G20 e COP 29: Mudanças climáticas redesenham a agricultura brasileira
A agricultura brasileira está na linha de frente dos debates globais sobre mudanças climáticas e segurança alimentar. Durante a COP29, realizada na semana passada no Azerbaijão, e na cúpula do G20 no Rio de Janeiro, nesta semana, o setor foi destacado como peça-chave tanto no enfrentamento à crise climática quanto na garantia de alimentos para a humanidade.
Entretanto, as consequências das mudanças climáticas já são sentidas no campo. A instabilidade das estações, as alterações no regime de chuvas — com períodos prolongados de estiagem ou alagamentos intensos — e as temperaturas extremas têm impactado o metabolismo das plantas, o bem-estar de animais e polinizadores e a frequência de pragas e doenças. Esses efeitos comprometem a produtividade e a qualidade da produção agrícola, desafiando agricultores em todo o país.
Apesar disso, o setor também tem demonstrado protagonismo na adoção de práticas sustentáveis. Segundo Nelson Ananias, coordenador de Sustentabilidade da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), os produtores brasileiros já aplicam estratégias que integram mitigação, adaptação e cobenefícios. “Quando falamos de cobenefícios, falamos em garantir segurança alimentar e energética associada à segurança climática, e isso o produtor brasileiro já faz. O agro brasileiro não promete para daqui a 20 ou 30 anos; ele já executa, com a agricultura de baixa emissão de carbono e um dos códigos florestais mais rígidos do mundo”, destacou durante a COP29.
Estratégias para resiliência
São muitas as estratégias e tecnologias empregadas pelos produtores para lidar com os desafios climáticos, como o uso otimizado de recursos hídricos, manejo sustentável de pragas e doenças, plantio direto, rotação de culturas e sistemas agroflorestais.
Entre essas práticas, o uso de bioinsumos tem se destacado, e cresce em ritmo acelerado no país. O Brasil já é hoje o maior mercado de biológicos no mundo, e é também o que mais cresce – um avanço médio anual de 21%, quatro vezes acima da média global. Em 2023, o mercado brasileiro de bioinsumos ultrapassou os R$ 6 bilhões, segundo a CropLife Brasil.
Segundo o especialista em nutrição de plantas e fisiologia dos cultivos, Reinaldo Bonnecarrere, esses insumos incluem agentes biológicos que controlam pragas e doenças, promovem o crescimento das plantas e melhoram a fertilidade do solo, reduzindo a dependência de insumos químicos. “Biológicos de alta performance aumentam a rentabilidade e competitividade das lavouras, ao mesmo tempo em que promovem práticas sustentáveis fundamentais para reduzir as emissões de carbono e melhorar a saúde do solo”, explica Bonnecarrere, que é também diretor de Biológicos da Indigo,startup norte-americana de pesquisa e desenvolvimento de tecnologias para uma agricultura mais sustentável.
Inovação e biotecnologia no campo
A tecnologia, aliada ao processamento de dados e à inteligência artificial, tem sido aliada essencial para lidar com as adversidades climáticas no campo. No Brasil, iniciativas que unem biotecnologia e ciência avançada vêm transformando o manejo agrícola e abrindo caminhos para práticas mais alinhadas aos desafios do clima.
Considerada uma das mais inovadoras fabricantes de biológicos do mundo, a Indigo se destaca, dentre outros fatores, por ser uma das únicas no mundo desenvolvendo tecnologias baseadas em microrgansmos endofíticos, bioinformática e data science. Com um dos maiores acervos mundiais de microrganismos endofiticos benéficos, aqueles coletados do interior de plantas, catalogados e com sequenciamento genético detalhado. A Indigo utiliza ferramentas de inteligência artificial e bioinformática para identificar, com precisão, quais microrganismos são mais eficientes para beneficiar ou proteger as culturas agrícolas contra doenças, pragas e outras condições adversas, como seca ou temperaturas extremas.
“É um modelo que exemplifica como a tecnologia pode ser uma aliada na adaptação da agricultura às mudanças climáticas, e, ao mesmo tempo, no esforço global de alcançar metas de sustentabilidade”, afirma Bonnecarrere. “Combinando eficiência produtiva e responsabilidade ambiental, a agricultura brasileira reafirma seu papel estratégico no enfrentamento às mudanças climáticas e na segurança alimentar global”, conclui
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