Santa Catarina enfrenta aumento das exportações de milho e escassez do grão no Estado
O cenário de crise em Santa Catarina é quase o mesmo de 2012, quando lideranças do agronegócio estadual pediram subsídio para o frete, leilões de milho da Conab no Estado e investimentos em infraestrutura. Naquele ano houve uma estiagem que frustrou a produção e elevou o preço do cereal.
– Já vimos essa cena e foi catastrófico para o Estado – disse o presidente da Federação da Agricultura do Estado de Santa Catarina, José Zeferino Pedrozo.
Ele lembra que empresas como a Bondio, Agrovêneto e Tramonto, acabaram sendo vendidas pois não tinham capital de giro suficiente para enfrentar a crise. Agora, além da alta na exportação, com menos milho no mercado, quem tem acaba não vendendo esperando ganhar mais.
– Tem milho no mercado, mas existe a especulação – lamentou o diretor-executivo do Sindicato das Indústrias de Carnes e Derivados de SC, Ricardo Gouvêa.
Somente de outubro a janeiro o Brasil vendeu mais de 20 milhões de toneladas de grão. Esse volume poderia abastecer Santa Catarina por quase quatro anos. Outro agravante é que a área plantada está se reduzindo a cada ano. O Estado tem apenas 1,2% que é plantado no país, mas em contrapartida é o maior produtor de suínos, o segundo maior de aves e o quinto em leite. Ou seja, tem muita demanda para uma oferta limitada.
Somente neste ano houve uma queda de 8% na área plantada. De acordo com o vice-presidente da Cooperalfa, Cládis Furnaletto, na região de abrangência da cooperativa a queda chegou a 25%. O motivo é que, no momento do plantio, o milho estava a R$ 22 ou R$ 23 a saca. Com aquele preço, mesmo o produtor tendo safra boa, de 150 sacas por hectare, não cobriria os custos, que eram de R$ 3,5 mil por hectare.
Os produtores comemoraram
Um dos que apostaram contra a corrente foi o agricultor Clademir Rigon. Ele aumentou de 2,5 para 5,5 hectares de milho, para fazer rotação de cultura. Nem ele imaginava que sua decisão seria tão acertada. Rigon deve colher 170 a 180 sacas por hectare. Com o milho a R$ 38, o resultado bruto é de R$ 6,5 mil. Vai sobrar R$ 3 mil por hectare para pagar a parcela de R$ 10 mil do trator que comprou recentemente e ainda ficar com uma reserva no banco. Se o produtor de grãos está feliz, não dá para dizer o mesmo dos suinocultores.
– O criador está perdendo R$ 50 por suíno – calculou o presidente da Associação Catarinense dos Criadores de Suínos, Losivânio Di Lorenzi.
Os independentes e mini-integradores, que representam 15% dos produtores com 400 mil matrizes, são os que mais sofrem com a escassez, pagando R$ 43, R$ 44 a saca. A entidade chegou a pedir ao governo do Estado isenção do ICMS para venda de suínos a outros Estados durante dois meses, o que reduziria o custo em 12% e aliviaria prejuízo.
Estado faz tentativas para amenizar a dependência
O Sindicarne/Associação Catarinense de Avicultura (Acav) também pediu medidas de subsídio ao frete do Centro-Oeste, o que não foi atendidoMas uma medida que realmente melhoraria a situação a médio e longo prazo seria a ferrovia. Segundo o presidente da Aurora Alimentos, Mário Lanznaster, anualmente cerca de 100 mil caminhões são necessários para buscar milho em outras regiões.
O secretário de Agricultura do Estado, Moacir Sopelsa, disse que estão sendo adotadas medidas para tentar amenizar a dependência de milho. Uma delas é o programa de subsídio dos juros para a construção de silos. Outro incentivo é o programa Terra Boa, que investiu R$ 44 milhões em subsídios de 220 mil sacas de semente e 310 mil toneladas de calcário.
O produtor Clademir Giordan, de Chapecó pegou cinco sacas de milho do programa e vai pagar com 20 sacas de produto para cada uma de semente. SC também dá crédito de 8,4% no ICMS para quem traz milho de fora. O secretário Moacir Sopelsa afirmou que o governo ainda está avaliando a possibilidade de redução do ICMS, embora afirme que neste momento não aumentar impostos já é um esforço.
Economista prevê queda no milho
A Doutora em Economia do Centro de Socieconomia e Planejamento Agrícola da Epagri, Gláucia de Almeida Padrão, prevê que o preço do milho deve cair a partir de agora. Um dos motivos é a safra catarinense, que já está mais de 15% colhida. Outro é a retomada da safra norte-americana. Um terceiro fator é a segunda safra do milho no Brasil, também chamada de safrinha. Essa oferta maior inibe a especulação e deve provocar uma retração no preço do cereal, mesmo que o dólar continue alto e incentivando as exportações.
Leia a notícia na íntegra no site Diário Catarinense.
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