Veja acredita que Dilma tenta se descolar de Lula
Política
Escolhas de Dilma evidenciam estratégia de enfrentar Lula
No alto escalão petista, consolida-se a tese de que a presidente age da forma oposta à esperada para demonstrar poder diante do partido e de seu mentor
Presidente do Uruguai, Pepe Mujica, Dilma Rousseff e o ex- presidente Lula participam da comemoração aos 35 anos do PT em Belo Horizonte (MG) (Ricardo Bastos/Estadão Conteúdo)
Na quinta-feira, véspera do anúncio de que Aldemir Bendine foi escolhido como novo presidente da Petrobras, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva queixava-se a aliados da falta de diposição de Dilma Rousseff em dialogar e ouvir seus conselhos. A troca de comando na estatal era o exemplo mais recente: Lula sugeriu os nomes do ex-presidente do Banco Central Henrique Meireles, do executivo Antonio Maciel Neto e o presidente do BNDES, Luciano Coutinho. Dilma não aceitou e, no dia seguinte ao desabafo de Lula, confirmou a tese ao nomear um nome que desagradou o corpo de funcionários da companhia e não fora aventado em momento algum.
No alto escalão petista, consolida-se a tese de que a presidente às vezes age da forma oposta à esperada justamente para demonstrar poder diante do partido e de seu mentor.
A tensão entre o partido e o governo, entre as propostas do ex-presidente e as decisões de Dilma, sempre existiu. Mas agora, com a crise no governo, tornou-se mais evidente. Atingido em cheio pela operação Lava Jato, que investiga os desvios da Petrobras, o partido sofre com o esvaziamento da base aliada no Congresso e, apesar de comandar o governo, não se vê representado nas decisões de Dilma.
A queixa principal é a de que a chefe do Executivo não ouve ninguém além do seu restrito círculo de conselheiros. Atualmente, o nome mais influente do governo é o do ministro da Casa Civil, Aloísio Mercadante. Lula credita a ele parte das decisões desastradas do atual governo, como a escolha de nomes controversos para o ministério e a desastrada sucessão na Petrobras, que derrubou as ações da empresa.
O ex-presidente também acredita que Pepe Vargas não está preparado para comandar as Relações Institucionais. Tampouco confia no poder do ministro Miguel Rossetto, a quem vê como incapaz de instigar os movimentos sociais a defender o governo. No segundo mandato, o governo Dilma é mais dela e menos de Lula. E, para boa parte do PT, é esse o problema.
Lula está numa encruzilhada, como ele mesmo reconheceu a um interlocutor. O ex-presidente contou ter perguntado ao ditador cubano Raul Castro como ele tratava as desavenças com o irmão Fidel. Ouviu a seguinte resposta: "Tudo o que meu irmão fez de bom e ruim eu estava junto. Não posso me desvencilhar". Lula, então, emendou: "Comigo e a Dilma, é a mesma coisa". O ex-presidente, que pretende se lançar candidato novamente em 2018, sabe que o agravamento da crise do atual governo pode prejudicar seus planos para a próxima eleição. Mas não quer forçar um rompimento que pode ser prejudicial ao partido.
A postura do ex-presidente reflete o clima dentro do PT. Parlamentares da sigla já dizem abertamente que a bancada precisa se descolar do governo neste mandato, dada a crônica falta de diálogo do Planalto com os aliados no Congresso. "Não seremos linha auxiliar da oposição, mas também não vamos baixar a cabeça para o governo", diz o deputado Reginaldo Lopes (PT-MG). A formação da equipe ministerial e as medidas econômicas recentes também desagradaram boa parte da militância. E a postura débil da presidente da República diante da crise política causa o temor de que o Planalto seja engolido de vez pelos acontecimentos.
Diferentemente de Lula em 2005, quando explodiu o mensal o, Dilma não tem apoio massivo nas ruas e nem possui grande poder de articulação política. Seu isolamento é visto como um sinal perigoso por correligionários.
É por isso que o conselho dado pelo ex-presidente no ato que marcou os 35 anos do PT, nesta sexta-feira, traz uma admoestação embutida: "(Se houver) um erro desastroso nosso, quem vai sofrer não somos nós, é o povo humilde desse país. E você em obrigação não de governar para o Lula e o Rui Falcão. É governar cuidando do povo brasileiro".
No EL PAÍS: Petrobras, o Titanic político da presidenta Dilma Rousseff (POR JUAN ÁRIAS)
A Petrobras, que já foi uma das maiores e mais prestigiosas empresas petroleiras do mundo, considerada a joia da coroa da indústria brasileira, está se transformando no Titanic político da presidenta Dilma Rousseff.
A ironia da história é que a ex-guerrilheira e economista Rousseff havia irrompido com força na política pelas mãos do petróleo. Chegou doze anos atrás, trazida pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Rousseff também foi presidenta do Conselho de Administração da Petrobras. E já no seu mandato ela retirou do comando da empresa a pessoa de confiança do seu tutor Lula, Sergio Gabrielli, homem forte no partido e hoje também envolvido no caso.Dilma, depois de se filiar ao Partido dos Trabalhadores (PT), participou do primeiro governo Lula como ministra de Minas e Energia, com responsabilidade direta sobre a Petrobras. Dali deu o salto para a Casa Civil, onde substituiu o ministro José Dirceu, que acabou caindo em desgraça por causa do escândalo do mensalão, que o levou à prisão.
Em seu lugar colocou uma antiga colaboradora, Graça Foster, para dar – conforme se disse na época – um caráter mais técnico e menos político à empresa. Será que Rousseff já suspeitava ou sabia que a Petrobras estava sendo transformada pelos jogos da corrupção em uma fornecedora ilegal do PT e de alguns de seus partidos aliados?
O cartunista Chico Caruso, do jornal O Globo, ironiza desde dezembro o escândalo da Petrobras desenhando Dilma enviando a Lula um barril de petróleo com as impressões digitais do ex-presidente, que Lula devolve a ela como presente.
Perante as evidências do escândalo de corrupção que fez a empresaperder 60% do seu valor e motivou um clamor da oposição e dos mercados, Dilma se viu obrigada a aceitar a demissão da amigaFoster, após se negar repetidamente a isso.
A tempo ou tarde demais? Ninguém é capaz de profetizar isso, porque tanto a polícia federal como os juízes continuam interrogando e prendendo implacavelmente diretores da Petrobras e das grandes empreiteiras acusadas de organizar conjuntamente esse grande festim de corrupção, já estimado em mais de 25 bilhões de reais.
A dúvida é se o drama da Petrobras – uma empresa que conta com um corpo técnico de dar inveja a outras de seu gênero e com uma gloriosa história pregressa – poderá se resolver com a simples troca do capitão do navio à deriva, e se o caso não acabará por arrastar a própria presidenta da República, não por acusações de corrupção, mas sim pela responsabilidade que exercia e exerce sobre a empresa.
Se o câncer que corrói a Petrobras é tão grave como parece, a empresa estaria hoje, segundo analistas políticos, semelhante a um Titanic, ao qual nem o melhor dos capitães teria salvado.
Talvez seja essa a dificuldade que Rousseff teve para encontrar um substituto para Foster que agradem ao mercado.
Finalmente, questiona-se se a própria presidenta Rousseff, com fama de intervencionista, deixará a nova equipe com mãos livres para manipular o bisturi, devolvendo à Petrobras sua independência técnica e meramente empresarial, sem que o braço oculto da política volte a usá-la para fins pouco republicanos.
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