Risco país do Brasil dispara e retorna a níveis de 2009
O risco país do Brasil, medido pelo indicador CDS – instrumento financeiro que funciona como um seguro contra calote -, atingiu 400 pontos nesta sexta-feira, o maior nível desde 9 de março de 2009, quando chegou a 410 pontos. Naquela época, o mundo vivia os desdobramentos da crise hipotecária americana e a alta do risco país era um reflexo do temor que se espalhou pelos mercados financeiros globais. Agora a disparada do indicador está ligado à perda do grau de investimento na avaliação da agência Standard & Poor’s. Entre quarta-feira, dia em que o país foi rebaixado pela S&P, e quinta, o Credit Default Swap passou de 372 pontos para 390,5 pontos. Os números foram repassados à reportagem pela consultoria Tendências.
Com o resultado desta sexta, o risco país do Brasil supera o de países que também não têm grau de investimento. A Rússia, que também tem nota “BB+” na S&P, terminou o dia com 367 pontos. Na máxima do ano, em 30 de janeiro, ficou em 630 pontos. A Rússia perdeu o grau de investimento em janeiro deste ano, depois de permanecer com o selo de boa pagadora por dez anos. Conflitos com a Ucrânia e sanções por parte do Ocidente enfraqueceram a economia do país e ajudaram a deteriorar sua política monetária. No entanto, a Rússia mantém o grau de investimento pela Fitch, embora no último nível (BBB-). Pela Moody’s, a nota russa é Ba1, o nível mais alto do grau especulativo.
O prêmio de risco do Brasil também terminou acima de Indonésia e Turquia, outros dois países que também já perderam o grau de investimento na avaliação da S&P. Ambos têm nota de crédito “BB+”. O CDS da Turquia fechou esta sexta em 293,25 pontos, e o da Indonésia, em 245 pontos. Ambos os países tiveram sua história recente marcada por turbulências políticas e sociais. Na escala da S&P, a Turquia perdeu o grau de investimento em 1994 e a Indonésia, em 1997.
Brasil, Turquia e Indonésia também têm a mesma avaliação pela Moody’s (Baa3, um nível acima do grau especulativo). No caso da Fitch, a nota da Turquia e da Indonésia é BBB-, no último nível do grau de investimento. Já o rating do Brasil é BBB, dois níveis acima do grau especulativo. Além disso, os três países fazem parte, ao lado de África do Sul e Índia, dos “cinco frágeis”, termo cunhado pelo banco Morgan Stanley para economias emergentes fortemente dependentes de investimento estrangeiro.
Mercadante vai ficando, Dilma vai saindo, o empresariado vai desembarcando, até Lula está fugindo… (por REINALDO AZEVEDO)
Se a presidente Dilma Rousseff não sabe, informo. O clima é de desembarque. Não importa para onde se olhe. Recente nota-manifesto assinada pela Fiesp e pela Firjan traduziu o que anda pensando o empresariado. Lideranças de outros setores da economia já buscam interlocuções de olho no pós-impeachment. Se a situação já era muito difícil antes de a Standard & Poor’s pôr o guizo no pescoço do gato, piorou bastante agora. Ninguém vê saída para a presidente — e isso inclui os petistas.
Não sei se notam, mas o próprio Lula começa a buscar um lugarzinho no pós-Dilma. É ele, não outro, quem está por trás de uma tal Frente Brasil Popular, que busca resistir ao governo pela esquerda.
Por enquanto, somos governados pela paralisia. O Planalto ainda não fez anúncio de corte nenhum nem deixou claro quem pretende tungar para aumentar a receita. Seus cinco milhões de coordenadores políticos anunciaram para esta sexta um esboço ao menos de resposta para a crise terminal, mas não veio nada. Estamos falando de uma gente que se especializou em dar tiro no próprio pé. Em vez disso, o dia foi tomado pela negativa enfática de que Aloizio Mercadante vá deixar a Casa Civil, embora Dilma busque alguém para a… Casa Civil.
Conforme o esperado, conforme o sabido, conforme o óbvio, o PT não quer entregar a pasta. Ficará feliz se ela sair das mãos de Mercadante, que é, primeiro, mercadantista e, secundariamente, petista. O partido insiste em manter o ministério que, em tese, ao menos, faz a coordenação geral do governo. Estamos diante de uma natureza. Ainda que sob o risco de perder tudo, a legenda não aceita abrir mão de um pedaço. E, assim, Dilma vai caminhando para o abismo.
Não sei se há tempo, a esta altura, de fazer alguma coisa. A presidente conta em seus quadros com políticos com mais trânsito do que as pastas às quais estão confinados. Há Gilberto Kassab (Cidades), do PSD, um bom articulador. O problema, nesse caso, são as resistências que enfrentaria em alas do PMDB.
Há Kátia Abreu (Agricultura), peemedebista ainda recente, é verdade, mas com abrangência suprapartidária em razão de ser também uma liderança do único setor da economia que não está no vermelho — o agronegócio. Até Aldo Rebelo (Ciência e Tecnologia), do PCdoB, seria uma alternativa para tentar ampliar o diálogo. E, quando escrevo, “até”, refiro-me ao fato de que seu partido é pequeno. Sua interlocução no Congresso, no entanto, é bem maior. Afinal, já presidiu a Câmara.
Mas não tem jeito. O PT insiste em ter o controle da máquina — máquina sabidamente desgovernada, que atira para todo lado. O petista Jaques Wagner (Defesa), em razão de sua fala fácil, aparecia como cotado para a função, mas se desmoralizou com o episódio do decreto que tentou destituir os comandantes militares de atribuições… militares! A porcaria foi redigida por sua secretária-executiva sem que ele soubesse. A tal continua no cargo. Não me parece que isso o credencie para a Casa Civil.
O governo chegou a emitir nesta sexta uma nota negando que Mercadante vá deixar o cargo, destacando, adicionalmente, seus relevantes serviços ao governo. Soou como piada nos meios políticos porque se sabe que não há serviço relevante nenhum.
Encerro com um trecho da minha coluna de ontem na Folha:
“Algum entendimento terá de ser feito para convencer a sociedade de sacrifícios adicionais, além daqueles que já estão em curso. Ou é isso, ou vem por aí uma espiral negativa de longuíssima duração. E a arena desse pensamento não é o Ministério da Fazenda. A Joaquim Levy, ou a outro, entregar-se-á uma máquina de calcular números. A realidade exige alguém que seja bom no cálculo político.
Ocorre que isso não se faz sem uma relação de confiança, que não existe mais. É preciso saber identificar o momento em que todos os bares se fecham e as virtudes se negam. Tá bom, presidente! Eu a deixo com o seu Riobaldo. Mas com um outro –aquele que cobra da senhora é coragem.”
Por Reinaldo Azevedo
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