Debatedores apoiam sistema que mistura lavoura, rebanhos e floresta
Participantes de um seminário na Câmara dos Deputados foram unânimes em afirmar que o sistema agroflorestal só traz benefícios para a natureza e para o Brasil e, portanto, merece receber incentivos. A agrofloresta é o plantio intercalado de lavoura com floresta e, em alguns casos, com a criação de animais.
Segundo especialistas, é um sistema que ganha cada vez mais relevância e ainda tem muito espaço para avançar no País. Nas palavras do ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, pode ser uma solução para os problemas ambientais do mundo, uma vez que pode ser utilizado na recuperação de áreas de preservação e de reservas legais, além de gerar renda.
“A sociedade brasileira está tomando cada vez mais consciência de que a cobertura vegetal nativa é essencial à manutenção de mananciais necessários para a produção rural e industrial”, disse o ministro nesta quinta-feira (15) no seminário promovido pelas comissões de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável; e de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural.
Valorização
Além disso, continuou Sarney, os mercados nacional e internacional cada vez mais valorizam produtos que respeitam o meio ambiente. O ministério, disse, tem empreendido ações de capacitação de produtores nos estados, com vistas à ampliação de mercados. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento também possui ações nessa linha, como a de implantação de agricultura com baixa emissão de carbono.
O deputado Zé Silva (SD-MG), que sugeriu o seminário junto com o deputado Evair Vieira de Melo (PV-ES), disse que a legislação não avançou muito em relação ao tema. Ele lembrou, no entanto, que não se trata de uma nova a maneira de produzir alimentos, mas de resgatar algo que já existe e pode ajudar no desenvolvimento sustentável. “Se a gente der oportunidade, a natureza nos ajuda.”
Benefícios
Listados, os benefícios dos sistemas agroflorestais incluem o controle da erosão do solo, a melhoria microclimática, o aporte de matéria orgânica ao solo, a diversificação de produtos e fontes de receita para o agricultor.
Os adeptos do sistema trabalham para criar meios parecidos aos ecossistemas naturais, na dinâmica e no modo de funcionar. É o que faz há mais de 40 anos Ernst Götsch, pesquisador do método conhecido como agricultura sintrópica.
Götsch desenvolve técnicas de recuperação de solos por meio de plantios que levam à regeneração natural de florestas. O cultivo não usa agrotóxicos nem irrigação. A adubação é natural, feita a partir da cobertura do solo com folhas e galhos de plantas, que são constantemente podadas.
A regra é plantar aquilo que se come – soja, feijão, milho alface –, mas plantar também árvores. “Introduzo os meus elementos e os manejo em conjunto com os outros, otimizando o ecossistema”, afirmou Götsch. “Para comer futuramente, eu tenho que plantar floresta.”
Otimismo
No seminário, não foram apresentados números referentes a sistemas agroflorestais no Brasil. Em Minas Gerais, por exemplo, estima-se que menos de 400 propriedades trabalhem com produção orgânica certificada.
É pouco, segundo o coordenador de Agroecologia da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG), Fernando Tinoco, que se mostrou otimista: “Dificilmente quem entra na agricultura ecológica sai dela. É mais saudável em todos os sentidos”.
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