Denuncias da Lava Jato: Edinho Silva assume papel de biombo de Dilma, informa Josias de Souza

Publicado em 27/06/2015 22:56
blog de Josias de Souza (UOL)

Com o óleo queimado da Petrobras a tocar-lhe o bico dos sapatos, Dilma Rousseff atrasou sua partida para os Estados Unidos neste sábado. Antes de decolar, a presidente retirou os pés da realidade numa minireunião ministerial. Voou para encontrar-se com Barack Obama imaginando que a crise que subiu a rampa do Palácio do Planalto com a delação do empreiteiro Ricardo Pessoa ficará restrita ao gabinete de Edinho Silva, tesoureiro de sua campanha e atual ministro de Comunicação Social da Presidência.

Comandante suprema de uma campanha eleitoral sob questionamento, Dilma subverteu a hierarquia. Transferiu todas as responsabilidades e eventuais culpas para o oficial da intendência, que, numa tropa, é quem cuida das tarefas financeiras e das provisões. Concluída a conversa com Dilma, Edinho foi conduzido à fogueira pelo colega José Eduardo Cardozo, que mandara chamar os jornalistas para uma entrevista no Ministério da Justiça.

— Como foi a conversa com a presidente? Qual é a posição dela sobre essa delação de Ricardo Pessoa?, quis saber um repórter

— A presidenta me concedeu total autonomia para que eu defenda a minha honra, para que eu tome todas as medidas necessárias em defesa da minha honra. Causa estranheza a mim, como causou a outros ministros, que o vazamento tenha ocorrido e que tenha sido de forma seletiva, respondeu Edinho, tenso dentro dos sapatos.

— Essa é uma justificativa pessoal. A presidente Dilma pretende explicar os R$ 7,5 milhões da campanha, que estão relacionados ao nome dela?, insistiu uma repórter.

— Quem arrecadou para a campanha presidencial fui eu. Portanto, quem responde pelas doações da campanha da presidenta Dilma sou eu, disse Edinho, bem ensaiado para o papel de biombo.

O ministro José Eduardo Cardozo não falou muito. E o pouco que disse foi para enfatizar a condição de anteparo reservada a Edinho. Indagado sobre as orientações deixadas por Dilma antes de viajar, o titular da Justiça jogou mais lenha ao redor dos pés do tesoureiro:

— A presidenta Dilma Rousseff, eu sou testemunha disso, desde o início, sempre orientou a todos os membros da sua campanha e, particularmente, o seu tesoureiro Edinho, para que agissem estritamente dentro da lei. Ela tem absoluta certeza de que a sua determinação foi cumprida pelo ministro Edinho. Se eventualmente alguém fala o contrário, que demonstre. Tenho certeza que não demonstrará, porque tudo aquilo que eu vi nessa campanha eleitoral […] atesta que, efetivamente, o ministro Edinho cumpriu a determinação da presidente da República. Foi por isso, então, que ela disse ao ministro Edinho e a todos os outros que por ventura tenham sido atingidos […] que agissem. Ou seja, defendam-se.”

Levado ao microondas, o tesoureiro-ministro Edinho, já bem passado, cuidou de colocar em pé a segunda estaca da estratégia de defesa montada para tentar blindar Dilma. Ele disse estranhar a seletividade dos vazamentos, já que a campanha de Dilma não foi a única beneficiária de doações das empresas do delator Ricardo Pessoa. Em privado, Dilma e seus ministros citam a campanha presidencial de Aécio Neves e de governadores tucanos como Geraldo Alckmin, de São Paulo.  Sob holofotes, Edinho se absteve de mencioná-los:

— As doações são públicas. É só vocês irem no site do TSE que elas estão lá. O que eu digo é que a UTC ou as empresas ligadas ao grupo UTC não fizeram doações apenas para a campanha da presidente Dilma. O que me estranha é que as suspeitas sejam colocadas apenas em relação às doações legais da campanha da presidenta Dilma.

Edinho anunciou, de resto, que contratará um advogado. Quer ser ouvido no processo em que seu nome foi mencionado. E planeja requisitar cópia dos depoimentos do seu algoz Ricardo Pessoa. Tudo o que fugir ao script das doações limpinhas e legais, será objeto de futuros processos judiciais, ameaçou.

— Caso se confirmem as mentiras divulgadas pela imprensa, eu tomarei as medidas judiciais em defesa da minha honra. O que farão cessar os benefícios decorrentes de uma delação premiada que não expressa a verdade dos fatos.

Conforme já comentado aqui, a coreografia montada para proteger Dilma é frágil. Em sua viagem aos Estados Unidos, quando for questionada sobre o incêndio, a presidente sempre poderá dizer que as dúvidas relacionadas ao caixa de sua campanha devem ser dirimidas com o tesoureiro. O diabo é que, aos olhos da Justiça, que é cega mas não pode ignorar a lei, quem responde por eventuais crimes é a titular da campanha. 

 

 

Ministro Aloizio Mercadante aponta 'ênfase no ataque ao PT'

Ele é um dos supostamente citados em delação premiada de empreiteiro.
Ricardo Pessoa doou à campanha de Mercadante a governador em 2010.

 

Filipe MatosoDo G1, em Brasília

 
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O ministro Aloizio Mercadante, da Casa Civil, afirmou neste sábado, em entrevista para explicar as doações à campanha dele a governador de São Paulo em 2010, que, nas investigações de desvios de recursos por um esquema de corrupção na Petrobras, há "ênfase no ataque ao PT".

Reportagem deste fim de semana da revista "Veja" relaciona os nomes de 18 políticos supostamente citados pelo dono da construtora UTC, Ricardo Pessoa, como beneficiários de dinheiro oriundo do esquema de corrupção na Petrobras investigado pela Operação Lava Jato. Preso na Lava Jato, Pessoa teria listado esses nomes em depoimento resultante de acordo de delação premiada firmado com o Ministério Público e homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

 
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Entre esses políticos, há dois ministros – o próprio Aloizio Mercadante e Edinho Silva (Comunicação Social). Ambos admitem ter recebido doações da UTC – no caso de Mercadante, quando disputou o governo de São Paulo pelo PT em 2010, e no de Edinho Silva, como tesoureiro da campanha presidencial de Dilma em 2014 –, mas negam que tenham sido ilegais. Antes de Mercadante, Edinho Silva concedeu entrevista.

"Nesse episódio de investigação que atinge vários partidos e políticos do país há ênfase no ataque ao PT e ao partido do governo. Uma parte é luta politica, e os problemas graves que ocorreram, as pessoas que estão envolvidas, de vários partidos, mas é evidente que há uma elite focada numa disputa que não parou desde o fim das eleições", declarou Mercadante.

Segundo o ministro, o candidato vitorioso em São Paulo (Geraldo Alckmin, do PSDB) "também recebeu das empresas, R$ 1,4 milhão pela Constran e pela UTC, devidamente prestadas contas na Justiça Eleitoral".

"Estou pedindo acesso às informações dessa delação para eslacecer esse episódio e me colocar à disposição da Procuradoria Geral da República para dar resposta o mais rapido às informações necessárias para que a gente possa esclarecer. Como homem público, faço questão de responder a qualquer tipo de questionamento", declarou.

Mercadante admitu ter mantido encontro com Ricardo Pessoa, que, segundo disse, queria conhecê-lo como candidato ao governo de São Paulo.

 
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"Houve uma reunião comigo, na minha casa. Isso aconteceu. Tinha feito uma cirurgia, e o Ricardo Pessoa pediu para me conhecer. Esse senhor gostaria de discutir comigo minha pré-campanha ao governo de São Paulo, e o conheci nessa reunião", afirmou. "Ele queria saber minhas propostas. Eu apresentei, e ele revelou que poderia contribuir. Eu agradeci e disse que ele precisava entrar em contato com a campanha, desde que a legislação fosse respeitada", declarou.

O ministro negou que tenha recebido recursos não contabilizados. Ele mencionou os números de dois recibos para justificar duas doações legais em um valor total de R$ 500 mil (R$ 250 mil cada). "Foram R$ 500 mil devidamente contabilizados como exige a legislação eleitoral e como foi apresentado na minha prestação de contas", disse.

Um dos ministros mais próximos da presidente Dilma, Mercadante disse também que ela pediu que os ministros esclareçam as dúvidas sobre as supostas acusações do empresário, a fim de garantir “transparência” ao governo.

Após o vazamento do conteúdo da delação premiada de Ricardo Pessoa, Dilma, Mercadante, Edinho Silva, e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, se reuniram nesta sexta e neste sábado.

 
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“Nas reuniões que eu tenho com a presidenta – e eu sempre me reúno com a presidenta –, é ela quem diz o que nós tratamos. Só ela diz. Mas, basicamente, ela disse: ‘Façam todos os esclarecimentos. Meu governo tem que ter transparência, atitude e coragem’. Assim como ela pensa, eu também penso. E a atitude do ministro Edinho, quando as informações vierem a pública, provará o que ele está dizendo”, declarou.

Viagem aos EUA
Principal conselheiro político de Dilma na Esplanada dos Ministérios, Mercadante não viajou com ela para a visita oficial aos Estados Unidos, embora o Palácio do Planalto tenha divulgado previsão de que ele estaria na comitiva.

O ministro destacou que não viajou porque desde que assumiu a Casa Civil, no início de 2014, não acompanhou a presidente em viagens internacionais. “Toda vez que ela vai, eu fico.”

Ele, porém, destacou que, além de ficar no país para resolver “questões de gestão do governo”, gostaria de se explicar sobre as acusações de Pessoa. Segundo o ministro, outro motivo que o fez permanecer no Brasil foi a pauta de votações do Senado.

 
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“Por que não pude ir? Primeiro, porque nós teremos uma semana muito importante na pauta do Senado. Temos a pauta da desoneração, temos a pauta da indexação do salário mínimo, temos votações de vetos e temos o problema do reajuste do salário do funcionalismo e dos servidores do Judiciário, além de questões de gestão do governo”, disse.

“A segunda razão [para não viajar aos EUA] é estar aqui. Quero explicar [as denúncias] todas as vezes que for necessário. Sempre que questionado, como homem público, vou prestar esclarecimentos”, acrescentou.

Questionado sobre se as denúncias deste fim de semana “ofuscam” a agenda da presidente Dilma nos EUA, em razão da série de encontros que ela terá com empresários norte-americanos, Mercadante disse que “talvez” este tenha sido o objetivo das denúncias.

“Talvez tenha sido feito para isso. Não sei se foi calculado. Mas o esforço para que isso aconteça é muito grande. Eu espero que a gente saiba separar uma coisa da outra", disse.

Mercadante concluiu ao dizer que a presidente Dilma está com "muita vontade de falar" sobre as denúncias. "A presidenta sempre fala com vocês [jornalistas]. Aguardem porque ela vai falar com vocês, ela está com muita vontade de falar. Igual a mim”, completou.

 

 

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Fonte:
Blog Josias de Souza (UOL)/G1

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