Apesar da seca, MT tem parte do milho 'salvo'; cenário se agrava em outros Estados
Em momento em que ficam mais evidentes as perdas pela seca na segunda safra de milho do Brasil, o Mato Grosso já tem algumas áreas "salvas", enquanto em outros Estados que plantam mais tarde crescem temores sobre o agravamento da quebra de produção, conforme representantes do setor e analistas ouvidos pela Reuters.
Nesta sexta-feira, a Safras & Mercado cortou em mais de 8,5 milhões de toneladas a projeção para a colheita de milho do Brasil, para cerca de 104 milhões de toneladas, com a estiagem pressionando a estimativa para a segunda safra que está em desenvolvimento.
Comparada à avaliação de março, a consultoria reduziu em mais de 3 milhões de toneladas a produção em Mato Grosso, para 30,4 milhões de toneladas, mas ainda assim vê áreas em boas condições no maior produtor brasileiro, o que traz algum alívio para o mercado que lida com preços recordes do cereal no Brasil.
"Os lados oeste e norte de Mato Grosso estão bem", disse o analista da Safras Paulo Molinari.
"Os problemas estão no Paraná, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Minas Gerais", acrescentou ele, citando outros importantes Estados produtores de milho.
Já o gerente de inteligência de mercado do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), Cleiton Gauer, adotou cautela para falar de perdas, mas comentou que as áreas plantadas mais cedo foram as mais beneficiadas pelas condições climáticas.
"Produtores com áreas mais adiantadas (no desenvolvimento) têm um milho praticamente salvo", disse Gauer.
Já o cereal semeado tardiamente ainda depende do cenário que vai se desenhar até a primeira quinzena de maio para confirmar qual será a produtividade.
O agrometeorologista da Rural Clima, Marco Antonio dos Santos, acredita que áreas de Mato Grosso podem ter bons rendimentos no ciclo atual. Em contrapartida, os demais Estados que sofrem com a seca tendem a ver a situação se agravar nos próximos dias.
"Só volta a chover bem a partir do dia 10, segunda semana de maio. Antes disso, dificilmente deve chover. O que a gente vê é uma condição extremamente ruim para o milho", prevê Santos sobre áreas do Paraná, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais.
Temores quanto às condições da safrinha contribuíram para um rali na bolsa de Chicago e o milho chegou a superar 7 dólares por bushel nesta semana, maior patamar desde 2013, com o mercado atento às ofertas dos Estados Unidos e Brasil.
GARGALOS
O presidente da Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso do Sul (Aprosoja-MS), André Dobashi, disse que há regiões do Estado com mais de 35 dias sem chuvas e as perdas estimadas para a produção da segunda safra de milho já giram em torno de 20% nestas áreas.
"Como o milho está muito atrasado no Estado inteiro, devido à colheita tardia da soja, a situação está complicada no Estado inteiro", afirmou.
Segundo ele, inicialmente, a entidade estimava a produtividade do cereal da safrinha em 75 sacas por hectare e, com isso, a produção poderia chegar a 9 milhões de toneladas, ante 8,19 milhões na temporada anterior.
No entanto, Dobashi disse que esta projeção será revisada para baixo em breve, "algo que deixaria a produção ainda mais distante do ideal, que seria entre 11 milhões e 12 milhões de toneladas, considerando a demanda interna e a exportação".
No Paraná, o Departamento de Economia Rural (Deral) reduziu nesta quinta-feira sua estimativa para a segunda safra de milho em 1,15 milhão de toneladas, para 12,23 milhões, por causa da seca.
"As condições de clima não estão favoráveis. Chuvas abaixo da média em todo o Estado ocasionaram uma piora geral das lavouras de milho e, consequentemente, reduzindo a expectativa de produção", afirmou à Reuters o analista do Deral Edmar Gervásio.
Ele lembrou que, como a produção tinha potencial para alcançar 14,5 milhões de toneladas nesta temporada, é possível considerar que já foi consolidada uma quebra em torno de 2 milhões de toneladas.
"E poderemos ter ainda mais perdas, tanto pelo prolongamento da estiagem, por doenças e, eventualmente, até uma geada mais cedo."
O analista de agronegócios da Federação da Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (Faemg), Caio Coimbra, ressaltou que as chuvas nas lavouras de milho segunda safra ficaram em torno de 15% do que era esperado para a época, pressionando o rendimento de uma temporada que vinha repleta de otimismo puxado pelo forte avanço de área.
Com base em dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), ele lembrou que a área cresceu 35%, para 606,8 mil hectares. A estatal ainda vê uma alta de 32% na produção, para 3,76 milhões de toneladas, apesar da queda de 2% na produtividade.
"Mas esta perda de produtividade já é mais intensa do que a Conab espera e pode estar entre 4% e 5%. E se o mês de maio não tiver chuva, pode ficar ainda mais intenso. Temos chance de quebra na safrinha mineira sim", alertou.
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