"Figuras graúdas da finança dão como certa a queda de Joaquim Levy", informa Vinicius Torres Freire

Publicado em 13/11/2015 03:32
"A agonia da sobrevida", por Vinicius Torres Freire, na Folha de S. Paulo desta sexta-feira

Figuras graúdas da finança dão como certa a queda de Joaquim Levy, em conversas reservadas. Essas pessoas fazem questão de dizer que não têm informação privilegiada e que lamentam o destino do ministro, registre-se. Mas não acreditam mais que ele fique.

Ontem, Lula foi a Brasília atirar de novo em Levy, espalhando estilhaços por meio de parlamentares petistas. Disse que o ministro não tem mais apoio "nem no mercado financeiro, embora seja querido"; que Levy não tem "jogo de cintura", que tem um "discurso que cansou", que o país precisa de "alguém que traga esperança", no relato de um parlamentar.

Também ontem, um assessor graduado da presidente ligava espontaneamente para "enfatizar" que o ministro deu "sinal de força", pois o acordo do governo com o Congresso sobre o Orçamento saiu na linha do que desejava Levy, com "respaldo" de Dilma Rousseff.

Quer dizer, acertou-se com a Comissão Mista de Orçamento que na lei orçamentária de 2016 não vai haver "banda" ou "meta flexível", mas um superavit primário fixado em 0,55% do PIB para o governo federal (0,7% para todo o setor público).

Isso então é uma vitória. Para alguém que leva tanto chumbo, trata-se de sinal de sobrevida. Mas o que o ministro teria vencido?

Bons economistas estimam que 2016 será de mais deficit, algo em torno de 1% do PIB, sem contar despesas de velhas pedaladas. Previsões são o que sabemos: no início do ano, o mercado previa superavit de 1% do PIB para 2015. Sem pedaladas, deve haver deficit de pelo menos 1% do PIB. Um erro de mais de R$ 100 bilhões.

Não é o que importa, aqui. O fato é que ninguém da praça acredita na meta do ano que vem.

De resto, a recessão vai ainda se espalhar feito lama tóxica pelas ruas em 2016, vai engolir ainda mais empregos e empresas. Vai ser mais sentida na carne, "nas ruas", do que neste ano. A culpa vai sobrar para Levy.

SINISTRO, HISTÓRICO

Do relatório dos economistas do departamento de pesquisa do Itaú, divulgado na tarde de ontem:

"A atividade econômica não oferece sinais de estabilização... O investimento deve ter recuo maior do que prevíamos. Alteramos a projeção para o PIB em 2015 para -3,2% (antes, -3%). Para 2016, revisamos a queda para -2,5% (antes, -1,5%)".

A economia vai encolher, trimestre por trimestre, até setembro de 2016. No final de ano, fica es- tagnada.

A inflação deste ano deve fechar em 10,1%. Em 2016, em 7%, acima do teto da meta, de 6,5%.

Caso se confirmem essas previsões para o crescimento da economia, a renda per capita (PIB per capita) no Brasil terá diminuído 7,8% no triênio 2014-2016 (esta conta não é do Itaú).

Os números do PIB de Dilma 2 começam a chegar perto do segundo maior desastre do século, o triênio de Collor (1990-92), quando a retração foi de 8,4%. Empata com as crises de 1931 e 1916. Mas esses PIBs remotos não valem muita comparação, se por mais não fosse porque foram calculados a posteriori (o PIB começou a ser medido em 1947).

O recorde do final da ditadura deve permanecer inigualado, queiram os céus: queda de 12% de 1981 a 1983.

 

na coluna MERCADO ABERTO, por MARIA CRISTINA FRIAS

Confecções demitem 38,7 mil funcionários

As confecções brasileiras demitiram 38,7 mil pessoas desde o começo do ano até setembro. Só no Estado de São Paulo, foram 11,6 mil, segundo o Sindivestuário (sindicato do setor).

"A indústria vem se deteriorando há dez anos, desde que os produtos chineses começaram a ser importados com facilidade, mas 2015 está realmente assustando", diz o presidente da entidade, Ronald Masijah.

O principal entrave do setor, porém, deixou de ser a concorrência com os chineses e passou a ser a debilidade do mercado interno.

"Os números de dispensa [de funcionários] e de queda na produção vêm se acelerando como uma progressão geométrica", acrescenta o executivo, que também é sócio da fabricante paulistana de lingeries Darling.

Nos nove primeiros meses de 2015, o volume produzido no país recuou 14%. Durante todo o ano passado, a retração foi de 4%.

A crise ainda fez 1.732 confecções fecharem neste ano em todo o Brasil. Dessas, 20% estavam instaladas em São Paulo.

A alta do dólar, no entanto, deverá melhorar o cenário ao dar mais competitividade ao produto nacional. Masijah acredita que, se a moeda se mantiver no patamar atual, as exportações deverão aumentar de forma significativa a partir do segundo semestre de 2016.

*

Comércio de cimento deve ter queda de 10% em 2016

As vendas de cimento em 2016 devem continuar fracas e registrar uma queda de cerca de 10%, em relação a este ano, segundo estimativa do SNIC, que representa o setor.

Para 2015, o SNIC também projeta um recuo na comercialização em torno de 10%.

"O produto é um indicador da atividade econômica e percebemos que o cenário seria ruim desde o começo deste ano", diz José Otavio Carvalho, presidente da entidade.

Atualmente, as obras de infraestrutura representam em torno de 25% do uso do material, de acordo com Carvalho. O restante se divide no consumo em edificações residenciais e comerciais.

"O número de unidades habitacionais financiadas pela Caixa teve forte queda no ano, e a retomada possível do setor seria com obras de infraestrutura, que estão paradas."

A comercialização acumulada do produto de janeiro a outubro de 2015 foi de 54,8 milhões de toneladas, baixa de 8,4% na comparação com igual período do ano passado.

 

PT atiça o formigueiro, por FERNANDO CANZIAN

O jogo duplo entre o PT de Dilma e Eduardo Cunha, visto como necessário para barrar um processo de impeachment no Congresso, está embaralhando a sociedade, os movimentos sociais e partidos que ainda dão sustentação à presidente pior avaliada do país.

A liderança do governo Dilma no Congresso patrocinou nesta quarta (11.nov.), dentro de seu próprio gabinete, a redação de documento dos partidos governistas ratificando "total apoio e confiança" a Eduardo Cunha. Até ontem, vale lembrar, o PSDB também sustentava Cunha.

No domingo, o presidente da Câmara foi alvo central, em nove Estados, de manifestações comandadas por entidades ligadas ou simpáticas ao PT (como CUT e MTST). As lideranças também criticaram a própria Dilma ao demandar a saída de seu ministro da Fazenda, Joaquim Levy.

Nos últimos dias, caminhoneiros bloquearam estradas em 14 Estados pedindo a saída imediata de Dilma da Presidência.

Houve também manifestações de mulheres (e homens) contra Eduardo Cunha em várias cidades (há outra prevista para esta quinta, às 17h, no Masp).

Nesse caldo, CUT, MTST e movimentos espontâneos como dos caminhoneiros e das mulheres podem acrescentar o que faltou neste 2015 à "tempestade perfeita" prevista por analistas no início do ano.

A partir de uma reivindicação específica (o não aumento das tarifas de ônibus), o Brasil perdeu completamente a paciência em junho de 2013 e colocou para fora todas as suas frustrações. A ponto de tentar invadir o Congresso, sede de governos e de literalmente pôr fogo no Palácio do Itamaraty, em Brasília.

Em 2013 a situação econômica era muito melhor do que a atual. O país fechou aquele ano com a menor taxa de desemprego da série histórica (4,3%) e o PIB cresceu 2,3%. A inflação foi de 5,9%, abaixo do teto da meta do Banco Central.

Os protestos vieram mesmo com recordes no total de empregos com carteira assinada e aumentos na renda dos trabalhadores. Sintoma de que havia um mal estar profundo e difuso em relação a fatores inseparáveis do modo como o Estado toma e presta conta de suas ações perante a sociedade.

Agora, o PIB está caindo 3%, a inflação é de 10% e o desemprego caminha rapidamente para os dois dígitos. A renda média dos brasileiros sofre a maior queda desde 2003 e o varejo tem seu pior resultado em 15 anos.

2016 já está praticamente encomendado. E pode não ser muito diferente disso.

O comando do Brasil, de memória curta, parece simplesmente ter esquecido do que se passou há pouco mais de dois anos. Quando o Congresso foi sitiado e todos os políticos tiveram que se mexer rapidamente para aplacar um movimento que fugia completamente ao controle.

Com seus últimos movimentos, PT, CUT e MTST podem estar "dando ideias". E acendendo o fósforo que falta.

 

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Fonte:
Folha de S. Paulo

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