O esforço de Dilma para ficar mais três anos e três meses no poder

Publicado em 01/10/2015 17:39 e atualizado em 02/10/2015 04:55
POR REINALDO AZEVEDO, de VEJA.COM

Se a Igreja pode ter dois papas — ou quase isso: um emérito e outro de fato —, por que o Brasil não pode ter dois presidentes, não é mesmo? Dilma anuncia nesta sexta a sua “reforma ministerial anti-impeachment”, que sai quase ao gosto de Lula. E olhem que nem foi uma decisão que ele tomou com o cérebro: quem quer que tenha ouvido o ex-presidente falar a verdade sabe que ele preferiria que a sua sucessora fosse impichada ou renunciasse. Mas o PT já não sabe mais viver sem as tetas oficiais.

Então vamos lá. A conselho do demiurgo, Dilma resolveu dar um ministério a mais para o PMDB numa reforma que, para todos os feitos, corta nove pastas. Mas é tudo brincadeirinha.

Deputados do partido assumirão a Saúde (Marcelo Castro-PI) e a Ciência e Tecnologia (Celso Pansera-RJ). Mantiveram seus cargos Kátia Abreu (Agricultura), Eduardo Braga (Minas e Energia), Eliseu Padilha (Aviação Civil) e Eduardo Alves (Turismo). Helder Barbalho, que não entende nada de Pesca hoje em dia — ministério que será fundido com o da Agricultura —, continuará a não entender nada nos Portos.

Lula patrocinou ainda a ida dos petistas Jaques Wagner para a Casa Civil — o que realocou Aloizio Mercadante na Educação — e de Ricardo Berzoini para a Secretaria de Governo. Em tese ao menos, passa a ser o coordenador político do governo. Miguel Rossetto fica com o Ministério do Trabalho e Previdência, mas calma! O petista Carlos Gabas fica com a subpasta da Previdência, que já é sua, e José Lopes Feijoó, chefão da CUT, com a do Trabalho.

Que fique claro, o tal enxugamento que Dilma promete nos ministérios é de mentirinha. As respectivas estruturas das pastas que serão fundidas permanecerão intactas. É o que acontecerá também com o ministério que resultar da fusão das secretaras das Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos.

Haverá um só titular, mas as subpastas manterão suas respectivas identidades. Estavam na parada até o fim da noite desta quinta para assumir o cargo as deputadas Moema Gramacho (BA) e Benedita da Silva (RJ), mas a atual ministra da Igualdade, Nilma Lino Gomes, contava com o apoio da maioria dos parlamentares petistas.

O PC do B e o PDT continuam no governo: Aldo Rebelo deve representar o primeiro partido no Ministério da Defesa, e o deputado André Figueiredo (CE) representará o segundo no Ministério das Comunicações.

Lula foi malsucedido num único esforço: queria trocar Joaquim Levy, da Fazenda, por Henrique Meirelles, que, segundo as suas considerações, seria igualmente bem-recebido pelo mercado e, na cabeça do Babalorixá de Banânia, é mais maleável às vicissitudes políticas. Mas aí esbarrou numa questão pessoal: Dilma não suporta Meirelles e tem lá um pouco de amor próprio, não é?

A sorte está lançada. É assim que Dilma pretende ficar mais três anos e três meses no poder. 

Por Reinaldo Azevedo

MAROLINHA?

Dilma

Dilma: o tsunami vem aí

De um ex-ministro do governo Dilma, sobre a situação econômica: “Estamos passando por uma marolinha. O tsunami vai chegar no ano que vem.”

REINALDO AZEVEDO, na FOLHA: 

Em defesa da serpente

Vejo brotar o ódio à política e ao capital e torço para que os jovens que ganharam as ruas não caiam nessa conversa

A despeito de tudo, sou otimista quanto ao futuro do Brasil. Acho que a necrose do PT é um momento inaugural.

Amplas camadas da população se dão conta de que milagres não existem; de que ninguém será por nós se não formos por nós mesmos. Até Joaquim Levy é personagem desse salto de qualidade. Gosto quando ele diz que, a cada novo gasto, há de corresponder um novo imposto. Alguém sempre paga a conta.

Mais do que a agonia das velhas raposas, interessam-me movimentos de rua de uma juventude que tenta dar à luz o liberalismo em terras nativas. No Brasil das ideias fora do lugar, banqueiros se encantam com o coaxar de pererecas e se deixam seduzir pelo papo-furado distributivista. Alguns querem mais do que juros altos, acreditem. Ambicionam mesmo a ascese!

Constatação à margem: países em que banqueiros fazem questão de ter coração costumam ser governados por pilantras populistas que têm cérebro. O mundo ainda é mais produtivo quando financistas são maus e padres são bons. Sigo.

Algo de novo está em curso, e espero que resista e se espraie, ainda que haja um esforço enorme da imprensa conservadora –de esquerda– de matar essa juventude brandindo contra ela ideias caridosas de anteontem ou a suposta contemporaneidade do "thomas-picarettysmo".

Sou otimista, sim, mas tenho preocupações. Já escrevi neste espaço que seria lamentável se restasse da Operação Lava Jato o ódio à iniciativa privada e ao capital, tomados como corruptores da pureza original. Qual?

Em seu voto contra a doação de empresas privadas a campanhas –uma decisão moralmente dolosa tomada pela maioria do STF–, a ministra Rosa Weber, por exemplo, disse: "A influência do poder econômico culmina por transformar o processo eleitoral em jogo político de cartas marcadas, odiosa pantomima que faz do eleitor um fantoche, esboroando a um só tempo a cidadania, a democracia e a soberania popular".

A tolice é tal que nem errada a frase chega a ser. Eu duvido que Rosa tenha pensado nos desdobramentos da "influência do poder econômico" na vacinação em massa, na produção e distribuição de comida ou na universalização da telefonia.

Por que a ministra pretende que a disputa eleitoral deva ser um domínio impermeável às empresas, que, até onde se sabe, não são abscessos malquistos da civilização, mas uma das formas que esta encontrou de produzir e de multiplicar riqueza?

Junto com o ódio ao capital, vejo brotar em certos nichos o ódio à política, como se já tivéssemos descoberto outra maneira de resolver conflitos distributivos ou de opinião. Torço para que os jovens que ganharam as ruas não caiam nessa conversa de esquerdista desiludido e de anarquista ignorante.

Se, em certa mitologia, o primeiro homem foi Adão, e Eva, a primeira mulher –ambos inocentes como as flores–, a serpente foi o primeiro político. E devemos dar graças a Deus –que já tinha tudo planejado em sua mente divinal– que assim tenha sido, ou aquela duplinha passaria eternidade afora a pôr pontos de exclamação no coaxar das pererecas.

Que os moços acreditem na política! Bem pensado, o esquerdismo, quando genuíno, nada mais é do que a ânsia de matar a política para reconstruir o Éden com homens e mulheres puros. Sem a serpente das tentações. E quando o esquerdismo é uma farsa? Aí dá em Lula e seus Lulinhas endinheirados...

HÉLIO SCHWARTSMAN

Tragédia anunciada

SÃO PAULO - Dilma Rousseff tornou-se uma personagem trágica. Um pouco por acaso, um pouco não (Dirceu e Palocci haviam caído em desgraça), ela foi escolhida por Lula para sucedê-lo. Eleita em 2010, experimentou os favores da sorte em sua plenitude. Seu governo era um sucesso. Dilma bateu todos os recordes de popularidade e, num de seus muitos momentos de "hýbris" (soberba), tentou até ensinar à chanceler alemã, Angela Merkel, o que países devem fazer para sair de crises econômicas.

Como convém às tragédias, porém, houve a "peripéteia" (peripécia), que transformou em má a boa fortuna de Dilma. De fato, seu governo hoje são ruínas. A presidente, que agora sofre a maior rejeição popular jamais registrada pelas pesquisas, divide-se entre esforços para tentar salvar seu mandato e não deixar que a situação econômica degringole ainda mais. E todas as suas iniciativas parecem fadadas a fracassar.

A crer em Aristóteles e sua "Poética", na origem de tudo está a "hamartía" da personagem. O termo é traiçoeiro. Às vezes é traduzido como "erro". Pode ser também "falha de caráter". Na teologia cristã, "hamartía" virou "pecado". Dilma, com ou sem intenção, pouco importa, deu causa a sua perdição. Suas ações é que levaram à destruição econômica, e suas omissões, aos escândalos de corrupção que agora a assombram.

Aonde isso nos leva? Segundo Aristóteles, tragédias, ao inspirar pena e terror na audiência (isto é, em nós), levam-nos a uma "kátharsis" (purgação). Talvez, mas será que é realmente Dilma a personagem trágica aqui? Ela, afinal, foi escolhida pela maioria dos brasileiros, que, se foram enganados, o foram voluntariamente, já que os sinais de que a então candidata mentia sobre a situação econômica do país estavam ao alcance de quem quisesse ver. Neste caso, o personagem trágico somos nós. "De te fabula narratur" (a fábula fala de ti), sentenciou Horácio.

 

VINICIUS TORRES FREIRE

Cada dia, sua batalha, perdida

Mesmo com reforma ministerial, tumulto político e, pois, financeiro arde em outras frentes

CADA DIA de ontem tem parecido um passado muito remoto. Faz uns dez dias, o governo mandou ao Congresso seu plano de recriar a CPMF, que levantaria metade do dinheiro do pacote fiscal do desespero, anunciado não faz nem três semanas. Em que pé está a tramitação da CPMF? "Por aqui, nada está dando pé, a pororoca está levando tudo", dizia um líder parlamentar petista e ainda governista (sic).

Na quarta-feira, em tese chegou-se ao arranjo de abdicação por meio do qual Dilma Rousseff teria abdicado parcial e explicitamente de seus poderes em troca da postergação da guilhotina. O acordão deve ser anunciado e promulgado hoje. Nesse ínterim, passou-se uma eternidade política, judicial e policial.

Antes de mais nada, não se sabia se os termos do contrato de concessão parcial mais imensa do governo ao PMDB incluía a cláusula de apoio aos vetos presidenciais a aumento de gastos lunáticos e menos ainda ao pacote de remendo fiscal de emergência. Agora, a incerteza parece ainda maior.

Considere-se o dia de ontem.

Primeiro, não se sabe o que será do comando e do ritmo dos trabalhos da Câmara, dado que seu presidente, Eduardo Cunha (PMDB), está à beira de ser acusado de evasão de divisas, sonegação fiscal, lavagem de dinheiro, corrupção e, parece menos importante mas não deveria, de ter mentido a uma CPI sobre o fato de ter contas no exterior, contas suas e de sua família, segundo promotores suíços. No caso de haver confirmação das contas suíças, Cunha será lentamente escanteado ou vai se imolar, se explodir feito um homem-bomba, no meio do Congresso?

Segundo, um terço dos deputados federais do PMDB afirmaram ontem que não ratificam o acordão com Dilma Rousseff, ao contrário, até. Isto é, ainda que a divisão peemedebista continue um empecilho ao impeachment, há grande risco de volta ao caos financeiro visto na semana passada, pânico que poderia ser revivido em caso de derrotas do governo na aprovação dos remendos mínimos das contas públicas.

Terceiro, policiais e procuradores chegam cada vez mais perto da família de Lula da Silva e dos rolos do financiamento da campanha eleitoral de Dilma. O que se passa no caso de prisão de um filho de Lula?

Quarto, está confirmado que o governo não vai conseguir privatizar os negócios de seguros da Caixa Econômica Federal. Seriam apenas alguns "poucos" bilhões em impostos, mas o governo está catando moedas no fundo de gavetas e no bolso de casacos a fim de reduzir seu deficit. Pelo jeito, fica para as calendas também a venda da resseguradora IRB. Mais importante, fica ainda mais nebulosa a possibilidade de levantar dinheiro com outras privatizações e concessões.

Quinto, soube-se nesta semana que é remota a hipótese de o governo atingir mesmo sua minimeta de superavit primário para 2015, dados os números de receitas e despesas de agosto. A julgar pelos resultados de vendas e produção, as perspectivas da arrecadação ordinária daqui ao fim do ano parecem ainda piores. Soube-se ontem que a venda de veículos continua a cair cada vez mais rápido, tendo decrescido 22,7% até setembro (em relação a igual período do ano anterior).

Sim, estamos falando apenas dos problemas novos de ontem.

BERNARDO MELLO FRANCO

Eduardo Cunha: Insustentável

BRASÍLIA - A pergunta ecoou em claro e bom som no plenário da Câmara: "O presidente Eduardo Cunha tem ou não tem contas secretas na Suíça?". A tribuna era ocupada pelo deputado Chico Alencar, líder do PSOL. Sentado a poucos metros dele, Cunha virava o rosto para o outro lado, fingindo não ouvir.

"Essa é uma pergunta que interessa à cidadania, deve ser reiterada e tem que ser respondida", insistiu Chico. O presidente da Câmara se manteve em silêncio, como se não devesse explicações aos colegas e à sociedade que lhe paga o salário, as refeições, os voos em jato da FAB e a residência oficial em Brasília.

A rigor, a pergunta já foi respondida. Em março, um deputado do PSDB indagou ao peemedebista se ele tinha contas na Suíça. "Não tenho qualquer tipo de conta em qualquer lugar que não seja a conta que está declarada no meu Imposto de Renda", afirmou Cunha, resoluto, em depoimento à CPI da Petrobras.

A negativa caiu por terra com a confirmação de que ele é beneficiário de ao menos quatro contas bloqueadas na Suíça. Os dados já estão no Brasil, e a Procuradoria-Geral da República vai denunciá-lo de novo por corrupção e lavagem de dinheiro.

Desta vez, a tropa de Cunha não poderá repetir o discurso de que é preciso esperar o julgamento do STF. Ao negar a existência das contas, o presidente da Câmara mentiu à CPI e omitiu informações relevantes sobre seu patrimônio, o que caracteriza quebra de decoro parlamentar.

Cunha continua a confiar na covardia do governo e na cumplicidade da oposição, a quem se aliou na causa do impeachment. No entanto, aliados já admitem que a sua permanência na presidência da Câmara está se tornando insustentável.

Se a previsão se confirmar, restará ao peemedebista deixar a cadeira e lutar para não perder o mandato de deputado. O foro privilegiado é o que ainda o mantém a salvo da caneta do juiz Sergio Moro e de uma visita matutina da Polícia Federal.

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Fonte:
veja.com + FOLHA/UOL

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1 comentário

  • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

    He! He! (risos). Os comunistas não mudam a estratégia, MENTEM, MENTEM, MENTEM... &... MENTEM !!

    Até as pedras, trazidas de outras regiões, para decorarem os jardins palacianos de Brasília, trepidaram com os berros: NÃO AO GOLPE !!! Reação da "cumpanherada", com relação ao desejo de 93% da população brasileira de destituir uma incompetente "presidenta".

    Agora vem a parte cômica da história. O governo, no afã de se manter no poder, está realizando uma reforma ministerial e, prometendo diminuir o número de ministérios. Na realidade ninguém vai ser mandado pra casa, vão todos serem "remanejados", jargão usado no meio burocrático.

    A expressão "Coup d? Etat" (Golpe de Estado), um galicismo que transpôs fronteiras e, nesse caso especifico veste como uma luva, pois está havendo mudança (oculta, Lula volta a dar as cartas) de direção do Estado sem alteração do rumo político. Trocam-se as pessoas que titularizam o poder, mas efetivamente nada muda, nos ministérios trocam-se seus titulares, mas tudo continua como dantes no castelo de abrantes. Quem já é parte do poder avança sobre outras áreas.

    É um verdadeiro golpe de Estado, pois todos se apresentam como redentores da pátria e guardiões contra inimigos interno ou externo.

    FORA DILMA !!! FORA PT !!! FORA FORO DE SÃO PAULO !!!

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