Bovespa fecha em queda de 2% após corte de metas fiscais
Por Paula Arend Laier
SÃO PAULO(Reuters) - O principal índice da Bovespa fechou em queda de mais de 2 por cento nesta quinta-feira e zerou os ganhos em 2015 em reais, pressionado particularmente por ações de bancos, após o governo anunciar cortes drásticos de metas fiscais e elevar apostas na piora da avaliação de risco do país.
O Ibovespa caiu 2,18 por cento, a 49.807 pontos. Foi o quinto recuo consecutivo e a maior queda percentual diária em quase dois meses, o que levou o índice para o menor nível desde meados de março.
O desempenho na sessão também deixou o Ibovespa no vermelho no acumulado do ano, com declínio de 0,40 por cento. Em dólar, contudo, o índice já estava no negativo em boa parte no ano. Nesta quinta-feira, a perda em dólares acumulada no ano chegava a quase 20 por cento.
O giro financeiro do pregão totalizou 7,3 bilhões de reais.
O governo brasileiro anunciou no final da quarta-feira redução das metas de superávit primário neste e nos próximos dois anos, também abrindo a possibilidade de gerar novo déficit primário em 2015.
A meta para a economia feita pelo governo para o pagamento de juros da dívida pública caiu para 8,747 bilhões de reais, ou 0,15 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) este ano, contra 66,3 bilhões de reais, ou 1,1 por cento do PIB anteriormente.
"A probabilidade de a nota de crédito soberano do Brasil cair para o grau especulativo aumentou", disse em nota a clientes o ex-diretor do Banco Central Mario Mesquita, que agora comanda a área de economia do banco Brasil Plural.
Em nota a clientes, a gestora Icatu Vanguarda disse que "o Brasil passa pelo o que ficou cunhado por 'tempestade perfeita'".
Entre os fatores listados para tal cenário, a gestora de recursos apontou perspectivas de crescimento "pífias", inflação resiliente e ajuste fiscal que se mostra insuficiente para estabilizar a relação dívida/PIB, além do ambiente político com o governo fragilizado e com a operação Lava Jato avançando sobre os principais políticos e empresários do país.
"Crescimento baixo, inflação alta, deterioração do mercado de trabalho, aperto monetário, fiscal e creditício, não costuma ser uma receita positiva para o setor corporativo", disse a Icatu Vanguarda em nota a clientes.
DESTAQUES
=BRADESCO e ITAÚ UNIBANCO despencaram mais de 4 por cento, afetados pela apreensão acerca do efeito dos cortes nas metas fiscais para o rating do país. A avaliação de que o setor bancário está com múltiplos em níveis elevados, combinado com preocupações sobre inadimplência e qualidade do crédito, reforçava a pressão de baixa antes da temporada de balanços do segundo trimestre, apesar de expectativas ainda favoráveis sobre margens. No caso de Itaú, o Barclays cortou o preço-alvo de 39 para 35,50 reais, com recomendação "equal weight". BANCO DO BRASIL caiu 1,58 por cento e SANTANDER BRASIL desabou 3,82 por cento.
=CIELO e BB SEGURIDADE caíram 3,31 e 4,67 por cento, respectivamente, reforçando a pressão negativa no Ibovespa. Os papéis figuram em vários portfólios recomendados de ações dada a resiliência ao cenário macroeconômico fraco, entre outros fatores, mas sofreram nesta sessão por serem uma das portas de saída do mercado acionário, por terem elevada liquidez.
=KROTON EDUCACIONAL e ESTÁCIO PARTICPAÇÕES recuaram 5,25 e 5,77 por cento, com as mudanças no plano fiscal esfriando expectativas acerca de eventual melhora na oferta dos programas de financiamento à educação. De acordo com um analista do setor de educação, os papéis dessas empresas também haviam estabilizado recentemente, após forte volatilidade nos primeiros meses do ano, e atraído de volta alguns investidores, que estão preferindo sair de suas posições em meio às incertezas do lado fiscal.
=PETROBRAS mostrou volatilidade e terminou com as preferenciais em queda de 1,83 por cento, em meio à fraqueza dos preços do petróleo, com investidores também na expectativa de reunião do Conselho de Administração na sexta-feira. O conselheiro representante dos funcionários na companhia, Deyvid Bacelar, disse que a reunião irá deliberar sobre a reestruturação da subsidiária Transportadora Associada de Gás (TAG).
=VALE destoou da tendência e fechou com as preferenciais em alta de quase 1 por cento, apesar da fraqueza do minério de ferro na China, após a companhia divulgar produção de 85,3 milhões de toneladas de minério de ferro entre abril e junho deste ano. O desempenho marcou a melhor performance de extração para um segundo trimestre e a segunda maior produção trimestral da história da Vale. A alta do dólar atuou como suporte adicional.
=FIBRIA saltou 3,69 por cento, em meio à forte alta do dólar ante o real e após a divulgação do resultado do segundo trimestre, que mostrou Ebitda ajustado recorde, em linha com o esperado. Em teleconferência, a produtora de celulose de eucalipto afirmou ainda está conseguindo volumes de venda acima do esperado em julho e que conseguiu implementar aumento de preços do insumo anunciado no mês anterior. A rival SUZANO PAPEL E CELULOSE fechou em alta de 4,38 por cento. O setor ainda foi beneficiado por dados sobre estoques e embarques de celulose de fibra curta. [nE6N0ZC05I
=KLABIN avançou 3,08 por cento, após a fabricante de papéis para embalagens reportar alta anual de 21 por cento no lucro líquido do segundo trimestre, superando estimativas de analistas. "Embora os mercados de papel e embalagens domésticas tenham continuado a se enfraquecer em 2015, vemos os resultados como positivos para a Klabin, conforme a empresa continua a apresentar resultados resilientes e maiores", disse o Credit Suisse em nota a clientes.
=NATURA caiu 1,1 por cento, em meio à repercussão de números do segundo trimestre que mostraram queda de quase 34 por cento no lucro líquido e foram considerados de modo geral fracos por analistas. Informações da teleconferência da empresa, entre elas a de que a companhia obteve a primeira decisão judicial favorável em questionamento contra o IPI sobre cosméticos, chegaram a influenciar uma breve alta do papel pela manhã.
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