O Aedes aegipti é o novo fator de unidade nacional. Ou: Dilma cai das asas do mosquito..

Publicado em 04/02/2016 03:28
A ditadura militar tentou unir o país com estradas, ferrovias, aulas de Educação Moral e Cívica... Tudo inútil. Temos, finalmente, o mosquito. Só ele agora nos define e nos unifica moral, intelectual e existencialmente. (por REINALDO AZEVEDO, de VEJA.COM)

Não vou aqui fazer a lista das cidades onde houve panelaço quando a presidente Dilma apareceu na TV para falar sobre o combate ao mosquito Aedes aegypti. Não faço porque isso sempre tem de ser ampliado, incluindo cidades e bairros que não são citados.

Parece-me que o prudente é considerar que houve protestos onde quer que as pessoas soubessem que ela iria se manifestar. Acho que se espalhou pelo Brasil inteiro.

Na região onde estou, na Paulista, do 24º andar de um edifício, ouvi o mais ruidoso de todos os protestos até agora. Como há muita gente voltando pra casa, as buzinas brigavam com as panelas para ver quem se manifestava com mais clareza.

Dilma está de parabéns! O ímpeto da presidente da República de transformar o mosquito num ativo político mereceu da população o devido repúdio e certamente vai contribuir para, como posso dizer?, elevar a temperatura em favor do impeachment.

O governo vende por aí, de maneira determinada, que houve um arrefecimento dessa possibilidade. Acho que está a confundir desejo com realidade. A reação de tentar voar nas asas do mosquito deixou isso claro.

Não tenho nada com isso
Como é praxe, a presidente buscou se eximir e a seus parceiros de petismo de qualquer responsabilidade. Afirmou: “O vírus zika, transmitido pelo mosquito, não tem nacionalidade. Começou na África, se espalhou pelo Sudeste da Ásia, pela Oceania e agora está na América Latina. E este foi um processo excepcionalmente rápido, a partir do ano passado.”

Ora, presidente Dilma!

Sei que é difícil, mas um governante deveria ser proibido de usar bens púbicos e privados — resumidos na Rede Nacional de Rádio e Televisão — para dizer imprecisões e inverdades.

Sim, essa é a geografia do vírus. Ela só se esqueceu de dizer que, ao chegar ao Brasil, o bichinho encontrou as circunstâncias ideais para se expandir. Afinal, o Aedes aegipti, seu hospedeiro, havia se transformado num verdadeiro fator de identidade e unidade nacionais.

Muito se fala nessa dita-cuja. As mais variadas correntes políticas, artísticas e ideológicas tentaram defini-las. A literatura indianista estava em busca do elemento que as plasmasse. Foi parcial. Os Modernistas de 22 também se dedicaram a esse esforço — tanto que uma corrente até chegou a ter simpatias pelo fascismo em razão de seu nacionalismo exagerado. Mais recentemente, o Tropicalismo, um movimento musical, mas com imbricações em outras artes, também escarafunchou o solo em busca dessa identidade, da unidade. E nada!

A verdade é que há tantos Brasis dentro do Brasil que todas essas tentativas falharam. Querem ver? O “samba” é coisa nossa? Não diz nada para o interior de São Paulo, Minas e Região Centro-Oeste, onde a identidade está na música sertaneja e variantes, ainda que modernizadas. Há o forró e assemelhados nordestinos. Nem uma coisa nem outra falam à memória cultural e afetiva do Sul e do Norte do país. E vai por aí.

A ditadura militar tentou unir o país com estradas, ferrovias, aulas de Educação Moral e Cívica… Tudo inútil.

Temos, finalmente, o mosquito.

Só ele agora nos define e nos unifica moral, intelectual e existencialmente.

Devemos isso ao PT de Dilma.

Paralisia e indefinição

Por VINICIUS TORRES FREIRE, NA FOLHA DE S. PAULO

Paralisia, lerdeza e indefinição são as três tristes graças do Brasil neste recomeço provisório do ano.

Afora explosões maiores de casos de corrupção, a política começa o ano em ritmo de deixa como está para ver como é que fica. Bancos, construção civil e indústria a princípio dão o ano quase tão perdido quanto 2015. O governo não apresentou planos e meios de contenção da baixa econômica.

Eduardo Cunha promete emperrar a Câmara pelo menos até que o Supremo esclareça sua decisão sobre o trâmite do impeachment. Depois disso, o grau de tumulto dependerá do aperto do garrote em seu pescoço envolvido por voltas e voltas de cordas de contas suíças. Seus dedaços recentes no PMDB e manifestações de apoio de sua coalizão mostram que Cunha ainda tem bastante poder de causar estragos.

A destituição da presidente ficou ainda mais fria, embora ainda não morta, com o rearranjo dos PMDBs, aquelas formas gelatinosas que vão se transmudando em oposição e situação de acordo com as conveniências do clima.

Michel Temer e Renan Calheiros trocam manifestações públicas e polidas de desapreço mútuo. Reconhecem que não têm poder bastante para embarcar a maioria do partido nesta ou naquela canoa. Torna-se mais improvável também que o PMDB desembarque do governo, na Convenção do partido.

Ainda assim, a conversa a respeito de impeachment e as possibilidades de novas das tão frequentes reviravoltas do caso devem manter alguma indefinição até pelo menos abril. Isto é, até que se assente um pouco mais o panorama político, é pouco provável que os ditos "agentes econômicos", em especial aqueles no centro das decisões mais relevantes, reconsiderem seus planos do que fazer a respeito de dinheiro grosso.

Além do mais, quanto à política, vão demorar os testes da temperatura entre os parlamentares. No recesso, deputados e senadores estiveram junto das "bases". Isto é, líderes regionais, cabos eleitorais, empresários, financiadores e, até mesmo, eleitores.

Os parlamentares devem estar matutando no que ouviram, nas chances de seu grupo político na eleição municipal e, dado o adiantamento do calendário eleitoral, por causa da crise, até no que vão fazer a respeito de 2018.

Agora, vão confrontar o que colheram de informação "nas bases" com as ofertas e análises que vão ouvir "na cúpula", em Brasília.

O assentamento de opiniões talvez seja um pouco mais complicado porque, agora, é possível que os governadores entrem um pouco mais na conversa. Muitos Estados estão quebrados ou em penúria. Estão negociando favores com o governo federal. Podem querem envolver parlamentares nas conversas e negociações.

Não é apenas na política, muito claro e óbvio, que definições ainda vão demorar.

Para começar, não se sabe o tamanho do problema fiscal neste ano. Isto é, qual será o tamanho do tombo da arrecadação federal de impostos. Assim, não se sabe quão mais reduzido será o poder de fogo do governo, em termos de concessões a Estados, gastos com obras e em programas sociais, para ficar no básico. Um desastre fiscal maior pode aprofundar a crise.

 

Dilma e Lula decidem se dar o abraço de afogados. Querem saber? Eu acho é bom! (por REINALDO AZEVEDO)

Consta da mitologia criada sobre Dilma Rousseff que ela foi, como vou dizer?, professora de marxismo. Eu duvido um pouco. Em primeiro lugar, porque, fora o tatibitate do Marx escrevendo sobre ideologia ou relendo a história, aquele troço não é simples — o que não quer dizer que seja nem bom nem correto. Mas fácil não é. Se, hoje, já bastante madura, a presidente tem um raciocínio notavelmente confuso, a gente pode imaginar como era quando tinha pouca experiência. Como sabemos, ela sempre perde a luta para a sintaxe.

Raciocínio confuso costuma combinar com escolhas igualmente atrapalhadas. Dilma chegou a ter a chance de se salvar, já escrevi aqui, lá pelo começo do ano passado. Deveria ter apeado do PT, enviado ao Congresso uma emenda parlamentarista e proposto um governo de coalizão. Não o fez. Preferiu se agarrar ao partido. Está afundando junto com ele, e continuo a achar que não conclui o seu mandato. O “esfriamento” do impeachment me parece aquela bonança que antecede a tempestade. O povo de verdade ainda não disse o que acha da crise.

A imagem de Lula se desintegra, se esfarela. E não porque alguém conspire contra ele, mas porque, a gente nota, o homem se mostra incapaz de dar explicações convincentes. E que se note: isso só está em curso porque, finalmente, alguém teve a ousadia de cobrar. E, como se sabe, até agora, não foi Rodrigo Janot, não foi o Ministério Público Federal. A Operação Triplo X, no que diz respeito a Lula, por enquanto, é apenas um trocadilho.

 
 

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Eis aí. De novo, com um pouco de inteligência política, só um pouquinho, Dilma poderia tentar passar pela porta estreita e tentar se descolar de Lula. Ocorre que ela se cercou de conselheiros… lulistas! E estes a convenceram de que ela só se salva se ele se salvar. Por mim, acho o conselho excelente porque intuo que todos eles naufragarão juntos.

Nesta terça-feira, na abertura do ano legislativo, Jaques Wagner, ministro da Casa Civil, conclamou parlamentares da base a fazer a defesa de Lula. O ministro disse aos aliados que o ex-presidente é alvo de uma perseguição e que a história de Lula “precisa ser respeitada”. Para muitos, a fala de Wagner teve um tom de desabafo, quase um pedido de ajuda.

Wagner só ecoava a cascata dos petistas no Senado, que decidiram argumentar abertamente não em favor de Lula, mas, até onde dá para entender, de sua inimputabilidade e, pois, da impunidade.

O petista Jorge Viana (AC) presidiu a primeira sessão do ano e mandou brasa, prestem atenção:
“Vamos tratar o presidente Lula com respeito porque ele merece o respeito por tudo de bom que fez pelo nosso povo, pelo nosso país. Vamos deixar o presidente em paz com sua família, sua esposa, Marisa, para que ele possa ter o direito de uma vida depois de ter sido presidente da República”.

Como? Observo que Viana nem mesmo se ocupou de declarar que Lula é inocente. Pede que o deixem em paz em razão da sua biografia. Também fazendo de conta que nenhuma suspeita pesa contra o ex-presidente, Humberto Costa (PE), líder do partido no Senado, afirmou: “São ataques sistemáticos, que têm como objetivo desqualificá-lo como homem público e desconstruir a imagem de um presidente que deixou o cargo nos braços dos brasileiros, com mais de 80% de aprovação popular”.

Questão: se Lula tivesse deixado o poder com 100% de aprovação, isso lhe daria o direito de pairar acima das leis? A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), investigada numa operação parente da Lava Jato, também resolveu dar a sua opinião, aí com um pouco menos de, vá lá, sagacidade do que os outros. E provocou: “Talvez vocês pudessem acusar o Lula de ter tirado 40 milhões de pessoas da miséria, de ter feito o maior programa de investimento em moradia popular que este país de já teve”. Digamos que assim seja: Lula está se enrolando todo por isso?

Eis por que, apesar da aparente calmaria, eu duvido que Dilma vá conseguir sair do sufoco e salvar o próprio pescoço. Os petistas ainda não se deram conta do quão velho e ultrapassado é esse discurso. Vá às ruas, converse com as pessoas comuns, vejam a quantas anda a imagem daquele que eles insistem em tratar como demiurgo.

Em vez de se livrar da mistificação e recomendar a seus ministros que se mantenham longe dessa operação, que coisa de governo não pode ser, Dilma se deixa convencer de que ela só será salva se Lula conseguir recuperar o seu prestígio.

Não é um sinal de inteligência política.

Querem saber? Dado o que eles pensam, eu acho é bom.

 

As cozinhas do Guarujá e de Atibaia e duas hipóteses para Lula: a psicológica e a mafiosa

Reportagem do “Jornal Nacional” desta quarta informa que a empreiteira OAS pagou pelos móveis planejados da cozinha do apartamento e do sítio que, a cada dia, vamos dizer assim, vão se tornando ainda mais de Lula.

O imóvel urbano fica no edifício Solaris, no Guarujá, e o sítio, em Atibaia. O primeiro está agora em nome da própria OAS, e o segundo, de dois sócios de Lulinha: Jorge Bittar e Fernando Suassuna. Este também é o dono do apartamento milionário, avaliado em R$ 6 milhões, em que mora o primogênito de Lula.

Nota: Luís Cláudio, o filho do ex-presidente investigado na Operação Zelotes, vive num apartamento que também não lhe pertence. O dono é Roberto Teixeira, aquele compadre milionário de seu pai que lhe cedia a casa, também gratuitamente, em priscas eras. Os Lula da Silva, como a gente nota, têm uma relação muito especial com a propriedade privada… alheia! Sigamos.

 

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É um absurdo, um escândalo sem precedentes, o Brasil não se unir numa grande corrente, acima das divergências partidárias, acima das diferenças ideológicas, acima das clivagens de formação, classe ou religião, para declarar a inimputabilidade de Lula, saltando, em seguida para a sua impunidade e, dali, para a santidade.

É o que se pôde entender nesta terça da fala do ministro Jaques Wagner, da Casa Civil, para quem a “história de Lula precisa ser respeitada”. Bem, a palavra “história” encerra um sentido complexo, não é mesmo? As lambanças com um tríplex no Guarujá e com um sítio em Atibaia, suponho, não podem ser excluídas da história.

Já o senador Jorge Viana (PT-AC) pareceu-me tentado a prometer que o chefão petista não se candidata a mais nada se não for incomodado pela lei. Afirmou: “Vamos tratar o presidente Lula com respeito porque ele merece respeito por tudo o que fez de bom pelo nosso povo, pelo nosso país. Vamos deixar o presidente em paz com sua família, sua esposa. Marisa, para que ele possa ter dito a uma vida depois de ter sido presidente da República”.

Como, Jorge Viana? “Ter sido presidente”? Se não me engano, ele vive ameaçando: “Olhem que eu volto”. Rui Falcão, que comanda o PT, ameaça com a mesma coisa. Como todos sabem, se Lula não estiver preso quando houver a próxima eleição para presidente — 2018 ou antes, a depender do andamento das coisas —, torço para que dispute. Será muito instrutivo ver a resposta do povo.

Mas tenho outra novidade para Viana: ainda que Lula jure de pés juntos que já pendurou as chuteiras, terá de responder por aquilo que eventualmente tenha feito de errado, como todo mundo.

É evidente que o país já se cansou dessas histórias que só acontecem no PT.

Incrível!
Dada a importância de Lula no PT e a onipresença do partido no mensalão, no petrolão e em esquemas corruptos associados, acho realmente incrível que o homem mais poderoso do Brasil tenha se metido num rolo dessa magnitude por aquilo que pode ser considerado mixaria.

É, gente! Para nós, os mortais, é bastante coisa, claro! Para imortais como Lula, é merreca. Só em palestras, esse gigante faturou R$ 27 milhões… E até duas simples cozinhas pré-fabricadas têm de ser presentes da empreiteira? Como pode?

Ah, deve ser a tal “glória de mandar” a tal “vã cobiça”. Tenho uma hipótese psicológica: com o tempo, o sujeito acha que o mundo lhe deve a satisfação de qualquer desejo. Tenho uma hipótese mafiosa: já que é o “partido” que permite os bons negócios, que os negociantes paguem a conta. Até de uma pinga tomada no balcão da esquina, se pinga ainda se tomasse no PT.

É uma vergonha sem precedentes.

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Fonte:
Veja + Folha

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