Decisão do Copom coloca em dúvida credibilidade do BC, dizem analistas
Após pressão do setor produtivo, do Partido dos Trabalhadores e em meio a sinais de que a economia terá uma retração mais forte, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu manter a taxa básica de juros inalterada em 14,25% ao ano nesta quarta-feira (20). Foi a quarta manutenção seguida dos juros pelo BC, que manteve a taxa no maior patamar em quase dez anos.
Até o início desta semana, os economistas dos bancos acreditavam que o BC teria uma postura bem mais mais agressiva, elevando a taxa Selic em 0,5 ponto percentual na reunião de janeiro deste ano, para 14,75% ao ano.
Otto Nogami, professor de economia do MBA do Insper, em entrevista ao G1
"A percepção que eu tenho é que estão fazendo da política monetária um brinquedo para satisfazer algumas vaidades. Tecnicamente falando da falta de capital de giro nas empresas e da incapacidade que se tem em recompor o estoque, você naturalmente tem uma pressão inflacionária. Sob essa ótica, a elevação dos juros, apesar do momento recessivo seria, muito importante subir a taxa."
"Então surge um temor de que o que está se fazendo agora foi aquele momento em que governo forçosamente tentou baixar a taxa de juros. A percepção que se começa a ter é de que ao contrariar uma solução técnica cria-se um problema a mais no futuro, como o agravamento da recessão”.
o BC ter mudado em cima da hora pode fazer com que a expectativa desancore e a inflação, que já está alta, ganhe mais corpo"
João Ricardo Costa Filho
João Ricardo Costa Filho, professor da Faculdade de Economia da FAAP, em entrevista ao G1
“Ninguém sabe se aumentar a taxa de juros de fato faria a expectativa de inflação convergir para a meta. Mas o Copom pode ter acertado errando, com essa bagunça que foi a comunicação, desde o relatório de inflaçãopassando pela carta para o [ministro da Fazenda] Nelson Barbosa. Toda a comunicação foi de aumento. Então o Tombini divulga comentário sobre o FMI dizendo: ‘esquece tudo que eu disse, a direção mudou.’ Isso joga contra. Talvez a decisão até seja correta, talvez a política monetária não consiga mais conter inflação. Mas a maneira como eles chegaram da manutenção foi um desastre, falando sobre a comunicação."
"A inflação esse ano dificilmente vai chegar no intervalo de tolerância, mas a grande vilã na verdade é a política fiscal, os gastos do governo que não param de subir, os preços administrados. A política monetária está com pouca potência. Mas o efeito nas expectativas é que pode ser o principal canal. E o BC ter mudado em cima da hora pode fazer com a expectativa desancore um pouco e a inflação ganhe um pouco mais corpo – e estamos falando de uma inflação que já está alta.
Paulo Figueiredo, diretor de operações da FN Capital, em entrevista ao G1
“Acredito que o Banco Central tem de fato que focar no controle da inflação. Vimos que a estratégia de aumentar os juros foi ineficiente no momento da alta dos preços administrados, como energia, água e combustível, mas também o governo e o BC precisam fazer algo para estimular a economia."
"Acredito que a inflação pode começar a ceder no segundo trimestre desse ano por conta da manutenção dos preços administrados sem alterar a taxa de juros. Acho que ela deve se manter por um período um pouco mais longo. Por outro lado, o mercado pode interpretar que o BC não tem autonomia com essa decisão, o que não é nada bom”.
Leia a notícia na íntegra no site G1.
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