“Depois da tempestade vem o tufão”, por CARLOS BRICKMANN + De ‘marolinhas’ e ‘crisezinhas’, por ELIANE CANTANHEDE

Publicado em 23/07/2015 19:16
EM VEJA.COM.BR + O GLOBO + ESTADÃO

“Depois da tempestade vem o tufão” e outras quatro notas de Carlos Brickmann

Publicado na coluna de Carlos Brickmann

O Congresso, onde a presidente apanhou que nem genta granda neste semestre, entrou em férias. A crise foi embora? Não: a crise está no ar, mas com os pés solidamente plantados no chão. Lula, o primeiro-companheiro deste governo, está sendo investigado pelo Ministério Público, por suspeita de relações estranhas com empreiteiras. O Tribunal Superior Eleitoral examina a possibilidade de que a campanha de Dilma tenha recebido recursos desviados da Petrobras (neste caso, o registro da chapa Dilma-Temer é cassado, e caem ambos). O Tribunal de Contas da União estuda as contas do Governo Dilma, e há quem defenda sua rejeição, por conta das pedaladas fiscais. Os presidentes da Câmara e do Senado são investigados, há uma imensa bancada parlamentar na mira do Ministério Público e da Polícia Federal, há grandes empresários sob suspeita, ou já condenados. E, em menos de duas semanas, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, promete detonar mais duas bombas: a CPI do BNDES e a dos Fundos de Pensão.

Dilma cai? Pode ser; depende de como a situação evoluir. Uma data decisiva será o domingo, 16 de agosto, dia marcado para as marchas Fora, Dilma. Muita gente nas ruas enfraquecerá a presidente. Se houver pouca gente, ela se fortalece. Mas, de qualquer modo, Dilma é frágil: a avaliação de seu governo, segundo a pesquisa CNT-MDA, divulgada pela Agência Brasil, estatal, continua caindo – de 10,8% para 7,7%, em julho. E 55,5% acreditam que a situação vai piorar.

Dilma Rousseff, quem diria!, tem índice de apoio inferior à inflação.

 

Poço sem fundo… 

A pesquisa CNT-MDA, divulgada pela estatal Agência Brasil, traz números desastrosos para o governo. Por exemplo, 62,8% dos entrevistados (contra 59,7% em março) são favoráveis ao impeachment de Dilma. Dos pesquisados, 78,3% ouviram falar do Petrolão. Destes, 69,2% acham que a presidente é culpada pela corrupção; e, para 65%, Lula está envolvido no escândalo. O maior culpado na Operação Lava Jato, para 40,4% dos entrevistados, é o governo; depois, partidos (34,4%), diretores ou funcionários da Petrobras (14,2%) e empreiteiras (3,5%). 

Ou seja, 89% dos eleitores ouvidos culpam o governo pelo Petrolão. 

…com terra em cima

E o efeito disso tudo nos índices de intenção de voto? Se as eleições fossem hoje, Aécio teria 35,1% no primeiro turno, vencendo Lula (22,8%) e Marina (15,6%). No segundo turno, Aécio venceria com 49,6%, contra 28,5% de Lula. Em outros dois cenários, Lula estaria à frente de Serra ou de Alckmin no primeiro turno, mas perderia no segundo: Serra teria 40,3% contra 31,8% de Lula, e Alckmin o venceria por 39,9% contra 32,3%. 

Claro que a eleição não é hoje, e de agora até 2018 há muita coisa para acontecer ─ inclusive a campanha eleitoral. Mas os resultados da pesquisa mostram que Lula recebeu cartão amarelo.

Dia de fúria

Atenção: o prazo concedido pelo Tribunal de Contas da União para Dilma explicar as manobras fiscais conhecidas como “pedaladas” termina hoje. Caso as respostas não sejam dadas, ou o TCU as considere insatisfatórias, há a possibilidade de reprovação das contas da presidente. Se o Congresso aceitar o parecer do TCU pela rejeição das contas, estará aberto o caminho para que a presidente seja afastada do cargo. 

Há muito caminho até lá, entretanto: o TCU pode conceder novo prazo ao governo, o Congresso pode adiar o exame das contas ou, mesmo que o TCU as rejeite, decidir aprová-las. Mas com a queda de popularidade da presidente e boa parte do eleitorado favorável ao impeachment, Dilma pode ficar em situação ainda pior do que hoje. 

O que se discute: o governo determinou a bancos públicos que cobrissem despesas com programas sociais, para repasse posterior dos recursos. Há quem considere que assim se configurou um empréstimo dos bancos públicos ao Governo que os controla, o que é proibido pela Lei de Responsabilidade Fiscal. O governo diz que não houve empréstimo e que esse tipo de providência foi adotado por administrações anteriores, sem problemas.

Os gregos já sabiam

A origem das tragédias, ensinavam os sábios de Atenas, era a Húbris: o orgulho desmedido, a soberba que ultrapassava os limites. Isso provocava a vingança dos deuses: a Nêmesis, o divino ciúme. E, muitas vezes, os deuses lançavam sobre a pessoa que ignorava os limites a Ate, que a deixava cega para a razão e a levava a agir emocionalmente, sem medir consequências, até destruir-se sozinha.

Eduardo Cunha tomou a presidência da Câmara contra o governo, impôs-se como principal líder da oposição, desgastou imensamente a presidente Dilma. E acabou achando que podia tudo. Não era verdade: não podia intimidar a máquina do Ministério Público e do Judiciário. E não podia romper oficialmente com o governo: seus colegas de PMDB (e também os do baixo clero, o segundo time da Câmara) gostaram de brincar de oposição, mas abandonar os cargos públicos é excessivo para eles.

Nêmesis foi o isolamento político, que ele ainda pode romper. Mas esquecer que está sendo investigado e agir como se nada lhe pesasse nos ombros pode cegá-lo para a razão. Cunha é forte tendo o PMDB, o baixo clero, Renan Calheiros e Michel Temer. 

Sozinho, ele é apenas Eduardo Cunha.

Eliane Cantanhêde: De ‘marolinhas’ e ‘crisezinhas’

Publicado em O Estado de S. Paulo

ELIANE CANTANHÊDE

O momento brasileiro não tem graça nenhuma e o vice-presidente Michel Temer, sempre tão sóbrio, foi no mínimo infeliz ao imitar o ex-presidente Lula, sempre tão boquirroto, e dizer que toda essa baita confusão não passa de uma “crisezinha”. A ebulição política não é só uma “crisezinha”, tanto quanto o tsunami econômico internacional de 2008 não foi só “marolinha”.

A “marolinha” de Lula pegou os Estados Unidos, a Europa de jeito e o mundo inteiro de jeito, virou o que virou e até hoje é pretexto, inclusive, para a desordem econômica herdada do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff. Até o presidente do Supremo Tribunal Federal caiu nessa, ou prefere cair nessa.

Quanto à “crisezinha” de Temer: o rompimento declarado do deputado Eduardo Cunha com o governo acentua o clima de guerra entre a Câmara e o Planalto e aumenta a desconfiança mútua entre o PMDB de Temer e o PT de Dilma. Fosse só uma “crisezinha”, o Planalto não estaria de prontidão, menos para atacar, mais para se defender.

Nesse tiroteio, com bala perdida para todos os lados, a Lava Jato segue seu rumo, não propriamente a jato, mas no tempo certo, e cria uma cena inédita na vida nacional: os atingidos não são pobres coitados de favelas e periferias, mas ricos e poderosos encastelados nas grandes empreiteiras. Se o mensalão meteu os corruptos na cadeia, o petrolão chega na outra ponta: a dos corruptores.

A Justiça acaba de condenar três mandachuvas da Camargo Corrêa e a Polícia Federal está indiciando o dono da Odebrecht, nada mais nada menos que a maior empreiteira do País. Vocês lembram de algo parecido? E não vai parar por aí, porque a fila é grande e a Lava Jato entrou na fase do “anda rápido que atrás vem gente”. Depois dos empreiteiros, diretores da Petrobrás e doleiros, está chegando a vez dos políticos.

Eduardo Cunha pode espernear à vontade, mas ele não vai escapar tão fácil das investigações – e não está sozinho. Além dos colegas do PMDB, inclusive o presidente do Senado, Renan Calheiros, a Lava Jato atinge praticamente todo o PP, aliados governistas do PT e de vários partidos e até gente da oposição. Logo, vice Temer, é até de mau gosto falar em “crisezinha”.

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A crise concreta

votorantim

A Votorantim demite

Votorantim Cimentos, que no ano passado faturou 12,9 bilhões de reais, resolveu fechar temporariamente sua fábrica de cimento em Ribeirão Grande (SP). Com a decisão, mandou embora 128 funcionários.

Por Lauro Jardim

 

Mal comparando

Chile, México, Peru e Colômbia estão reduzindo suas taxas de juros para turbinar o crescimento. Já no Brasil...

por Carlos Alberto Sardenberg, em O Globo

 

 

O que os japoneses já consideram como um dos maiores escândalos corporativos de sua história foi um tipo de pedalada contábil da Toshiba. Manipulando receitas e despesas de um ano para outro, a diretoria gerou lucros, digamos, falsos no valor de US$ 1,2 bilhão, ao longo de sete anos. 

Só perde, lá no Japão, para o escândalo da Olympus, que escondeu um prejuízo de US$ 1,7 bilhão por vários anos. 

A Petrobras, no seu último balanço, estimou perdas de R$ 6,2 bilhões, ou US$ 2 bilhões, só com a corrupção apanhada pela Lava-Jato até o final do ano passado. E olha que foi um cálculo “conservador”, na expressão do presidente da estatal, Aldemir Bendine.

Eis a comparação: contando o que se sabe até agora, de maneira conservadora, a corrupção na Petrobras já supera os dois maiores escândalos corporativos da economia japonesa — que é, por sinal, duas vezes e meia maior que a brasileira.

Mas tem mais: no mesmo balanço, a Petrobras fez uma baixa contábil de R$ 44 bilhões (14,2 bilhões de dólares). Ativos estavam excessivamente valorizados, especialmente a Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, e o Complexo Petroquímico do Rio, dois principais alvos dos ataques do pessoal da Lava-Jato.

Tudo somado, baixas admitidas de US$ 16,2 bilhões, oito vezes maior que o maior escândalo japonês.

Quando a operação começou, ninguém podia imaginar o seu tamanho. Ninguém exceto os envolvidos. Pois um deles, um alto executivo, no dia das primeiras prisões, respondeu assim quando lhe perguntaram se aquilo era mesmo coisa séria: “É o maior escândalo corporativo da economia mundial".

Brasil!

Tem mais: os diretores da Toshiba não estão sendo acusados de corrupção. Talvez tenham recebido uns trocados a mais por conta de bônus pelos bons resultados forjados. Mas não meteram a mão no dinheiro da companhia nem do governo.

O agora ex-presidente da Toshiba Hisao Tanaka negou que tenha instruído seu pessoal a fraudar a contabilidade. Mas aceitou os resultados da auditoria, pela qual ele pelo menos sabia que os lucros estavam superestimados. Renunciou e, diante das câmeras, fez uma reverência de 15 segundos.

Tem muita delação premiada por aqui. Mas o presidente da estatal no período em que os roubos ocorreram, José Sérgio Gabrielli, nega qualquer responsabilidade e afirma que tudo não passou de mal feito de alguns funcionários.

Lula, em cuja gestão ocorreram os roubos e os, digamos, desvios de gestão, com os ativos superestimados, vai pelo mesmo caminho. Foi Lula quem mandou a Petrobras multiplicar de maneira perigosa os seus investimentos.

E a presidente Dilma Rousseff, que foi presidente do Conselho da Petrobras quando ocorria o escândalo, também não sabia de nada.

Tudo bem?

Gabrielli, Lula e Dilma não são investigados. Mesmo que nunca venham a ser, não seria apropriado ao menos um pedido de desculpas? Afinal, deixaram uma Petrobras roubada e quase destruída.

Tudo isso para dizer que esse escândalo tem um lado positivo: escancarou práticas de governo e empresariais que constituem o pior do capitalismo. Roubam o contribuinte e os acionistas das empresas estatais e privadas, tornam ineficientes os investimentos públicos e privados, concentram renda e atrasam a economia.

Vejam o estado em que se encontra toda a cadeia da indústria do petróleo. Montada sobre uma ficção — a de que já estávamos ricos — e construída na base de protecionismo do Estado e corrupção, está hoje em pedaços. Desperdiçou um precioso capital e não tem a menor competitividade na economia global.

Pelo pior caminho, estamos vendo que quanto mais o Estado se mete na vida das pessoas, da economia e do país, menos eficiente o capitalismo e mais fácil a roubalheira.

Está na hora de se tirar outra coisa boa dessa história, à japonesa: os executivos, do governo e das empresas privadas, são sempre responsáveis pelos roubos e equívocos. Ou porque sabiam ou porque não sabiam. No primeiro caso, o peso da lei. No segundo, a força da ética. Não digo harakiri, mas pelo menos 15 segundos curvados.

Executivos da responsáveis pela usina de Fukushima se curvam como pedido de desculpas (Foto: Reuters)Executivos da responsáveis pela usina de Fukushima se curvam como pedido de desculpas (Foto: Reuters)
por Carlos Alberto Sardenberg, em O Globo
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Fonte:
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