Prévia da inflação oficial é a mais alta para agosto desde 2004, diz IBGE
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) teve variação de 0,43% em agosto e ficou 0,16 ponto percentual (p.p.) abaixo da taxa de 0,59% de julho. Em relação aos meses de agosto, consistiu no índice mais elevado desde 2004, quando foi registrado 0,79%. O acumulado do IPCA-15 neste ano situa-se em 7,36%, acima do resultado dos 4,32% do mesmo período do ano anterior. No acumulado dos últimos 12 meses, o índice foi para 9,57%, acima dos 12 meses imediatamente anteriores (9,25%). Constitui-se no mais elevado resultado em 12 meses desde dezembro de 2003 (9,86%). Em agosto de 2014, o IPCA-15 havia sido 0,14%. Os dados completos do IPCA-15 podem ser acessados aqui.
O grupo Transportes, com queda de 0,46%, foi um dos responsáveis pelo recuo do índice, detendo menos 0,08 p.p. de impacto no IPCA-15 do mês. As passagens aéreas (-25,06%), o automóvel novo (-0,41%), oautomóvel usado (-1,20%), além do etanol (-0,77%) fizeram com que o grupo dos Transportes (-0,46%)ficasse com o menor resultado do mês.
O grupo Alimentação e Bebidas, que apresentou resultado de 0,45%, menor que a variação de 0,64% do mês anterior, também contribuiu para a desaceleração da taxa do IPCA-15 de agosto. Vários alimentos ficaram mais baratos de um mês para o outro, com destaque para: batata-inglesa (-9,51%), açaí (-8,51%), tomate(-6,67%), feijão-preto (-4,30%), feijão-fradinho (-4,26%), feijão-carioca (-1,48%) e óleo de soja (-1,14%). Outros continuaram em alta, a exemplo do leite longa vida (3,05%), da refeição fora (0,88%) e das carnes(0,87%).
Neste mês, a energia elétrica ficou, novamente, com a liderança dos principais impactos, detendo 0,10 p.p. e aumento de 2,60%. Isto ocorreu sob influência das variações nas contas das regiões metropolitanas de São Paulo (7,43%), com reajuste de 17,00% aplicado nas tarifas de uma das empresas de abastecimento a partir do dia 04 de julho; Curitiba (5,03%), refletindo o restante do reajuste de 14,39%, em vigência desde 24 de junho e Belém (0,42%), com reajuste de 7,47% em 07 de agosto. Assim, o aumento da energia, aliado a outros itens, levou as despesas com Habitação (1,02%) ao mais elevado resultado de grupo no mês.
Nesse grupo houve ainda pressão da taxa de água e esgoto (1,39%), dos serviços de mão de obra para pequenos reparos (0,82%), do condomínio (0,72%) e do aluguel residencial (0,39%).
A taxa de água e esgoto (1,39%) foi influenciada pelas variações nas regiões metropolitanas do Rio de Janeiro (4,33%), onde ocorreu reajuste de 9,98% em 01 de agosto, de Porto Alegre (2,11%) com reajuste de 7,60% em vigor desde 01 de julho, de Recife (0,80%) com reajuste de 3,51% desde o dia 20 de junho, além deGoiânia (10,73%), com reajuste médio de 20,00% em vigor desde o dia 01 de julho.
Os itens empregado doméstico (0,54%) e serviço bancário (2,14%) foram os destaques no grupo dasDespesas Pessoais (0,73%). Quanto à Educação, a alta de 0,78% refletiu o resultado apurado na coleta realizada no mês de agosto, a fim de captar a realidade do segundo semestre do ano letivo. Os cursos regulares tiveram variação de 0,78%, enquanto os cursos diversos (informática, idioma etc.) apresentaram alta de 1,64%.
As mensalidades de plano de saúde (1,08%) e os artigos de higiene pessoal (1,44%) exerceram pressão sobre o grupo Saúde e Cuidados Pessoais (0,83%). Já nos Artigos de Residência (0,73%) se destacaram os itens TV, som e informática (1,92%) e mobiliário (0,95%).
Dentre os índices regionais o maior foi o de Goiânia (0,84%), influenciado pela alta da gasolina (4,50%) e do etanol, cujo preço do litro ficou 15,56% mais caro. A taxa de água e esgoto (10,73%), que refletiu o reajuste médio de 20,00% em vigor desde o dia 01 de julho, também pressionou o resultado. Os menores índices foram registrados em Belém (0,09%) e Brasília (0,09%). Em Belém os alimentos consumidos em casaapresentaram queda de 0,41%. Em Brasília, as passagens aéreas, com peso de 1,72% e variação de -23,40%, geraram impacto de -0,40 p.p. no resultado do mês.
Em O GLOBO: Desemprego em alta pode ser duradouro, dizem economistas
Expectativa é que o país encerre o ano com 1 milhão de vagas formais a menos do que começou
O início do segundo semestre é, tradicionalmente, o momento de recuo dos índices de desemprego, mesmo em anos difíceis. Em 2009, quando a economia sentia os efeitos da crise financeira global, a taxa chegou a 8,9% em abril, mas começou a cair em maio e encerrou o ano em 6,8%. Em 2003, o indicador subiu por seis meses seguidos, atingiu 13% em junho, para recuar levemente em julho e fechar o mês de dezembro em 10,9%. Em 2015, contudo, o país vive um momento sem precedentes, dizem economistas. E, ao invés de cair, neste semestre o desemprego pode continuar subindo.
— A curva (do gráfico) está completamente fora do padrão. O comportamento neste ano já está diferente dos outros e, provavelmente, vai continuar diferente. Pelo que a gente está olhando, é possível que ainda tenha crescimento do desemprego nos próximos meses — afirma João Saboia, professor do Instituto de Economia da UFRJ e especialista em mercado de trabalho.
José Márcio Camargo, economista da Opus Gestão de Recursos e professor de Economia da PUC-Rio, acredita que, mesmo no período de preparação para o Natal — em que o desemprego é reduzido por causa das vagas temporárias —, a taxa deve aumentar e encerrar 2015 entre 8% e 8,5%. No fim de 2016, o especialista estima que a desocupação afete 12% da força de trabalho:
— Nós não vamos ter mais taxa de desemprego em torno de 4% no futuro próximo se quisermos manter a taxa de inflação baixa e equilíbrio externo, que é o que faz a economia crescer próximo de 3%, 4%. Caso contrário, a economia vai desequilibrar. Estamos pagando pelo desequilíbrio do governo.
O cenário pessimista também é traçado pelo economista Rodrigo Miyamoto, do Itaú Unibanco. Ele prevê que o desemprego suba a 8% no fim deste ano e atinja, em 2016, a marca de 9,3%. E destaca o efeito da sequência de taxas negativas sobre a confiança na economia.
— De uma forma geral, essas altas consecutivas têm um impacto na confiança. Ainda mais partindo de uma tendência de queda que vinha se mantendo nos últimos anos. Isso deve preocupar os brasileiros — prevê.
Gabriel Ulyssea, pesquisador do Ipea e professor da PUC-Rio, discorda das previsões. Ele destaca que a taxa sempre aumenta no primeiro trimestre, mas este ano subiu também no segundo em ritmo maior que o normal. Mas esse movimento, acredita, não se repetirá no segundo semestre “pelos fatores sazonais”:
— Acho que não vai subir nesse ritmo galopante. Cair é difícil, é um exercício de chute, mas será bom se ela estabilizar e parar de crescer.
DEMISSÕES E MAIOR PROCURA POR VAGA
O desemprego em julho foi influenciado não só pelo aumento das demissões, mas também pela maior procura por emprego. A queda da renda, de 2,4% ante julho do ano passado, para R$ 2.170,70, colocou mais gente na briga por uma vaga. A população economicamente ativa — que engloba os empregados e os que estão em busca de vagas — cresceu 1,9% frente a 2014, somando 24,6 milhões de pessoas. Já aqueles que não estão trabalhando, nem à procura de trabalho são 19,3 milhões, um patamar quase estável frente a 2014. Significa que os que antes preferiam ficar em casa decidiram buscar emprego, sem sucesso.
— As pessoas estão buscando repor o orçamento familiar. Cada vez mais gente procurando, a concorrência está aumentando, e, na contramão, as vagas disponíveis estão diminuindo — explica o pesquisador Rodrigo Leandro de Moura, do Instituto Brasileiro de Economia da FGV.
Entre os que encontram as portas do mercado de trabalho fechadas está Carla Moreira, de 26 anos. Após oito anos procurando emprego com carteira assinada, a jovem conseguiu uma vaga de operadora de caixa num hipermercado. A experiência durou só dois meses, até ela ser demitida.
'TEM QUE TER EXPERIÊNCIA'
Carla passou os últimos dois anos parada, investindo em cursos gratuitos e cuidando dos três filhos. Sua qualificação inclui um curso de formação de professores e um diploma técnico em contabilidade. Ela chegou a ouvir numa agência de empregos que “não adianta ter curso, tem que ter experiência”.
— Hoje não dá para escolher. Vou para o primeiro que tiver uma vaga — disse ela ontem, enquanto engordava a fila para o atendimento em uma agência do Sistema Nacional de Empregos (Sine), no Rio.
Para o azar de Carla, a expectativa é que o país encerre o ano com 1 milhão de vagas formais a menos do que começou. Saboia, da UFRJ, detalha que as demissões estão mais fortes na indústria e na construção civil, nos quais a ocupação caiu 4% e 5,2%, respectivamente, frente a julho de 2014. Mas, na média, o total de pessoas empregadas caiu 0,9%.
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