Na FOLHA: Kátia dá entrevista exclusiva e promete "revolução" na agricultura

Publicado em 05/01/2015 08:25
"Não existe mais latifúndio no Brasil", diz nova ministra da Agricultura para MÔNICA BERGAMO, COLUNISTA DA FOLHA na edição desta segunda-feiraq. (Posse de Kátia Abreu será nesta segunda, às 16 horas).

O Brasil precisa de uma reforma agrária pontual, já que o latifúndio deixou de existir no país. Os conflitos fundiários com indígenas ocorrem porque eles "saíram da floresta e passaram a descer nas áreas de produção".

Recém-empossada ministra da Agricultura, a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO) não abandonou o discurso ligado ao agronegócio que a tem colocado em rota de colisão com movimentos sociais e com setores do PT.

Nesta entrevista à Folha, ela disse que recebeu da presidente Dilma Rousseff a missão de "revolucionar" a pasta e que não teme a contenção de gastos para este ano.

  Alan Marques/Folhapress  
A senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), recém-empossada ministra da Agricultura, com a presidente Dilma Rousseff
A senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), recém-empossada ministra da Agricultura, com a presidente Dilma

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Folha - A senhora assume o ministério no momento em que grandes importadores de alimentos, como a China, crescem menos ou até enfrentam crise, como a Rússia. Como será o ano para o agronegócio?

Kátia Abreu - Há dificuldades, mas não temos muitos temores em relação às commodities de alimentos. A China, que importa 23% dos nossos produtos, pode parar de investir em uma porção de coisas. Mas 1,3 bilhão de pessoas lá seguem precisando almoçar, jantar e lanchar. Está havendo uma queda de preços [dos alimentos exportados], mas não creio em alteração de volume. Mesmo com o embargo [de potências internacionais], os russos continuam se alimentando de frango. As pessoas têm de comer. E a gente não exporta produtos muito agregados, consumidos por pessoas ricas. Exportamos é carne, que a massa come, um produto processado por lá.

A sua primeira viagem internacional será a esses países. Qual será a pauta?

Vamos assinar acordos firmes e claros para a habilitação, por exemplo, de novas fábricas frigoríficas no Brasil, para que elas possam exportar para esses países. Os chineses e os russos verbalizam: "Não queremos ficar na mão de JBS, Marfrig, Minerva [os maiores frigoríficos do país]". Eles querem ter mais opções de compra. Vamos ampliar as possibilidades.

Não haverá reação dos frigoríficos que já têm esse mercado?

Ninguém gosta de dividir nada, né? As pessoas, quanto mais ganham, mais felizes ficam. Mas cabe ao Estado brasileiro abrir oportunidades e fazer o jogo da nação. E não de corporações. Eu não posso focar o privilégio de alguns em detrimento dos demais.

Ainda sobre a crise: o ano será de contenção de gastos. Como ficará o orçamento do Ministério da Agricultura?

Todo mundo me fala: "Você vai brigar com o [ministro da Fazenda] Joaquim Levy". Gente, tenho uma tranquilidade tão grande! O setor [do agronegócio] é tão consolidado e dá respostas tão rápidas que é perigoso até ele me dar mais do que peço. É verdade! Ele não quer que o país se recupere? Vai recuperar com que, gente? Fabricando o que, a não ser comida? Então não tenho medo dos cortes do Levy. Ele vai investir em carne boa. Não vai investir em carne podre. O agronegócio não é carne podre.

Movimentos sociais que apoiaram a reeleição de Dilma Rousseff afirmam que a nomeação da senhora foi um tapa na cara deles.

Se eles me apoiassem, aí era difícil, né?

O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) diz que a senhora criminaliza os movimentos e até já pediu CPI contra eles.

Quero dialogar com eles. Diálogo sempre. E condenar invasão, sempre. Tem MST que invade, isso é ilícito, sim, e vai continuar sendo. Está na Constituição.

A senhora trabalha com a possibilidade de haver invasão em terras de sua família?

O que? O Ministério do Trabalho já pediu [documentos de propriedades] de 1987 para trás, quando o meu marido ainda era vivo. Eles vão à minha casa 24 horas por dia. Não acham nada. Meu filho não aguenta mais. Já invadiram também. Eu te falo com franqueza: não tenho nada contra assentamentos.

No Tocantins, sentei com o MST, eles me pediram ajuda. Tive audiência com o [então ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel] Rossetto para arrumar dinheiro para eles comprarem a fazenda de um cidadão. Se eu quero terra, por que eles não podem querer? Agora, não invade, pelo amor de Deus, porque não dá.

O país não necessita acelerar a reforma agrária?

Em massa, não. Ela tem de ser pontual, para os vocacionados. E se o governo tiver dinheiro não só para dar terra, mas garantir a estrutura e a qualidade dos assentamentos. Latifúndio não existe mais. Mas isso não acaba com a reforma. Há projetos de colonização maravilhosos que podem ser implementados. Agora, usar discurso velho, antigo, irreal, para justificar reforma agrária? A bancada [ruralista] vai trabalhar sempre, discutir, debater.

A senhora vai chamar os movimentos para dialogar?

Conflitos em outras áreas não são da alçada do Mapa [Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento]. Meus colegas do Desenvolvimento Agrário, do Incra, podem mediá-los com competência. Agora, passou o pé para dentro da terra, tô dentro. Inclusive índio. Se quiser ajudar os índios a produzirem, sou a parceira número um. Faço isso no meu Estado.

A proposta da PEC 215, em discussão no parlamento, de passar a responsabilidade por demarcação de terras indígenas para o Congresso não traz o risco de que não se demarque mais nada no país?

Não. Porque não vai sair mais nada nunca do jeito que está. O STF já decidiu que terra demarcada não pode ser ampliada. Até então tinham saído várias, de forma equivocada, empurradas pela Funai [Fundação Nacional do Índio] a toque de caixa.

Enquanto os índios reivindicavam áreas na Amazônia, a gente nunca deu fé do decreto de demarcação [em vigor]. É um decreto inconstitucional, unilateral, ditatorial, louco, maluco. "E por que vocês só foram ver isso depois?" Porque os índios saíram da floresta e passaram a descer nas áreas de produção.

Não temos problema com terra indígena, a nossa implicância é com a legalidade. Se a presidenta entender que os pataxós estão com a terra pequena, arruma dinheiro da União, compra um pedaço de terra para eles e dá. Ótimo. Eu só não posso é tomar terra das pessoas para dar para outras.

As terras dos índios também foram tomadas.

Então vamos tomar o Rio de Janeiro, a Bahia. Por que [o raciocínio] só vale em Mato Grosso do Sul? O Brasil inteiro era deles. Quer dizer que nós não iríamos existir.

E os pequenos agricultores, haverá alguma política específica para eles?

Nós precisamos criar uma grande classe média rural brasileira. Ela hoje não existe. Dos cinco milhões de produtores do país, 300 mil são das classes A e B e só 796 mil da C. Nas classes D e E estão 70%, que contam com financiamento barato, mas não têm assistência técnica. Nós precisamos pegar essas pessoas, identificá-las, fazer editais e leilões para dar a elas assistência continuada. Eu tenho que fazer igual babá, decidir o que vai produzir. Não existe terra ruim. Tendo água, até na Arábia Saudita as pessoas plantam.

Haverá um "Proer" para o setor sucroalcooleiro?

Este é um assunto gravíssimo, que deve envolver todo o governo. A crise é total. Precisamos, em primeiro lugar, conhecer o endividamento do setor, que está alavancado em dólar. Não tenho a solução mágica. Mas temos de encontrar um mecanismo de estabilidade desse biocombustível [o etanol] que não seja só a ligação com o petróleo.

Uma das queixas do setor é a de que a Agricultura depende de tantos outros ministérios que acaba limitada.

A presidente Dilma me disse, de pronto, a minha missão: "Kátia, é para revolucionar". Nós não podemos mais ficar só anunciando Plano Safra todo ano, cento e tantos bilhões para isso, cento e tantos bilhões para aquilo. É muito pouco. Ela quer que o Ministério da Agricultura tenha uma interlocução forte com o Ministério dos Transportes para discutir logística, PAC 2, PAC 3.

Mas não haverá tantos recursos para os investimentos.

Temos de apostar tudo na privatização. A presidente inclusive enviará proposta ao Congresso mudando a legislação de hidrovias. Temos vários "Mississippi" maravilhosos. O correto é o governo fazer as hidrovias e depois concessionar para a iniciativa privada tocar.

A senhora é tida como ministra da cota pessoal de Dilma. Considera-se amiga dela?

Falar que é amiga de presidente pega mal. Não sou amiga da presidente. Sou fã da presidente. Ela é um ser humano bom. Ela tem espírito público. Ela vai para a luta. Ela não quer saber. Ela vai, nestes quatro anos, escrever uma bela biografia. E eu quero colaborar para escrever uma biografia maravilhosa para ela na minha área. 

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Fonte:
Folha de S. Paulo

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6 comentários

  • victor angelo p ferreira victorvapf nepomuceno - MG

    Revolução no campo na minha opinião seria o retorno da mão de obra para lá.bem como a ocupação das milhares de escolas rurais que estão abandonadas por este Brasil a fora...Mas este retorno tem que ser bem estudado, pois não pode ser as custas somente do produtor rural...Esta mais do que claro que o fluxo para as grandes e pequenas cidades começou na década de 60 e não acabou mais?Parece que esta Ministra está com boa intenção, vamos ver daqui pra frente...

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  • Telmo Heinen Formosa - GO

    A Kátia Regina de Abreu, psicóloga formada, viuva de fazendeiro morto em acidente de avião quando a Min. tinha 25 anos de idade e tres filhos... não sabe ainda as principais características das sua "patrôa" que foi TREINADA para ser uma terrorista, sendo especializada em 1) MENTIR e acreditar na mentira utilizada como sendo a verdade, economizando espaço na memória - nao precisa se lembrar do certo e do errado. 2) Responder o que nem foi perguntado. Ficou nitido nos debates da Campanha Eleitoral. 3) Dizer uma coisa e fazer outra. Exemplo, se diz contra o aborto mas sanciona legislação a favor. 4) Estimular a discórdia, a luta de classes. Dedurar... 5) Ter DUAS caras. 6) Outras.

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  • Rodrigo Polo Pires Balneário Camboriú - SC

    Sr. Paulo Rensi, ninguém definiu melhor que o Sr. a situação. Não é possível ser mais claro. E certamente, com propriedade, com categoria, definiu o que significa exatamente o que é... “Falar que é amiga de presidente pega mal. Não sou amiga da presidente. Sou fã da presidente. Ela é um ser humano bom. Ela tem espírito público. Ela vai para a luta. Ela não quer saber. Ela vai, nestes quatro anos, escrever uma bela biografia. E eu quero colaborar para escrever uma biografia maravilhosa para ela na minha área”.

    Duas senhoras carentes de afagos.

    Quero apenas acrescentar algumas palavras a esse comentário. A nova ministra não tem noção do que espera Dilma nesse segundo mandato, o que dá uma conotação, conforme já apontado aqui por outros comentaristas, de servilismo. A nova ministra é completamente despreparada para o cargo e realmente merece fazer parte do conjunto de ministros medíocres nomeados por Dilma.

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  • Francisco Louzimar da Silva Piúma - ES

    Eu também gostei das palavras dela e acredito muito nela pelo trabalho que ela prestoua na gestão da CNA. Sou otimista. Porém precisamos ser vigilantes (monitorando as ações e atitudes dela na pasta da agricultura) quanto aos resultados e metas almejadas a serem lançadas pela ministra. Dou meu voto de crédito na nova ministra da Agricultura.

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  • Arci Mendes Pompéia - SP

    Gostei das respostas na entrevista da Ministra, apesar de ela ter se aliado a Dilma, sempre a achei competente, assisti vários discursos seus,...o que esperamos que tenha força, disposição, recursos de converter as palavras em ação,...para isso precisa ficar mais tempo na pasta que assume!

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  • Paulo Roberto Rensi Bandeirantes - PR

    Creio que a Monica, escreva de fato, o que a recém-ministra disse. Diante desta crença, fico a imaginar a revolução que ela e a presidenta búlgara vão idealizar.

    Esta “senhora”, na presidência da CNA, revolucionou o setor agro – principalmente na Agrotins/ 2014, onde mostrou o seu lado “barraqueira”; mas vamos ao ponto, em 2012 ela assinou um contrato com o Rei do futebol, Pelé, para ele ser o garoto propaganda do “projeto revolucionário” no valor de R$1,1 milhão ao ano até 2015.

    Alguém ouviu falar do projeto Time Agro Brasil, ou foi beneficiado com alguma ação deste “revolucionário projeto”? Você se tornou um “craque” no mercado mundial? Pois este é o objetivo do projeto.

    No final da entrevista ela fala: (.) “Ela vai, nestes quatro anos, escrever uma bela biografia. E eu quero colaborar para escrever uma biografia maravilhosa para ela na minha área”.

    O quê deve-se entender com isto? Não é afago do EGO? Penso, são “senhoras” necessitadas de afagos no EGO!

    ISTO NÃO VAI PRESTAR !!!

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