Na FOLHA: Lula e PT entregam Dilma à própria sorte (Quando começa o caos? Atenção: já começou!)

Publicado em 02/12/2015 20:11
na FOLHA DE S. PAULO + UOL + O GLOBO

ANÁLISE DA FOLHA DE S. PAULO:

 

Lula e PT entregam Dilma à própria sorte

Por IGOR GIELOW, DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A decisão do PT de contrariar as ordens do Planalto e determinar que seus deputados no Conselho de Ética da Câmara votem contra Eduardo Cunha (PMDB-RJ), com a consequente aceitação pelo presidente da Casa da analise do pedido de impeachment de Dilma Rousseff, entregou a presidente da República à própria sorte.

Nas últimas semanas, havia um embate no PT e dentro do governo sobre como lidar com a ameaça aberta de Cunha. O partido crescentemente defendia que seria melhor se divorciar de Cunha e enfrentar no plenário o pedido de impedimento da presidente –afinal, são necessários apenas 171 dos 513 votos na Câmara para barrar a ideia no nascedouro.

O núcleo duro do Planalto fez outras contas, e até esta quarta (2) apenas o lulista Edinho Silva (Comunicação Social) ainda defendia a estratégia de enfrentamento.

Na análise palaciana, as margens de votação da base aliada, variando entre 130 e pouco mais de 200 votos, é muito estreita. Para piorar, o clima político desandou com a prisão do líder de Dilma no Senado, Delcídio do Amaral (PT-MS), nas semana passada.

Ao temor de uma delação premiada dele ou de o teor da colaboração já acertada do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, potencialmente danosos ao governo, vieram se somar os números desastrosos do PIB, divulgados na terça (1).

Assim, Wagner pressionou pelo plano de salvar Cunha, bombardeado pelo próprio PT, a partir de "tweets" do presidente da sigla, Rui Falcão.

Destroçado pela sucessão de escândalos, com dois ex-tesoureiros presos e praticamente todos seus nomes históricos envolvidos em acusações criminais, o PT percebeu tardiamente o efeito de abraçar Cunha rumo ao abismo da crítica da opinião pública.

O partido já antevê uma eleição municipal desoladora em 2016, mas ainda tem o trunfo de ter como presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva –combalido e hoje muito rejeitado, passível de investigações ainda incipientes, mas o último nome forte da sigla.

Pelo senso comum, não interessa nem ao PT, nem a Lula, a queda em desgraça de Dilma. Ainda há condições, mesmo que desfavoráveis dia após dia, de repetir Fernando Henrique Cardoso em 1999 e derrubar a ideia do impeachment no plenário.

Mas está dado que ambos, Lula e PT, já consideram que o eventual impeachment da presidente vale menos a eles do que a tentativa de salvar o que sobrou de seu projeto político. 

Caia quem caia

Por FERNANDO CANZIAN, NA FOLHA DE S. PAULO

aceitação do pedido de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff veio um dia depois de conhecermos a brutal recessão que o país atravessa. Recessão com inflação de 10% ao ano.

Dilma se mantinha há meses em situação de impasse político no Congresso, refém de um presidente da Câmara inadequado para o cargo e também ameaçado.

A situação e o jogo jogado no Congresso eram deprimentes e ajudaram a acabar com que sobrava da reputação da presidente e do PT. Dos parlamentares, já se esperava o pior.

Fora as chantagens políticas, nada de relevante foi aprovado no Congresso neste ano. E a falta de medidas para reequilibrar as contas públicas foi arruinando o país rapidamente.

A presidente agora sob ameaça é considerada razão para muitos empresários e consumidores pisarem no freio. Derrubando o PIB de forma inédita.

Mas esse é só um pedaço da história, dos que têm onde cortar. Entre os mais pobres, o governo Dilma 2 se revelou um verdadeiro pesadelo cujo fim pode chegar apenas em 2018 ou além.

Quase 40% dos brasileiros vivem com menos de R$ 15,60 ao dia, segundo estratificação do Datafolha. Numa pobreza tão grande a ponto de mais de 50 milhões estarem em famílias que recebem o Bolsa Família.

O peso da atual recessão com forte inflação sobre eles é gigantesco, afeta o prato e é onde o desemprego mais faz vítimas.

O IBGE mostrou que a queda no consumo das famílias vem se aprofundando em ritmo chocante. Do trimestre findo em dez.2014 ao que terminou em set.2015, elas consumiram 5,7% menos, o maior tombo desde 1996.

O processo de impeachment não resolve nada disso, a menos no curto e médio prazos.

Mas, levando ou não à destituição de Dilma, funcionará como uma espécie de "reset". Com um arranjo posterior diferente deste que nos envenenou em 2015.

 

Busca por "impeachment" cresce 250% em uma hora

POR LAURO JARDIM, em O GLOBO

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O impeachment viralizou: as buscas sobre a expressão "o que é impeachment" cresceram 250% na última hora, segundo levantamento inédito da consultoria Bites. "Brazil impeachment" também aumentou 140%, o que indica que há também uma curiosidade internacional sobre a política brasileira.

 

 

PT paga para ver se poder presumido de Eduardo Cunha é um mito ou é verdade (por JOSIAS DE SOUZA, do UOL)

 

Convidado a optar entre Dilma Rousseff e o abismo —que muitos acreditam ser a mesma coisa—, o PT deu sua resposta nesta quarta-feira: “Dane-se Dilma.” Depois de muita hesitação, o petismo decidiu que os três deputados que o representam no Conselho de Ética da Câmara votarão a favor da continuidade do processo que pode levar à cassação do mandato de Eduardo Cunha. Com esse gesto, o partido de Dilma desafiou o presidente da Câmara a cumprir a ameaça de deflagrar o processo de impeachment. A Câmara ferve. E Dilma treme.

Desde fevereiro, quando prevaleceu na disputa pela presidência da Câmara, Cunha tem sido o poder de fato em Brasília. Como eminência parda, ele se beneficia dos privilégios do poder com uma vantagem sobre a ocupante da cadeira de presidente da República: a de ser um poder presumido, que nunca precisou de fato provar se é um mito ou se é verdade. Fraca, Dilma nunca pagou para ver.

Por via das dúvidas, Dilma havia decidido novamente não contrariar Cunha no Conselho de Ética. Mas o PT, já afundado no pântano de suas contradições morais, avaliou que já não lhe convém carregar nos ombros as culpas alheias. Cunha tem a força mágica de coagir o poder. Mesmo arrastando as correntes de uma denúncia no STF e do dinheiro escondido na Suíça, ele mete medo no Planalto. Nos próximos dias, o país saberá o quanto há de folclore e de realidade nesse poder jamais submetido a uma aferição.

 

Quando começa o caos? Atenção: já começou!

Por JOSIAS DE SOUZA (UOL)

Abandonado pelo PT, Eduardo Cunha detonou o processo de impeachment contra Dilma Rousseff. Fez isso num instante em que a Lava Jato exibe as entranhas da República, o PIB aponta para um derretimento de mais de 3% em 2015, a inflação roça os dois dígitos, o desemprego bate em 8% e o Planalto celebra como vitória a aprovação no Congresso de uma proposta que o autoriza a fechar as contas do ano com um rombo de R$ 119,9 bilhões no lugar do prometido superávit de R$ 55,3 bilhões. Muita gente se pergunta: quando começa o caos? A má notícia é que o caos já começou. A boa notícia é que, diante da tragédia a pino, o país tem a oportunidade de se reinventar. Caos não falta.

Dilma não precisou da oposição para chegar ao caos. Desfrutou do privilégio de escolher o seu próprio caminho para o inferno. A presidente costuma dizer: “Ninguém vai tirar a legitimidade que o voto me deu”. Engano. Há na praça uma pessoa que parece decidida a transformar em problema aquela que havia sido eleita como solução dos 54 milhões de brasileiros que lhe deram o voto em 2014. Chama-se Dilma Rousseff a responsável pelos atentados cometidos contra a legitimidade de Dilma Rousseff, hoje um outro nome para o erro.

Depois de liberar seus operadores políticos para providenciar os votos que salvariam o mandato de Eduardo Cunha no Conselho de Ética da Câmara, Dilma foi desautorizada pelo seu próprio partido. O PT concluiu que o resgate cobrado por Cunha para engavetar o impeachment era caro demais até para um partido que se tornou amoral. Diante do fato consumado, Dilma faz pose de valente. Nas suas primeiras reações, ela disse que jamais cedeu a chantagens. Prepara uma aparição em público enrolada na bandeira da legalidade. Sustenta que não há razões para o impeachment. Em privado, auxiliares da presidente ruminam o receio de que a deterioração da economia devolve os brasileiros às ruas. Reconhecem que o governo bateu nas fronteiras do imponderável.

Eduardo Cunha vinha dizendo aos aliados que não cairia sozinho. Ambicioso, ele quer levar junto ninguém menos que a presidente da República. E o petismo não pode nem reclamar. Foi sob Lula que Cunha plantou bananeira dentro dos cofres da Petrobras.

 

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