, EDITORIAL DA FOLHA

O Senado Federal, por razões legais, ainda precisa decidir se instaurará o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT). Trata-se, porém, de mera formalidade; do ponto de vista político, a votação da Câmara dos Deputados parece irreversível.

O vice Michel Temer (PMDB) assumirá em breve a Presidência da República. Tomando assento sem o respaldo do voto direto dos cidadãos, terá de se legitimar pela ação imediata, pela restauração de um governo que faz meses deixou de existir e pela demonstração de que consegue assegurar suficiente estabilidade política e econômica.

Não haverá estabilidade sem que se detenha a crise, e esta não cederá sem que o novo governo apresente programas e equipes capazes de combinar reparos imediatos na administração da economia –que se deteriora de forma ainda acelerada– a um plano factível de reformas mínimas de longo prazo.

Embora mínimas, dada a urgência, tais reformas devem bastar para incentivar reações imediatas dos agentes econômicos e permitir o alívio do arrocho monetário. De início, trata-se de conter a penúria crítica dos governos.

Não será possível tão cedo evitar o crescimento da dívida pública. A missão deste governo é levar o deficit primário a perto de zero até o ano que vem. Assim, criam-se também as condições para que se antecipe para quanto antes a redução da taxa de juros.

No curtíssimo prazo, tornou-se inevitável promover algum aumento de impostos, suficiente para reduzir o deficit, evitar corte ainda maior do investimento em obras e atenuar o impacto social do ajuste.

Conviria, pois, elevar tributos sobre as rendas mais elevadas. Caberá a governo e Congresso encontrar a solução que combine eficiência econômica, viabilidade política e justiça tributária.

A elevação da carga de impostos, no entanto, exige uma contrapartida inegociável: conter gastos. De pronto, isso significa reduzir a despesa obrigatória do governo.

Embora se discuta, em termos ideais, a conveniência do fim de qualquer vinculação orçamentária, está no Congresso um abatimento extra dos recursos que o governo deve empregar em saúde e educação. Parece a correção possível neste momento.

É possível frear desde já despesas do INSS, por dolorosas que sejam tais medidas no curto prazo. É preciso rever gastos com pensões e elevar o rigor na concessão dos benefícios da aposentadoria rural, fator maior do deficit federal.

O rendimento médio do trabalho cai no país. Nesse contexto de sacrifício geral, será necessário rever os reajustes de salários e benefícios de servidores federais.

É também mais que esperada uma ação que mire o equilíbrio das contas no longo prazo. Destaca-se uma reforma da Previdência: a estipulação de idades mínimas de aposentadoria, a equiparação de direitos de mulheres e homens, bem como de trabalhadores do setor público e do privado.

Demandam-se, entretanto, outras providências urgentes de contenção da crise econômica.

Concessões e privatizações são um meio de incentivar a retomada de investimentos. É crucial priorizar obras de infraestrutura, que dependem do restauro de normas regulatórias e adequação de meios de financiamento e garantias, destruídos na gestão Dilma Rousseff.

Todo o ambiente regulatório precisa ser refeito, mas a princípio a tarefa é limpar o terreno de escombros e oferecer condições para que as obras se iniciem quanto antes.

A esse respeito, acrescente-se que se devem pelo menos restaurar as condições técnicas de operação das agências regulatórias e órgãos similares: gestão minimamente profissional. Há investimentos travados por falta de clareza de regras, não de recursos.

A ruína das finanças nos setores de petróleo e eletricidade, além do descalabro regulatório, prejudica o crédito do país e é um empecilho aos investimentos em ramos centrais da economia. A Petrobras, como todos sabem, demanda terapia intensiva.

A crise agravou a situação financeira dos Estados, muitos deles de fato geridos de modo irresponsável. Observada a imposição das devidas contrapartidas, é preciso ceder ao imperativo da realidade e remediar o desastre.

Admita-se um socorro às finanças estaduais, mas apenas se seus governos se comprometerem com planos de redução de despesas salariais e previdenciárias, além de aceitarem enfim a implementação de uma reforma tributária parcial e muito relevante: simplificação e ordenamento do ICMS.

O governo, é óbvio, não se limita à gestão da economia. No entanto, caso Michel Temer não detenha a espiral recessiva, em breve perderá o voto de confiança precário que terá recebido do Congresso, em tese concedido em nome de um país cada vez mais impaciente.

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Fonte:
Folha de S.Paulo

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