Quanto de milho vai faltar no mundo depois de tantas intempéries e mais as que estão por vir?
As perdas que continuam a ser contabilizadas na segunda safra de milho do Brasil e as luzes amarelas acesas sobre a temporada 2021/22 dos Estados Unidos em função das adversidades climáticas permanecem no radar dos players do mercado global frente à oferta já escassa do grão e do déficit que deverá marcar a conclusão da temporada 2020/21, como explicam analistas e consultores de mercado.
Na análise da Pátria Agronegócios, o déficit de oferta sobre o uso total da safra 2021 já está em 23,6 milhões de toneladas em todo o globo, intensificado por estes prejuízos que seguem aparecendo na produção brasileira desde a safra de verão. Nesta segunda safra, há perdas que variam de 15% a 75%, de acordo com informações apuradas pela consultoria, com 32,71% da área colhida para a safrinha.
"São pouquíssimas as regiões relatando produtividades dentro ou acima das expectativas iniciais", explica o diretor da Pátria, Matheus Pereira.
Assim, com este menor volume já sabido e consolidado para a temporada atual, as preocupações se voltam para a seguinte, a qual carrega, já neste momento, inúmeras incertezas. Os Estados Unidos passam pela fase mais crítica da safra, onde condições climáticas ao menos regulares são determinantes para a definição de uma produtividade, pelo menos, dentro da média, e não é isso que se observa neste momento no Corn Belt.
"Essa é uma safra onde só existe um viés: o de quebra! Desde o início das projeções e estimativas, o USDA foi muito otimista em calcular a capacidade produtiva da cultura em solo norte-americano", afirma Pereira. E o analista de mercado Roberto Carlos Rafael, da Germinar Corretora, compartilha desta opinião.
Segundo ele, "há alguns descompassos nos números do USDA, principalmente sobre a safra brasileira em seu último relatório mensal de oferta e demanda", diz. No reporte mensal de oferta e demanda do último dia 12, o departamento norte-americano ainda estimava exportações brasileiras de 28 milhões de toneladas. "Eu não consigo enxergar esse número, acho que conseguimos exportar no máximo algo entre 18 e 19 milhões", acredita.
Rafael acredita que haja "algo nublado ainda sobre a nova safra" tanto do lado da oferta, quanto do lado da demanda, e um cenário melhor detalhado deverá ser observado somente em outubro, com uma consolidação da produção do Hemisfério Norte, principalmente a dos Estados Unidos.
"Em 2021 estamos longe do ideal. Há problemas encontrados em todos os extemos do Cinturão Agrícola, em especial ao extremo oeste, onde uma massa de ar quente se estacionou e parece perdurar por alguns dias e semanas, preocupando sobre a capacidade produtiva nacional", explica Matheus Pereira.
E ele lembra que a estimativa do USDA para a nova safra de milho dos Estados Unidos é de 385,21 milhões de toneladas, o que pode ser a maior safra da história do país, superando até mesmo a temporada 2016/17, "quando os os norte-americanos colheram 384,8 milhões sob condições quase ideias naquele ano".
E assim, as contas seguem sem fechar.
Dados do balanço mundial do milho mostram que a atual temporada conta com uma produção de 1.125,03 bilhão de toneladas, menor do que o consumo, de 1.1449,88 bilhão. E tal relação, de acordo com números disponibilizados ao Notícias Agrícolas pelo analista de mercado Marcos Araújo, da Agrinvest Commodities, desde o ano /safra 2017/18, quando a produção foi de 1.078,56 bilhão e o consumo de 1.092,31.
Com este cenário, os estoques finais mundiais do cereal também vieram diminuindo de forma expressiva nos últimos cinco ano safras, com destaque para os estoques da safra 2016/17, de 350,75 milhões de toneladas, para a última projeção da safra 2020/21 de 280,60 milhões de toneladas.
Ao se confirmar uma safra como atualmente projetada, os estoques finais dos EUA ficariam em 36,37 milhões de toneladas, contra 27,5 milhões da safra atual, em uma produção de 360,25 milhões. Para Roberto Carlos Rafael, porém, os estoques americanos deverão ficar mais próximos dos 30 do que dos 37 milhões projetados pelo órgão.
Do mesmo modo, o analista da Germinar acredita que as importações chinesas de milho estimadas em 26 milhões de toneladas para o comercial vigente não deverão se repetir na próxima temporada, devendo ser maiores, o que exigiria ainda mais da oferta mundial. Todavia, o que traz alguns questionamentos sobr este movimento é a preocupação sobre a Peste Suína Africana.
Neste ano, 11 novos casos já foram confirmados e novas variantes do vírus estão sendo identificadas, segundo informações apuradas pela Reuters. "O controle e as medidas de prevenção ainda têm sido complicadas, a tarefa continua bastante severa", disse Xin Guochang, oficial do Ministério da Agricultura e Assuntos Rurais da China à agência de notícias.
Ainda assim, a recuperação expressiva do plantel de suínos chinês que vem acontecendo já tem demandado mais milho, o que elevou de forma expressiva os preços do cereal no mercado local nos últimos meses. E ainda de acordo com representantes chineses, os preços deverão seguir elevados e se estabilizarão somente com a a colheita da nova safra da China e a chegada de novos volumes do grão importado, além das importações tambem de sorgo e cevada.
Outra alternativa que tem sido comum entre os fabricantes de rações da China é o trigo, que tem apresentado preços mais atrativos neste momento em relação aos patamares praticados no milho. Ainda segundo a Reuters, o trigo vinha sendo cotado na província de Henan, a maior produtora do grão, a 2,520 yuans por tonelada, contra 2,910 yuans do milho.
Os estoques finais de milho da nação asiática para o ano safra 2021/22 são estimados em 198,16 milhões de toneladas, ligeiramente menores do que a projeção para a 2020/21, de 198,18 milhões.
Para o mundo todo, "este ano e o próximo serão apertados", diz Vlamir Brandalizze, consultor de mercado da Brandalizze Consulting referindo-se à oferta de milho. "Qualquer nova redução na safra vai provocar uma falta maior. O USDA tem sido muito otimista".
Para o consultor, as importações chinesas do grão têm força para chegar aos 30 milhões de toneladas, ao passo em que começamos a nova temporada com estoques mundiais muito baixos. "E o que perdemos no Brasil vai fazer muita falta. Não teremos milho para exportar 20 milhões de toneladas, e países como Argentina e Ucrânia, que também são grandes players, não terão esse volume para suprir", diz.
Ao mesmo tempo, as importações brasileiras de milho, no acumulado de 2020, de acordo com dados da Secex (Secretaria de Comércio Exterior) divulgados nesta segunda-feira (19), já chegam a 968,7 mil toneladas, contra pouco mais de 480 mil no mesmo período do ano anterior. "E há a expectativas de novas importações", afirma Brandalizze. Consultorias seguem reportando que o Brasil tem já trazido alguns bons navios do cereal argetino diante de uma paridade favorável frente aos altos preços praticados no mercado nacional.
Leia mais:
+ Milho: Preocupações com o clima puxam os preços na B3 e em Chicago nesta 3ª
+ Grãos: Mais um dia de frio intenso no MS e PR com geadas em áreas de trigo e milho
+ Atraso na colheita e quebra da safrinha causam lentidão nas exportações de milho
Ainda olhando para o último relatório mensal de oferta e demanda do USDA, de 12 de julho, a produção chinesa de milho deverá alcançar na safra 2021/22 268 milhões de toneladas, contra 260,67 milhões da anterior. O uso doméstico do cereal deverá passar de 289 para 294 milhões de toneladas, com as importações ainda projetadas em 26 milhões de toneladas.
Caso tudo isso se confirme, analistas chineses ainda esperam que haja um déficit de oferta no gigante asiático de 40 milhões de toneladas, o qual terá de ser mitigado com importações maiores não só do grão, mas também de sorgo e cevada, além de trigo.
Já de acordo com estimativas da consultoria chinesa JCI, a safra 2021/22 do grão na nação asiática deverá ser de 253,9 milhões de toneladas, a maior em quatro ano, com um aumento de 6,2%. A área de plantio é projetada em 42 milhões de hectares, com um incremento ano a ano de 3,9%.
"Vou plantar milho em toda minha propriedade nesta safra, nenhuma outra cultura. Os preços subiram muito fortemente no ano passado, a renda será boa", disse ao South China Morning Post um produtor rural da província de Hebei.
Diante dos altos preços, o governo chinês tem incentivado o aumento da área cultivada com o cereal no país, acreditando que, ao se confirmar e consolidar uma safra maior, não só os preços podem ceder, como a dependência das importações será menor. Hoje, a tonelada do milho na China está cotada, em média, a US$ 375,00, contra US$ 280,00 no Brasil e US$ 260,00 nos Estados Unidos.
Por outro lado, grande parte dessa área maior que está sendo cultivada com milho se dá em detrimento da soja. Lebre levantada pelos analistas e produtores chineses. O que reserva o quadro global de oferta e demanda de grãos?
0 comentário
Preços do milho para 2025 são os melhores em 2 anos para vendas antecipadas
Chegada das chuvas aumenta a incidência da cigarrinha-da-pastagem
Demanda forte mantém milho com altas em Chicago nesta sexta-feira
USDA informa nova venda de milho à Colômbia nesta 6ª (20)
Futuros do milho abrem a 6ªfeira com altas em Chicago ainda sustentadas por boa demanda de grãos dos EUA
Radar Investimentos: Mercado de milho no Brasil apresenta um cenário misto