Governo Dilma pode estar mesmo próximo de um fim antecipado, escreve GERALDO SAMOR
No olho do furacão: o pós-Dilma e o Governo Michel Temer (por Geraldo Samor)
Por qualquer medida das notícias que saem de Brasilia ou Curitiba, a crise política brasileira está entrando no olho do furacão.
O ato de desespero de Eduardo Cunha — delatado no mesmo enredo que envolveu o PT — acelerou a crise mas é um capítulo à parte; e, em algumas semanas, seu destino pessoal poderá ser apenas uma nota de rodapé em meio a uma transformação sísmica na paisagem política brasileira.
O melhor cálculo político hoje — aquele feito sem a paixão das torcidas — sugere que o Governo Dilma pode estar mesmo próximo de um fim antecipado.
Mas em vez do final dramático, palpitante e cheio de adrenalina em que a Presidente seria enfim implicada na Lava Jato (o roteiro com que sonham muitos eleitores da oposição), o fim poderia vir com a decisão fria, técnica e racional do TCU, ao decidir que a chefe do Executivo cometeu um crime ao violar a Lei de Responsabilidade Fiscal.
Na sexta-feira, o esfarelamento do quadro político e a consequente diminuição da capacidade preditiva de qualquer observador levaram o dólar, juros e a Bolsa a começar a botar a incerteza no preço.
“Está caindo a ficha de que mais instabilidade é ruim para a economia e por sua vez para as empresas,” diz um operador em um grande fundo nacional. “E, nessa discussão, o [investidor] gringo tende a vender mais do que o local, que, por sua vez, pode até enxergar uma oportunidade de mudança positiva.”
Em outras palavras: para o capital, não importa se um Cunha vai para a cadeia antes de um Dirceu. O dinheiro quer saber é se as instituições funcionam. (Sorry if you disagree.)
Não há pânico nos mercados até agora, e os volumes negociados seguem baixos, em parte graças às férias de verão no hemisfério norte e também à espera do Fed, um banco central que fica cantarolando: ‘vou apertar, mas não vou acender agora.’
Mas se alguns investidores começam a se permitir imaginar o Brasil pós-Dilma, pós-PT, a dúvida é: que Governo teríamos então?
Pouco se sabe sobre Michel Temer, sua visão (orgânica?) de república, suas ideias sobre o tamanho do Estado e as liberdades individuais. Nos últimos 20 anos, enquanto convidado frequente de programas de entrevistas, o atual No. 2 sempre foi mais solicitado a comentar ‘como funciona’ a política do que o que ele quer para a Nação.
É certo que o vice-presidente é um homem cordial, de temperamento construtivo e com amplo tráfego entre as camadas mais estratosféricas do País, mas não possui carisma nem conteúdo programático que o credencie como intérprete da vontade popular por mudança — antes um sussurro tímido, em seguida um lamento, e finalmente um grito que demanda ser ouvido.
Sobre Temer, um pilar do PMDB, só se pode dar de barato que se trata de um homem pragmático, que fará as costuras necessárias para viabilizar um Governo que nos leve até 2018.
Tudo vai depender desta costura, e da oposição estar disposta a participar de um ‘governo de coalizão nacional’ que reduziria a pressão das ruas. (Não que os partidos tenham alguma representatividade, mas porque é mais difícil gritar contra o Governo quando TODOS estão nele — todos exceto o PT, que provavelmente já estará, de novo, posando de vestal.)
No proverbial frigir dos ovos, tudo dependeria do PSDB, um partido onde há pelo menos três cálculos politicos distintos: um de Geraldo Alckmin, um de José Serra, e o de Aécio Neves.
Aqui, o cenário-base da coluna: Alckmin quer que Temer assuma, mas não quer o PSDB no Governo. Quer se manter isolado no quadrado da oposição para se viabilizar como o candidato tucano em 2018. Serra quer que Temer fique, e sua recente aproximação com peemedebistas sugere que ele poderia se tornar um superministro num Governo sem personalidade. Aécio quer que Dilma vá e carregue Temer junto, porque é o maior beneficiário de um cenário no qual o País tem que convocar novas eleições em 90 dias.
Mas nem mesmo a costura mais elegante, com o material mais resistente, garante que Temer chegaria ao final do mandato, tendo em vista a recessão que ainda deve se aprofundar e a capacidade do seu partido de ficar com a mão entalada dentro do vidro de biscoito, ou melhor, dentro de algum fundo de pensão. Como se comportará o País quando, com três ou quatro meses de uma presidência Temer, algum peemedebista que não aprendeu nada com Sergio Moro for fotografado pegando um envelope de dinheiro e for parar na capa de VEJA? Talvez a leitura das ruas seja: ‘trocaram o sujo pelo mal lavado.’
O ideal para o País, o resultado à altura do ineditismo dos fatos e das demandas de uma população eletrizada, seriam novas eleições; mas isso vai depender das ruas.
Voltando a Eduardo Cunha, chamam a atenção duas coisas: o desespero do homem que parte para o tudo ou nada — um elemento que, na política e nas usinas nucleares, convém ser isolado — e a desconexão com a realidade em sua, digamos, não-defesa.
No exato momento em que a população exige transparência e honestidade num nível sem precedentes, o homem que, sabe-se lá por que, é frequentemente comparado a um Frank Underwood brasileiro, tenta mudar a narrativa e jogar areia nos olhos do público. O homem que, segundo um delator, disse que era “merecedor de 5 milhões de dólares” estaria, na verdade, sendo perseguido por um Governo incapaz de salvar sua própria pele. “Bom,” diria a Velhinha de Taubaté, “talvez todos os petistas acusados até agora sejam inocentes também.”
Cunha ameaça: “Vou explodir o Governo”, ignorando que é imposível explodir o que já foi pelos ares. Desde quando ‘derrubar’ um governo com 9% de popularidade é demonstração de força? Parafraseando meu colega Josias de Souza, o homem que se imaginava portador de um destino descobriu que era apenas uma fatalidade.
O Brasil está mudando para melhor. Está sendo uma caminhada entrópica e imprevisível, mas claramente na direção correta.
Noves fora o pedágio da volatilidade (e ele é alto), este processo é bullish para Bolsa, câmbio e juros.
Por Geraldo Samor
Inadimplência de empresas em alta: onde foi que escorregamos?
O volume de empresas com dívidas atrasadas registrou um aumento de 5,38% no primeiro semestre de 2015, de acordo com o indicador calculado pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL). No mesmo período do ano passado, a variação foi de 4,86%.
Em junho, o aumento no número de empresas inadimplentes aumentou 8,05% na comparação com o mesmo mês do ano passado, sendo o segundo maior crescimento desde agosto de 2013. Segundo o presidente da CNDL, Honório Pinheiro, o ritmo acelerado do crescimento da inadimplência entre empresas é reflexo da forte deterioração da economia ao longo do ano. “O ajuste monetário que visa a redução da inflação, ainda que importante, tem fortes efeitos sobre o faturamento das empresas e sobre o custo do capital”, diz Pinheiro.
Na comparação com o mês anterior, o indicador se manteve praticamente estável, com variação de 0,09%, mas sucedendo três meses de fortes altas, desde março.
O número de empresas devedoras cresceu em todos os setores, na comparação com junho de 2014. O destaque ficou por conta do setor de Serviços, englobando Bancos e Financeiras, e que, como nos meses anteriores, liderou o avanço da inadimplência, com um crescimento de 12,56%. A segunda maior alta ficou por conta da Indústria, com crescimento 8,71% das empresas devedoras.
Não está fácil para ninguém. Como se pode ver, as trapalhadas do PT têm custado muito caro ao país, e assim deve continuar por um bom tempo. Culpar o “ajuste fiscal” (bem menor do que deveria ser) ou o aumento de juros (necessário para conter a inflação de 9%) é atacar os sintomas, não as causas dos problemas. É olhar para onde caímos, não para onde escorregamos.
Escorregamos na “nova matriz macroeconômica”, idealizada pelos desenvolvimentistas da Unicamp e pelo governo Dilma. Escorregamos na gastança irresponsável do governo Lula já em 2010, para eleger seu “poste”, sua criatura da qual hoje ele quer distância, por oportunismo político. Escorregamos quando um Banco Central subserviente ao Planalto deixou de perseguir a meta de inflação.
Escorregamos, ainda, quando o próprio governo fomentou um endividamento irresponsável na economia, a começar por ele mesmo. Escorregamos quando o governo, por fatores ideológicos, decidiu intervir em vários setores da economia, prejudicando o ambiente para investimentos produtivos.
Escorregamos, em suma, quando colocamos no poder populistas incompetentes e corruptos. Escrevo no coletivo, pois nós, brasileiros, escorregamos todos juntos. Mas a verdade é que muitos não tiveram culpa, foram tragados pelos que viram a miragem no deserto e acreditaram na ilusão de ótica. Agora todos pagam juntos o pato. E o tombo não será pequeno…
Rodrigo Constantino
Dilma confessa o crime de Lula?
Preocupada em absorver os efeitos da derrocada de seu padrinho político, Dilma Rousseff mandou seus ministros saírem em defesa pública de Lula, investigado por tráfico de influência em favor da Odebrecht.
Segundo a Folha, Dilma afirmou, “indignada”, que “todas as autoridades” que entram em sua sala “falam dos interesses de empresas em seus países”.
“No mundo, reis, príncipes, presidentes e ex-presidentes defendem as empresas e interesses nacionais. No Brasil, querem dizer que isso é crime?”, indagou a petista durante reunião de sua coordenação política.
Omitindo que Lula recebia “vantagens econômicas” da Odebrecht enquanto defendia os interesses da empreiteira, não do Brasil, Dilma ataca mais uma vez as leis e instituições do país, repetindo ainda a velha estratégia do PT de justificar seus crimes acusando os outros de fazerem igual, como se dois ou mais supostos erros fizessem um acerto.
Quem “quer dizer que isso é crime”, na verdade, são dois artigos do Código Penal brasileiro, citados no documento do Ministério Público Federal que instaura o procedimento investigatório criminal contra Lula.
A suspeita – relembro - é de “possível ocorrência, entre os anos de 2011 e 2014, de tráfico de influência (arts. 332 e 337-C do Código Penal) na atuação do ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, o qual teria obtido vantagens econômicas da empreiteira Odebrecht, a pretexto de influir em atos praticados por agentes públicos estrangeiros, notadamente dos governos da República Dominicana e de Cuba (neste caso, em relação a obras financiadas pelo BNDES) e por agentes públicos federais brasileiros”.
O artigo 337-C diz que é crime “solicitar, exigir ou obter, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem, a pretexto de influir em ato praticado por funcionário público estrangeiro no exercício de suas funções, relacionado a transação comercial internacional”.
Com a revelação dos telegramas dilplomáticos pelo Globo no domingo, ficou claro que Lula atuava na defesa comercial da empreiteira no exterior, de modo que o foco da investigação agora será apurar se a atividade de lobby também foi remunerada, o que poderá render as quebras de sigilo fiscal, bancário e telefônico de Lula e da Odebrecht.
O Instituto Lula alega que os recursos recebidos se referem às palestras do petista, de modo que cabe ao MPF mostrar que isto era apenas maquiagem para o tráfico de influência cometido nas mesmas viagens.
O artigo 332, por sua vez, diz que é crime “solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem, a pretexto de influir em ato praticado por funcionário público no exercício da função”.
Quando a investigação contra Lula foi aberta meses atrás, outro documento esclarecia: “Considerando que as mencionadas obras são custeadas, em parte, direta ou indiretamente, por recursos do BNDES, caso se comprove que o ex-presidente da República Luís Inácio Lula da Silva também buscou interferir em atos práticos pelo presidente do mencionado banco (Luciano Coutinho), poder-se-á, em tese, configurar o tipo penal do artigo 332 do Código Penal (tráfico de influência)”.
Sim, Dilma sapiens.
No Brasil, querem dizer que isso é crime… pelo simples fato de que é.
Mas obrigado pela suposta confissão.
Felipe Moura Brasil ⎯ https://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil
Nem longe, nem perto demais: PSDB apoia, mas não vai tomar frente de manifestações contra o governo
Sem tomar a frente do movimento, o PSDB definiu que terá uma participação mais ativa na mobilização do protesto contra o governo marcado para o dia 16 de agosto do que teve nas manifestações de rua de março e abril.
Vai se reunir com os organizadores do protesto, dar apoio, mas não assumirá o comando. É aquela história: nem tão atrás que pareça desinteresse e nem tão à frente que pareça uma manifestação do PSDB.
A propósito, Aécio Neves só definirá sua presença no ato às vésperas do dia 16.
Por Lauro Jardim
Ministro admite que programa de logística anunciado por Dilma deve avançar pouco, quase nada, até o fim do ano
Com muito oba-oba, Dilma lançou um tal Programa de Investimento em Logística em 9 de junho e discursou, retumbante: “Estamos aqui não só para anunciar grandes números e projetos ambiciosos. Mas, especialmente, para renovar nosso compromisso com o desenvolvimento de nosso país.”
Beleza, mas na semana passada o ministro Eliseu Padilha em reunião com ministros do TCU admitiu: “Há algumas previsões otimistas de se fazer algum leilão até dezembro. Na minha área de aeroportos, sei que é impossível”.
Por Lauro Jardim (em veja.com)
República dos pelegos: sindicalistas se eternizam no poder com verbas públicas
O GLOBO está de parabéns. Inicia hoje uma série de reportagens sobre os sindicatos brasileiros, e começa bem, com uma matéria de capa, mostrando como algumas lideranças sindicais estão no poder há décadas, controlando como feudos as entidades que deveriam existir para ajudar seus trabalhadores filiados:
Dados do Ministério do Trabalho apontam que havia, em 2014, ao menos 8.518 sindicalistas, incluindo cargos de presidente e diretores em geral, com mais de dez anos de mandato — no Poder Executivo só podem ficar oito anos no cargo. O número pode ser maior, pois falta transparência e uma série de entidades não fornece seus dados. Mais de 25 anos após a Constituição ter avançado para garantir a liberdade sindical, fundamental para lutas e conquistas dos trabalhadores, lacunas como a falta de transparência, fiscalização frouxa e a pouca representatividade deixam um caminho aberto para os abusos. Algumas centrais sindicais já reconhecem que é necessário pensar em novas normas. O próprio Supremo Tribunal Federal (STF) indica que as entidades não tem salvo-conduto e precisam ser fiscalizadas.
[...]
Há casos também de enriquecimento ilícito e desvios de sindicatos, que muitas vezes são verdadeiras máquinas de ganhar dinheiro. Isso num universo de 10.620 entidades por onde, no ano passado, circularam R$ 3,18 bilhões apenas de Contribuição Sindical — o chamado Imposto Sindical — obtida com um dia de salário de todos os trabalhadores com carteira assinada.
— Infelizmente, apenas uns 30% das entidades sindicais são sérias, e as demais têm uma série de problemas. Defendem melhorias, mas fazem coisas erradas. São contraditórias, incoerentes — afirma Marco Ribeiro, coordenador-geral do Sindicato dos Trabalhadores em Entidades Sindicais de Niterói e São Gonçalo (Sintesnit), cuja própria existência reforça os problemas do setor sindical.
Já cansei de bater aqui no sindicalismo nacional, nesses verdadeiros antros de pelegos que fingem falar em nome dos trabalhadores enquanto apenas concentram privilégios para seus líderes. Nossos sindicatos são ambientes perfeitos para oportunistas amorais como Lula, que os utilizam apenas como trampolim para suas ambições pessoais de poder e enriquecimento.
E tudo isso bancado pelo indecente “imposto sindical”. Ou seja, os sindicatos supostamente existem para beneficiar os trabalhadores, mas não podem contar com adesões e contribuições voluntárias deles, pois os próprios não saberiam valorizar tudo aquilo que os sindicatos fazem por eles. É uma piada de mau gosto!
Se o Brasil pretende um dia se tornar um país sério e desenvolvido, terá de enfrentar esse enorme obstáculo que são os sindicalistas pelegos. Tais sindicatos, dominados muitas vezes por criminosos, são máquinas de reprodução da mensagem marxista de “exploradores” e “explorados”, pois tal narrativa serve como desculpa para concentrarem mais poder e verbas públicas.
Mas quem realmente explora os trabalhadores não é o capitalismo, ou os empresários que criam riquezas e empregos, e sim os próprios sindicatos em conluio com o governo. Ironicamente, esses sindicalistas poderosos e os governantes de esquerda acusam os capitalistas de “fascistas”, ignorando que o fascismo italiano era exatamente o conchavo entre sindicatos, governos poderosos e grandes grupos empresariais “amigos do rei”. Soa familiar?
Rodrigo Constantino
folha de s. paulo ENTREVISTA JOAQUIM LEVY, ministro da economia:
"Sem colchão na economia, queda da atividade assusta mais"...
A nova previsão oficial é de retração de 1,5% do PIB, mas dentro do próprio governo há o temor de que a piora da crise política aprofunde mais a recessão. Qual a sua previsão?
Nas outras crises, em 2009, você tinha um colchão. O problema é que você gastou o colchão nos últimos dois a três anos. Não há espaço para política anticíclica. Por isso as pessoas ficam assustadas com a atividade caindo mais do que o esperado. Temos de lidar com essas coisas. Se lidar, não dói tanto. Se não lidar, poderá vir a doer.
Se não lidar, a recessão bate em 2%?
Acho que não, tem uma outra coisa sutil. Tomamos algumas medidas importantes, mudamos os preços relativos, incluindo o próprio câmbio, e essas coisas têm um efeito salutar na economia, que a princípio não se nota. Parte do que se está sentindo de dor agora é consequência desse rearranjo, mas ele tem um pendor de ir fortalecendo aos poucos a economia.
O dólar está um pouco diferente e as empresas começam a pensar seriamente em exportar. Quanto mais rápido o ajuste, a economia naturalmente se reorganiza. O ajuste fiscal ficou um pouquinho para trás, não está ajudando a completar o efeito do ajuste dos preços. Se fizermos alguma coisa mais estrutural, os cenários assustadores não vão acontecer.
O que é o cenário assustador? Queda de 2%?
Este que você está falando.
Concorda com a banda fiscal proposta pelo Planejamento?
Por falha minha não conheço a proposta, então não vou falar de algo que não sei.
A Moody's vai rebaixar a nota brasileira?
Nada é certo, você é dono do seu futuro.
Se a gente não conseguir fazer o ajuste, fica mais provável. Se fizer, é mais provável que não. Então, depende do que formos fazer.
Folha - Setores do governo e do PT reclamam que o ajuste é exagerado e está parando a economia. O sr. concorda?
Joaquim Levy - Não estamos fazendo um ajuste colossal. A fraqueza da economia vem de incertezas, indefinições, de o ajuste não estar completo. As empresas estão reticentes. Se a pessoa não sabe quanto tempo vai demorar o ajuste, ela não tem condições de tomar decisões. Não tomando decisões, diminui o investimento, diminuindo a capacidade da economia.
Todo o mundo está retraído. Vou comprar um carro? Melhor não, não sei o que vai acontecer, não sei quando o ajuste vai acabar. Aí está a discussão da meta, mas as pessoas devem entender que, se você baixa a meta, é porque não está conseguindo alcançar certos objetivos.
E abandonam-se os objetivos?
Não, porque temos de reduzir a dívida. Ela melhorou um pouco porque você deixou de fazer gastos parafiscais [concessão de subsídios por meio de empréstimos do BNDES]. Vamos ver se a receita melhora, estamos tomando outras medidas.
análise de SAMUEL PESSÔA:
A Grécia é aqui
Se nada for feito, teremos crise fiscal profunda e os resultados sociais serão piores que os da Grécia
Segundo reportagem de Toni Sciarretta publicada neste jornal na semana passada, o Brasil está longe da situação da Grécia. De fato, do ponto de vista de liquidez, o governo grego na prática quebrou, como afirmou o repórter.
Antes de qualquer comparação, é importante frisar que o bem-estar na Grécia é superior ao brasileiro por qualquer critério. Depois de seguidos anos de crise profunda, o PIB per capita grego é 60% maior do que o nosso e a desigualdade é menor.
Do ponto de vista fiscal, a Grécia apresentou no ano passado superavit primário pouco maior do que zero, melhor, portanto, do que nosso deficit de 0,6% do PIB.
O grande problema por lá é o enorme endividamento do setor público, de 180% do PIB, ante nosso endividamento bem menor, de 65%.
No entanto, o custo de rolagem da dívida pública por aqui é bem maior. Além disso, certamente, se houver um esforço de reformas que reduzam os problemas do setor público grego, haverá espaço de negociação para reduzir muito os juros pagos pelo governo do país.
Ou seja, o fato de a Grécia ser um pequeno país de uma união monetária -o PIB grego é da ordem de 2% do PIB da zona do euro- torna o tamanho do problema muito menor do que o nosso. Estamos isolados e teremos que encontrar por nós mesmos uma solução para nosso desequilíbrio fiscal estrutural. Se a Grécia fizer a lição de casa que a união monetária exige, será resgatada.
Segundo dados da OCDE, em 2011 o gasto público grego com aposentadorias e pensões era de 14,5% do PIB, não muito maior do que os 12% que gastamos. A situação é ainda pior, pois temos pouco menos de 10% da população acima de 60 anos, enquanto a Grécia tem 20%. Ou seja, nosso gasto previdenciário relativamente à pirâmide populacional já é muito maior do que o grego!
Diferentemente de nós, a Grécia abriu mão desse instrumento quando decidiu se juntar à zona do euro. Mas é sempre importante lembrar que ajuste de desequilíbrio fiscal por meio de forte desvalorização do câmbio produz aceleração inflacionária e corte dos salários, aposentadorias e pensões.
Exatamente por esse motivo o primeiro-ministro grego, após ter tido a autorização dos cidadãos para não fazer novo acordo, o que ia gerar insolvência e no limite saída da união monetária e a recriação da dracma, decidiu assinar acordo ainda mais duro do que o anterior. Considerou que o impacto social da inflação e da desorganização da economia -consequência da recriação da moeda grega- representa custo ainda maior do que aceitar as condições da "troica" (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e FMI).
Um tema que tem sido pouco observado é a diferença de comportamento entre aposentados e funcionários públicos, mais favoráveis a um acordo com a "troica", e estudantes e jovens, mais vocais contra as medidas de austeridade e, por consequência, mais desejosos de uma saída da Grécia do euro e da recriação da moeda grega.
Os jovens e os estudantes são os mais afetados pelo desemprego, custo maior da estratégia de ajustamento dentro da união monetária. Os servidores públicos e os aposentados perderiam mais em uma eventual saída do euro, pois seus salários e aposentadorias seriam fortemente reduzidos com a recriação da dracma.
Já no Brasil, se nada for feito, caminharemos para crise fiscal profunda e os resultados sociais por aqui serão ainda piores do que aqueles enfrentados pela população grega nos últimos anos.
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