Na FOLHA: Luís Cláudio, filho de LULA, é "o dono do jogo" - futebol americano no Brasil
O dono do jogo
No domingo, 3 de outubro, o Vasco da Gama Patriotas enfrentou o T-Rex no Rio. A disputa atraiu pouco mais de 300 pessoas que pagaram R$ 10 para assistir à partida do Torneio Touchdown, organizado por Luis Cláudio Lula da Silva, 30 anos, filho caçula do ex-presidente Lula.
A despeito do público escasso de um esporte que engatinha no Brasil, a liga ostenta patrocinadores cobiçados, como a cerveja Budweiser e o energético TNT. Os valores das cotas são sigilosos.
"O site é amador, o público pequeno, o evento e os jogos não são transmitidos na tevê, por isso o retorno para patrocinadores é baixo", avalia o especialista em marketing esportivo Amir Somoggi.
"Mas o mercado de futebol americano pode ser o futuro e a NFL, liga norte-americana, é uma das mais valiosas do mundo, chegando a faturar US$ 50 milhões só com ingresso da final", pondera.
São com números como esses que Luis Cláudio justifica sua entrada no torneio, que viu a prosperidade chegar com ele, em 2011. A quantidade de times saltou de 7 em 2010 para 20 em 2014 e hoje está na marca dos 16.
Duas temporadas –de 2012 e 2013– foram televisionadas. Os clubes passaram a receber uma ajuda de custo anual de R$ 20 mil e dinheiro para confecção de uniformes.
No e-mail em que comunicou a fãs da modalidade a sociedade com Luis Cláudio, o criador do Touchdouwn André Adler, morto em 2012, disse que ele vinha para "elevar o potencial de captação".
Na mensagem também comemorou o fruto da parceria, a final da temporada de 2011 no estádio do Ibirapuera, em São Paulo. Na plateia do jogo estava Lula. Em entrevistas, o petista disse que, da mesma forma que o Brasil trabalhou para que o futebol brasileiro desse certo nos EUA, acreditava que o americano poderia vingar no Brasil.
Menos de dois anos depois o campeonato contava com sete patrocinadores. Além dos atuais TNT e Budweiser, investiam no Touchdown Tigre, Sustenta Energia, do grupo JHSF, Qualicorp e GOL.
Outra patrocinadora nos anos 2012 e 2013 foi a Caoa Hyundai, que segundo o jornal "Estado de S. Paulo" contratou o escritório de lobby Marcondes & Mautoni, investigado pela Polícia Federal e pela CPI do Carf, para obter a extensão da desoneração fiscal por meio de uma medida provisória que teria sido comprada por lobistas.
O escritório M&M também teve relações com Luis Cláudio. Em 2014, a M&M contratou a LFT Marketing Esportivo, a outra empresa do filho do ex-presidente, por R$ 2,4 milhões. Segundo Mauro Marcondes, sócio do escritório, um dos serviços prestados se referia a um projeto de um ônibus que circularia pelo Brasil durante a Copa do Mundo divulgando uma patrocinadora do mundial.
Os planos não saíram do papel. Outro trabalho foi a assessoria a um projeto para integrar modalidades esportivas em um centro de exposições que está sendo planejado no interior de São Paulo. "Considerei o valor caro, mas fiquei satisfeito com o resultado que ele me apresentou", afirmou Marcondes.
A realidade do Touchdown é bem diferente da vivida pela CBFA (Confederação Brasileira de Futebol Americano), entidade oficial do esporte que organiza desde 2012 um campeonato nacional paralelo ao do filho de Lula. Nas suas quatro temporadas realizadas, ela nunca angariou um patrocínio anual.
DIRETOR GERAL
É de um escritório em um prédio comercial nos Jardins, em São Paulo, que Luis Cláudio gerencia suas duas empresas voltadas para o ramo esportivo: a Touchdown Promoções e Eventos Esportivos, que administra a liga de futebol americano, e a LFT Marketing Esportivo, dedicada a projetos para outras empresas.
Clientes relatam que o espaço tem três cômodos, poucos funcionários e o irmão Fábio Luis, o Lulinha, entre os vizinhos. O apelido é o mesmo que Luis Cláudio carrega nos gramados, apesar de rechaçá-lo.
Nos documentos da Touchdown, a empresa criada para gerenciar o torneio, Luis Cláudio aparece como "diretor geral". Segundo donos dos times que participam da competição, é ele o responsável pelas principais atividades, como definição de locais onde acontecerão as partidas e prospecção de verbas. O valor captado não é partilhado com os times.
"Não sabemos quanto Luis Cláudio capta, mas parte disso é direcionado para nós", conta o presidente da equipe do Flamengo no torneio, Rogério Pimentel.
Formado em educação física, Luis Cláudio passou pelos principais clubes de futebol de São Paulo trabalhando como auxiliar de preparadores físicos.
O São Paulo foi o primeiro a abrir as portas para o filho do ex-presidente da República, que trabalhou ali por cerca de três meses. Luis Cláudio também atuou no Palmeiras quando Vanderlei Luxemburgo era técnico do time, em 2008. Em 2009, quando ingressou no Corinthians, ganhou mais visibilidade na imprensa com ajuda do clube.
OUTRO LADO
Advogado de filho de Lula diz que ele uniu expertise e visão de negócio
DE SÃO PAULO
O advogado de Luis Cláudio Lula da Silva, Cristiano Zanin Martins, afirmou que a atuação de seu cliente no Torneio Touchdown é "natural" por ele "ser um entusiasta do futebol americano" e isso se somar ao "potencial do esporte no Brasil".
Segundo o advogado, por Luis Cláudio ser formado em educação física e ter passagem pelos "maiores" clubes de futebol de São Paulo, "é evidente que ele tem uma visão do setor esportivo e que possa trabalhar com ela fazendo negócios como análises setoriais, projetos, prospecções, entre outros".
Sobre a captação de patrocínio para o campeonato, o advogado afirma que "em hipótese alguma o ex-presidente Lula chegou a se envolver na área" mesmo tendo um dos filhos como proprietário.
Martins também afirmou que a empresa Touchdown não abre valores e validade dos contratos por se tratar de uma atividade privada. "A relação (com os patrocinadores) é direta e compatível com a relação que as marcas têm com outros esportes de contato e esportes radicais", diz.
"O questionamento que a reportagem faz decorre mais de um preconceito de uma incapacidade dos filhos do ex-presidente de realizarem uma atividade empresarial concreta do que de um questionamento real", diz o advogado.
Procuradas, as empresas citadas na reportagem confirmaram que patrocinaram o Touchdown, mas se recusaram a informar os valores dos contratos. Elas também não responderam se o parentesco entre Luis Cláudio e Lula influenciou a decisão de fazer o investimento.
Questionada sobre o patrocínio ao Torneio Touchdown, a Caoa Hyundai confirmou que investiu nas temporadas 2012 e 2013 "da mesma forma que patrocina outros diversos eventos esportivos".
A Budweiser afirmou que é patrocinadora oficial da competição desde 2013 e que também investe em futebol americano em diversos países, "inclusive é a cerveja oficial da NFL, liga americana da modalidade".
A Qualicorp disse que patrocinou o Touchdown em 2013 como "parte de suas estratégias de marketing".
A Tigre confirmou o patrocínio nas temporadas de 2012 e 2013 "como parte do projeto de expansão de mercado e internacionalização da marca" devido ao futebol americano ser tradicional nos Estados Unidos, onde o grupo tem unidade.
As empresas Sustenta Energia, do grupo JHSF, e TNT, da Cervejaria Petrópolis, não responderam às perguntas enviadas pela Folha.
Em território negativo (editorial desta 2a.-feira)
Com queda projetada de 3% neste ano, economia brasileira se destaca entre estimativas desalentadoras do FMI para o PIB global
São desalentadoras as novas projeções do Fundo Monetário Internacional para a economia do planeta. O PIB global, calcula o organismo, se expandirá em apenas 3,1% neste ano, ritmo inferior ao de 2014 (3,4%) e insuficiente para um redução rápida do elevado desemprego nos principais países.
Sofrendo o impacto da combinação de preços mais baixos de matérias-primas e valorização do dólar, as nações emergentes concentram as más notícias. O mundo rico, protagonista da crise que eclodiu no final da década passada, hoje mostra relativa estabilidade e colhe os frutos dos ajustes dos últimos anos.
O Brasil, em particular, merece embaraçoso destaque por ter sido alvo da maior revisão –para baixo– das expectativas para a variação do PIB. Para a entidade, o país amargará retração de 3%, o dobro da estimada em julho.
Nas palavras da diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, estamos "em território negativo", na desagradável companhia da Venezuela e sua catastrófica queda de 10%.
Afora o tamanho da recessão brasileira, cumpre estabelecer o diagnóstico sobre suas causas. O organismo reconhece o efeito de restrições externas –evasiva predileta do governo Dilma Rousseff (PT)–, mas ressalta que o péssimo desempenho do país decorre de erros primordialmente domésticos.
Recorde-se a insistência, nos últimos anos, em estímulos ao consumo por meio de gastos do Tesouro e crédito subsidiado. Tal estratégia legou finanças públicas em frangalhos, inflação em alta e, por fim, uma grave crise política.
Não surpreende, assim, que o FMI prescreva para o país a tradicional receita de reformas estruturais que reequilibrem o Orçamento e alavanquem a produtividade.
Resta algo de positivo a preservar, porém. A presente derrocada econômica nacional se distingue de suas antecessoras pelo relativo conforto nos compromissos financeiros com o resto do mundo.
Em contraste com momentos de insolvência e escassez de divisas do passado, o Brasil dispõe hoje de US$ 370 bilhões em reservas, que superam com folga a dívida externa do governo.
Tal patrimônio, portanto, deve ser administrado com extrema prudência. Seria temerário, por exemplo, vender dólares ao mercado para conter a elevação das cotações da moeda norte-americana.
Com as reservas, haverá autonomia para encaminhar politicamente o urgente processo de ajuste das contas públicas sem a necessidade de fontes externas de recursos, sempre acompanhadas de tutela internacional. O FMI, hoje, apenas aconselha; muito pior seria se tivesse de nos emprestar dinheiro.
Levy na encruzilhada (EDITORIAL)
Atacado no governismo por suas virtudes, ministro ainda não conseguiu esboçar um plano mais ambicioso para o Orçamento e a economia
O movimento político que resultou no aumento da influência do ex-presidente Lula sobre o governo Dilma Rousseff (PT) suscitou nova tentativa de enfraquecer o ministro Joaquim Levy, da Fazenda.
O economista ortodoxo padece por ter cumprido a missão elementar de evitar um desastre maior e imediato. No governismo, sofre críticas em razão de suas virtudes –por liderar o esforço de fazer o básico a fim de evitar o colapso.
É fato que a presidente sonegou apoio a muitas das propostas de Levy. Restam, ademais, divergências programáticas no miolo da equipe encarregada da gestão da economia. Mas também o ministro falhou, além de frustrar quem esperava mudança maior que a descontinuidade da política ruinosa do primeiro governo Dilma.
A Fazenda compartilhou do otimismo irrealista do Planejamento, no primeiro terço do ano, quanto ao aumento real da receita em 2015, estimado em cerca de 5% quando a arrecadação já baixava 3%.
Reconheça-se que a frustração da expectativa deveu-se em parte à recessão mais grave que a esperada e à rejeição parcial de medidas tributárias enviadas ao Congresso. Faltou, de todo modo, prudência no plano orçamentário de 2015.
Tais adversidades, somadas à inabilidade política, levaram o governo a admitir em julho que praticamente não haveria saldo no caixa em 2015 –e, em agosto, a enviar ao Congresso um Orçamento deficitário para 2016.
O resultado das contas já seria notícia má o bastante. Adicionalmente, a alteração brusca das projeções oficiais sugeriu descontrole. Tais reveses, mais a inexistência de um plano de médio prazo que contrabalançasse o presente recessivo, motivaram o quase pânico cambial de setembro.
Embora já atenuada, a crise rebaixou a classificação de crédito do país, encareceu o dólar, elevou juros e expectativas de inflação. Em suma, adiou de vez para 2017 a recuperação econômica.
Levy, como diz o lugar-comum, apagou um incêndio. Mas deixou de representar, para o mercado credor e investidor, uma garantia de que os ajustes prometidos e desejados serão levados a cabo.
E o fogo pode ser revivido, pois o novo pacote de emergência se ampara na nebulosa ressurreição da nova CPMF e, ressalte-se, porque ainda não há sinal de estratégia mais ambiciosa para o controle de gastos públicos –para não falar de reformas que removam o entulho burocrático, legal e tributário que emperra a atividade econômica.
Caso a presidente represente obstáculo a esse plano mínimo, convém deixar clara a origem da paralisia. Do contrário, haverá compromisso apenas com o atraso.
VINICIUS TORRES FREIRE
Um milagre na pindaíba
Nas internas, governo admite deficit de 0,2% do PIB em 2015; sem CPMF, haverá novo rombo em 2016
O QUE O GOVERNO vai fazer se o dinheiro da CPMF não começar a entrar no caixa em abril de 2016, data rosa-otimista mais próxima? Tenta cobrar o imposto a partir de maio de 2016. Ou de junho. Em 2017. Quando der.
Caso a armação do impeachment fique mesmo para fevereiro do ano que vem, a pindaíba crítica do governo sobe de novo ao palco principal, a CPMF estrelando.
Não há alternativa à CPMF para melhorar o balanço das contas federais enquanto a arrecadação continuar abatida por recessão ou baixo crescimento (até 2017, pelo menos) e não entrarem em vigor mudanças ditas "estruturais" na despesa (Previdência, que teriam algum efeito em 2019). É o que dizem economistas variados do governo.
Sem CPMF ou equivalente, haverá triênio de deficit primário: despesas maiores que receitas, excetuados gastos com juros, em 2014, 2015 e 2016. A expectativa de tricampeonato tende a provocar tumulto parecido com o de setembro, mas já num degrau mais próximo do inferno.
Enquanto a CPMF não vem, talvez se recorra a impostos da lista de especulações que já anda por aí: PIS/Cofins, IOF, Cide. Ainda não se pensou bem no assunto.
O superavit prometido para 2016 é de 0,7% do PIB. Para 2015, era de 0,15% do PIB. Era. Já era, não vai dar, diz gente do governo.
Nas internas, o deficit admitido para 2015 é de 0,2% do PIB (R$ 12,5 bilhões), com "algum" superavit em 2016. A previsão mediana de economistas do setor privado é de déficit de 0,3% do PIB neste ano e de 0,2% no ano que vem.
A meta de 2015 não deve ser cumprida em parte devido à frustração de receitas extraordinárias, que viriam da venda de empresas do governo, de concessões e do imposto que seria cobrado sobre o repatriamento de dinheiro irregular ora no exterior etc. A recessão prejudica a venda de ativos e rebaixa ainda mais a receita.
Outros itens importantes do segundo pacote fiscal de Dilma 2 são o confisco das emendas parlamentares, a redução do reajuste do funcionalismo em 2016 e a apropriação de fundos do Sistema "S". O governo acredita que pode fazer economias relevantes apenas na base da fiscalização rigorosa, como R$ 8 bilhões no gasto previdenciário. Mas será necessário catar mais moedas.
Caso não dê para confiscar os gastos das emendas, o governo corta mais em investimento e saúde. A redução do reajuste do funcionalismo está negociada pela metade. Do previsto com o Sistema "S", deverá vir pouco mais de metade, se não houver disputa judicial de certas federações empresariais. Como consolo, a perda dessas receitas pode ser compensada pelo dinheiro de vendas de ativos e concessões que ficam de 2015 para 2016.
O "mercado" acreditava mais nas promessas do governo até o fim de julho, quando o governo rebaixou a meta de superavit de 1,1% do PIB para 0,15% do PIB. A partir de então, foram rebaixadas as estimativas. Ao mesmo tempo, taxas de juros e dólar passaram a viajar às estrelas. O anúncio de Orçamento deficitário para 2016, no fim de agosto, foi outro choque nas expectativas da finança e detonou o quase pânico de setembro. Não deve ser diferente se o ajuste falhar de novo.
A CPMF terá, pois, de reviver na tumba onde está. Um milagre.
ELIO GASPARI
Um calendário hipotético da crise
Se o TSE detonar o mandato da doutora Dilma, poderá haver uma eleição semanas depois da Olimpíada
Aqui vai um exercício de futurologia, baseado num plano mestre de quem não quer que Dilma Rousseff conclua seu mandato. Ele é engenhoso, mas depende de muitos fatores, sobretudo de imprevisíveis decisões e prazos judiciais. Para que tenha eficácia, a crise deve entrar pelo ano vindouro.
O eixo do plano está na investigação das contas da campanha da doutora, pedida pelo ministro Gilmar Mendes. Há outros processos, um deles pronto, mas o lote pode ser agrupado. Admita-se que a corte venha a cassar os mandatos de Dilma e Michel Temer. Nesse caso, assume o presidente da Câmara, obrigado pela Constituição a convocar uma nova eleição que deverá ocorrer em até noventa dias. O vencedor desse pleito terminaria o atual mandato, com direito a disputar a reeleição em 2018.
O TSE também poderia acompanhar dois episódios estaduais, ocorridos no Maranhão e na Paraíba, entregando a presidência aos candidatos derrotados. Nesse caso, assumiriam Aécio e Aloysio Nunes Ferreira, seu vice. É uma coisa meio girafa, difícil de acontecer.
A cassação dos mandatos de Dilma e Temer, e a convocação de uma nova eleição armam um quebra-cabeça de calendário. Caso a sentença saia em maio, por exemplo, a eleição deverá ocorrer em agosto. Se sair em julho, poderá ser convocada de forma a coincidir com o pleito municipal de outubro. Nesse caso ocorreria uma tempestade eleitoral, com a escolha de um novo presidente, cinco mil prefeitos e 60 mil vereadores.
Fulanizando, quem seriam os candidatos? Afora azarões, pelo PSDB estão na pista Aécio Neves e Geraldo Alckmin. Com o registro da Rede, ressurgiu Marina Silva. Ela disputou a Presidência em 2010 e 2014, quando conseguiu 22 milhões de votos. O PMDB poderá ter um candidato socorrido pelos deuses gregos. Realizada em outubro, a eleição aconteceria seis semanas depois do encerramento da Olimpíada do Rio, que dará ao prefeito Eduardo Paes uma inédita exposição. Se a festa lembrar Barcelona (1992), ele tira um bilhete premiado. Se lembrar Atenas (2004), está frito. Resta o PT, e Lula terá dois caminhos: ou disputa, podendo perder, ou fica de fora, sinalizando que perderia.
O coração do plano assenta-se numa conta feita de trás para frente, partindo-se do interesse na coincidência das duas eleições.
Em circunstâncias diferentes, esse jogo de calendário já aconteceu. Em 1992 havia uma eleição municipal marcada para o dia 3 de outubro e o governo do presidente Fernando Collor cambaleava. Numa reunião na casa do presidente do Senado, Mauro Benevides, Ulysses Guimarães fez a conta: a data mágica para que a Câmara votasse o impedimento de Collor deveria ser 28 de setembro, a mais próxima possível do pleito. O afastamento do presidente teve 441 votos a favor e 48 contra. Não interessava aos deputados carregar o fardo de Collor.
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EDUARDO CUNHA
De um sábio:
"O deputado Eduardo Cunha dificilmente comerá peru de Natal como presidente da Câmara, mas não brincará o Carnaval na cadeira".
PSDB UNIDO
Na quarta-feira, 30 deputados de seis partidos (17 do PT) assinaram o pedido de cassação do mandato de Eduardo Cunha. Nenhum tucano.
IMPEDIMENTO
Com a decisão do Tribunal Superior Eleitoral de abrir o processo que poderá encerrar o mandato de Dilma Rousseff, a votação pela Câmara de um pedido de impedimento da doutora poderá ser uma boa ideia para o comissariado. Bastam 171 votos de deputados para barrá-lo.
Se o impeachment for barrado, o processo do TSE perderá vigor. Ainda que sejam denúncias e foros diferentes, fica meio esquisito para um tribunal composto de sete juízes detonar uma presidente eleita por 55 milhões de votos, depois que a Câmara se recusou a fazê-lo.
ANÉIS E DEDOS
O PMDB prefere ver a crise acabando no impedimento da doutora Dilma, pois nesse caso assume Michel Temer. Se prevalecer a lâmina do TSE, afogam-se os dois.
Caso inédito em que se prefere entregar os dedos para ficar com os anéis.
OS CALHEIROS
O presidente do Senado, Renan Calheiros, tem uma família de grandes qualidades. Seu filho governa Alagoas e seu irmão caçula, o deputado estadual Olavo, poderá ser nomeado para uma vaga no Tribunal de Contas do Estado.
D. Waldyr Calheiros, o inesquecível bispo de Volta Redonda, morto em 2013 deixando uma biografia de defesa da moralidade e da democracia, deve estar lastimando o que seu primo Renan vem fazendo com o sobrenome
NUMEROS LOUCOS
A Viúva tem uma das maiores carteiras de calotes do mundo. Os espetos acumulados na dívida ativa da União chegaram a R$ 1,3 trilhão. É muito dinheiro, mas o Brasil tem 205 milhões de habitantes.
O problema está noutra ponta: 75% dessas dívidas foram produzidas por apenas 13 mil pessoas físicas ou jurídicas.
ALTO RISCO
Çábios do comissariado queriam recorrer ao Supremo Tribunal Federal para derrubar a decisão do TCU que rejeitou as contas de Dilma.
Se desse certo, tudo bem. Se não desse, como ficaria o governo?
VINICIUS MOTA
De FHC a Sarney
SÃO PAULO - No início do ano, quando a autoridade presidencial começou a desabar, a meta realista de Dilma Rousseff era terminar o segundo mandato como Fernando Henrique, com popularidade baixa, mas no controle do Congresso. Agora o "benchmark" baixou para José Sarney.
Na metade final de sua administração, o primeiro presidente da democratização era governado pelo Legislativo e pelos fatos. Galopava sobre seus ombros uma crise inflacionária de fazer lembrar a do Zimbábue sob Robert Mugabe.
Na campanha de 1989, Sarney apanhou dia sim, outro também, de todos os candidatos à Presidência. Manteve, contudo, a fleugma. Evitou revanchismos e aventuras institucionais num momento em que o tecido do novo regime ainda era frágil.
Houvesse resistido à tentação de reembarcar na política oligárquica depois de deixar o Planalto, sua imagem de "estadista" estaria preservada. Perdeu pontos, de todo modo, não pela conduta adotada durante o mandato presidencial.
Dilma ainda precisa melhorar para chegar a Sarney. Falta a ela o que talvez tenha prevalecido no caso dele: desprendimento para lutar por reconhecimento mais generoso da História dentro do agudo ângulo de manobra oferecido pelo presente.
Agarrada como está a personagens hamletianos, que entram em cena para matar e morrer, a presidente não vai longe. Poderá terminar o mandato, pois a contingência é hoje a rainha da trama, mas sua biografia será reduzida a pó de traque.
Em vez de digladiar-se pela CPMF, Dilma poderia gastar o mesmo capital político escasso numa reforma profunda da Previdência, que garanta sua solvência, e a do Estado brasileiro, ao longo do século.
Nesse caso, precisaria mudar de interlocutores e aliados. Não é com a raia miúda da Câmara que vai chegar lá. Tampouco teleguiada por Lula, obcecado apenas com a própria sobrevivência.
VALDO CRUZ
Brincando com fogo
BRASÍLIA - No Dia das Crianças, vai aqui uma dica para a presidente Dilma. Brincar com o PMDB é muito mais perigoso do que fazer o mesmo com fogo. O risco de sair chamuscado é grande. Não deu outra.
Em seus dois mandatos, Dilma tentou de tudo. Escantear o PMDB, reduzir seu poder, pedir socorro ao vice Michel Temer e, depois, sabotá-lo, ir atrás do baixo clero da sigla e descobrir que nada deu certo.
Resultado, começa uma semana crucial para seu futuro com seu maior aliado dividido, mesmo depois de uma reforma ministerial feita para agradá-lo, e na mira de um peemedebista, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (RJ).
Até os amigos de Cunha, encurralado pelos milhões de dólares na Suíça, não descartam que, no desespero, porque sua situação já está passando deste ponto, ele aceite o pedido de impeachment de Dilma.
Estaria aberto o processo que pode levar ao afastamento da petista. Seria criada uma comissão para analisar o caso, cujo parecer iria a plenário. Aprovado por 342 deputados, Dilma seria afastada do cargo até o julgamento final pelo Senado.
Pesa contra Eduardo Cunha, porém, o fato de ter perdido credibilidade para qualquer coisa. Sua situação piora a cada nova revelação. Mas, em se tratando dele, tudo pode acontecer. Afinal, Cunha está numa guerra por sua sobrevivência.
O que mais se ouve, aqui e ali, é que ele tem dito, nos bastidores, que, se cair, não cai sozinho. Isso causa pânico no Palácio do Planalto. Pode ser criado um cenário de caos completo na capital do país.
Aí, se já está difícil aprovar a CPMF para salvar as contas públicas, vai ficar impossível. O que nos levará a um desarranjo econômico sem precedentes, tirando ainda mais poder da presidente Dilma.
E, para completar, o lobista Fernando Baiano, em sua delação premiada, teria dito que bancou despesas de um filho de Lula. Se comprovado, Brasília vai ficar em chamas.
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