Em contato com distribuidoras, StoneX também verificou impactos na venda de diesel; governo não vê risco de desabastecimento
O impacto nas entregas de diesel das distribuidoras aos postos de combustível do Brasil também foi verificado pela StoneX nos últimos dias. É o que conta Thiago Vetter, consultor em gerenciamento de risco da consultoria americana com escritório no Brasil. Porém, os indicativos são positivos à frente, já que há reportes de chegada de navios com o combustível mais consumido do país para ser comercializado internamente.
"Tivemos uma situação de mercado recentemente que fez com que os importadores fossem impactados [com preço interno do diesel menor do que o praticado internacionalmente – em um diferencial que chegou a superar R$ 1/l]. Como as distribuidoras têm que acessar os importadores, verificamos sim alguma regulação no volume disponibilizado que pode ter causado na ponta problemas pontuais", explicou Vetter em entrevista ao Notícias Agrícolas.
Além da questão da importação, que afetou diversas empresas do setor, o consultor explicou que, neste mês de agosto, um importante duto da Petrobras teve parada para manutenção por alguns dias, o que também pode ter influenciado na disponibilidade dos combustíveis. "No âmbito de distribuição da Petrobras, o gasoduto OSBRA é bastante importante, sai da Replan, em Paulínia (SP), e vai até o terminal de Brasília (DF)", diz.
"O temor de desabastecimento neste ano era muito grande, mas não temos essa perspectiva até o momento, apesar da demanda aquecida. O que vemos é uma dinâmica muito própria das distribuidoras. Olhando para frente, elas certamente querem manter os postos abastecidos, ainda que tenham que fazer aumentos de preços aos consumidores além do que o colocado pela Petrobras [de R$ 0,78/l no dia 16 de agosto]", ressalta Vetter.
É essa dinâmica bastante restrita às distribuidoras em relação ao fornecimento de diesel, até o momento, que faz com que o governo talvez nem tenha conhecimento dos impactos aos consumidores. O Notícias Agrícolas procurou o Ministério de Minas e Energia (MME), a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e também a Petrobras para esclarecimentos sobre as restrições (as notas na íntegra estão no final da matéria).
"Os estoques de combustíveis líquidos continuam em níveis suficientes e não há informações sobre dificuldades na aquisição de produto no exterior ou de redução do ritmo de produção nacional", disse em nota a ANP. Já a Petrobras "informa que as entregas de derivados para as Companhias Distribuidoras estão normais". O Ministério de Minas e Energia (MME) disse que acompanha o cenário junto com a ANP e "não há, no momento, qualquer registro de desabastecimento de diesel".
A Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) disse que não tem recebido reclamações de revendedores sobre a restrição de diesel, mas que os estoques no país estão baixos.
As empresas importadoras de combustíveis voltaram às compras nos últimos dias beneficiadas com a elevação de preço do diesel nas refinarias pela Petrobras. A Nimofast, por exemplo, reportou que recebeu no Porto de Suape a maior embarcação de diesel de 2023, totalizando 80 milhões de litros de diesel S10, o que deve amenizar as preocupações envolvendo a oferta do combustível. A programação de navios também indica novas embarcações atracando por aqui.
Nélio Wanderley, CEO da Posto Seguro Brasil, disse ao Notícias Agrícolas, neste início de semana, que um navio com diesel importado da Ásia está a caminho do Brasil com cerca de 160 milhões de litros do tipo S10. "É um dos maiores navios do mundo. Não resolve o problema, mas já começa a atenuar. Precisaria de mais 10 navios desse para que o problema fosse sanado de uma vez por todas" nesse momento de escoamento da safra, destaca o especialista.
Ele considera que esse cenário de restrição seja completamente sanado no país apenas em meados de outubro.
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Em levantamento atualizado nesta semana, com 110 postos em todo o país, a Posto Seguro Brasil, verificou que 24 estados do Brasil enfrentam algum problema de restrição de diesel. Em termos práticos, segundo a consultoria, a restrição está relacionada com a incapacidade das companhias distribuidoras de entregarem altos volumes de diesel ou de retardarem as entregas porque não tem estoque ou regularem para atender todos.
"O mercado não está desabastecido [falta completa de produto]. Ele tem restrição. Não tem aquela disponibilidade de encostar um caminhão hoje de 30 ou 45 mil litros de uma companhia para colocar diesel. O distribuidor não vai conseguir atender. Coisa que há três meses [quando não havia o descolamento com o preço internacional e o interno] fazia-se tranquilamente", explica Wanderley.
O cenário é mais complexo nas fazendas e grandes empresas, que dependem dos transportadores-revendedores-retalhistas. "Na grande maioria, eles têm tido pedidos muito restritos e alguns TRRs até fecharam, como no Sul da Bahia e Mato Grosso do Sul, porque não tem produto para movimentar. Um TRR que movimentava 1 milhão de litros, agora tem disponibilidade de apenas 100 mil litros para trabalhar", conta.
Veja as notas na íntegra do governo sobre a restrição:
Ministério de Minas e Energia (MME)
O Ministério de Minas e Energia (MME) vem monitorando o abastecimento de combustíveis em todo o país junto à Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e não há, no momento, qualquer registro de desabastecimento de diesel.
Petrobras
A Petrobras informa que as entregas de derivados para as Companhias Distribuidoras estão normais.
Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP)
No momento, não há quaisquer elementos que indiquem desabastecimento de combustíveis no país. Os estoques de combustíveis líquidos continuam em níveis suficientes e não há informações sobre dificuldades na aquisição de produto no exterior ou de redução do ritmo de produção nacional.
Adicionalmente, por força das normas regulatórias, distribuidores de combustíveis e produtores de derivados são obrigados a manter estoques operacionais mínimos onde possuem instalações. O volume desses estoques considera a logística de aquisição de produto regional.
Complementamos ainda que a ANP mantém constantemente o monitoramento do abastecimento nacional com vistas à garantia da oferta.
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