2015, o ano que segue! -- por RICARDO NOBLAT (em O GLOBO)

Publicado em 24/12/2015 16:36
Nos milagres econômicos fáceis demais se esconde, às vezes, o ovo da serpente

POLÍTICA

2015, o ano que segue!

 

por Ricardo Noblat, em O GLOBO

Como pode sobreviver um presidente que arrastou seu país para o buraco? Muito mal, imagino, salvo se não se sentir culpado pelo que fez.

Dilma é uma economista medíocre. Mas até uma economista assim era capaz de perceber que as medidas adotadas no seu primeiro governo estavam dando errado.

E que perseverar com elas provocaria o desastre que se desenhava. Pois perseverou. Para reeleger-se.

É por isso que não deve ser perdoada. Não faltaram alertas para o desastre iminente e quase inevitável. Ela desdenhou deles, por ignorância ou cálculo político.  Ou uma mistura das duas coisas.

Se tentasse corrigir a rota da economia, o mais certo seria a derrota eleitoral. Foram meses de mentiras destiladas no rádio e na televisão. Para ao fim e ao cabo reeleger-se por pouco.

Um presidente pode proceder assim? Tanto pode que Dilma procedeu. Não foi o primeiro presidente. Vale tudo pelo poder. Só não vale entregá-lo, menos ainda a adversários.

Fernando Henrique entregou-o a Lula na esperança de sucedê-lo quatro anos depois. Lula flertou com o terceiro mandato consecutivo, mas acabou entregando o poder a Dilma para retomá-lo no ano passado.

Faltou-lhe coragem para tal. A Lava-Jato tornara Lula vulnerável. Foi nos dois governos deles que a roubalheira na Petrobras deixou de servir apenas aos que dela se beneficiavam para ser aproveitada por um partido e seus aliados, empenhados em permanecer no poder por longo, longo tempo.

Dilma sepultou o projeto de poder de Lula e sua turma, essa é que é a verdade. Não o fez por bem, mas por incompetência.

De todo modo, merece o reconhecimento dos que enxergam na alternância no poder uma das muitas vantagens da democracia sobre os outros tipos de regimes políticos.

Pena que o preço pago pela façanha de Dilma seja o saldo cruel de um ano que não terminará daqui a três dias como prescreve o calendário. Não. O “annus horribilis” de 2015 se estenderá pelos próximos.

Cercado por economistas liberais, improvável que Michel Temer não tenha se dado conta de que o governo caminhava para o abismo. 

Concedo que é um vice decorativo; e de uma presidente que só escuta ela mesma, e os que com ela concordam. Mas José Alencar, vice de Lula, nunca deixou de manifestar suas discordâncias com a política econômica do governo.

Por que Temer não? E por que só agora discorda?

Tudo indica, graças a um presidente da Câmara dos Deputados velhaco e a uma oposição covarde, que o país seguirá sob o comando de Dilma até o fim do seu mandato; ou à espera que a sorte a remova para dar lugar a...

A Temer, autor de uma carta de amor ridícula como são todas as cartas de amor? Ou a Eduardo Cunha, que no caso de queda de Dilma e Temer convocaria uma nova eleição presidencial e governaria por três meses?

A carta de Temer a Dilma foi o maior erro de um vice que pareceu cansado de esperar. Temer jamais poderia tê-la escrito nos termos que o fez; apequenou-se; e deu ensejo a ser chamado de traidor.

Temer jamais poderia tê-la enviado a Dilma sem a certeza de que o PMDB respaldaria seu gesto. Ele corre o risco de, confrontado pelo senador Renan Calheiros e o PMDB chapa branca, perder a presidência do partido.

Dilma Rousseff e Michel Temer (Foto: Orlando Brito)Dilma Rousseff e Michel Temer (Foto: Orlando Brito)

Saio de férias. Voltarei a escrever na primeira segunda-feira de fevereiro. Apesar das previsões em contrário, desejo-lhes um feliz 2016. 

(RICARDO NOBLAT).

 

 

 

Ano de 2015 abusa da paciência dos brasileiros, por Josias de Souza (UOL)

Excluindo as outras 52.352 coisas deploráveis ocorridas em 2015, denuncio os seguintes crimes cometidos contra a paciência dos brasileiros durante o ano velho:

estrelinha

A reviravolta que despertou no eleitorado o desejo de submeter Dilma a um exame de DNA logo depois da reeleição; o contrassenso de chamar a clientela de contribuinte antes de tentar arrancar-lhe na marra uma nova CPMF; a inflação de 10,8%, acompanhada de recessão e desemprego, sobretudo porque todos sabem que o caos econômico era evitável; a saudade do tempo em que dar uma pedalada era apenas acionar os pedais de uma bicicleta; a Dilma apresentando-se sempre como vítima de alguém; o Eduardo Cunha no papel de abre-alas da oposição; a sofreguidão com que Dilma vai atrás do Renan Calheiros, corteja o Renan Calheiros, entrega a viabilidade do seu governo à conveniência do Renan Calheiros; a Dilma tratando o Eduardo Cunha como cachorro louco sem explicar por que mantinha um afilhado dele na vice-presidência da Caixa e tentava ser seu amigo antes da deflagração do impeachment; o PT chamando de “golpe” um processo de impeachment previsto na Constituição e disciplinado pelo STF; a evolução do presidencialismo de coalizão para a sua forma mais pura, que é a vigarice; o neo-aliado Fernando Collor xingando Rodrigo Janot de “filho da puta” na tribuna do Senado por ter revelado que ele continua sendo Fernando Collor; a Lava Jato comprovando diariamente que a democracia brasileira é um projeto político que saiu pelo ladrão; a evidência de que, não contentes em existir, os corruptos passaram a existir em grande número; a desilusão que se abateu sobre o asfalto depois que os manifestantes se deram conta de que o poder de fazer barulho na rua pode ser poder nenhum; a desfaçatez com que o petismo se vangloria de ter aparelhado a Polícia Federal e prestigiado o Ministério Público, abstendo-se de mencionar que providenciou também a matéria-prima para os escândalos que o cercam; o TSE transformado pelo PT em lavanderia de pixulecos; o Lula repetindo que ‘não sabia’; a Dilma declarando que não confia em delator que faz delação com base numa lei sancionada por Dilma; a comprovação de que a elite empresarial brasileira pilhava a Petrobras ao mesmo tempo em que enchia as colunas sociais, publicava artigos e aconselhava ministros; a rapidez com que o PT suspendeu a filiação do líder preso Delcídio Amaral em contraste com o tratamento de “guerreiro do povo brasileiro” dispensado a personagens como o tesoureiro encarcerado João Vaccari Neto; o talento insuspeitado do Eduardo Cunha como vendedor de carne enlatada para a África; a transformação do Conselho de Ética da Câmara numa sucursal da Casa da Mãe Joana; a desenvoltura com que quatro dezenas de parlamentares enrolados no escândalo da Petrobras trafegam pelos corredores do Congresso como se nada tivesse sido descoberto sobre eles; o silêncio perturbador da banda muda do Congresso Nacional; a Dilma apelidando de reforma ministerial mais uma troca de cúmplices; a perspectiva de indulto da pena imposta no julgamento do mensalão a José Dirceu, que aguarda na cadeia por uma nova condenação no petrolão; a nota oficial em que o PSDB se disse “surpreso” com a condenação de Eduardo Azeredo no processo sobre o mensalão tucano de Minas Gerais; o filho do Lula embolsando R$ 2,5 milhões por “consultoria” copiada da internet; os 62 milhões de metros cúbicos de lama despejados pela Samarco no meio ambiente; a conversão do Aedes aegypti em hospedeiro do vírus zika; o desejo que Dilma desperta nas pessoas de viver no Brasil que ela descreve em seus discursos, seja ele onde for.

" O melhor presente de Natal para o Brasil", por JUAN ÁRIAS (do EL PAÍS)

 

Se Deus continua sendo brasileiro, o melhor presente de Natal que poderia dar ao país é fazê-lo voltar a crescer, unido e capaz de abrir uma nova página de sua história, como fez quando derrotou a ditadura que o tinha dividido e ensanguentado.

 

 

 

s

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O adjetivo mais usado nestas festas é “feliz”. Nós nos desejamos Feliz Natal enquanto transborda o desejo de um Feliz Ano Novo, menos duro que o que termina.

Enquanto isso, este Natal, que encerra um ano negativo quase em tudo, será ainda amargo para muitos.

“Natal? Que Natal?! Este ano não dá para alegrias”, comenta o dono de um mercado, cada vez mais vazio, em uma pequena cidade no interior do Estado do Rio.

Este Natal será, de fato, amargo para milhões de famílias.

Em vez de palavras de paz, nas redes sociais ainda se continua a escutar os ecos da divisão social. No mundo político, em vez de solidariedade com o país e com os mais afetados, reina o salve-se-quem-puder em meio a intrigas e traições.

Será amargo o Natal para esse trabalhador que perdeu o emprego –a cada trinta segundos alguém é despedido. Para o milhão e meio que já foi demitido neste ano que termina. Com a perda do emprego a autoestima do trabalhador também costuma ficar despedaçada.

Assim será para as famílias que tiveram de sacrificar a alegria do pagamento extra na época do Natal para quitar dívidas atrasadas.

Para os milhões a quem a crise obrigou a raspar as poupanças, porque o salário, carcomido pela inflação, não chega para comer e pagar a conta de luz, o novo luxo deste país.

Será amargo para os jovens pelos quais os pais se sacrificavam para lhes pagar um curso de qualificação – “para que amanhã, filho, possas viver melhor do que nós” – e que tiveram de voltar a trabalhar porque o salário da família já não é suficiente para as despesas. Para os milhões saídos da pobreza e até da miséria, que começaram a sorrir e a poder ter uma televisão e uma máquina de lavar roupa. Quantas mãos de mulheres pobres rachadas no passado de tanto lavar roupa nas casas e que agora têm medo que a máquina milagrosa quebre, porque não teriam como consertá-la e menos ainda como comprar uma nova.

Nos milagres econômicos fáceis demais se esconde, às vezes, o ovo da serpente.

Será amargo para as famílias da classe média que nunca conheceram a pobreza e a fome, e que hoje precisam começar, também elas, a fazer cortes em seu orçamento porque “as cosias já não são como antes”.

Para os que sentiram as garras do dragão de lama que tragou casas, vidas e esperanças na tragédia ambiental de Mariana. Por que os culpados ainda não estão presos?

Será amargo para as mulheres grávidas que vivem sob o pesadelo do maldito mosquito que poderia contaminá-las e para as que desejariam ter um filho e ficam paralisadas pelo medo. Por que as autoridades fecharam os olhos diante da epidemia? Por que demoraram tanto para reagir? Onde está o governo?

Será dura para todos os que farão filas, nesse dia e sempre, na porta de hospitais públicos cada vez com menos recursos, onde os mais pobres morrem no esquecimento. E será também para os estudantes das escolas públicas, dos quais querem fechar escolas e até cortar o sanduíche da merenda, com a desculpa de uma crise forjada pelo binômio da corrupção e incapacidade de administrar um país rico.

Será um Natal amargo para todos os atingidos pelas balas perdidas, símbolo do caos de uma classe política perdida também, mas nos labirintos de seus interesses de poder.

Será amargo para a caravana de discriminados pela cor da pele, por sua sexualidade e hoje – e isso é tristemente novo no Brasil – até pela religião ou crença política.

Será amargo para as mulheres vítimas da violência dos maridos, para as estupradas – uma a cada nove minutos – e para aquelas às quais se nega o direito de dispor do fruto de seu ventre, por isso morrem na busca de um aborto clandestino –e que já chegam ao recorde de 50.000 por ano.

Será também amargo para os que não renunciaram a ser cidadãos e desejariam ser também responsáveis pelo destino de seu país, mas não encontram instituições limpas onde empenhar-se.

Para os que sofrem a traição política, o assassinato de utopias e esperanças. Para “a legião de órfãos deixados pelo PT, pessoas decentes, que confiavam nele e foram ludibriadas”, como escreveu com dor Rosiska Darcy em sua coluna de O Globo. Órfãos do PT e de tantos outros partidos, transformados em fábricas de votos em vez de celeiros de ideias e projetos para a nação.

Será amargo também, e sobretudo, para os moradores das periferias das cidades, que observam à margem os bairros da riqueza, onde se forjam as leis que sempre os acabam penalizando. São eles os que mais sofrem o açoite da violência. Os frutos das Olimpíadas chegarão ao coração das favelas?

Será um Natal amargo para as mães daquelas comunidades, pobres e violentas, que têm de presenciar a matança dos filhos antes de florescerem para a vida. Os sonhos que nutriam para eles acabam todos os dias assassinados pelo chumbo das balas. Para uma mãe pobre não há filho bom ou bandido. Há somente filho vivo ou morto. Será um Natal amargo para muitos, mas não desesperado, porque toda noite costuma ser seguida pela luz de uma estrela.

Os brasileiros, que sempre souberam esperar pacientes, desta vez têm pressa de ver a luz no final do túnel. Querem vê-la quanto antes.

Para quando essa luz de renovação chegar poderem festejá-la e desfrutá-la, unidos e alegres, como fizeram quando se despojaram das garras da ditadura para voltar a abraçar a democracia e a liberdade.

Os sinos do Natal, há milhares de anos, nos trazem ecos e nostalgias de paz, e não de guerra.

A todos, e de modo especial aos que festejarão na dor e no desencanto, meu abraço, de FELIZ NATAL.

Iluminação do Cristo Redentor especial para o Natal, no Rio, no dia 23. YASUYOSHI CHIBA AFP

Recessão eleva torcida por saída de Dilma, mas está longe de ser consenso

Impeachment seria fator novo para começar etapa de retomada, segundo alguns agentes

Nem todos veem diferença entre gestão Dilma e a do seu vice, Michel Temer

 

Por CARLA JIMÉNEZ e HELOÍSA MENDONÇA,  do EL PAÍS BRASIL.

presidenta Dilma Rousseff chega ao final de 2015 dentro de um rocambolesco quadro recessivo que já se estende para 2016, e pode gerar dois anos seguidos de recessão, ou oito trimestres de PIB negativo. Diante da imagem do precipício aumenta a torcida pela saída da presidenta como um caminho para que o país ganhe fôlego. “O impeachment tem o potencial de melhorar muito as coisas, e os mercados reagirão muito bem. Porém, se não passar, é ficarmos empacados com Dilma por mais três anos. Será uma catástrofe”, avalia Gustavo Franco, ex-diretor do Banco Central de Fernando Henrique Cardoso.

Na semana passada, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) também tornou público seu apoio ao impeachment, depois de uma pesquisa com mais de 1.000 empresários e executivos associados à entidade. Mais de 90% apoiaram a ideia da FIESP anunciar seu posicionamento contrário à permanência de Dilma na presidência. A falta de credibilidade e confiança do Governo, segundo Paulo Skaf, presidente da federação, está inibindo investimentos. “O país está à deriva, e não há atitudes para solucionar os problemas”, disse Skaf, que calcula que a indústria paulista vai encolher 20% até o final do ano que vem.

No dia em que anunciaria sua demissão do Governo Dilma, no entanto, o agora ex-ministro da Fazenda, Joaquim Levy, afirmou que um impeachment pode retardar a recuperação econômica, segundo descreveu o jornal Folha de S.Paulo. Levy lembrou que a FIESP também apoiou medidas durante o primeiro Governo Dilma, que agora estão cobrando seu preço. De fato, o setor industrial foi um dos que mais se beneficiou das isenções de impostos promovidas desde 2009, primeiro com Lula e estendidas durante o Governo Dilma.

Se a necessidade de acertar um norte para sair buraco negro econômico é consenso entre os entrevistados ouvidos pelo EL PAÍS, a saída da presidenta como alternativa não é unânime.

“O que está em jogo não é se é importante ter ou não impeachment, mas aprovar medidas de ajuste fiscal para que a economia seja retomada”, diz Vagner Alves, economista da Franklin Templeton. Alves não vê grandes diferenças numa gestão de Dilma ou do vice-presidente, Michel Temer, seu sucessor natural num eventual impedimento. “O importante é tirar as dúvidas sobre o assunto e depois recompor a base para aprovar o mínimo necessário no Congresso.”

Em relatório a seus clientes, a consultoria Eurasia Group destacou na semana que passou que há um otimismo exagerado no mercado com um eventual Governo Temer. Mas a ação da Polícia Federal, de busca e apreensão de documentos em endereços de aliados de Eduardo Cunha, Renan Calheiros e do próprio Michel Temer, “é uma indicação que a Lava Jato vai complicar os próximos meses da presidência, seja Rousseff ou Temer” no Palácio do Planalto.

O economista Delfim Netto também se diz contra o impeachment, muito embora julgue o projeto preparado pelo PMDB para um eventual governo de Temer melhor que o atual modelo adotado pelo Governo Dilma. Para ele, no entanto, “um mau Governo não é razão para ser substituído antes da eleição”, sob risco de fragilizar as instituições no longo prazo.

A saída do labirinto político se faz urgente para que o Brasil fuja de um quadro que só foi visto no Brasil no biênio 1929/1930, quando houve a quebra da bolsa americana com a crise do café. Por ora, a perda está tendo uma evolução semelhante ao do período Collor, entre 1990 e 1993, ou o triênio de 1981 a 1983, mas que foram entremeados por algumas altas, explica Armando Castellar, coordenador de Economia Aplicada do IBRE/FGV e professor do Instituto de Economia da UFRJ. “Realmente, com dois anos seguidos de queda você teria de volta uma crise nos moldes dos anos 1929/ 1930”, observa Castellar.

Embora seja difícil comparar uma época em que o Brasil era uma sociedade rural com os dias atuais, a paralisia do país já não deixa dúvidas de que é preciso estancar a crise política para tirar a economia da UTI. “Esta é uma crise mais fácil de manejar no sentido de que você depende de uma resposta política. Quando houver uma sinalização clara, uma dinâmica mais favorável, a confiança vai voltar e as empresas vão voltar a investir, os consumidores a consumir, bancos dando crédito”, completa o professor da UFRJ. O Governo coloca suas fichas em Nelson Barbosa, que à frente da Fazenda faria um ajuste fiscal como pede o mercado, mas não tão radical, o que atenderia a um desejo dos movimentos de esquerda que apoiam a presidenta. A eficácia desta versão light de Levy será testada na volta do recesso do Congresso, em fevereiro.

Por ora, o que impera é o medo que anula a vontade de ousar, observa o empresário Alberto Hiar, dono da marca de roupas Cavalera. “Você tem medo de fazer novos projetos, e não tem crédito. O banco não libera dinheiro porque tem receio de não ser pago. A taxa de juro está alta e você não quer pegar pois teme que não vai conseguir. Sem vendas, você vai reduzindo custos”, comenta Hiar, que está devolvendo três das quase 40 lojas da rede, e demitiu cerca de 15% do seu pessoal. O empresário não é um entusiasta do impeachment do modo que está sendo conduzido atualmente, com uso de prerrogativas que abriram margem para a anulação da sessão conduzida na Câmara pelo presidente Eduardo Cunha. Mas pelos trâmites normais, “se comprovado que ela desrespeitou a lei de responsabilidade fiscal, sou a favor”, afirma. Para ele, é necessário que algo aconteça para tirar o país da paralisia.

Queda da produção industrial faz arrecadação federal diminuir. Fotos Públicas

Banco Central projeta queda de 3,6% do PIB, pior resultado desde 1990

A inflação também será mais alta que a estimada: subiu de 9,5% para 10,8%

Diante de um quadro de deterioração da economia brasileira, o Banco Central revisou suas estimativas e revelou que a recessão no país será ainda mais grave. A projeção agora é que a atividade econômica termine o ano com uma contração de 3,6%, uma queda de quase 1 ponto percentual maior que a prevista anteriormente. Se confirmada, será a maior contração da economia no país em 25 anos: em 1990, o PIB brasileiro ficou em -4,35%.

A inflação de 2015 também será mais alta que a estimada: subiu de 9,5% para 10,8%. Já no ano que vem, os preços irão ceder um pouco, mas o brasileiro ainda terá que conviver com preços altos. Segundo o relatório trimestral de inflação, a estimativa do Índice de Preços Para o Consumidor Amplo (IPCA) passou de 5,3% para 6,2%. O BC também divulgou, pela primeira vez, a previsão da inflação para 2017: 4,8%.

A economia brasileira ainda manterá uma trajetória bem negativa em 2016. A instituição financeira estima que a queda será de 1,9%, um valor bem mais otimista que a de analistas do mercado financeiro que falam em um recuo de 2,8% a 3%. Segundo o Banco Central, o quadro complicado vivido pelo país é um reflexo do desequilíbrio interno e também de um cenário de incertezas associado "a eventos não econômicos". Esta última observação parece aludir à grave crise política que atravessa o Brasil e também à possibilidade de um processo deimpeachment da presidenta Dilma Rousseff.

Em seu relatório, o BC também ressaltou a contração na atividade da indústria brasileira e do setor de serviços, além da redução de gastos “com investimentos e consumo". Essas quedas da produção da indústria e do movimento no comércio já cobram fatura na economia.

A arrecadação federal somou 95,46 bilhões de reais em novembro, um tombo de 17,29% em relação ao mesmo período do ano passado, quando foi arrecadado um total de 104,47 bilhões de reais. No ano, a arrecadação é de 1,1 trilhão de reais, e a perda, de 5,8%, de acordo com números divulgados pela Secretaria da Receita Federal nesta quarta-feira.

Opinião

“Natal Tropical” e outras sete notas de Carlos Brickmann

Publicado na Coluna de Carlos Brickmann

E eis que, num país muito longe da gelada Lapônia, Mamãe Noela assume o comando do Natal Tropical. Seu trenó voador, puxado por renans que ela sabe direitinho como domesticar, é extremamente seguro: entre um Natal e outro, os renans se mantêm treinados, voando para ir a casamentos de amigos, para visitar as bases, para transplante de pelos há muito perdidos. O peso do trenó é baixo: em vez de carga, transporta cargos, levíssimos papéis com nomeações, indicações, autorizações high-tech para fazer boas transações ─ documentos que, cumprida sua função de autorizar o negócio, se autodestroem em segundos. Pixuleco é coisa feia, fora do espírito de Natal, não deve e não pode deixar nem vestígios.

Confiabilíssimo, o trenó de Mamãe Noela. Pois precisa voar diuturnamente e noturnamente, enfrentando perigosos ventos estocados. Tem de ir da linha do Equador até a Terra do Fogo, no Extremo Sul da América. É lá que vive o líder de Mamãe Noela, o Grande Apreciador de Uma Boa Ideia e Supremo Cumpanhêro, um senhor gorducho de barbas brancas, sempre vestido de vermelho. Tem de ser lá, o encontro: o Supremo Cumpanhêro odeia sair da Terra do Fogo. Em outros tempos, até gostava de receber homenagens em países ricos e visitar a África com amigos de se guardar no bolso esquerdo do peito, mas sabe como é o Exterior, a história do Marin é preocupante. E na Terra do Fogo ele é o Brahma, o Número 1, Aquele que Iniciou Todas as Coisas, Pois Antes Dele Nada Existia.

Natal Tropical. Na ceia, por culpa da zelite, em vez peru só se come arroz.

Trenó em risco

O problema de Mamãe Noela está na oscilação de humor de quem cuida de sua segurança. Renans como os que puxam seu trenó voador têm variações súbitas de personalidade, conforme ações de terceiros sejam mais ou menos generosas. Precisam ser comandados por quem tenha personalidade, poder e perspectivas de futuro; ou se aborrecem rapidamente.

Fora isso, há quem queira alvejá-los atirando-lhes inquéritos e acusações. Se não forem protegidos, proteger não irão.

Mal-traçadas

Ah, sim: nunca mande seus pedidos a Mamãe Noela por carta. Uma que recebeu há pouco tempo a deixou traumatizada. Temer cartas é sua superstição.

Mas os pedidos podem ser bem encaminhados por quem conheça o duende certo.

Serpentário

De Jorge Moreno no Globo, sobre o ministro das Comunicações: “Edinho Silva reclama que é perseguido pela coluna. Grande injustiça. Não por falta de merecimento. É que não há nem tempo para isso. A crise não deixa.

Deve ser pelos mesmos motivos que Dilma não tem tempo também para recebê-lo” (https://blogs.oglobo.globo.com/blog-do-moreno/post/coluna-do-moreno-1912.html)

Próspero Ano Novo

Crise é para os fracos. Há gente que se dá bem. O novo ministro do Planejamento, Valdir Simão, recebe neste mês R$ 109.764,00. Teto salarial de R$ 33.763,00 também é para os fracos. Além do teto, Simão recebe em dezembro R$ 60.701,00 como “verba indenizatória”, mais R$ 15.300,00 como conselheiro de duas seguradoras estatais, a BrasilCap e a BrasilPrev, do Banco do Brasil. São números oficiais, obtidos pelo ótimo Portal da Transparência.

Como vê o caro leitor, há um Brasil que dá certo, em que o dinheiro é farto e todos vivem felizes.

Agora, vai

Preocupado com dengue, zika, chikunguya, microcefalia? Pois o governo federal está tomando providências: o decreto nº 8.612, de 21/12/2015, institui a Sala Nacional de Coordenação e Controle para o enfrentamento da dengue e dos vírus Zika e Chikunguya. Sala com ar condicionado, claro, para manter os mosquitos afastados.

O trabalho começa logo ─ logo que terminarem as festas. Ou não.

Crônica do incêndio evitável

O professor Deonísio da Silva, brilhante filólogo, nem precisou investigar: acertou na veia ao identificar a causa do incêndio que destruiu o Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo. Seu texto vai entre aspas: é irretocável.

Incêndio do Museu: infringiram o art. 1º da Constituição que ainda não existe.

“O prédio não tinha alvará para funcionar! É mole? Deram entrada com o processo no Corpo de Bombeiros em 2004 e jamais prosseguiram para atender às exigências. É mole? O fogo é tão traiçoeiro que até a sabedoria popular cunhou o perigo de ‘brincar com fogo’. Pois é… Cadê os responsáveis? Alguns dos principais estão dando entrevistas sentimentais, quase em lágrimas… Serão de vergonha? Não, o artigo 1º de Capistrano de Abreu para a Constituição ─ “todo brasileiro é obrigado a ter vergonha na cara” ─ não está em vigor!”

O que o governo não vê

Em sucessivas entrevistas, responsáveis pelo Museu da Língua Portuguesa e autoridades paulistas disseram que os prejuízos causados pelo incêndio são recuperáveis. O acervo é digital e tem cópia de segurança; o prédio tem seguro. E o bombeiro que morreu, tem cópia de segurança? O governador Geraldo Alckmin, que quer ser candidato á Presidência pelo PSDB, é médico. Nada percebeu?

Tem gente que, antes de falar, deveria pensar pelo menos uma vez ─ se conseguisse.

Já segue nosso Canal oficial no WhatsApp? Clique Aqui para receber em primeira mão as principais notícias do agronegócio
Fonte:
O GLOBO + EL PAÍS

RECEBA NOSSAS NOTÍCIAS DE DESTAQUE NO SEU E-MAIL CADASTRE-SE NA NOSSA NEWSLETTER

Ao continuar com o cadastro, você concorda com nosso Termo de Privacidade e Consentimento e a Política de Privacidade.

0 comentário