Dólar sobe 1,7% sobre o real, após Moody's ameaçar rebaixar Brasil
Por Bruno Federowski
SÃO PAULO (Reuters) - O dólar fechou em alta de 1,7 por cento, voltando a 3,80 reais nesta quinta-feira, reagindo à decisão da Moody's de ameaçar tirar o selo de bom pagador internacional do Brasil, mas operadores ressaltaram que a pressão não deve se estender porque muitos já trabalham com o cenário de perda do grau de investimento nos próximos meses.
O dólar avançou 1,70 por cento, a 3,8005 reais na venda, chegando a 3,8117 reais na máxima do dia.
"A realidade é que a situação doméstica continua bastante preocupante, seja no quesito econômico ou político, e a decisão da Moody's serviu como um gatilho para o mercado realizar um pouco", disse o operador da corretora Intercam Glauber Romano.
Na véspera, a Moody's colocou o rating "Baa3" do Brasil em revisão para rebaixamento, o que significa que uma ação sobre a nota pode acontecer em até 90 dias. Se o corte na classificação se concretizar, o país perderia o grau de investimento por duas importantes agências, obrigando muitos fundos a vender os ativos brasileiros que detêm.
A visão dos operadores é que o dólar pode até sofrer algum estresse no curto prazo, mas não deve voltar a 4 reais em reação ao rebaixamento.
"Eu diria que o mercado já deu conta de boa parte do ajuste que precisa ser feito para incorporar o downgrade", disse um operador de uma gestora de recursos internacional.
Ele afirmou que não é incomum que o mercado se antecipe ao movimento das agências de classificação de risco, lembrando que o dólar vem sendo negociado perto dos níveis em que se encontrava antes de a Standard & Poor's rebaixar o país para o grau especulativo, em setembro.
"Talvez o downgrade venha um pouco mais cedo do que alguns esperavam, mas isso está longe de ser algo que muda o jogo", acrescentou.
O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, afirmou que a decisão da Moody's reflete a atual situação do país e defendeu que é preciso ter união para fazer reformas.
Operadores ressaltaram ainda que a atuação do Banco Central tende a suavizar os movimentos do câmbio. O BC fez nesta tarde leilão de venda de até 500 milhões de dólares com compromisso de recompra, operação que não tem como objetivo a rolagem de contratos já existentes.
Pela manhã, o BC também deu sequência à rolagem dos swaps cambiais que vencem em janeiro, com oferta de até 11.260 contratos, que equivalem a venda futura de dólares. Até agora, a autoridade monetária já rolou o equivalente a 4,378 bilhões de dólares, ou cerca de 41 por cento do lote total, que corresponde a 10,694 bilhões de dólares.
O dólar passou toda a sessão em alta, mas acelerou as perdas na reta final do pregão, reagindo a um fluxo de saída de recursos cujo efeito foi potencializado pelo baixo volume de negócios. A liquidez nos mercados brasileiros tem sido comprometida pela incerteza política.
O mercado está sendo praticamente guiado pelos acontecimentos políticos, sobretudo diante do processo de abertura de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, que tem tomado conta das ações no Congresso Nacional.
O mercado tem reagido de forma positiva a notícias que fortalecem as chances de impeachment, apostando que mudanças no Palácio do Planalto poderiam ajudar a recuperação econômica. No entanto, muitos operadores ressaltam que a instabilidade política pode paralisar o ajuste fiscal, o que deixa o mercado cambial mais sensível e volátil.
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