Setor de máquinas agrícolas projeta queda de 10% no faturamento este ano apoiado na quebra da safra de soja, mas mitigado por outras culturas, como cana-de-açúcar
De acordo com dados da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), houve uma diminuição de 21,9% em 2023 no faturamento com a venda de máquinas e implementos agrícolas. Pedro Estevão Bastos, presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas (CSMIA) da Abimaq explica que este recuo era esperado, mas que a perspectiva de uma queda adicional em 2024, não era.
“Era esperada (a queda de 21,9%) porque se somar 2020, 21, 22, houve recorde de faturamento 70%, e a gente esperava que 2023 tivesse um mercado mais acomodado. Os preços das commodities foram menores em 2023, juros sendo considerados mais caros, 14,5% para o Moderfrota… A gente esperava isso mesmo na proporção de queda porque a régua estava muito alta".
Bastos detalha que os aumentos vistos nos preços das máquinas antes (em 2020, 2021 e 2022) foram pela elevação dos valores das commodities e da taxa de câmbio, que subiram devido ao período de pandemia. A perspectiva é de que 2024 teria números semelhantes a 2023, segundo o presidente da CSMIA, mas com o El Niño e os desafios gerados na safra de soja brasileira, ele prevê que o setor de máquinas agrícolas deve amargar uma queda de 10% este ano, pelo menos, 10%, em função da safra de soja. “Isso faz com que o produtor coloque o pé no freio nas aquisições”, disse.
“Oficialmente, estamos falando em uma queda de 10% em relação ao ano passado. Isso fica na condicional de várias coisas, como, por exemplo, como vai se comportar a segunda safra de milho, que se for boa, deve ajudar a mitigar os impactos, e se o plano safra vier bom, deve ajudar. Então os 10% devem vir em um cenário otimista, lembrando que no ano passado caiu 21,9%. Os preços das commodities, entendemos que não deve cair muito mais, mas isso depende da safra norte-americana, do clima de uma forma geral. Este problema que estamos passando é algo conjuntural, quebra de safra, preços menores", afirmou Bastos.
Ele pontua que maquinários e implementos voltados para as culturas de representam 60% do mercado Brasileiro e, em seguida, vem a cana-de-açúcar.
EMPREGOS EM RISCO
De acordo com o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Horizontina e Região, Jorge Luís Ramos, a fábrica da John Deere em Horizontina, no noroeste do Rio Grande do Sul, deve ter as atividades paralisadas por 60 dias. A suspensão das atividades está em negociação, segundo ele, e deve ser votada em assembleia com os funcionários na planta na próxima terça-feira (5).
De acordo com a liderança sindical, esta proposta de suspender as atividades da indústria por 60 dias é uma alternativa para tentar preservar 300 empregos que estariam ameaçados. Segundo Ramos, hoje a indústria deve contar com cerca de 1.700 colaboradores.
No final do ano passado, segundo o site GZH, cerca de 300 funcionários foram demitidos da planta de Horizontina para “ajustes no quadro de funcionários”, segundo a Companhia. Ramos detalhou que, à época, “houve uma negociação onde quem foi demitido saiu com vantagens a mais do que os direitos legais”.
Em comunicado oficial, a John Deere afirmou que “está em negociação com o Sindicato dos Metalúrgicos de Horizontina e Região, em busca da solução mais adequada para ajustar a taxa diária de produção em sua fábrica". A empresa reitera o respeito e a transparência com todos os profissionais envolvidos nessa operação”.
BAIXA PUXADA PELOS GRÃOS, MAS EQUILIBRADA POR OUTRAS CULTURAS
“O principal mercado (para máquinas e implementos agrícolas) são as culturas de soja e milho. O pessoal deixou de comprar os maquinários específicos para estas culturas, diferente da cana-de-açúcar, por exemplo, que está entre as três maiores culturas que demandam implementos e que foi bem no ano passado”, afirmou Pedro Estevão Bastos, presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas (CSMIA).
Para o Sócio-Diretor da Consultoria Cogo Inteligência em Agronegócio, Carlos Cogo, os preços das máquinas estão muito ligados com preço da soja, para além de juros. “A soja já vinha em uma queda forte, segue caindo e estimamos que 2024 que deve ter uma queda no setor, igual a do ano passado percentualmente. O primeiro semestre está sendo marcado por uma baixíssima intenção de compra. São queda de preço e de safra, são duas coisas que desestimulam o produtor”, afirma.
Cogo detalha que, olhando para setores que não sejam o de grãos, nos últimos anos tem havido demanda de colhedora e de tratores específicos para a cultura da cana-se-açúcar. “A parte da cana-de açúcar e de citros voltou a ter margem há praticamente três temporadas, assim como o café. Somados, estes fatores ajudam a mitigar a queda no setor de máquinas agrícolas como um todo, especialmente o de cana, mas isoladamente, não representam muito”, explica Cogo.
O gerente de Produto e Marketing LS Tractor, Astor Kilpp, pontua que, no ano passado, a região Sul que foi afetada fortemente na safra de grãos, um dos grandes eventos do agronegócio, a Expointer, realizada em Esteio, no Rio Grande do Sul, foi um termômetro para as negociações. “Aquelas comercializações que são fechadas na Expointer, em setembro, que puxa negócios do país inteiro, tinha negócio fechado que não aconteceu. Por outro lado, São Paulo teve uma seca neste mesmo período, e os negócios também pararam, e voltaram só em dezembro, na área da citricultura”, disse Kilpp.
“Se de um lado o setor de grãos segurou, outros avançaram. Nós enxergamos um ano melhor no varejo em relação ao ano passado. Estamos com uma expectativa melhor pq temos um lançamento que atinge citricultura e cafeicultura. Isso nos dá uma visibilidade em relação ao ano passado de um crescimento de 20 a 22%, muito em cima da citros, café e florestas”, detalhou ogerente de Produto e Marketing LS Tractor.
DENTRO DA INDÚSTRIA
Carlos Cogo pontua que as montadoras hoje têm portfólio para atender todo tipo de segmento, e um que vem bem no ano passado e deve seguir bem este ano é o micro e pequeno produtor, que estão precisando se mecanizar, já que a mão de obra está escassa, e estes setores podem ser uma boa surpresa, ainda que pesem menos no faturamento.
“Havia uma defasagem de preço (na indústria), retomaram a margem durante a pandemia, e pode ser que haja alguma questão do repasse de alguma queda de custo de produção do setor de metalurgia, por exemplo, mas não vejo este movimento de baixa acontecendo no momento”, afirma Cogo.
Apesar disso, Fernando Gonçalves, presidente da Jacto, afirma que “nos últimos anos, os custos de matéria-prima e componentes para produção das máquinas agrícolas da Jacto tiveram aumentos elevados e, apesar de terem se acomodado, ainda continuam em patamares mais altos que a média histórica. A Jacto tem feito, em função das feiras agrícolas do começo do ano, promoções com condições financeiras especiais que irão até 31 de março”.
“Sabemos que existe no mercado uma expectativa do cliente sobre a queda do preço das máquinas por conta da redução do valor das commodities e dos insumos agrícolas, como os fertilizantes. No entanto, o preço estrutural dos equipamentos continua o mesmo, já que os custos com eletrônica, por exemplo, se mantiveram altos ", finalizou Gonçalves.
INÍCIO DE 2024 JÁ MOSTRA DESAFIOS
Olhando para dados da Abimaq referentes a janeiro de 2024, máquinas para o agronegócio tiveram resultado negativo neste início de ano nas exportações, com recuo de 8,7% em janeiro no comparativo com janeiro do ano passado. A importação registrou uma retração de 15,1% no acumulado do ano, desde janeiro de 2023.
Quando se fala na receita líquida total, houve uma diminuição de 21,9% nos últimos 12 meses. No quadro geral de máquinas agrícolas, na venda interna, foram 3.509 unidades em janeiro de 2023 contra 2.137 em janeiro de 2024, perfazendo uma baixa de 39,1%.
Separando pelos principais tipos de máquinas, as colheitadeiras registraram em janeiro deste ano um volume de vendas de 246 unidades, valor 62,7% inferior às 660 colheitadeiras vendidas em janeiro de 2023. No caso dos tratores, foram 1.891 unidades comercializadas em janeiro de 2024 no mercado interno contra 2.849 em janeiro do ano passado, baixa de 33,6%.
ENTENDENDO O SETOR
Divulgada nesta quarta-feira (28), a Pesquisa SAE BRASIL Caminhos da Tecnologia no Agronegócio, realizada ao longo de 2023, trouxe dados importantes sobre o entendimento do mercado de máquinas agrícolas, implementos, intenções de compra por parte do produtor rural e condicionantes que fazem com que estas intenções de aquisições se elevem ou não, entre outros fatores.
Segundo dados da pesquisa, 33% dos entrevistados trouxeram uma tendência do passado como oportunidade para auxiliar o produtor rural na atualidade, que são os programas de incentivo para renovação do maquinário. Conforme o reporte, esta alternativa se relaciona com a necessidade da ampliação de linhas oficiais de crédito. “Na safra 2023/24, o Plano Safra destinou R$ 9,4 bilhões para o Moderfrota, com taxas de juros de 12,5% ao ano. Na safra anterior, o governo havia alocado R$ 10,1 bilhões, ou seja, este ano foram R$ 600 milhões a menos. Os recursos são limitados e se esgotam rapidamente. Quando o produtor não consegue uma linha dentro do crédito oficial, tem que negociar com os juros livres do mercado, que são mais altos”, pontua o relatório.
Em relação à renovação da frota, as pessoas que responderam à pesquisa formaram maioria em apostar no período entre 7 a 10 anos para a renovação da frota. As proporções foram 48% troca os tratores neste período, 39% renovam as colheitadeiras, 52% substituem as plantadeiras e 45% trocam o pulverizador.
A pesquisa mostra que a média de uso de tratores e colheitadeiras é de cerca de 11 anos, mas que entre estas duas máquinas em específico, há produtores que olham estrategicamente de outra maneira para o passar dos anos. “A colheita é uma operação estratégica e necessita de máquinas cada vez mais conectadas e atualizadas. Isso talvez justifique a preocupação de renovar alguns equipamentos em prazo um pouco mais curto. Enquanto no trator, a intenção de troca no período de cinco a sete anos, aparece com 21%, na colheitadeira esse porcentual sobe para 27%”.
Sobre fatores decisivos para que o comprador se sinta incentivado ou desestimulado a adquirir máquinas ou implementos, a pesquisa identificou que a questão dos juros vem em primeiro lugar, representando 25% das respostas. O comprador também leva em conta a disponibilidade de crédito, a perspectiva de valores das commodities e os prazos de pagamento.
“A surpresa é que os preços das commodities não figuraram como a principal preocupação na hora de definir as compras necessárias para a operação agrícola. São citados por 16% dos respondentes, mas depois de três alternativas ligadas aos aspectos financeiros. Os preços da venda da safra deveriam balizar os investimentos, mas não são determinantes. Mesmo quando as cotações flutuam ao sabor da oferta e da demanda. Caem num ano, sobem no outro ", detalha a análise da pesquisa.
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